Lost escrita por Gabs


Capítulo 15
XV


Notas iniciais do capítulo

esse também já estava pronto e eu me esqueci de postar, isso não vai mais acontecer, desculpa kkkkkkk.
Espero que gostem!



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A noite caía sob nossas cabeças lentamente, já estávamos afastados do colégio, mas desde que saímos nem uma palavra havia sido dita. Havia certa tensão ali, mas era compreensível tendo em mente que estávamos desamparados e fazendo uma coisa perigosa.

—Deveríamos parar aqui e descansar. -Anastasia chamou nossa atenção. -Será bom para todos e estamos seguros, pelo que posso garantir.

Eu confiava em Anastasia e em seus poderes, uma pessoa que consegue ouvir e sentir os batimentos cardíacos de outras pessoas, sentir seus sinais vitais e ler suas mentes era algo além do que eu conseguia imaginar em toda a minha minúscula noção de poder.

—Eu concordo, não acho seguro continuarmos nos movimentando durante a noite, existem criaturas que possuem mais vantagem que nós na escuridão. -Morgana assentiu, parando de andar e analisando o local onde estávamos.

Era uma clareira iluminada pela luz da lua, que estava cheia e preenchia boa parte do céu naquele momento, o que também era bom para nós, quanto menos luz, mais perigo.

Max logo se espreguiçou e se alongou, saindo aos poucos de sua postura atenta e defensiva, quando percebeu que eu o olhava lançou-me um sorriso de canto adorável.

—Vou procurar lenha. -Thomas colocou suas coisas no chão e nos deu as costas adentrando a floresta com Max em seu encalço.

—Katherine, você foi muito surpreendente no portão. Sem querer ofendê-la, mas fiquei muito surpresa com a forma em que soube agir. -Anastasia sorriu e tocou meu ombro, uma onda de alívio me envolveu, creio que desde que cheguei ali aquele fora um dos poucos elogios que recebi que não eram sobre a minha aparência.

—Sim! -Morgana exclamou - Poucos outros alunos de feitiçaria saberiam o que fazer na sua situação, tanto por causa da pressão quanto pela falta de prática, você arrasou. -Morgana fez uma mini comemoração e me abraçou, fiquei muito feliz por ouvi-las dizendo aquelas coisas, me senti muito mais confiante.

—Obrigada meninas, eu achei que seria injusto ficar esperando que vocês usassem outra maneira, que provavelmente seria muito menos prática, quando eu tinha a capacidade de ajudá-los. Não quero ser um peso para vocês.

—Ah, você é tão adorável. -gemeu Morgana puxando-me para mais um abraço.

—Não acho que nenhum de nós pense que você é um peso, sabemos como é poderosa. -acrescentou Anastasia.

—Acho engraçada a forma que Anastasia fala como se ela não soubesse exatamente o que se passa em nossas cabeças. -comentou a ruiva, arrancando algumas poucas risadas de nós.

Eu gostava de Morgana, confiava nela. Desde que se provou ser diferente da imagem que eu tinha de sua espécie ajudando-me com os treinos físicos e se aproximando de mim ela havia adquirido um local de afeto em minha vida, nos apoiávamos e nos protegíamos.

—Lenha. -anunciou Max, empilhando alguns gravetos secos que ele e Thomas haviam trazido. -Pode acender?

—Uhm, claro. -fui pega de surpresa pela pergunta, não sabia se conseguiria mesmo fazer aquilo, mas não custava tentar. Contanto que não acabasse nos matando.

Coloquei minhas mãos na base daquilo que viria a ser nossa fogueira e pensei naquilo que precisava, fogo.

Consegui senti-lo como se corresse por minhas veias, fluindo até a palma de minhas mãos e saindo como chamas fracas e contidas, suficientes para acender a fogueira.

Fechei as mãos e o fogo continuava ali, sem me queimar, fiquei fascinada. Controlei-o até que ele desaparecesse, então minhas mãos esfriaram novamente.

—Você é demais. -Max comentou sorrindo e sentando-se perto do fogo, aquecendo-se e aos poucos estávamos conversando e a tensão de algumas horas atrás parecia nunca ter existido.

Thomas não estava mais ali havia algum tempo, Morgana havia saído para fazer a ronda, Max dormia e Anastasia meditava, ficar parada estava me deixando ansiosa então concluí que dar uma volta podia ser uma boa, eu não iria muito longe, de qualquer forma.

Ouvi alguns murmúrios por entre as árvores, abaixei-me e comecei a andar lentamente até onde os sons estavam vindo, consegui usar todo o meu treinamento de camuflagem para chegar até a fonte e encontrei Morgana e Thomas conversando aos sussurros.

Eles conversavam baixo demais para que eu os ouvisse, teria que chegar mais perto. Eu sabia que estava entrando em uma área perigosa, levando em conta que ambos são vampiros habilidosos que notariam a minha chegada ao mais baixo dos sons que eu emitisse, tive que me mover em câmera lentíssima tomando todo o cuidado possível já que o chão obviamente estava coberto de folhas secas que faziam muito barulho quando esmagadas.

—Thomas, tem certeza de que levá-la para o norte é a coisa certa a se fazer? Você sabe… feiticeiros e vampiros tem uma história conturbada. - Morgana parecia estar escolhendo as palavras com cautela, parecia estar com receio da reação do garoto. 

—Também pensei nisso, mas ela vai estar segura lá, farei questão de permanecer ao lado dela o tempo todo. - eu percebia certo carinho naquelas palavras, mas Thomas não deixava aberto a interpretações, parecia muito preocupado e pensativo com relação à minha estadia no castelo de seus pais.

—Acho que a essa altura do campeonato ela deve querer um pouco de espaço. - riu fraco, tentando amenizar a tensão. 

—É para o bem dela. 

—Não vou me intrometer em seus assuntos, mas talvez deva repensar e levá-la ao sul. 

—Não vou poder protegê-la se ela estiver lá, não posso arriscar deixá-la sob o cuidado de estranhos. 

—Só… pense no que é melhor pra ela. - pousou sua mão no ombro de Thomas oferecendo-lhe apoio, olhou-o com suavidade levantou-se e voltou para a clareira onde estávamos, desviei do caminho para que não percebessem que os ouvia e continuei a olhá-lo. 

Estava imerso em seus pensamentos, olhava para o lago como se todas as respostas estivessem mergulhadas naquela água escura que refletia as estrelas, soltou um suspiro pesado e jogou a cabeça para trás, eu não conseguia nem imaginar como devia ser grande o fardo que Thomas carregava. 

—Pode sair daí agora, Katherine. Já ouviu o que queria saber. - um pequeno sorriso de canto aparecia em seu rosto cansado e não pude evitar soltar um gemido de surpresa ao ouvi-lo falar meu nome. 

—Como sabia que eu estava escondida ali? Fiz de tudo para não fazer nenhum barulho. - levantei-me devagar, estava decepcionada com minhas habilidades de camuflagem, eu realmente tinha me esforçado. 

—Sei que se esforçou, foi muito bem aliás, se não tivesse se movido quando Morgana saiu e se tivesse acalmado as batidas de seu coração talvez eu não teria te percebido aí. - sorriu brincalhão, mas parecia estar falando a verdade. 

Sentei-me ao seu lado e coloquei as mãos em meu colo, estava apreensiva, por algum motivo achava que ele iria me dar uma bronca. 

—Eu odeio essa situação. - comentou sem me olhar, como se não falasse comigo, então quando me olhou percebi que nunca havia o visto parecer tão exausto antes. —Eu estou do seu lado, quero que permaneça a salvo, mas para isso tenho que omitir muitas coisas e odeio isso. Não acho justo que não possa fazer parte de seu próprio mundo, mas realmente é para te manter a salvo, e não posso arriscar isso. 

—Thomas eu entendo o que-

Tocou meu rosto e acariciou de leve minha bochecha, eu conseguia enxergar o formato de um sorriso em seu rosto, mas também havia muito pesar. Sua mão permaneceu em minha bochecha e eu conseguia sentir seus dedos tocando os cabelos de minha nuca, tudo ao nosso redor pareceu desaparecer. 

—Sei que faz seu melhor para entender tudo isso, eu só desejava poder te contar mais

—Consigo conter minha curiosidade até que estejamos seguros, não precisa se preocupar com isso quando já se tem tanta coisa para pensar. -sorri.

Não desejava preocupá-lo mais do que já estava, não sabia qual era a definição de descanso para Thomas, mas gostaria de deixá-lo o mais próximo dela que eu conseguisse.

—Também gostaria de comentar quão aplaudível você está sendo usando suas habilidades em campo, você é muito habilidosa. -passou a mão nos cabelos jogando-os para trás tirando-os de seu olho e sorriu para mim, eu havia aprendido a apreciar as habilidades de Thomas e aprender com elas, então receber um elogio dele e de Morgana era muito importante para mim.

—Obrigada. -ele virou-se para encarar a água mais uma vez e foi só então que percebi porque Thomas parecia tão acabado, faziam dias que ele não se alimentava, percebi quando ao se virar notei que a pele de sua bochecha estava mal tratada, como se deu um dia para o outro tivesse envelhecido 10 anos, e suas veias quase nunca visíveis hoje se sobressaiam em sua pele clara.

—O que foi?

—Há quanto tempo você não se alimenta? -fui incisiva em meu tom.

—Alguns dias. -respondeu e a surpresa estampava todo o seu rosto, ele estava acostumado demais a se preocupar comigo, e não o contrário.

—Uma semana? Mais que isso?

—Duas e meia, creio eu. -observou levando o dedo ao queixo, ponderando como um filósofo, ou pior, como se aquilo nem sequer merecesse importância

—Thomas, não pode fazer isso, como deixou isso acontecer?

—Muitas coisas ocorreram após o baile sucessivamente e não consegui pensar nisso, mas não se preocupe.

—Não me preocupar? Você não se preocuparia se fosse o contrário e eu estivesse sem comer há mais de quinze dias? -o olhar pesaroso que recebi de volta era a única resposta possível, eu precisava que ele soubesse como eu me sentia para que aceitasse o que eu estava prestes a propôr. -Beba meu sangue.

—Não posso fazer isso. -se afastou de mim como se eu fosse atacá-lo e movia a cabeça em negação sem parar.

—Estou te dando a minha permissão para isso, se alimente de mim.

—Não posso faz-

—Collins, você e eu sabemos bem que não existe nenhum animal indefeso por aqui que vá deixar que você o pegue para se alimentar, você não pode lutar se não tiver forças, e pelo que posso ver você já está na reserva. -ele abaixou a cabeça considerando o assunto, eu sabia que não conseguiria motivá-lo a não ser que jogasse em sua cara o que aconteceria caso ele não o fizesse. -Apenas beba.

Tirei o cabelo de meu pescoço e o encarei mais uma vez, ele parecia estar travando uma batalha entre mente e corpo, eu estava decidida a fazer com que ele se alimentasse antes que alguém viesse atrás de nós. 

—Você se lembra do que me disse da última vez que fiz isso? -ele sorria, mas parecia estar tenso com a situação, como ele havia dito diversas vezes, não queria me machucar. 

Voltei alguns meses em minha memória, lembro-me que eu estava absolutamente possessa quando ele me mordeu sem mais nem menos, e com razão, lembro-me também que fiquei semanas pensando naquele prazer estranho e obscuro que ambos havíamos sentido, mas isso já estava no passado agora.

“Não ouse chegar perto do meu pescoço novamente. “

Era o que eu havia dito naquele dia, e olhando em retrocesso acabava sendo cômico. 

—Disse pra você não chegar perto do meu pescoço novamente. 

—Sim, eu me lembro bem. -ele riu fraco. 

—Não importa o que eu disse meses atrás. -grunhi, já incomodada. Não é como se aquilo fosse fácil pra mim também, mas ele precisava, porque não fazia logo de uma vez? 

Ele arrumou sua postura e segurei a respiração sem perceber, ele riu. 

—Não precisa ter medo de mim. 

—Não estou com medo. - respondi prontamente.

Sorriu, parecia grato e até sem jeito, senti uma familiaridade enorme naquele sorriso, algo que eu já não sentia havia algum tempo.

Ele continuava a me encarar, tinha muitas dúvidas se deveria fazer isso ou não, seus olhos estavam parados e focados nos meus, eu começava a ficar tensa quando ele desviou seu rosto de mim e se levantou da grama onde estávamos sentados.

Thomas conseguia ser mais teimoso do que eu imaginava.

Ele estava a alguns passos de mim e parecia pensar em mil coisas, aproximei-me dele e respirei fundo.

—Thomas, isso não pode ser tão difícil assim.

—Katherine, você sabe como funciona, sabe o que isso causa. -seu olhar sobre mim era intenso, eu sabia, claro. Mas a situação ali era muito mais importante que isso. -Poderia matar um animal qualquer e me alimentar dele, mas não é tão simples assim com você. 

—Não importa, Collins. Não faz a menor diferença quais são os efeitos posteriores ou qualquer outra coisa, preciso que você esteja alerta, preciso que fique bem. Vou dizer mais uma vez, como você se sentiria se fosse o contrário?

Ele estava sério, eu acreditava que ele entendia a importância daquilo bem como seus efeitos, e estava apenas com receio.

—Você tem certeza? -ele pareceu ceder.

—Tenho.

Algo em meu âmago dizia que se ele perguntasse mais uma vez eu desistiria, tanto pelo cansaço de tentar fazê-lo se alimentar quanto pelo receio do que aconteceria.

Ele colocou sua mão na lateral de meu rosto e isso já foi o suficiente para fazer com que eu me arrepiasse, ele riu de encontro com meu pescoço.

—Nem uma palavra. -anunciei com a voz menos trêmula que consegui, não ia aguentá-lo tirando sarro de mim e de minha estúpida sensibilidade.

Senti seu lábio tocar meu pescoço e fechei os olhos com força, duvidava que algum dia eu deixaria de esperar algum tipo de dor daquele gesto.

Não.

Mais uma vez havia uma voz em minha cabeça, desta vez parecia decidida a impedir que Thomas bebesse meu sangue, pelo tom de sua voz parecia sentir muita raiva.

Senti lentamente as presas de Thomas atravessando cada camada de minha pele até perfurar uma veia, amoleci em seus braços, ele me segurava firme.

Não sabia descrever, se é que existe alguma forma de fazê-lo. Era absolutamente entorpecente, como uma hipnose e tudo o que se passava em minha mente era como aquilo era bom. Conseguia senti-lo chupando suavemente meu pescoço, com algum esforço consegui me apoiar em seu ombro para que não o fizesse suportar todo meu peso, senti uma fisgada no pescoço e soltei o ar com força levando a mão que me apoiava aos seus cabelos em um gesto impensado.

Ele tirou as presas de meu pescoço então me ajudou a sentar no chão lentamente, respirava um pouco falhado, mas estava bem.

Ele sentou-se ao meu lado e quando o encarei já eram visíveis as mudanças físicas em sua aparência, não parecia estar tão cansado assim.

—Eu estou bem. -respondi antes mesmo que a pergunta fosse feita.

Ele riu fraco, também respirava de forma irregular, se alguém nos encontrasse daquele modo sem saber o contexto teríamos algumas coisas para explicar.

—Espero não ter pego muito. -sorriu gentil, estava se esforçando para quebrar o gelo. -Obrigada por me ajudar.

—Você é realmente muito teimoso, Thomas. Da próxima vez vou te deixar com fome. -brinquei.

—E pensar que fui tão gentil com você e tudo que recebi em troca foi uma puxada de cabelo. -seu sorriso malicioso estava de volta, eu sentia vontade de afundar sua cabeça na lama toda vez que ele fazia aquilo.

—Tenho certeza de que fez de propósito, me desculpo mesmo assim, devia ter enfiado minhas unhas no seu braço ou ter te dado um choque. -ele riu e assim a tensão pareceu se dissipar, mas eu precisava contar a ele o que tinha acontecido. -Pouco antes de você me morder eu ouvi a voz em minha cabeça.

—E o que ela dizia? Você sentiu alguma coisa?

Lembrei-me do brasão em formato de lua que permanecia em meu pulso, mas nada havia acontecido daquela vez, apenas a voz suave e irritada tentando impedir Thomas de tomar meu sangue e mais nada.

—Não senti nada demais, a voz apenas dizia “não” e parecia muito determinada a manter você longe do meu pescoço.

—Isso é um bom sinal, talvez fosse realmente algum problema com o local, não com você. Mas ainda precisamos te levar para um local seguro, deveríamos voltar. -ele parecia realmente aliviado ao saber que havia sido muito diferente da última vez, fiquei satisfeita.

Porém senti uma pontada de decepção ao saber que voltaríamos para a clareira, queria passar apenas mais alguns minutos ali.

—Eu realmente não queria voltar. -resmunguei ao observá-lo se levantar e esticar a mão para que eu o seguisse.

—Já faz muito tempo que estamos aqui. -justificou.

—Thomas, já faz muito tempo que não fico do lado de fora, só mais um pouco, hm? -segurei em sua mão e fiquei balançando-a casualmente, como uma criança.

Não recebi uma resposta clara, mas ele voltou a se sentar ao meu lado.

—O castelo de seus pais é tão ruim assim? Morgana falava dele como se fosse algo como o inferno.

—Não sei o que quis dizer, mas tenho meus próprios motivos para odiar aquele lugar, entretanto sei que é o local mais seguro pra você agora e é isso o que importa. 

Aquilo me atingiu em cheio, não era nem de longe o que eu esperava ouvir.

Ele havia me colocado como prioridade ao invés de levar os próprios sentimentos em conta, aquilo me desconcertou.

—Não precisa se preocupar comigo, ouvi seu coração acelerar. -comentou desviando o olhar de mim e observando o lago mais uma vez. -É o lugar certo.

—Não precisa se arriscar por minha causa, Collins.

—E não é pra isso que estamos juntos desde o princípio? Já disse, não se preocupe comigo.

Respirei fundo, eu já havia vivido aquele momento outras vezes e eu sabia que tentar argumentar com Thomas era um beco sem saída, mas meu coração simplesmente não descansava.

—Vamos voltar. -me levantei abruptamente, Thomas pareceu surpreso com minha decisão repentina.

Também se levantou e me acompanhou por dentro da floresta seguindo o caminho de volta até a clareira, no meio do caminho me puxou e me colocou contra o tronco de uma árvore com urgência.

Arqueei minhas sobrancelhas em sua direção e esperei que ele me dissesse o que estava acontecendo, eu não havia ouvido ou visto nada que justificasse aquilo.

—Thomas… -sussurrei segurando em seu braço, ele nem mesmo estava tenso.

—Não sei o que fazer com você, honestamente. -respirou fundo e curvou o corpo em minha direção olhando-me nos olhos. - Não entendo porque fica ofendida quando digo que estou fazendo algo para te proteger, eu me importo com você. Digo que só estamos juntos por isso porque foi o que de fato aconteceu, mas ambos sabemos que eu não estaria aqui com você se eu não estivesse disposto a fazer de tudo para te manter a salvo. Você precisa me deixar te proteger.

—Eu quero Thomas, mas parece tão injusto. 

—Eu faço isso porque quero, é isso que você precisa entender, Kate. Eu, Anastasia, Max e Morgana estamos todos do seu lado e queremos o melhor pra você e escolhemos isso. -selou nossos lábios por longos segundos e eu não sabia, mas precisava muito daquilo. Algumas vezes a necessidade física que eu sentia por Thomas era como um imã inexplicável com o qual eu lutava contra. -Nós sabemos quanto você pode fazer, você é muito habilidosa, muito mesmo. Não pense nem por um segundo que é um peso para nós, tenho certeza de que todos se sentem muito mais seguros com você por perto do que o contrário.

Meus olhos estavam cheios de lágrimas, era óbvio que eu me considerava um fardo tendo em mente a diferença absurda entre o meu treinamento e o treinamento de Morgana, por exemplo. Mas após um longo tempo eu quis acreditar naquilo mais do que tudo no mundo.

Queria passar por aquilo e treinar mais para ser a melhor feiticeira que eu conseguisse ser, então eu também poderia protegê-los.

As lágrimas rolaram por entre as minhas bochechas e não consegui conter uma risada envergonhada.

—Não imaginava que você se preocupava tanto. -comentei baixo limpando o rosto com a manga da camiseta que usava.

—Existem algumas coisas que eu penso com relação a você que nem passam pela sua cabeça. -sorriu buscando meus lábios mais uma vez.

Beijei-o no meio de uma risada, provavelmente não devíamos estar fazendo aquilo naquele momento, mas a atração estava vencendo a razão nos últimos dias.

De volta a clareira após um beijo ou dois nada parecia estar fora do lugar, Morgana afiava uma faca, Max ainda dormia e Anastasia lia um livro.

—Achei algo que talvez possa nos ajudar. -Anastasia veio em nossa direção com o livro em mãos, me esforcei para manter a postura. -Max me contou o que houve com sua amiga, acho que sei o que pode ter acontecido.

—Isso é ótimo, Anastasia, o que aconteceu?

—Quando invadiram a sua mente, talvez tenham invadido a dela também. Tendo em mente que seu treinamento é mais avançado que o dela e durante seus exames me certifiquei de proteger sua mente, talvez não tão bem quanto eu pensava, ou isso nem teria acontecido. -parecia se culpar muito pelo ocorrido, eu reconhecia seu esforço e nem sequer sabia que ela havia tentado me proteger, senti um aperto no peito. -Estão manipulando a mente dela, sabe como… Hipnose? Isso, algo como uma hipnose remota.

—Isso é cruel e covarde em tantos níveis. -murmurei sentindo meu próprio sangue ferver.

Megan não havia feito nada para que aquilo acontecesse com ela, e agora eu estava aqui e ela lá. Vítima daquilo que ela muito provavelmente nem sabia o que era.

—Fique tranquila, Katherine. -tocou meu ombro e reparei que suas unhas ainda possuíam o mesmo tom de roxo escuro que tinham quando a conheci. -Não vão machucá-la. Não com esse feitiço, pelo que posso garantir, é algo tão primitivo e infantil, até uma criança faria um feitiço como esse. O que também quer dizer que é fácil de ser desfeito, assim que chegarmos no castelo dos Collins mandarei um pombo até Santa Marcelina informando-os do ocorrido e o que fazer.

—Obrigada Anastasia, muito obrigada mesmo, você é genial. -abracei-a num impulso, a garota riu alto.

Não trocava muitos toques com eles num geral, Thomas em exceção, eu apenas tocava Morgana nas lutas e raramente tocava em Max ou Anastasia então abraçá-la com força como fiz deve tê-la pego de surpresa.

—Você é a coisa mais adorável que eu já vi, Katherine. -Morgana murmurou apoiada no chão, a garota ria de nós.

Anastasia fez um leve carinho em minha cabeça logo após eu soltá-la, me senti como uma criança.

—Vocês são muito barulhentos, não deviam estar dormindo para continuarmos a viagem amanhã? -Max resmungou ainda deitado no chão e nos encarando com um olho aberto e o outro fechado, completamente sonolento.

—Você parece que está fazendo isso por todos nós. -provocou Morgana.

—Também preciso dormir, estou cansada. -comentei me sentando no chão próximo a fogueira.

Sem mencionar que acabara de dar meu sangue a Thomas alguns minutos atrás, meu corpo estava exausto.

—Vou dormir também, vocês vão ficar bem? -Morgana perguntou a Thomas e Anastasia.

Thomas ficaria de guarda de qualquer modo, tendo em vista que não precisava necessariamente ir dormir, e como Morgana havia ficado de guarda da última vez, agora era a vez de Anastasia.

—Perfeitamente bem, durmam bem. A caminhada amanhã será longa. -comentou Anastasia, sua voz calma e suave me passava tanta segurança que eu precisaria me esforçar para não me sentir segura ao seu lado.

—Kate, qualquer coisa você me protege com aquele escudo que você fez semana passada. -sussurrou Morgana vindo cada vez mais perto de mim, dei risada.

—Tudo bem, pode confiar em mim.

—Confio em você de olhos fechados. -concluiu.

Aquela frase significava muito mais para mim do que ela podia imaginar, dormi satisfeita.


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Notas finais do capítulo

a amizade deles eh tudo pra mim.



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