Lost escrita por Gabs


Capítulo 14
XIV


Notas iniciais do capítulo

oi rs, esse capítulo já tava escrito tinha um tempinho mas eu simplesmente esqueci de postar, so so sorry :(
Não vou me prolongar aqui então fiquem com o capítulo.
Hope you like it.



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“Faça sua escolha, ela ou ele? Escolha.”

Nada parecia claro, tanto a fala da voz misteriosa quanto as imagens que se desenrolavam à minha frente. Tudo era um grande borrão e eu não conseguia enxergar nada um palmo à minha frente, era angustiante. Tudo era branco, de cima a baixo, nenhuma forma, nenhum som e nenhuma cor, o mais puro branco e mais nada.

Meu corpo estava dormente sentado no chão, como se estivesse dopada.

Ouvi um guinchado de dor, virei-me na direção do som e vi Megan, numa poça de sangue segurando uma faca que estava cravada em seu peito, tentando removê-la.

Em pé ao seu lado com as mãos sujas de sangue, estava Thomas.

Congelei.

Ele me encarava fixamente com um leve ar de divertimento, como se me aterrorizar fosse fonte de grande satisfação para o garoto.

Tentei me afastar o mais lentamente que pude, ele deu dois passos na minha direção, por mais que ele não estivesse tão longe, senti como se pudesse correr dele.

Mas e Megan?

Não conseguiria deixá-la ali.

Mas antes que eu pudesse pensar em uma forma de chegar até ela, ele já estava perto demais.

Sua íris brilhava em vermelho da mesma forma que brilhou no dia em que me defendeu de Frederick, parecia não saber quem eu era, havia apenas fome em seus olhos e uma agressividade quase palpável o rodeava.

Sua presença era forte demais ao meu redor, eu sabia que qualquer mínimo movimento era suficiente para que ele acabasse comigo.

Não havia como saber o que faria a seguir, me senti completamente indefesa diante dele, exposta e vulnerável.

Tentei empurrá-lo para longe de mim, mas minha força não era nada comparada a dele. Thomas permaneceu ali me olhando, como se aguardasse que a voz dissesse algo.

Observei o garoto estender a mão a mim lentamente, eu ainda estava em estado de choque mas entendi o que aquilo queria dizer.

Aquela era a escolha, entre ficar com Thomas ou salvar Megan.



Então frio e a dor.

E meu rosto estatelado no chão do quarto.

Thomas ria como se eu fosse a coisa mais engraçada que ele já havia visto em toda a sua vida, contorcia-se e gargalhava sentado em sua poltrona, não muito longe de mim.

Se eu não estivesse ainda muito grogue do sono que fora bruscamente tirado de mim, eu estaria com muita vergonha devido a minha situação ridícula.

—Você… Porque não me ajudou? Qual é a sua? -sentei-me na cama fofa e bagunçada e puxei os edredons para cima de mim, aquela manhã estava mais fria do que o usual, e eu também gostaria de esconder minha falta de dignidade naquele momento.

—Estava tentando entender o que se passava na sua mente, quando vi você já estava no chão. -não conseguiu conter o riso por muito mais tempo, explodindo em gargalhadas e sentando-se na cama ao meu lado em seguida, olhando-me como se eu fosse uma criatura definitivamente fascinante. -Perdão.

Sua mão passeava carinhosamente pelo meu braço e ele me olhava nos olhos ao pedir perdão, ele estava sendo sincero naquele momento e ainda sorria aproveitando o final de gargalhada que escapava de seu peito e eu não conseguia esboçar nenhuma reação.

Era tudo tão novo e tão confortável, ao mesmo tempo que um frio se espalhava em meu interior eu gostava tanto de estar ali que beirava o absurdo.

Nunca cansaria de dizer que eu adorava os momentos que Thomas deixava transparecer seu lado não-agressivo, aqueles poucos e preciosos momentos em que ele não estava agindo como um soldado ou como se não fizesse a menor questão de desenvolver quaisquer tipos de laços com outros seres.

Ele conseguia ser só ele, de uma forma adorável e excitante - já que nunca se podia dizer quanto tempo aquilo iria durar - e ainda assim tão simples, apenas como qualquer outro garoto de 19 anos seria.

—Tudo bem? -não foram necessários mais de 2 segundos para que ele notasse algo diferente e aparentemente estranho em mim, começando a me analisar logo em seguida.

—Sim, tudo ótimo. Que horas são? -virei-me para olhar ao redor e toquei a mão fria de Thomas propositalmente apenas para verificar se sua reação seria de qualquer forma similar a minha.

Sim.

Pela forma como ele olhou para nossas mãos em seguida para mim, mais de duas vezes, concluí que ele havia ficado tão surpreso quanto eu.

—Quase cinco. -respondeu após uma pausa longa demais, tendo em conta a intensidade que me encarava, sentia que ele seria capaz de me jogar naquela cama ao menor deslize de minha parte.

E eu tinha acabado de acordar, ele é muito intenso para qualquer pessoa que acabara de acordar.

Caminhei até o banheiro em passos lentos e arrastados, parecia que haviam duas enormes pedras em meus ombros e eu estava muito mais cansada do que quando havia ido deitar na noite anterior e minha cabeça pesava muito.

Após fazer o mínimo de minha higiene matinal, voltei a cama e consegui me surpreender ao vê-lo deitado com os olhos fechados, mais pacífico do que eu jamais havia presenciado, sem mencionar o dia do jardim já que estávamos correndo o risco de sermos pegos, e tive uma vontade enorme de deitar ao seu lado e só ficar ali o dia todo, por mais meloso que isso pudesse soar.

Andava em direção a sua poltrona para deixá-lo relaxar um pouco na cama quando ouvi os pés de madeira da cama rangerem.

—Não vai deitar?

Virei-me com cautela tendo em mente que qualquer imbecil notaria a obscenidade com a qual ele havia feito aquela pergunta tão específica.

Entretanto, faltava tanto tempo para minha aula começar que a proposta parecia tentadora demais para ser negada.

E o sorriso que se formou nos lábios do garoto ao me ver indo em sua direção quase me fez derreter.

Thomas era muito.

Apenas demais para lidar em qualquer situação, muito intenso, muito sedutor e definitivamente muito atraente.

Me sentei e esperei cerca de 4 segundos antes de deitar só para me preparar, e não foi suficiente.

—Não vou te tocar se você não quiser, Kate. -um sorriso de canto puramente sacana brincava em seus lábios, meu interior estava em chamas.

—Tudo bem, isso é bom. -eu estava estranhamente nervosa, mas ali estava uma brecha que eu não podia perder. -Já houveram momentos nos quais você julgou que podia me tocar só porque achava que devia.

Ele se ajeitou na cama e com seus olhos mais abertos do que antes me encarou e com uma feição levemente preocupada, perguntou.

—Quando salvei sua vida?

Não havia ironia alguma na pergunta, ele não parecia estar curtindo com a minha cara.

Ele realmente queria saber.

—Quando me mordeu sem minha permissão. -esclareci.

Deitou-se novamente na cama e respirou fundo encarando o teto.

—Acho que nunca cheguei a me desculpar por isso, certo? -uma breve risada desajeitada, e ao voltar à suas feições sérias, continuou. -Me desculpe por esse dia, fui tomado por minha impulsividade e não é como se você estivesse errada naquele dia apenas por ser curiosa com coisas que envolvem sua vida.

Agora quem estava encarando alguém como se fosse algo curioso era eu, quantas personalidades diferentes poderia ter apenas uma pessoa?

—Você tem esses lapsos, às vezes. Como ontem depois do treinamento, você ficou aberto e receptivo e… carinhoso, se é que posso dizer isso. -eu estava um pouco desconfortável, mas certas coisas precisavam ser ditas ali.

Ele riu por alguns segundos e se virou para mim com um sorriso leve nos lábios.

—Já te disse porque mudei de abordagem com você, certo? - uma pausa para que eu assentisse e ele logo voltou a seu raciocínio. -Sua presença se tornou tão constante ao meu redor que, sem que eu percebesse, passou de irritante para confortável. Não é como se todos com quem eu convivo tenham esse privilégio, mas você é… interessante.

—Diz isso porque nos beijamos ocasionalmente?

Eu estava desconfiada, parecia que tinha sido ontem que ele tinha me ameaçado caso eu saísse do quarto e hoje ele diz que se sente confortável ao meu redor e me acha interessante?

—Katherine, eu também beijava Claire ocasionalmente e ela não era nem remotamente interessante.

—Aliás, o que aconteceu entre vocês dois?

—Ela não gostava muito de você, passava o dia todo falando coisas ruins sobre você e me cansei.

—Bom… então sou diferente de Claire de alguma forma. -murmurei, um pouco insegura sobre o que dizer a seguir, afinal ele havia me elogiado nas entrelinhas, e isso não acontecia com frequência.

—É.

O silêncio nos envolveu por alguns minutos, permanecemos ali deitados como duas múmias, eu conseguia sentir a pele de seu braço tocando a minha, tentava controlar até mesmo minha respiração, não gostava daquele tipo de situação, mas o que poderia fazer?

—Ainda é estranho pra você ficar perto de mim? -ele não me olhou ao perguntar, mas algo em sua voz denunciava que a resposta poderia mudar o rumo de toda a nossa relação.

—Bem, um pouco. Foi tudo muito rápido, mas me sinto mais confortável com você do que com pessoas que convivem comigo a mesma quantidade de tempo, como Sophia. Mas quando fecho os olhos, tudo passa. -gesticulei mais do que o necessário, mas pelo menos ele não havia me encarado para ver a vermelhidão em meu rosto.

Era algo simples, dizer como eu me sentia. Mas poderia qualquer coisa simples ser realmente simples quando se tem esse tipo de relação complicada com alguém? Sem mencionar o sonho que tive, no qual ele esfaqueava minha melhor amiga e em seguida esperava uma ordem para me matar.

Nada seguia uma ordem natural e muito menos normal.

—Quando fecha os olhos você quer dizer quando dorme?

—Quando te beijo.

Thomas pareceu muito mais surpreso do que achei que ele pudesse ficar, em seguida deu um suspiro aliviado com um pequeno sorriso e murmurou:

—Talvez seja apenas uma questão de tempo, sei que tipo de imagem carrego e sei que pode demorar a mudá-la.

Lembrei-me de Max e da história de sua amizade com Thomas, o que havia com aquele vampiro que teimava em fazer as pessoas o temerem antes de adorá-lo?

Um arrepio gelado percorreu minha espinha e até o último de meus fios de cabelo ficaram arrepiados. Sentia uma energia forte, como se uma mão invisível pairasse sobre mim, mal conseguia respirar mas ao mesmo tempo não conseguia me mover ou expressar minha agonia de qualquer forma.

Era algo parecido com uma paralisia do sono, angustiante e agonizante, eu tentava me mover mas não conseguia, essa energia intensa bloqueava todas as minhas ações.

Thomas não percebeu nada, talvez achasse que eu estava refletindo sobre nossa conversa, aquela era a primeira vez que ele não notava algo.

Aos poucos senti minha cabeça latejar cada vez mais, como se algo estivesse preenchendo-a e não houvesse mais espaço para expansão, tudo doía e eu não conseguia gritar ou tentar amenizar minha dor de qualquer forma, sentia que se aquilo continuasse eu desmaiaria em pouco tempo.

Obrigada por tudo, princesa.

A voz era sussurrada, não consegui determinar o gênero ao certo, mas parecia uma mulher, soava como se estivesse tão perto de mim a ponto de tocar minha orelha, uma ponta de medo cresceu em meu âmago e quando senti minhas lágrimas escorrerem pela minha bochecha o misto de medo, nojo e alívio preencheu todo meu ser, sentei-me na cama abruptamente e cobri meu rosto com as mãos.

—O que foi? -havia urgência em sua voz, ele não fazia ideia do que havia acontecido bem ali ao seu lado.

Não conseguia proferir nem uma palavra, entre os soluços e a lembrança viva de ser invadida e dominada por algo ou alguém ainda era muito forte para me permitir raciocinar algo.

—Você está machucada? -ele tocou meu ombro, passando o braço pelas minhas costas num meio abraço tentando me acalmar.

Consegui fazer um “não” com a cabeça ainda sem tirar as mãos do rosto, me sentia exposta e vulnerável a qualquer coisa.

Eu sempre fora consciente de que a magia poderia ser usada para fins próprios, sejam eles bons ou ruins, mas nunca havia considerado que a magia fosse usada contra outros feiticeiros. Eu tinha certeza que haviam sido feiticeiros ruins que haviam feito aquilo, nem ninfas seriam capazes de dominar e invadir daquela forma.

A raiva me invadiu como água que preenche um copo, não aceitava ser apenas o receptáculo para as maldades de alguém, e se decidissem usar dos mesmos métodos para me dominar e usar de peão para algo horrendo? Eu não teria como me defender e Thomas não poderia fazer nada para me ajudar.

Respirei fundo algumas vezes tentando ao máximo me acalmar, Thomas buscou um copo d'água para mim e aos poucos estabilizei meu estado mental.

—Melhor agora?

—Sim, obrigada. -por alguns segundos não consegui olhá-lo nos olhos, seu braço ainda me envolvia e sua mão ainda me tocava de forma protetora, quando consegui enfim encará-lo, percebi que estava realmente preocupado comigo.

Mas sobretudo respeitava meu espaço e minha vontade de não falar nada sobre o ocorrido.

—O que aconteceu?

—Eu… Hm, não entendi muito bem. -me encolhi e abracei meus próprios braços numa tentativa de proteção, minha cabeça estava cheia e bagunçada, não conseguia manter os pensamentos em uma linha estável. -Parece que alguém entrou na minha cabeça.

Thomas ficou inquieto, suas pupilas não paravam de se mover e parecia pensar em mil coisas, não sabia o que aquilo significava, mas conseguia ver o quanto aquilo parecia grave, uma vez que Thomas era muito controlado.

—Isso não é bom. -foi o que saiu de seus lábios antes do garoto se levantar e começar a andar pelo quarto como se pensasse numa estratégia de fuga. -Você está bem?

Ponderei por alguns segundos, estava inegavelmente incomodada e meu psicológico abalado, mas fisicamente bem.

—Estou bem.

Ele continuou a me analisar por cerca de dez segundos, como se não acreditasse no que eu dizia, parecia preocupado comigo.

—Temos que sair daqui. -foi tudo o que ele disse.

Segurou minha mão, me levou até o guarda-roupas e com pressa procurou alguma peça de roupa, tirou dali o moletom vermelho que havia me emprestado alguns meses antes e colocou em meus braços.

—Vamos sair? Como sair? Sair, sair?!

—Sim, sair do colégio, não é mais um local seguro para você.

Bom, disso ele tinha razão, mas não entendia como sair de um local protegido com feitiços e pessoas experientes pudesse ter qualquer efeito positivo, e afinal para onde iríamos?

Ele não parecia muito interessado em me contar tão cedo, e afobado do jeito que estava achei melhor não perguntar neste momento.

Cruzamos os corredores do colégio com rapidez, Thomas estava na frente me guiando e parecia muito, muito apressado, como se tivéssemos que sair imediatamente.

Chegamos à porta da sala da diretora e, como das outras vezes, Thomas abriu a porta num baque, sem ter o decoro de bater. Recebeu mais alguns olhares de desprezo da diretora e de seus convidados, algumas pessoas que eu não conhecia, e pediu para que eles saíssem.

—O que aconteceu dessa vez, Thomas? -seu tom soava como se falasse com uma criança desobediente que sempre causava problemas.

Não conhecia muito de Thomas, mas tudo o que ele fazia ao meu redor dava a entender que por mais que fosse daquele jeito, era responsável com aquilo que fazia.

—Preciso tirar a Katherine daqui, hoje. Agora. -bateu sua mão na mesa com urgência.

A diretora ficou atônita, claro que ela não acreditava no que havia acabado de ouvir, era pura loucura. Mas o olhar de Thomas não a deixava ter dúvidas de que ele falava sério.

Minha cabeça voltou a doer, não queria que aquilo acontecesse novamente, mas não era igual.

Era como se todas as fibras de meu cérebro estivessem sendo reparadas pela invasão de apenas alguns minutos atrás, como se estivesse se curando.

Havia perdido um pedaço da conversa, mas a diretora parecia ter começado a levar Thomas mais a sério agora, os dois estavam tendo uma discussão calorosa.

—Vê? Ela não pode mais ficar aqui, não estão cumprindo com a promessa de proteção que haviam proposto. Meu poder de proteção só vai até certo ponto, não posso protegê-la de algo dentro da cabeça dela, por mais que tente.

—E o que quer que façamos? Estamos dando nosso máximo, ela é tanto sua prioridade quanto nossa, Collins. E é exatamente por isso que não podemos deixar que você leve-a embora, se saírem estarão ainda mais expostos, você acha que sabe, mas não sabe o que podem enfrentar lá fora. -eu nunca havia visto ela gesticular tanto, parecia disposta a convencer Thomas apenas argumentando contra ele, mas ambas sabíamos que aquilo tinha poucas chances de funcionar, ele não tiraria aquilo da cabeça.

Senti uma dor aguda na cabeça, travei e caí no chão.

Era como se estivessem enfiando o dedo em meu cérebro e girando, a dor era tão incômoda e forte que mal conseguia abrir os olhos.

Era como se tivesse me desconectado de tudo o que acontecia, Thomas se ajoelhou ao meu lado me dando auxílio enquanto continuava a argumentar com a diretora, ela parecia chocada com toda aquela situação, não sabia o que fazer.

Aos poucos as coisas voltaram a fazer sentido e a enorme pressão que estava sendo jogada sobre meu corpo se dissipou, tentei me levantar, mas ainda não tinha forças suficientes para aquilo. E, diferente da primeira vez, eu sentia dor física.

Tão suave quanto uma marca d’água, em meu braço direito, na altura de meu pulso havia um selo com o brasão de uma lua, queimava meu braço de dentro para fora, mas a marca não se intensificava, parecia estar ali apenas para me causar dor.

—Não sei como isso é possível. -a mulher estava boquiaberta enquanto Thomas continuava a falar com ela agressivamente de forma que nunca havia visto antes.

—Não poderia ser possível, e é por isso que estou levando-a embora.

—Não pode fazer isso, temos que avisar seus pais! -seu tom estava elevado, como se estivesse usando de seus últimos recursos para tentar convencê-lo, levantou-se de sua cadeira e bateu a mão na mesa, suas feições revelavam certo desespero, comecei a me preocupar com as ações de Thomas.

—Você não se importa com ela, nenhum de vocês se importa. Enquanto ela corre risco de vida a cada segundo que passa dentro dessas paredes sua maior preocupação é a permissão dos meus pais.

—Você não entende burocracia, nunca obedece às regras. É por isso que não consegue fazer nada certo. -acusou.

—Não fale comigo sobre burocracia, você não sabe a metade. E não se preocupe comigo. -aquelas pareciam ser as últimas palavras a serem ditas, Thomas voltou-se a mim, ainda caída no chão recuperando o fôlego, me ajudou a levantar e saímos da sala rapidamente.

—Vamos mesmo embora?

—Sim, é o melhor a se fazer. Vou chamar Megan, Max e Anastasia para nos darem apoio, ela acha que não sei o que temos pela frente, mas sei que sou capaz de te proteger.

Aquelas palavras realmente me convenceram, e eu já tinha provas de que ele era bom no que fazia. Achava interessante, entretanto, que ele mesmo assim iria chamar Morgana, Max e Anastasia como um reforço, já que por mais que se garantisse, ele sabia que as coisas podiam dar errado.

Voltando aos corredores dos dormitórios, vesti sua blusa e me senti protegida, cruzamos com Max no meio do caminho e logo que nos olhou, soube que algo estava errado.

—Vamos sair. -Thomas anunciou sem enfeitar o fato de que iríamos fugir.

—O que aconteceu?

—O trato foi quebrado.

A expressão de surpresa e pavor de Max foi tanta que demorou alguns minutos para que respondesse.

—Precisamos de Morgana e Anastasia.

—Seria mais rápido chamar Anastasia na saída, a sala da enfermaria fica no corredor principal, vamos atrás de Morgana primeiro, nunca se sabe onde ela pode estar. -Max parecia estar traçando um plano, parecia que de tanto conviver com Thomas ele havia adquirido algumas de suas características.

Com Max na frente seguimos por dentre os inúmeros corredores do colégio, percebi que haviam tantos que eu jamais poderia decorá-los todos.

Demoramos a encontrá-la, apenas conseguimos achá-la em um jardim escuro e mal iluminado que havia na parte de trás do colégio, estava sozinha e massageava as têmporas, parecia impaciente.

—Você tinha que estar aqui no fundo? - Max perguntou batendo a mão na mesa e acordando a garota de seu transe.

—Por quê? O que você quer? - levantou a cabeça e pareceu levemente chocada ao ver todos os três ali à sua procura com olhares aflitos, mas não demonstrou interesse suficiente para nos perguntar o que havia de errado.

—Precisamos de você. - Thomas disse apressadamente, parecia angustiado.

—E para quê?

—O trato foi quebrado. - repetiu o que disse a Max e, assim como o garoto, Morgana pareceu entender tudo com apenas aquela frase. —Estamos de saída.

Ela se levantou já com uma expressão completamente diferente, agora parecia séria devido às circunstâncias, mas ainda assim tinha dúvidas sobre o que faríamos em seguida.

—E qual é o plano? - ajeitou suas roupas e então nós quatro fomos em direção à enfermaria em busca de Anastasia.

—Vamos levá-la até o castelo dos meus pais, eles tem o que é necessário lá.

Não consegui distinguir ao certo o que a garota sentia através apenas de sua expressão facial, mas eu tinha absoluta certeza de que ela não achava aquele um dos melhores planos.

Chegamos à enfermaria e Anastasia já nos esperava com uma mochila grande em mãos e não vestia seu jaleco branco e roupas simples, substituindo-os por uma calça de treinamento com proteção extra nos joelhos, jaqueta camuflada, coturno e seu longo cabelo negro estava preso em um rabo de cavalo no topo de sua cabeça.

—Creio que já esteja a par da situação. - brincou Max, era claro que Anastasia sempre estaria um passo a nossa frente.

—É arriscado. - lembrou pegando sua mochila e nos seguindo para o portão principal. —Já estão no portão principal, precisaremos de um caminho alternativo.

Com um aceno de cabeça Thomas e Morgana seguiram para o mesmo caminho, tomando a esquerda debaixo da grande escada que levava à área dos dormitórios, eu, Max e Anastasia os seguimos.

Aparentemente apenas Thomas e Morgana conheciam aquele caminho, o que significava que ele era mais secreto do que parecia.

Ponderei sobre a relação de ambos, desgostavam das atitudes um do outro e não pareciam passar muito tempo juntos, porém apenas os dois sabiam de certas coisas, como o baile, em que Morgana sabia que Thomas já iria ao baile antes mesmo que eu descobrisse a linhagem real de Thomas, ou quando treinamos fora do colégio onde Thomas mencionou que Morgana era muito impulsiva e irracional em missões e durante a luta para decidirem quem me acompanharia, Morgana conseguiu prever quase a metade dos movimentos de Thomas.

Porém, da mesma forma com que se opunham trabalhavam muito bem juntos, parecia que por mais que não conseguissem se entender em alguns aspectos haviam desenvolvido uma sincronia admirável como guerreiros.

Eu era grata por tê-los ao meu lado.

—Você fica atrás de nós, ok? Anastasia ficará com você caso algo aconteça. -Thomas segurava em meus ombros mantendo nossos olhos firmes uns nos outros, mas era perceptível demais o quanto ele estava preocupado com aquilo.

Não queria encher sua cabeça com mais coisas, assenti e concordei em ficar ao lado de Anastasia o tempo todo, mas eu não conseguiria deixá-los tomando conta de mim, eu podia ajudá-los e era isso o que eu faria.

Estávamos no salão principal e um silêncio incômodo nos rodeava, ao contrário do que pensávamos, não havia ninguém ali para nos impedir.

Ficamos em posição de defesa perto da escada principal, Max foi na frente em uma tentativa de identificar uma emboscada, puxou a porta principal e do lado de fora também não havia ninguém.

—Isso é impossível. -suspeitou Morgana.

—Não há ninguém aqui. -Anastasia confirmou usando de seus poderes telepáticos, porém não desfez sua postura alerta nem mesmo por um segundo. -Nenhum sinal vital detectado.

Max fez um gesto com a cabeça e começamos a nos movimentar para fora do colégio, do lado de fora apenas os insetos podiam ser ouvidos, tudo parecia muito suspeito. Max forçou abriu o portão principal, mas este estava fechado.

—Não podia ser tão fácil. -Morgana sussurrou.

—Eu consigo. -ofereci.

Com os olhares de preocupação me acompanhando, fui até as grossas barras de ferro do enorme portão e coloquei minhas mãos ali, eu já havia aprendido muita coisa desde que havia entrado ali, e agora as colocaria em prática.

Foquei-me em minhas mãos e mentalizei o que queria, eu queria calor. Eu havia treinado muitas vezes táticas de fuga em aula, como utilizar cada um dos métodos em diferentes momentos e em diferentes materiais, e eu sabia que a maneira mais rápida de combater o ferro era derretendo-o. Tratando-se de um ferro com alguma propriedade mágica, quantos graus Kelvin eu conseguisse imaginar, melhor. Lentamente o ferro tomou uma cor avermelhada de ferro fervente e escorregou por minhas mãos, e com um soluço surpreso de Morgana, o portão estava aberto.


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Notas finais do capítulo

eh isto o próximo sai logologo ♥



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