Do You Hate Me? escrita por Srta Who


Capítulo 4
Eu Odeio Aomori.


Notas iniciais do capítulo

Ok. Explicação rápida. Esses capítulos daqui em diante são coisas que REALMENTE acontecem no mangá. Esse é o arco que conta a história de Shura.



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Capitulo IV –

Eu Odeio Aomori.

            O metal frio lhe beijava a suada têmpora esquerda. Fazendo um tremor involuntário percorrer-lhe o corpo inteiro. Seriam esses os lábios da morte? Seria por sua própria arma que Yukio encontraria o fim daquela curta e monótona vida que levara até aquela noite? O jovem Okumura era obstinado. Ele descobriria a verdade. De um jeito ou de outro, para o bem ou para o mal. Mas ainda lhe faltava bravura para se utilizar daquele método. Se ao menos tivesse coragem... se ao menos suas mãos não tremessem tanto. Se ao menos fosse forte o bastante... ele tentou pensar que não morreria, que a coisa em seu olho precisava dele vivo para lhe usar de transporte. O salvara da queda. Também o salvaria da bala...? Teria tempo de fazer isso? Yukio sabia que uma bala podia chegar até 1000 km/h. E daquela distância... ela estraçalharia seu crânio. Se o demônio não tivesse tempo de salvá-lo ele morreria ali. Naquele imundo e inóspito canto da cidade. Sozinho. Valia mesmo a pena?

            O fino e pálido dedo indicador de Yukio tremia enquanto segurava o gatinho da arma negra em suas mãos. Que diferença faria se morresse? Rin ficaria sozinho, mas ele tinha todos seus amigos para consola-lo, seria um aluno a menos para disputar uma vaga na universidade de medicina, e claro, o curso de exorcista precisaria de um novo professor. Era só isso. Yukio não tinha mais nada além de seu título e seu sonho. Ninguém além de Rin, mas ainda assim... era muito difícil puxar o gatilho. No fundo ele não queria morrer. Não estava pronto para morrer. É isso que chamam de “instinto de sobrevivência”?  

—Me.… me mostre sua verdadeira forma! Seu monstro! – Ele gritou desesperado. Sua voz ecoou por toda a rua vazia e destruída. Seu coração palpitou ainda mais. Yukio pode sentir cada fibra do seu corpo tremer. Estava com medo. Morrendo de medo. E então, seu celular tocou dentro do bolso. Ele permaneceu com a arma tão firmemente pressionada contra a têmpora sentindo cada mínimo tremor de sua mão ser transmitido através do metal para a pele do rosto.

“Piii... Piii... Piii... Piii... Piii...”

            O aparelho tocava incessantemente. Yukio não conseguiria. Há segundos atrás estava fechado numa bolha, onde nada além dele, sua obstinação e o mistério de seu olho existiam. Lá ele teria feito. Fechado em sua minúscula bolha seria capaz de desapegar-se do pouco que tinha e puxar o gatinho. Se tivesse tido mais dois momentos...

            Mas aquele som irritante continuava a invadir seus ouvidos. Continuava a criar buracos no universo restrito que criara ao redor si e continuava a puxa-lo para fora através destes. Não seria capaz de atirar agora. Não com aquele lembrete tão gritante do mundo exterior vibrando e tocando no bolso.

            Yukio largou a arma e atendeu o telefone.

...

            Algumas horas mais tarde ele estava num trem em direção a província de Aomori com Rin tagarelando sem parar na cadeira ao lado. “Ela sempre dá um jeito”. Yukio pensou consigo mesmo enquanto Rin falava algo sobre passeios e férias. “Ela sempre dá um jeito de me impedir”. Mephisto tinha uma missão para eles naquele dia. Encontrar a exorcista Shura Kirigakure que tinha sumido na segunda-feira, logo depois do feriado de Mephisto. Faltou dois dias de trabalho e voltou para onde Fujimoto havia a encontrado. Morreria antes de admitir em voz alta, mas Yukio estava preocupado. Muito preocupado. “Ela me tira de um pesadelo, me arrasta para o meio do nada e me prende lá por horas, depois some e mesmo assim consegue me atrapalhar. Aquela mulher...”

—Você não fica envergonhado? – Yukio perguntou a seu irmão por fim.

—Hm. Por que eu deveria? Nossas ordens foram de ir lá e relaxar. – O professor certamente mataria Mephisto qualquer dia desses por dar uma ordem ridícula dessas.

—Sim. Mas nosso foco principal é encontrar Shura. – Rin ainda falava sem parar sobre as várias coisas a se fazer em Aomori enquanto Yukio pensava o quão bom seria se ele fosse distraído como seu irmão mais velho.

...

            Aquelas “férias” dos irmãos Okumura mais pareciam um pesadelo para Yukio. Aparentemente ninguém na cidade além do taxista tinha visto Shura. Ele disse que a tinha levado para o lago Towada. E para piorar a velha que tocava a pousada onde eles decidiram ficar achava que Yukio e Rin eram um casal gay! Yukio não achava que podia piorar. Bem... ele estava redondamente enganado.

            Depois de ficar extremamente irritado com a dona da pousada o mais jovem dos irmãos quase esfregou no rosto enrugado da velha o tablet onde havia uma foto de Shura meio bêbada e perguntou-lhe se havia visto aquela mulher. Imaginem sua surpresa quando a pequena, e bizarra, senhorinha respondeu que não só a viu como ela havia passado a noite lá! Mas ela tinha saído pela manhã dizendo que estava indo para casa.

—Indo para casa... – Yukio falava consigo mesmo enquanto procurava nos registros da ordem alguma coisa sobre a casa de Shura e distraidamente comia o café da manhã trazido pela velha.

—O que está procurando? – Rin questionou a sua frente.

—Os antecedentes de Shura. Presume-se que a casa dela era em Towada na região de Aomori e quando tinha nove anos a ordem a levou após o incidente de Baba Yaga.

—O incidente de Baba Yaga?! Você não sabia? Pensei que se conheciam há muito tempo.

—Nos conhecemos, mas... – “Ela sempre me provocava então eu não gostava dela” Yukio não teve coragem de dizer aquilo em voz alta. Ele falava a Shura quase compulsoriamente que a odiava, mas só ela. Nunca a qualquer outra pessoa. Perto de outras pessoas eles até pareciam bons amigos. Bem, talvez fossem mesmo e só Yukio fechado em seu mundo particular não percebesse. – Eu a via quase todo dia. Mas não sei nada sobre ela. – “Ao menos sobre seu passado”.

...

            Depois do café os irmãos saíram para procura-la nos arredores do lago. Eles cruzaram um Torii e correram pela longa escadaria que estava coberta de neve depois que Rin sentiu a presença dela lá em cima. “É a segunda vez que me obriga a te seguir pela neve, Shura. ”. Os irmãos inspecionaram os arredores dos templos com os olhos. Yukio a procura de inimigos e Rin buscando por Shura. Rin disse que ela estava em apuros o que deixou Yukio extremamente nervoso, afinal, que tipo de inimigo poria Shura Kirigakure em apuros? Ele instantaneamente se arrependeu por não ter trazido armamento mais pesado.

            Rin a encontrou desmaiada sobre um fofo monte de neve o qual começava a ficar rosa enquanto o sangue escarlate de Shura escorria de seu corpo. “Não! Ela não! Ela não se atreveria! Shura não se atreveria a morrer! ”. Os dois correram em sua direção. Yukio ficou aliviado ao sentir pulso em sua artéria carótida. Não era um pulso estável ou forte, mas... ao menos estava viva. Ele daria um jeito nos machucados, não seria a primeira vez, e depois lhe daria uma bronca por ser tão irresponsável, já que também era bem experiente nesse último quesito.

            O mais velho dos Okumura pegou Shura nos braços e eles a levaram apressadamente até a pousada.

—Tudo bem Rin. Vai pegar água quente e um kit de primeiros socorros. Eu tenho de tirar a roupa dela. – Yukio disse quando seu irmão a pôs sobre o futon. Ele não corou, não havia necessidade ou tempo para isso. Era apenas o procedimento padrão. Era apenas o que precisava ser feito. Por que deveria corar por salvar a vida dela?

—O que?!

—Não dá para tratar os machucados com o casaco na frente. Ah sim, também peça um robe a velha.

—Mas...

—Vai logo! – Rin correu para fora. Mas ainda assim era possível ouvir a agitação de sua voz enquanto tentava explicar todos os pedidos de seu irmão mais novo a pequena senhora.

—Desculpe por isso. – Yukio murmurou para Shura desacordada. Ele abriu os botões e puxou o zíper que havia abaixo deles até o fim. – Tudo bem. Vejamos que tipo de problema você arranjou dessa vez... – O rapaz pode ver claramente um corte de tamanho mediano na lateral esquerda do corpo dela. Haviam também algumas escoriações e machucados menos profundos. Mas apesar disso ela estava pálida. “Perdeu muito sangue”.

            Alguns momentos depois Rin voltou com um enorme kit de primeiros socorros na mão e logo em seguida saiu para buscar uma chaleira onde esquentariam água. Yukio limpou as feridas, a enfaixou tirou os sapatos e as meias e lhe pôs o robe e pediu que a velha lhe tirasse o short. Não se atreveria a fazer isso.

            Shura acordou uma ou duas horas depois quando Yukio se preparava para trocar as ataduras. 

—Por que vocês dois. Ugh! – Ela tentou se sentar. Yukio apressou-se em não permitir tal tolice.

—Acalme-se, sua ferida é pequena, mas ainda assim você perdeu muito sangue.

—Eu me curo mais rápido perto do Hachiro.

            Yukio a conhecia quase a vida inteira, mas nunca a tinha visto assim. A cor voltava devagar ao rosto redondo, mas sua odiada amiga ainda não parecia estar bem. O brilho purpura obsceno que fazia lar nos olhos dela encontrava-se ausente. Aquilo sempre o irritou, parecia uma eterna risada desdenhosa que ela usava para provocar-lhe. Mas agora fazia falta, afinal era um pedaço dela. E Yukio a queria inteira de novo para voltar a dizer que a odiava, e claro, dar a bronca que Shura tanto merecia. Ele não podia reprimi-la agora, porque ali, deitada no futon não estava Shura, não podia ser ela. Era outra pessoa, tinha de ser.

—Hachiro? – Aquilo lhe soava familiar...

—O que aconteceu? – Rin questionou ao lado de seu irmão.

—Tsc... Mephisto, sempre se metendo... – Ela fitou a parede. Não conseguiria olhar para os irmãos Okumura ajoelhados a seu lado. Aqueles malditos irmãos Okumura! Shura praguejava em sua cabeça. – Eu vou morrer em breve...

            Da forma como disse mais parecia uma trivialidade. Mais parecia ter dito que ia comprar pão! Como podia falar algo assim com tanta tranquilidade?! A mente de Rin dava voltas e voltas ao redor desse mesmo pensamento como um cachorro que persegue o próprio rabo. Enquanto Yukio de olhos arregalados finalmente entendia por que Shura o tinha arrastado até aquele templo no domingo. Shura parecia saber que morreria, e parecia estar muito bem com isso. Aquele dia preso com ela era para ser um adeus. Ela era realmente abusada. Como se atrevia? Como se atrevia a correr para a morte e nem o avisar disso?! “Essa mulher...”.


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Notas finais do capítulo

Explicações (SPOILER ALERT!!!!!!!!!!!!!):

Sobre o olho de Yukio: No arco do rei impuro (que vai virar anime esse ano), o olho direito de Yukio começa a fazer coisas estranhas e aparentemente despertar os poderes de satã (sim, só o olho e por isso ele acha que está possuído), então ele começa a fazer uns experimentos nele mesmo para descobrir o que tá rolando, em um desses experimentos ele se joga de um prédio e desmaia, frustrado por não conseguir descobrir o que está acontecendo ele aponta sua arma para a própria cabeça tentando fazer com que a "coisa" mostre sua verdadeira forma.