Do You Hate Me? escrita por Srta Who


Capítulo 5
Eu Odeio Piadas.




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Capitulo V –

Eu Odeio Piadas.

            Não importa quanto tempo se conviva com alguém. Não importa quantas vezes esse alguém tenha salvo sua vida. Não importa se esse alguém for sua única amiga. Não importa se esse alguém te odeia. Você nunca a conhecerá mais do que ela esteja disposta a te mostrar. Yukio sabia muito bem disso. Ele sabia de cor todos os truques possíveis. Já tinha usado cada sorriso e cada desculpa de novo e de novo, tudo para se manter solitário em seu mundo particular.  Mas ele nunca conseguia enganar Shura. Aquela bêbada e irritante sempre lhe arrancava a verdade de um jeito ou de outro. E apesar de não saber sobre boa parte de seu passado Yukio jamais imaginou que ela punha outras cores nos mesmos truques e roubava-os para si.

“Eu vou morrer em breve”

            Yukio não conseguia parar de pensar naquelas palavras. E seus olhos azuis não eram capazes de mover-se para longe do rosto da exorcista. Aquilo só podia ser uma brincadeira, uma brincadeira de muito mal gosto!

—Morrer? – É, era uma brincadeira! Shura deveria estar bêbada como sempre! E como sempre depois de assusta-lo iria pular, gritar e o chamar de idiota. Era isso, tinha de ser!

—Do que você está falando?! – Era agora. Ela já tinha assustado os dois! Iria dizer a verdade a qualquer segundo. Mas por que ainda carregava o olhar vazio? Por que ainda encarava a parede? Por que não estava rindo? Shura sempre ria de suas próprias piadas, por mais sem graça que fossem.

—Eu meio que... estou em um contrato, com Hachiro Taro Okami, o dragão rei que domina a região ao redor de Towada. – Ela finalmente moveu os orbes purpuras em direção a eles. Então Yukio percebeu, não era nenhuma brincadeira. Ela não iria tão longe por uma pegadinha. E isso o assustou muito.

—Hachirotaro da lenda Sanko?!

—Não me surpreende que você saiba disso, seu quatro olhos fracote! – Ele nem teve tempo de se irritar, ou se importar com o insulto. Shura só podia estar louca!

—Eu pensei que os monges budistas tinham o derrotado mais de mil anos atrás.

—Não. Ele foi apenas selado no lago Towada. Hachiro é um demônio de altíssimo nível chamado Hidra. Ele está fraco agora, mas possuí um forte poder divino e uma regeneração que o torna quase imortal.

            Depois de falar sobre o contrato não havia saída, daquela vez ela teria de contar a verdade que jurou levar para o tumulo. Shura começou por Tatsuko, sua ancestral que séculos atrás fugira de sua vila natal para criar seu próprio estilo de luta. Ela foi perseguida pelos ninjas Iga, e quando chegou ao norte do país, na região de Aomori, Tatsuko estava quase morta, lá ela encontrou Hachiro que se apaixonou por seu espírito guerreiro e lhe propôs um pacto. Em troca da espada demoníaca ela daria luz uma filha que seria sua cópia exata, geração após geração o contrato continuaria, e Tatsuko viveria para sempre renascendo e morrendo aos trinta anos, deixando uma novo “clone” em seu lugar, que aprenderia o estilo Kirigakure, daria luz a uma filha e aceitaria a morte quando a hora chegasse.

            Yukio e Rin demonstraram diferentes reações à medida que ela contava a história. O mais velho permaneceu de boca aberta o tempo inteiro e o quatro olhos... bem, era o quatro olhos, se não o conhecesse tão bem, teria pensado que ele não se importava com ela, ou com seu destino. Mas Shura o conhecia bem, bem demais para acreditar nisso. No fundo Yukio estava tão surpreso e assustado quanto seu irmão, talvez até mais. Ele a preocupava, não era bom para um garoto naquela idade ser tão bom fingindo. Tudo o que podia esperar era que aquele quatro olhos ficasse bem depois que ela se fosse. Deus sabe que nas últimas semanas Shura era a única com quem Yukio agia normalmente. Para a ser sincera consigo mesma a exorcista tinha de admitir que tinha medo do que o rapaz faria sem ela ou o velho por perto.

            Rin como sempre tentou anima-la dizendo que mataria Hachiro para que ela vivesse. Aquele garoto realmente tinha um coração nobre, mas uma cabeça oca. Ele parecia não ouvir uma palavra, ou talvez apenas ignorasse aquelas que não lhe agradavam. Por acaso não a ouvira dizer que Hachiro era imortal?

—Eu sabia que não viveria muito, então nunca criei um laço que me arrependeria de abandonar. Então não se preocupe. – Obviamente era mentira. Ela tinha se apegado aos Okumura mais do que gostava de admitir, mas contanto que ninguém além dela soubesse disso tudo ficaria bem. É claro que Rin surtou, ele a agarrou pelo robe e gritou sobre como ele não desistira de salva-la. Era bem a cara deles fazer isso. Ele foi arrastado para fora do quarto por Yukio que a mandou descansar. E Shura pegou no sono. Apesar de suas feridas estarem completamente curadas ela se sentia exausta, talvez fosse a falta de bebida.

Quando acordou tinha sido levada de volta ao templo. Estava de pé na com Hachiro a sua frente. Ela se sentiu grata por aquele demônio não ter um corpo físico e sua forma de homem loiro com centenas de olhos ser apenas uma sombra de sua forma original de hidra. Preferia não queria imaginar o que lhe aconteceria se fosse diferente.

            Mas não importava o que acontecesse ela seria firme em suas convicções, não daria uma filha à Hachiro. Shura estava determinada a não cumprir sua parte naquele acordo, não haveria nenhuma outra Kirigakure depois dela, porque ela não queria por um clone seu no mundo que viveria como se já estivesse morta, sendo perseguida pela sombra de um contrato com o qual se quer concordou. Não. Aquela insanidade não podia continuar.  

            Ela estava assustada. Bem, quem não estaria tendo um demônio de um nível tão elevado te controlando, te impedindo de se mover e ainda por cima gritando sobre você ser alguém que morreu há centenas de anos e também que você o dará um filho? Isso é assustador! Mas estava tudo bem, ainda que estar impedida de dar um passo se quer além do ponto onde se encontrava congelada na escadaria que levava a porta do templo fosse o inferno, ela estava pronta para tudo isso, desde a tremedeira, o medo, a hesitação, a confusão mental, até a morte. Lhe confortava saber que estar naquela posição era a consequência de uma escolha sua, e não de alguma ancestral que nunca viu. Porque isso implicava em desafiar seu destino, em ser livre, ainda que, por um breve, e delicioso, momento.

—Shura!!!

            Só podia ser uma piada! O que Rin pensava que estava fazendo apontando a espada para um inimigo tão poderoso? E o que o medroso do Yukio fazia vindo logo atrás dele na escadaria?! Aqueles dois eram malucos por acaso?! Como podiam se arriscar dessa forma numa luta inútil?!

            Yukio só teve tempo de gritar o nome de Rin, porque logo em seguida seu irmão estava sendo lançado para longe por uma cobra enorme na qual se transformou o braço de Hachiro. Mal teve tempo mudar a direção do olhar antes de ser chutado para o chão.

—Quem é você? E qual sua conexão com essa mulher?! – O demônio parecia furioso pela presença deles. “Qual sua conexão com essa mulher? ” Aquela era realmente uma boa pergunta que Yukio não tinha a menor ideia de como responder, mas pensaria sobre isso mais tarde. Não havia tempo agora.

            E então a raiva da criatura cheia de olhos se dissipou, e ele sorriu.

—Bem, agora temos um homem humano... um homem que vai pular no fogo. – Ele estava rindo.

—Do... do que está falando? Você não está dizendo que...

—Sim... você plantará a semente... - Há algum recorde para o número de piadas de mal gosto que alguém pode ouvir em um dia? Se houver, por favor, avisem que Yukio Okumura acaba de quebra-lo. O rapaz arregalou os olhos incapaz de acreditar no que acabou de ouvir. Seus músculos começaram a tremer com o esforço para se mexer. Se pelo menos pudesse sair debaixo dos pés de Hachiro... se pelo menos pudesse controlar seu próprio corpo... Aquilo era algum tipo de hipnose?

—Não faça isso, Hachiro! Ele é apenas um garoto! – Shura estava igualmente estupefata. “De todas as pessoas no mundo, por que sempre o quatro olhos? ”. O destino certamente a odiava.

—Então faça você. Vá!

            Shura tentou se controlar, mas isso era tentar nadar contra um tsunami, uma hora ou outra não teria mais forças para fazê-lo. A voz de Hachiro gritava em sua cabeça e criava ecos de si mesma.  “Vá! Vá! Vá! Vá! Vá! “ O comando era repetido em sua mente, ficando cada vez mais alto até que se tornou impossível pensar, impossível resistir à ordem recebida. Ela correu e se atirou por cima de um amedrontado Yukio.

            Yukio sabia que aquela não era Shura, mas ainda assim aquilo era inaceitável! Ele ainda não podia se mover. Então não pode tirar a mão dela do fecho do pesado casaco padrão dos exorcistas da Vera Cruz que usava. Não pode empurra-la para longe quando abriu a boca e o beijou enquanto tentava abrir os botões do casaco e puxar o zíper do suéter. Yukio não podia fazer nada além de pedir que ela parasse, mas aquilo era inútil, porque aquela não era Shura. Era apenas a vontade doentia de Hachiro de levar o contrato adiante. E por isso ele sabia que as mãos geladas continuariam a descer todo o caminho do seu peito até o cinto da calça. E... “Merda! ” Ele só queria que Shura parasse de tocá-lo daquela forma! Só queria poder se mover!

            Há alguns metros dali Rin finalmente conseguia se livrar da cobra de Hachiro que o tinha agarrado pela cintura com a boca. Ele respirou aliviado quando finalmente se soltou daquela coisa. “Eu vou fazer picadinho daquele cara. “ Rin correu de volta para o topo da escada onde tinha visto Yukio antes de ser atacado, ele estava mais animado do que deveria estar. Salvar uma garota na primeira missão com seu irmãozinho! Podia ser melhor? Bem, podia, se a garota em perigo fosse realmente uma garota e não a mulher que passou os últimos meses o comendo vivo nos treinamentos. E o garoto ficou mais feliz ainda depois de arrancar um bom pedaço da cobra, tão feliz que nem notou seu irmão mais ao canto subindo o zíper do suéter e Shura lhe pedindo desculpas. Ambos extremamente felizes por Hachiro ter se distraído e perdido o controle sobre eles graças ao ataque de Rin, por terem sido libertados daquela situação estranha antes que tudo ficasse ainda mais estranho. 


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