Do You Hate Me? escrita por Srta Who


Capítulo 7
Eu Odeio Doença – Parte I.


Notas iniciais do capítulo

Eu queria realmente fazer isso numa parte só, mas quando acabei esse pedaço vi que já estava com 5 páginas, e o resto provavelmente dará mais umas 4 ou 5, e ia ficar muito grande então decidi dividir.



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Capítulo VII –

Eu Odeio Doença – Parte I.

Yukio não tinha ideia do porque estava fazendo aquilo, tentava dizer a si mesmo que estava em dívida com a exorcista por ela ter ido visita-lo tão constantemente nos últimos dois meses, mas tinha consciência de que aquilo era mentira tão deslavada que faria Shirou lavar sua boca com sabão se estivesse vivo. Ainda que a ruiva não tivesse posto um único pé no leito onde esteve internado ele teria ido visitá-la. Yukio não sabia por quê, só sabias que as coisas eram assim. E apesar de odiar a si mesmo ás vezes, ele nunca conseguia ser diferente. Se é isso que chamam de destino, então o destino é uma droga.

Ele bateu a porta do apartamento duas ou três vezes sem obter qualquer resposta. E já estava se virando para ir embora quando a voz de Shura, bem mais rouca do que o normal, foi ouvida ás suas costas.

—O que diabos você está fazendo aqui, quatro olhos? Deveria estar na droga do hospital.

—Me deram alta hoje. Passei no QG para resolver alguns assuntos e me disseram que você não estava bem. – “E estavam certos” ele pensou quando viu a coloração amarelada em seu rosto. E Yukio nunca a tinha visto usar calças de moletom e camiseta! Nunca na vida imaginou que ela pudesse se vestir com qualquer coisa maior que o casaco de exorcista por cima das roupas curtas.

—O que você quer?

—O que você tem? – Ela estava prestes a responder quando fechou subitamente a boca e pareceu engasgar com o ar que havia entrado em seu corpo. A exorcista deu as costas e correu para dentro. Yukio observou estupefato o vão vazio da porta quando a ruiva fugiu para onde seus olhos não a alcançavam.  

—Shura? – Sem ser convidado Yukio entrou e fechou a porta atrás de si. – Shura? – Um som estranho veio do banheiro. Ele o seguiu pelo pequeno corredor onde a porta aberta lhe revelou a cena mais estranha que veria aquele dia. Shura estava agachada próxima ao vaso sanitário, vomitando! Ele nunca a tinha visto doente, muito menos vomitando!

            Shura ouviu os passos ás suas costas e amaldiçoou mentalmente Yukio de todos xingamentos que conseguia lembrar. “Ótimo. Como se tudo já não estivesse ruim o bastante...”. Quando teve certeza de que não vomitaria em cima dele, e claro, quando parte da raiva havia se dissipado do ar frio e incomodo no qual tudo parecia envolto aquele dia, ela se levantou com a melhor cara de fúria que conseguia fazer com seu estomago revirando de dor e enjoo.

—Quem... quem diabos te deixou entrar? – Suas pernas estavam mais fracas do que ela esperava. Poucos minutos atrás tinha corrido até o banheiro por impulso, mas passado o susto elas voltaram a fraquejar por conta da seção quase interminável de vômitos daquela manhã que se arrastou por toda a tarde até agora e não pareciam dispostos a lhe dar trégua à noite. Ela sentiu que ia cair joelhos no chão, incapaz de ficar em pé, e a ideia até que não parecia tão ruim, a não ser pelo fato dele estar ali. Mas Shura preferia ter caído a ser segurada por aquele quatro olhos que lhe mandou um sorriso torto e debochado. “Desde quando ele sabe sorrir assim?! Sou eu quem faz isso! ”

—O que estava dizendo mesmo?

—Eu não te pedi nada... – Ela tentou empurra-lo, mas estava muito fraca para isso.

—Você não, mas todo seu corpo sim. Agora deixa de ser teimosa. – Yukio passou seu braço não engessado pela cintura de Shura pondo-a de pé da melhor forma que conseguiu e começou a leva-la do banheiro para a cama.

—Você parece o Shirou. Sempre tentando me ajudar. – Ela suspirou enquanto ele a arrastava para o quarto, um tanto agradecida porque ao menos agora não estava doente e sozinha e um tanto frustrada por se sentir agradecida.

—E você parece meu irmão. Sempre disposta a recusar essa ajuda. Consegue deitar? – Ele a perguntou quando chegaram aos pés da cama.

—É claro que consigo.

—Vai me dizer o que está acontecendo agora? – Yukio perguntou quando a exorcista já estava devidamente deitada e coberta. Ela virou o rosto sem vontade alguma de responder. – Se não me disser o que é não posso ajudar.

—Acho que foi algo que eu comi. – Respondeu emburrada feito uma criança que é pega fazendo algo errado e se recusa a admitir o erro.

—Provavelmente intoxicação alimentar. Nunca teve antes, não é?

—Não.

—Francamente. – Ele sorriu olhando para a figura de curtos cabelos vermelhíssimos fazendo papel de criança. Às vezes Yukio se perguntava se não tinham se engando nos registros e lhe imposto uma idade que não lhe pertencia. Olhando assim era quase impossível de acreditar que ela fosse muito mais velha do que ele. Se ela lhe dissesse agora que tinha 18 anos, como sempre insistia em repetir para qualquer um que insistisse na tão odiada pergunta “quantos anos você tem? ” Yukio teria acreditado sem nem pestanejar.

—Me deixa morrer em paz, quatro olhos! – Ela deu as costas para o rapaz sentindo as bochechas esquentarem. Devia estar com febre! É! Só podia ser febre. Ela definitivamente não estava corada! Nunca ficaria corada por culpa de Yukio Okumura! Com certeza o mundo todo queimaria até as cinzas antes que isso acontecesse!

—Acho que não. Seria bem problemático para mim ter de cobrir várias horas vagas porque a professora irresponsável está morta.

—Faça o que quiser. – Ela disse se sentindo confusamente feliz e irritada por não ter de pedir que ele ficasse e ao mesmo tempo sabendo que qualquer palavra sua, por mais grosseira que fosse, não tirariam aquele garoto dali, pelo contrário, só o faria ficar por mais tempo.

—Você tem algum kit de primeiros socorros por aqui?

—Debaixo da pia. – Ela murmurou.

—Não é o lugar certo para guarda-lo.

—Você vai ajudar ou me fazer piorar? – Ele saiu do quarto sem responder.

            Yukio não tinha notado quando entrou as presas atrás de Shura. Mas aquele apartamento deveria ser fechado pela vigilância sanitária. Estava um nojo. “Não me admira que tenha ficado doente morando num lugar como esse”. Haviam tantas garrafas de bebidas diversas sobre a mesa que mais parecia a de um bar, além de inúmeras latas, alguma até oxidando e várias embalagens coloridas de comida.

            Ele tentou ignorar toda a sujeira enquanto se ajoelhava no chão empoeirado para alcançar o armário debaixo da pia. A caixa estava lá, e apesar de várias coisas fora da validade o termômetro parecia novo, o que só reforçava sua teoria de que Shura raramente adoecia, talvez isso tivesse algo a ver com o contrato que ela já não tinha mais.

—Muito bem. Deixe-me ver como vai a febre. – Não tinha dúvidas acerca de Shura ter ou não febre quando voltou ao quarto, porque a julgar pelas roupas e pela forma como se cobriu até o queixo era obvio óbvio que estava com frio apesar há mais de uma semana os dias estarem quentes. – Abra a boca...

—Eu não sou criança. – Ela arrancou o objeto das mãos dele e fechou os lábios sobre a ponta de metal do termômetro de mercúrio.

—Crianças são mais fáceis do que você. E que bagunça é aquela lá fora?

—É a minha bagunça. E vivo bem nela.

—Uhum. Posso ver o quão bem. Vou tentar dar um jeito naquilo.

—Achei que me odiava. – Ela fazia o máximo de esforço para conter a dor em sua voz causada pelas violentas contrações das paredes de seu estomago que tentavam expelir algo, mas depois de tantas horas vomitando não havia mais nada em seu corpo para ser lançado para fora, mas seu estomago parecia ser o único a não notar isso e continuava a tortura-la cruelmente.

—E odeio.

—Então por que está fazendo isso? – Yukio arrumou os óculos, pondo-os para mais junto do rosto.

—Não sei. Só me parece o certo a se fazer por minha única amiga que passou os últimos dois meses me visitando quase todos os dias no hospital. Ainda que eu a odeie. – Shura se encolheu na cama, incapaz de debochar, incapaz de retrucar, incapaz de falar ou fazer qualquer coisa que não fosse ficar deitada sentindo aqueles espasmos angustiantes e esperando aquele maldito termômetro ser tirado de sua boca pelas mãos de Yukio.

—Hum... 37,5. Não está tão ruim. Está doendo muito?

—Não.

—Não minta. Rin teve uma intoxicação alimentar quando tinha 10 anos, eu lembro que ele passou o dia gemendo de dor.

—Eu não sou Rin. – O rapaz suspirou, sabia que a exorcista tinha razão. Porque se fosse Rin naquela cama seria um paciente bem mais fácil de se lidar.

—Pode dormir agora. Vou jogar todo aquele lixo fora. Você vai ficar bem – Ela teve vontade de protestar diante do dócil sorriso dado pelo garoto ao terminar de falar, mas Yukio deu as costas antes que Shura pudesse abrir a boca. “Droga de garoto... por que tem de ser tão... tão...” A última pessoa que se importado tanto assim com a ruiva tinha sido Shirou. Ah, como ela odiava aquele quatro olhos agora. Quem ele pensava que era para se parecer tanto com o velho? Quem o tinha dado o direito de ser tão gentil com ela?

           Yukio nem imaginava o que se passava na cabeça de Shura. Estava muito ocupado com seus próprios pensamentos, muito ocupado se preocupando com a voz em sua cabeça que gritava “o que te deu hoje? ”. Ele queria desesperadamente uma resposta para aquela pergunta. Deveria estar no QG trabalhando, ou pondo em dia o resto dos papeis no dormitório ou fazendo qualquer outra coisa que não fosse colocar latas e garrafas vazias numa sacola com uma mão só. Mas como poderia deixar Shura passando mal sozinha? Isso seria algo quase nojento de se fazer com ela de quem Yukio tanto... gostava? Odiava? A essa altura o rapaz já não sabia mais.

Afinal, ela tinha o arrastado pela neve um dia antes de fugir para Aomori, não tinha? Estava tentando se despedir dele? Claro que ela nunca teria falado abertamente sobre isso naquela tarde, até porque Yukio nunca a teria permitido por um único pé para fora de Vera Cruz se soubesse o que a ruiva pretendia, mas Shura se importava o bastante para passar, o que ela achava ser, um de seus últimos dias de vida com ele? Era isso o que sua longa e turbulenta amizade realmente significava dentro daquela cabeça flamejante? Alguém com ela gostaria de passar um dia tranquilo antes de se entregar a morte? Ele balançou a cabeça e começou a agarrar e jogar o lixo na mochila mais rapidamente, não pensaria em Aomori agora, nem no que aconteceu no último dia do feriado de Mephisto.

            Algumas horas mais tarde Shura acordou da longa soneca que tirava desde as 14:00 da tarde, quando Yukio bateu em sua porta. Seu estomago ainda se contraia sobre si mesmo e ela gemeu sentindo a boca seca.

—Yukio... – O rapaz que estava sentado ao seu lado na cama com um livro sobre algum assunto, que para ela era irrelevante, a observou e talvez tenha sorrido, a ruiva não podia ter certeza com a visão ainda embaçada. – Pode... pode pegar água pra mim?

—Não. – Ele disse voltando os olhos novamente para o livro.

—Como assim?

—Eu não posso te dar água agora.

—Por que não? Ah, quem liga pra você? Eu mesma pego! – Ela jogou as cobertas para o lado tentando se levantar. Yukio suspirou e decidiu que, assim como seu irmão, Shura entenderia melhor porque não podia beber nada se ele fizesse o que ela queria e a deixasse ver as consequências disso.

—Tudo bem. Tudo bem, eu pego a água, só não se levante daí. – A mulher sorriu vitoriosa, mas seu sorriso sumiu quando viu Yukio voltar com um copo e um balde.

—Pra que isso?

—Você vai ver. Tome, beba. – Ela agarrou o copo de vidro e engoliu toda a água como se fosse sua cerveja favorita que estivesse ali em vez do líquido sem sabor e incolor. Shura respirou fundo agradecida por finalmente beber algo, mas logo em seguida entendeu por que Yukio estava com aquele balde. A ruiva mais uma vez trincou bruscamente o maxilar tentando evitar que seu corpo expelisse a única coisa que punha na boca em horas. – Aqui. Aqui. – O garoto pós o balde em suas pernas. – Pode vomitar aí. – Ela resistiu, mantendo a boca fechada achando que seria capaz de conter o impulso. – Vamos, Shura. Vai ser pior se não vomitar. – Por fim ela cedeu e botou para fora toda a água que tinha acabado de beber enquanto sentia todo o corpo doer por aqueles intermináveis regurgites ao ponto de lágrimas queimarem em seus olhos. – Você vai ficar bem. – Yukio levou o balde para fora e quando voltou abriu novamente o livro e sentou-se na cama estirando as longas pernas até quase chegarem ao final da cama de casal.

Shura se sentiu secretamente grata por ele não fazer qualquer comentário ou piada sobre seu estado e até feliz por poder pegar novamente no sono observando-o torcer os cantos da boca, numa expressão meio decepcionada meio emburrada, que só ele conseguia fazer. A ruiva nunca saberia, mas a expressão se desfez assim que Yukio largou o livro afagou sua cabeça loira e ruiva quando teve certeza que ela não acordaria.

—Sinceramente, Shura. Você deveria tomar mais cuidado com o que faz. – Ela sorriu involuntariamente quando os dedos delgados e pálidos se emaranharam nos fios ruivos. O rapaz se alarmou pensando que a exorcista poderia ter despertado, mas logo se acalmou, porque ela ainda respirava pesada e descompassadamente. – Não vou ficar aqui cuidando de você da próxima vez... – Havia um toque de arrogância na amarelada face adormecida. “Ah, do que adianta? Ela sabe” Yukio pensou rindo por dentro. “Mesmo dormindo ela sabe que estou mentindo.”. 


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