Meu Pecado escrita por Dálian Miller


Capítulo 4
Capítulo 3 – Meu Subconsciente


Notas iniciais do capítulo

Caso tenham dúvida, o capítulo foi narrado do ponto de vista de Renan. Qualquer dúvida, podem perguntar. No mais, boa leitura!!



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Depois que nos conhecemos, sempre o peguei cantarolando aos quatro ventos as qualidades e habilidades de seu amigo no basquete. Aos poucos me senti impressionado com a maneira como falava dele, e ao mesmo tempo, com um fio de curiosidade. Tive vontade de conhecê-lo. Não que eu sinta algo por aquele cara, mas ele é misterioso. Talvez como você, Nick também gosta de garotos... Esse pensamento soou meio estranho até para mim. Mas que diabos estou pensando? 

Arthur... – Aquele baixinho já havia chegado à sala enquanto eu ainda permanecia paralisado no corredor como se tivesse criado raízes sobre aquele assoalho de madeira. Não consegui falar o que eu estava pensando.

Lentamente, segui ao encontro de Konei e Hyuh, que o faziam companhia e conversavam em frente à porta, quando de repente escutei uma voz em baixo tom, mas que chamava por meu nome. Em frente às escadas, Nick acenava e partia em minha direção. Preciso encontrar outra forma de perguntar se ele é... meus pensamentos foram interrompidos pela brusca reação do garoto. 

— Pensei que não me ouviria. – Ele sorriu serenamente enquanto seus braços davam uma volta em torno do meu peito para um forte abraço e voltando a se encontrarem sobre minha barriga com um pacote entre as mãos. Senti seu rosto parado ao lado do meu e sua respiração ofegante, que foi cessando ao passo que ele pronunciava algo em meu ouvido. 

— Eu trouxe um x-burguer, sei que é seu favorito. E você precisa ficar mais forte. Admito que é bom, mas ainda não pode abrir a porta, ainda não é um dos milagres como eu. 

Por alguns instantes me senti bem com aquele abraço, mas logo notei os olhares impiedosos e de repúdio espalhados pelo corredor. Nos tornamos o foco dos cochichos e alvos de risadas, até que Hyuh questionou sobre minha sexualidade: 

— Renan, você é gay? – Sua voz e suas expressões de seriedade me fizeram engolir em seco uma resposta que eu não podia dar naquele momento. 

Insistindo no questionamento, Konei também fez a mesma pergunta. Não tardou muito, e dedos foram sendo apontados para mim, e acusações movidas pela a ação de Nick eram feitas ferozmente. 

Deixe a universidade, seu gay! Aqui não é lugar para pessoas como você! Aberração! Filho do demônio! Você deveria morrer, viadinho! Deus não perdoará um varão que se deite com outro varão, pecador! 

Não pude deixar de notar Nick se afastando e fugindo. Rodando em círculos, procurei por Arthur, mas a multidão que se formou em volta de mim impedia que eu o encontrasse. O pânico começava a controlar meu corpo. Aquelas acusações vindas de religiosos fanáticos e machistas preconceituosos causou-me inquietação. 

Cocei a cabeça tentando encontrar alguma saída daquela situação, mas nada vinha em mente, eu estava muito nervoso... com medo. Parecia que todos haviam me abandonado, e assim como uma presa encurralada, tentei encontrar uma saída, porém, sem sucesso. Quatro homens fortes me prenderam enquanto outro, usando um chapéu e terno preto surgiu em minha frente com uma faca apontada para mim. 

— Não! Não! – Desesperado, eu pedi para que baixasse aquela arma. Eu não queria morrer. De fato, estava sentindo um medo incontrolável. A sensação de que poderia morrer a qualquer momento me deixou em pânico. 

— Infelizmente Deus não o perdoou. Não terei clemência de pecadores como você. Esse é um serviço que faço para proteger meu filho e para proteger as crianças de hoje contra as pragas do demônio. Morra!

Levantei bruscamente, agarrei nas laterais da cama tentando encontrar algum ponto de apoio e fugir daquele local. Respirei fundo e relaxei ao perceber que tudo não passou de um pesadelo. Esfreguei meus olhos, notei que o Sol já havia nascido, e que eu teria que ir à faculdade. Será que tudo aquilo foi apenas um sonho? Por que ele aparece na minha mente mesmo quando estou dormindo?— Não é nada, Renan. Esquece essas besteiras e se arruma logo. – Falei para mim mesmo. Mas... E se isso quiser dizer alguma coisa? Acho que Arthur pode me ajudar. É, é isso

No caminho para o campus, em vários momentos, vi alguns casais, ora abraçados, ora aos beijos e em outras, apenas conversando. Aquilo aparentemente era bem normal, até o momento que me deparei com dois garotos andando de mãos dadas, pelo menos foi o que pareceu, pois quando friccionei as mãos sobre os olhos e voltei a olhar para eles, os vi apenas andando com livros debaixo dos braços. 

Será que meu cérebro está pregando uma peça em mim? Nunca havia parado para observar, mas casais desse tipo não eram tão raros. Alguns mais discretos, outros mais exibidos. Até em Banotown, cidade onde nasci, era comum. Eles parecem tão felizes, cheios de amor e paz. Por que muitas pessoas insistem em dizer que é errado? Que um homem não pode amar outro? Ou uma mulher não pode amar outra? Será que existem pessoas como as que vi naquele pesadelo? 

Não tardou até que cheguei ao meu destino. Durante a aula, marquei um lanche com Arthur na cantina. Sua inquietação entregava a curiosidade. 

A princípio, achei que seria fácil conversar sobre o assunto, mas à medida que os ponteiros do relógio redondo, posicionado acima do quadro branco, moviam o tempo para o horário de saída, minhas mãos começavam a ficar suadas e dinâmicas. O término da aula veio como um alarme forte e constante que me impediu de ouvir a voz de Arthur a me chamar, e que trazia consigo a imagem do rosto daquele garoto sentado ao seu lado, na arquibancada, outrora. 

— Renan? Renan? O que queria contar? Ei! Você está prestando atenção no que estou falando? – Quase me beijando, ele gritava com o nariz colado ao meu. 

— Oi! Não... não sou! Não sinto nada! – Respondi tentando tirar aqueles pensamentos da minha cabeça, apesar de que ele não fazia ideia do que eu estava falando. 

— O quê? Está se sentido mal ou queria me contar algo? – Ele se manteve firme em minha frente. 

— Não... mais ou menos. Mas não quero falar sobre isso aqui. Vamos logo para a cantina. – Arrumei a mochila nas costas e o puxei pelo braço. 

Como da primeira vez que conversamos, apenas nós dois estávamos sentados naquele lado da cantina no momento, e após um mês estudando juntos, senti que já poderia conversar com ele sobre aquilo. Nos acomodamos em uma das mesas, e como de costume pedi algumas porções de batata-frita. 

— Então, o que queria me contar? – Sua insistência era notável, no entanto, eu não sabia por onde começar. Apenas o observei por poucos segundos, mas logo desviei o olhar enquanto ele notava minhas bochechas ficarem rosas.

Gaguejei de uma forma que não me acontecia a muito tempo. – Vou jogar... 3 dias... de novo... quero... você ir. 

— O quê? – Arthur não segurou os risos, e aquilo me deixou mais nervoso do que antes. – Olha, não precisa ficar assim. Não tem mais ninguém aqui, e você confia em mim, acredito. 

— Tudo bem – suspirei fundo – tive um sonho... um pesadelo, na verdade. Nele, vi você e seu amigo... e aconteceram algumas coisas... – Pausei meu depoimento e o questionei sobre algo que martelava em minha mente. – Arthur, você já teve algum sonho estranho? Ou uma vontade diferente? Vontade já, claro, que pergunta idiota Renan. – Eu mesmo respondi uma das dúvidas. 

— Sinto coisas diferentes a todo momento, principalmente pelo o que lhe contei naquele dia. O tipo de atração que sinto, por exemplo, é bem diferente dos desejos e fetiches dos demais garotos... dos seus. 

— Você sempre soube disso, quero dizer, desde criança? 

— Desde bem cedo. Foi meio complicado com os outros meninos no início, porém, aos poucos fui conhecendo pessoas que me aceitavam. E minha mãe também sempre me defendeu. 

Sendo um pouco mais insistente, indaguei a respeito de seu amigo. 

— E o Nick? Você fala bastante dele. Devem ser grandes amigos, e consequentemente, ele deve saber de quase toda sua vida. 

— O que tem ele? – Arthur fez uma cara de confuso. 

— Ele também gosta de garotos? – Fui direto.

Virando-se para o lado, ele pareceu incomodado com minha dúvida. Talvez por ser algo que o envolvesse também. 

— Sinto que alguém está fazendo um interrogatório e não está me contando nada, nem o porquê de tantas perguntas. Mas lhe respondendo, sim, ele também curte. Já tivemos um caso antes... não quero falar sobre isso agora. Por que quer saber isso? Não use em nenhuma rede social, por favor. Poucas pessoas sabem, e o pai dele não o perdoaria.  

— Fica tranquilo, não contarei nada... É que... valeu, Arthur! – Não entendi o que era aquela sensação, mas me senti bem após descobrir aquilo. Desta vez, levantei-me sem ao menos comer metade das porções. Apenas sorri, e logo voltei o olhar para a mesa a fim de avisar sobre minha próxima partida de basquete. – Arthur, em três dias irei jogar novamente, e quero vê-lo lá como da outra vez, e leve seu amigo também. Mas dessa vez não saia sem falar comigo, tudo bem? 

— Certo... ei, não vou pagar por isso e não aguento comer tantas batatas-fritas. – Ainda sentado, ele sorriu e acenou em concordância, porém, retrucou em seguida.

Rindo da expressão de pânico na cara daquele branquelo, o respondi de forma descontraída. 

— Já está pago. Dê seu jeito para comer agora. – Talvez eu não tenha causado uma boa impressão para o Nick, entretanto, eu estava decidido a provar o meu potencial como jogador. 


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Próximo capítulo na quinta. Até lá!



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