Meu Pecado escrita por Dálian Miller


Capítulo 6
Capítulo 5 – Nick vs. Renan


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo dois momentos da história de Nick. Finalmente descobrirão o que aconteceu entre ele e Arthur...

Boa Leitura! :D



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Sun Dioha (cidade vizinha à Drit’Flig), 10 anos atrás

Sob a supervisão de seu pai, Nick passava 10 horas seguidas treinando suas habilidades em basquete diariamente, uma atividade exaustiva e um tanto exagerada para um garoto de 8 anos. Como se isso não bastasse, cada cesta não marcada equivalia a uma punição. 

Sua residência, uma quase mansão de dois andares reformada com a gorda pensão que a família recebeu após o acidente onde a mãe de Nick faleceu, era cercada por muros verdes, que continuavam sua constante elevação na medida em que as plantas seguiam seu fluxo natural de crescimento. Uma piscina podia ser vista em frente à entrada principal; do lado direito, a garagem, e na lateral, uma mini-quadra onde o garoto praticava. 

Chegando ao final do treino naquele dia, Nick já tomado pelo cansaço sentiu sua visão escurecer e errou o arremesso, caindo em seguida, contudo, o senhor Dailos estava de costas se preparando para sair de casa com uma garota de programa. Arthur, que observava o amigo através dos arbustos de sua casa, aproveitou para se aproximar e ajudá-lo. 

Rastejando pelo chão, ele conseguiu passar por baixo das plantas e não foi visto por nenhum adulto. 

— Nick, você tá bem? – Arthur o virou e o ajudou a sentar-se. 

— Valeu, Tetsan. Tô bem sim. – Na tentativa de retomar o treino, Nick apoiou o peso de seu corpo sobre um dos braços enquanto se levantava, entretanto, acabou caindo novamente. Embora não tivesse notado, o esforço repetitivo e a queda provocaram uma pequena distensão muscular em sua perna e em seu braço, logo, ele não poderia continuar a prática naquele momento.

— É mentira, você não tá bem nada. É melhor parar, e seu pai acabou de sair com aquela mulher bonita, não vai voltar tão cedo. Deixe de ser teimoso.

— Acho que você tem razão. Minha mãe gostava de guardar os remédios na cozinha, mas tá escuro ali... e se tiver um bicho escondido? Só me esperando? Arthur, você poderia me ajudar a ir até lá e pegar algum que sirva? 

— Claro, seu medroso. – Pondo o braço de Nick sobre seu ombro e segurando em sua cintura, ele o levantou. Mesmo sendo menor, Arthur conseguiu apoiar o corpo de seu amigo e suportar seu peso. Seguiram pelo restante da lateral e por proximidade, foi preferível entrar pelas portas dos fundos. 

***

Drit’Flig, tempo atual, jogo

A partida havia começado a quase vinte minutos e a primeira metade do jogo estava prestes a terminar. Em passos acelerados, Renan se esforçava para acompanhar o ritmo de Nick, que parecia estar totalmente tranquilo. Correndo freneticamente de um lado para o outro da quadra, o ruivo conseguia impedir muitas jogadas da equipe rival, mas ainda não era o suficiente para impedir seu Ás. 

— O que diabos ele tem? Seus movimentos são extremamente rápidos e imprevisíveis. – Disse Renan enquanto permanecia parado ao lado de Hyuh, o capitão do time. 

— E não só isso: eles são bem meticulosos e não erram nenhum passe. Vai ser difícil vencê-los. – Respondeu ofegante. – Mas não podemos nos dar por vencidos, ainda faltam alguns segundos para o fim deste período e temos mais 20 minutos para superá-los. Vamos lá! – Berrou.

 Com um placar de 38 para o campus de Drit’Flig e 42 para o campus de Sun Dioha, terminou o segundo período. 

No caminho para o banco, o moreno notou que Renan, parado na lateral da quadra, próximo aos outros jogadores, o observava fixamente. Não resistindo, Nick elevou seus braços para uma posição de defesa e os balançou para cima e para baixo em uma dancinha comemorativa, que foi seguida por um sorriso e uma piscada maliciosa. 

— Odeio aquele cara! Metido! – Murmurou Renan virando o rosto para o outro lado.

Sem entender, o jogador de Sun Dioha cessou seus movimentos e continuou olhando, meio cabisbaixo. 

***

Chegando à entrada, Arthur acomodou Dailos nos degraus, abriu a porta e procurou por algum interruptor próximo. Aquela zona da casa estava escura e de difícil locomoção, porém, ao clarear das luminárias, puderam procurar por seu alvo com maior facilidade.

— Ela costumava deixar nas gavetas do armário – para decepção do garoto, apenas chaves e papéis preenchiam aquele espaço – não tá aqui. 

— Achei! – Berrou Arthur do outro lado da cozinha. – Estavam dentro de uma caixa de papelão embaixo da pia. – Tomando um entre suas mãos, murmurou que aquele serviria. – É esse aqui. Posso passar?

— Não vai doer né? – Franziu a testa de medo.

— Ora, deixa de ser medroso, Nick. – Riu da situação.

— Tudo bem, mas vá devagar. E conte até três antes. – Estendeu o braço com uma certa resistência. Ao ver o líquido verde do medicamento tocar sua pele, o menino gritou. – Você disse que ia doer, mentiroso.

Aproximando-se um pouco mais de Nick, Arthur pôde ver o sofrimento de seu amigo e o abraçou. 

— Não se preocupe, sempre cuidarei de você. – Sussurrou em seu ouvido e voltaram a se encarar até o menor ser surpreendido por um beijo roubado. – Por que fez isso? – Indagou enquanto tocava seus lábios.

— Queria saber como é beijar alguém. – Sorriu. – Sempre vejo meu pai fazendo isso... com as mulheres que ele traz para cá, claro – Disse em um tom de raiva. 

— Mas eu não sou mulher! – Redarguiu.

— Eu sei. 

— Mas... o que achou? – Indagou o menor com curiosidade.

— Molhado. – Gargalharam após isso. 

— Você não tem medo de seu pai nos ver?

— Sabe por que quero ser um policial? Porque eles prendem as pessoas que nos fazem mal, que maltratam seus filhos e esposa. – Arthur tinha consciência sobre os problemas de Dailos e não insistiu no assunto. Mudando o foco da conversa, Nick pediu outro abraço. – Vem cá, você sabe que é meu melhor amigo né? 

— Sim, mas seu pai não gosta de mim. Diz que sou pobre.

— A opinião do meu pai não importa. Ele é só um barril de cachaça, e barris não têm valor se não estiverem cheios. Esse dinheiro todo ainda vai acabar e seremos tão normais quanto você. – Riu. – Arthur, nunca me deixe sozinho, viu? 

— Tá. – Respondeu de olhos fechados. 

***

Já em seus minutos finais, a diferença entre as pontuações dos dois times havia mudado drasticamente. O que antes era apenas 4 pontos para o empate, agora se tornaram exatamente 35. O jogo estava estagnado com um placar de 52 contra 87 e não restava muito tempo para uma virada. 

Assistindo a tudo, Arthur apenas observava os dois no que mais parecia uma prova de vida ou morte do que uma partida de basquete. Como quem procura algo, Renan fitou o olhar para o seu amigo sentado na arquibancada, porém, desta vez não sorriu como fazia de costume. Algo estava diferente. 

Aproximando-se de Renan, Nick passou um dos braços sobre o peito do ruivo e o provocou com sussurros próximos ao ouvido. 

— Eu disse que você não poderia me parar, bonitão. Seu time é bom, mas não o suficiente para me vencer. 

Incomodado com a proximidade, ele o empurrou e rebateu a provocação. 

— O tempo ainda não acabou. 

— Então me mostre do que é capaz. – Nick recebeu um dos passes e partiu em direção à cesta oposta, passando por cada jogador enquanto Renan o acompanhava na tentativa de barrar a cesta ou pegar o rebote e mostrar o quanto podia ser bom. Nick parou rapidamente e um brilho azul pôde ser visto em seus olhos. Ele acabara de entrar na Zona, um estado que poucos jogadores na história do basquete conseguiram alcançar.

Ao perceber uma ligeira desaceleração, Renan começou a se questionar até que distância ele poderia acertar as cestas. Está muito longe, ele não acertaria dessa distância e desse ângulo... contudo, logo viu a bola seguir certeiramente ao seu objetivo. 

— Renan, impeça essa bola ou será uma jogada de 3 pontos! – Gritou Hyuh de longe. 

Saltando com grande força e rapidez, Renan impôs sua força de vontade, elevando seus limites. – Irei pará-lo custe o que custar! 

— Essa partida já foi decidida. – Sussurrou virando as costas e caminhando para o lado do seu time na quadra enquanto todos assistiam a bola passar pela cesta. Você é muito bom, confesso, mas não passou pelo o que passei até chegar aqui. Pensou.

***

Sentados no chão e apoiados no balcão da cozinha, os garotos conversaram por horas e não notaram o barulho do carro parando em frente à casa. 

— Se eu te roubasse outro beijo antes de ir, me acharia estranho ou me xingaria? 

— Não sei... – Repentinamente ele foi surpreendido por Nick. Embora achasse estranho beijar outro menino, sentir aqueles lábios tocarem os dele, mesmo que por segundos, gerou um prazer instantâneo e uma grande sensação de bem estar. Mas a dualidade que impedia Arthur de se afastar ou repetir a cena novamente passou a ocupar bastante espaço na sua mente a partir daquele momento. Com a cabeça sobre o colo de seu amigo, deixando aqueles cabelos loiros bagunçados, os dois foram vistos pelos olhos perversos do senhor Dailos. 

— Que pouca vergonha é essa? – Entre tropeços, ele correu até seu filho e o puxou. – Já disse que não quero ver você andando com essas trombadinhas... e pelo o que vejo, bichas. 

— Ele é meu amigo, gosto dele, e a mamãe também gostava... – Antes que pudesse terminar sua defesa, um soco atingiu seu rosto e o derrubou. 

— Não fale daquela mulher como se fosse útil para alguma coisa. A única coisa boa dela foi deixar muito dinheiro para eu gastar por aí. E veja o que ela ainda me deu: um filho bicha. 

— Odeio você! – Vociferou. 

Assistindo toda a cena em pânico, Arthur apenas o observou sem saber o que fazer. 

— Nick? 

— Não se preocupe comigo, darei um jeito. – Assinalou ao mover o dedo de um lado ao outro de sua boca e aponta-lo para ele. Um gesto que só eles podiam entender. – Corra! – Disse em prantos pela dor do soco. 

— Ajudando o amiguinho a fugir? Que bonitinho de sua parte – Ironizou o homem desferindo três socos sobre Nick, porém, desta vez, na barriga, fazendo-o se contorcer de dor. – Imprestável como sua mãe era. E não quero mais ver você andando com bichas ou vou tomar uma decisão mais drástica. – Ainda com uma garrafa de bebida entre as mãos, ele tomou mais alguns goles e saiu, deixando o filho caído sobre o assoalho. 

***

Apesar de seus esforços, a diferença esmagadora na pontuação não pôde ser superada por todo o esforço de Renan, culminando em um placar de 112 a 67 para o time de Sun Dioha. 

Arthur, que já aguardava o fim do jogo, rapidamente desceu as escadas e correu para parabenizar Dailos por ter vencido e para consolar Renan. 

Com um aperto de mãos, se saldaram. 

— Parabéns, Nick! 

— Obrigado, mas acho que... – Interrompendo-o com ferocidade, o ruivo se aproximou lançando uma série de acusações. 

— Vo... você não jogou limpo! Deve ser um E.T. ou algo assim. Exijo uma disputa limpa e justa e... e... – A medida que suas palavras eram lançadas, ele se aproximava mais de Nick, até parar e encará-lo com sua face a poucos centímetros da boca do garoto de cabelos negros. Rapidamente a memória do que havia acontecido alguns minutos antes se repetia em sua mente: Bonitão! Bonitão! – E não me chame mais de bonitão. – Contestou e logo se afastou em passo acelerado. 

— Por que ele saiu tão rápido, Tetsan? Seu amigo é meio estranho. – Riu. – Foi algo que fiz?

Observando atentamente, ele sabia que não era nada muito estrambólico. Já conhecia aquelas reações em seus mínimos detalhes, afinal, tinha passado pelo mesmo no início da adolescência. 

— Não! Não acho que você tenha feito algo de mal para ele. Eu diria que é totalmente o contrário do que tá pensando. Ele pode ter ficado chateado por ter perdido com um placar desses também. 

— É, faz sentido. Então você vai comigo e o pessoal do time comemorar a vitória agora mesmo. – E assim seguiram.

No final do dia, deitado sobre sua cama, Renan pensava sobre o que estava acontecendo após conhecer Arthur e seu amigo. Por que estou sempre pensando naquele metido? Por que sonho com ele frequentemente? Por que ele me chamou de bonitão? Deve ter sido para me provocar, com certeza foi isso. Ahhh! Que merda estou pensando de novo? 


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? O que estão achando da história até aqui?

Até breve!



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