Do You Hate Me? escrita por Srta Who


Capítulo 6
Eu Odeio Hospitais.




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Capítulo VI –

Eu Odeio Hospitais.

            Os músculos de Yukio doíam e queimavam por baixo da camisa quando ele abriu as pálpebras para mundo turvo que se descortinava diante de si quando estava longe de seu fiel par de óculos retangulares. Ele sentiu a cabeça martelar quando a claridade se tornou desconfortável demais para aguentar. Onde estava afinal de contas? E como tinha ido parar naquele lugar? O rapaz lembrava de... de... droga, por que sua mão direita doía tanto?

Ah é.… foi isso...

            Agora, passada a pequena amnesia que todos têm ao acordar, ele lembrava de tudo. É claro que sua mão doía! Tinha agarrado a espada daquela louca pelo fio, seria um milagre se fosse diferente. Ela tinha tentado se matar... Yukio nunca imaginou vê-la tentando algo assim, sempre pensou que ela tinha muito amor próprio para tanto como podia achar que sua morte resolveria qualquer coisa? No máximo daria mais razão para Hachiro despedaçar a ele e a seu irmão, e Yukio não podia deixar que isso acontecesse. Bem ao menos essa seria uma desculpa plausível para o plano, no mínimo inusitado, que arranjou. Já fazia umas duas semanas e meia que estava internado no hospital da vera cruz depois de quebrar algumas costelas e braço em Aomori, mas o rapaz ainda se sentia envergonhado de pensar no plano que teve para livrar Shura do selo de contrato. E se sentia corar até a ponta dos cabelos negros só de pensar como todos seus colegas o olhariam se alguém espalhasse que ele tinha prometido engravidar Shura!  

            Yukio grunhiu, mais sofrendo por antecipação do que realmente se arrependendo do que fez, e bem no fundo, um pouco por tomar consciência de que se importava o bastante com Shura para se submeter a possíveis meses a fio recebendo olhares inadequados de seus colegas e de seu irmão mais velho! Ele tentava enganar-se, dizendo que fazendo aquela promessa ridícula conseguiria o contrato e o poder de regeneração sobre-humano que ele trazia, além de que, a condição para que ele a engravidasse e desse o bebe para o demônio envolvia que ele tirasse o selo de contrato do corpo de Shura, que a mataria aos 30 ainda que Hachiro morresse, e o passasse para Yukio, seriam dois coelhos com uma única cajadada! Mas ele nunca conseguia mentir para si mesmo, nunca teve esperança de conseguir finalizar o contrato. Sabia que Rin acordaria antes e atacaria. E de fato foi o que aconteceu. O que o deixou sem a regeneração e o renderia alguns dias evitando todos os outros exorcistas e principalmente Mephisto quando saísse daquela cama.

            A expressão de surpresa no rosto de Hachiro quando a espada de Rin atravessou seu corpo e o queimou com as chamas azuis num enorme fogaréu estava gravada na memória de Yukio permanentemente, foi a segunda coisa mais gratificante que viu aquele dia. Porque a não ser que o próprio Shirou tivesse voltado a vida e lhe dado os parabéns pessoalmente nada superaria a expressão de Shura quando, com o máximo de calma possível, o rapaz anunciou “você está livre”.

Ela nunca havia olhado para Yukio ou qualquer outro, exceto talvez seu pai, daquela forma. Foi respeito que que tomou seus olhos e arrancou aquela eterna ironia quase obscena de seu rosto? Foi um respeito repentino por alguém a quem passou a vida inteira chamando de fraco, e a quem agora devia a vida, que a impedira de falar? Bem, Yukio nunca saberia ao certo se a ruiva estava grata, surpresa ou os dois. Não teve tempo de perguntar, porque Hachiro ressurgiu em sua forma original de Hidra, e extremamente furioso por ter sido enganado por um humano.

            Yukio se revirou na cama do hospital sentindo cada um de seus ossos quebrados, e agora operados, doerem com o movimento. “Onde eu estava com a cabeça? “ Ele pensava dolorido. Mas, admitindo ou não, aquela era uma pergunta retórica, porque o rapaz tinha plena consciência de onde sua cabeça estava quando correu feito... feito seu irmão para onde Shura estava sendo apertada até ficar arroxeada pelos tentáculos do demônio. Ah, Yukio lembra exatamente de cada pensamento que passou por sua mente furiosa naqueles momentos.  

“Eu não posso deixa-la morrer!!”

Nesses dias no hospital entre um relatório e outro, ele fazia questão de continuar trabalhando ainda que só tivesse um braço disponível para isso, o rapaz imaginava o que seu pai diria se estivesse lá com eles. Provavelmente teria rolado no chão e ficado sem ar de tanto rir, por ser Yukio Okumura a correr imprudentemente em direção a um inimigo tão poderoso e com armamento leve para salvar alguém que ele tanto insistia em dizer odiar. Tinha sido ele o inconsequente que acabou sendo pego por Hachiro que apertou tão fortemente os tentáculos em seu corpo ao ponto de quebrar vários de seus ossos quase instantemente. E claro, depois riria ainda mais por Shura, que já tinha aceitado a morte como uma velha amiga, ter desistido de seus planos fúnebres para salvá-lo, cortando seu longo cabelo no processo por acidente.

Shirou teria um ataque cardíaco e morreria de tanto rir com a cena de uma Shura com cabelos curtos, que para ser sincero Yukio achava bem mais bonita, arrastando o exorcista de 15 anos nos ombros depois que Rin reduziu Hachiro a condição de uma cobrinha insignificante com suas chamas constantes. E claro, voltaria a vida para morrer de rir de novo com a conversa que ela, Yukio, Rin e Shima, o “reforço” mandado por Mephisto, tiveram alguns minutos depois.

“Eu sou uma nova garota, até meu novo corte de cabelo faz com que me sinta livre. É como um peso que desapareceu. ”

“Esse estilo de cabelo... hm.… combina com você. “

            Yukio nunca fez o estilo “puxa-saco”, muito menos o “reclamão”, ele não elogiaria a ninguém se não acreditasse de fato em suas palavras, quando não gostava de algo o rapaz simplesmente ficava quieto e evitava fazer alerde de sua reprovação pessoal. E se tratando dela... devia estar realmente bonito para ele ter falado algo tão... tão bobo. No entanto, Shura riu, não acreditando que o rapaz estivesse sendo sincero.

“Você quer dizer que parece de garoto, não é? ”

“Não... só, ficou bonito. “

            Ele poderia ter ficado calado, e não ter dito nada sobre os cabelos de Shura, agora quase tão curtos quanto os seus, terem lhe agradado, afinal de contas ela não ligava se o agradava ou não e Yukio sabia disso, mas se tivesse permanecido em silêncio jamais teria visto a surpresa quase envergonhada que tomou conta do rosto da exorcista por alguns segundos. Jamais teria visto Shura quase corar, o que era impagável, só para logo depois começar a chama-lo de garanhão de quatro olhos e importuná-lo, e logo em seguida abraçar a ele a Rin, enterrando a cabeça ruiva e loira especialmente em seu peito.

            O que veio depois disso ainda era um pouco confuso. Yukio lembrava de estar sentado na escada do templo enquanto um grupo da Vera Cruz fazia uma busca por Hachiro que fugira ao ser derrotado, também lembra de conversar com Shima que fez piada sobre seu plano inicial para salvar Shura, e depois... depois ele desmaiou na neve e acordou na cama de hospital onde teria de ficar por dois meses se recuperando.

            Ele daria quase qualquer coisa no mundo para sair daquele lugar o mais rápido possível! Era uma perda de tempo imensurável estar preso naquela cama! De uma coisa Yukio tinha certeza, nunca mais tentaria salvar Shura, ele sempre acabava quebrado depois. O rapaz agarrou os óculos no criado mudo próximo a cama, e também alguns dos papeis ao lado destes. Precisava trabalhar, nunca terminaria aquela papelada se deixasse que se acumulasse por mais um mês.

...

—Ah pelo amor de Deus, quatro olhos! Guarda isso! Será que nem de cama você consegue relaxar?! – Shura entrou fazendo alarde lá pelas duas da tarde, provavelmente tinha acabado de acordar. Ela o visitava bastante. Enquanto Rin aparecia lá uma talvez duas vezes por semana Shura ia vê-lo quase todos os dias, ao ponto de as enfermeiras perguntarem se a mulher era sua namorada ou coisa do gênero, Yukio engasgou com a comida ao ouvir a pergunta.

—Você por outro lado consegue relaxar em qualquer situação... – Ele franziu o cenho sem tirar os olhos do livro de cálculo.

—Vou proibir Rin de pegar o dever de casa que aquelas histéricas insistem em te mandar. – A exorcista se jogou na poltrona do quarto. Todos os dias uma garota, mais de uma as vezes, faziam questão de entregar a Rin uma lista dos exercícios e um resumo das aulas que ele levava para Yukio quando ia visita-lo. Bem, tendo elas segundas intenções ou não o rapaz se sentia feliz por não acumular dois meses de deveres de casa nem de seu trabalho de professor que era mandado para seu e-mail todos os dias.

—Por que está aqui?

—Vim sentar no colo do papai Noel. O que acha que estou fazendo aqui, quatro olhos? – Eles tinham aquela mesma conversa sempre que Shura o visitava, e ela sempre o visitava. Começavam com os insultos, depois passavam para qualquer assunto aleatório que ela trouxesse à tona e terminavam quietos por muito tempo, as vezes a exorcista dormia na poltrona enquanto Yukio terminava qualquer coisa que estivesse fazendo. O rapaz sempre rezava para que ela nunca descobrisse que nessas ocasiões ele passava vários minutos observando-a cochilar de boca aberta feito uma criança e que quando voltava a trabalhar depois disso se sentia revigorado. Ela nunca o deixaria em paz se descobrisse! Mas ainda que Yukio não soubesse ela também o observava, e também rezava para que ele nunca olhasse para o lado enquanto seus aguçados olhos purpuras o assistiam fazer todo tipo de expressão engraçada enquanto estudava ou trabalhava. Ela o achava fofo quando estava quieto fazendo biquinho para alguma questão mais complicada, assim como ele a achava encantadora enquanto dormia. Mas os dois morreriam duas vezes antes de admitir isso para qualquer um. 

            Se Shirou puder vê-los de onde quer que esteja certamente está rindo horrores por fora com o fato daqueles dois idiotas continuarem dizendo a si mesmos que se odeiam, quando era obvio tanto para ele quanto para as enfermeiras, que vez ou outra olhavam-nos pela porta aberta, que se Yukio e Shura algum dia se odiaram de fato isso foi num passado muito distante, e qualquer remorso que pudesse ter sobrevivido àquele passado foi enterrada na neve de Aomori quando Yukio finalmente descobriu que a exorcista vulgar e ociosa a quem ele tanto xingava por desperdiçar o talento com preguiça era na verdade uma das mulheres mais fortes que já conheceu e quando Shura conseguiu ver que o “gato medroso de quatro olhos” havia crescido e se tornado um homem, e não qualquer homem, ela podia ver o velho por trás daqueles olhos azuis. As descobertas daquele dia chocaram os dois, mas agora, passadas tantas semanas e tantas conversas ambos as achavam reconfortantes. Tão reconfortantes que Shura sentia por ir embora quando o horário de visitas acabava e Yukio suspirava desanimado ao vê-la passar pela porta. Shura nunca falava se voltaria no dia seguinte, e Yukio nunca lhe pedia para voltar. Aquilo não era necessário, não entre eles.


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