Meu Pecado escrita por Dálian Miller


Capítulo 10
Capítulo 9 – Meu Pecado


Notas iniciais do capítulo

Confesso que este capítulo foi o mais tenso que já escrevi, tão tenso que não consegui lê-lo mais de duas vezes, então, se encontrarem algum erro, me avisem.



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Em passos acelerados, Nick entrou no hospital com Arthur nos braços e Renan logo atrás, gritando por ajuda. 

— Por favor, nos ajude. Ele precisa ser atendido urgentemente. – Enquanto caminhava, um rastro de sangue era deixado para trás. Os olhares de todos ali eram de espanto com tamanha atrocidade feita a um garoto. 

O atendimento foi imediato, e Arthur foi levado à sala de emergência para estancar o sangramento. Não tardou até que uma enfermeira saísse da sala e se dirigisse até seus amigos, que aguardavam impacientes no corredor. 

— Ele perdeu muito sangue, vai precisar repor pelo menos uma parte. – Explicou. 

— Podemos doar o quanto ele precisar. – Nick respondeu. – Mas por favor, salve nosso amigo, moça. 

— Não é tão simples assim. O tipo sanguíneo dele é O- e só pode receber do mesmo tipo. 

— Droga! Sou B+, e você Renan? 

— A-. 

— Infelizmente o hospital está sem bolsas desse tipo, é bem raro encontrar doadores de O-. – Ressaltou a enfermeira. 

Aproximando-se rapidamente, um rapaz de cabelos negros se ofereceu para ser doador. 

— Eu posso ajudar, sou O-. 

— Então venha comigo, só preciso fazer alguns testes rápidos antes. – A enfermeira o puxou. 

— Quem é ele, Renan? Você o conhece? 

— Mais ou menos, já o vi pela faculdade com algumas pastas pretas ou algo assim. Deve ser estudante de arquitetura... espera um pouco, acho que ele estava na festa também. – Balbuciou.

— Espero que dê tudo certo ou... – Aproximou-se parede de azulejo branco e bateu com as mãos fechadas, em seguida encostou a cabeça, deixando cair algumas lágrimas. – Ou juro que não perdoarei meu pai, eu vou matar ele, cortar seu corpo em pedaços e dar aos urubus. 

Abraçando-lhe, Renan o puxou e tentou acalmá-lo. 

— Vai dar tudo certo, e nosso amigo baixinho vai sair bem dessa... sala. – Foi surpreendido por uma maca que saiu com velocidade carregando o corpo de Arthur, que respirava com a ajuda de um balão e se encontrava com os braços enfaixados enquanto algumas enfermeiras seguravam as gazes sobre seu peito e abdômen e falavam freneticamente “segurem firme, ele não pode perder mais sangue” “rápido, rápido” “Sua respiração está ficando mais fraca”. E deram entrada em um setor restrito, seguindo para a sala de cirurgia juntamente com o doador. 

Nick chorou forte e apertou o rosto sobre o peito de Renan, que também não segurou as lágrimas e o abraçou mais forte. 

— Perdi meu melhor amigo, Renan, perdi. Arthur vai me abandonar mesmo tendo prometido que nunca faria isso. Não consegui proteger ele desta vez.

— Ele vai ficar bem, ele vai ficar bem. – Disse tentando acalmar-se e a seu companheiro. 

Depois de algumas horas esperando, desesperada, a mãe de Arthur chegou aos berros e chorando. 

— Cadê meu filho? Cadê meu filho? Eu quero ver meu filho. - Avistando Nick, correu para abraçá-lo. – Meu pequeninho... sempre soube que a vida não seria fácil para ele, mas isso é crueldade demais para qualquer um suportar. – Chorou novamente. – Aquele desgraçado do seu pai, eu vou matar ele. 

— Olha, lá vem o médico. – Disse Renan, apontando para a porta. 

Com um prontuário e caneta em mãos, ele aproximou-se. 

— A senhora é a mão do... – observou na ficha – Arthur Tetsan? 

— Sim, doutor. Como está meu filho? Ele tá bem? 

— A situação do jovem Tetsan é instável ainda. Ele foi esfaqueado 14 vezes, além disso, encontramos sinais de espancamento e algumas fraturas nas costelas e do lado direito da cabeça. Conseguimos estancar o sangramento e estabilizar sua frequência cardíaca e respiratória, mas, como eu disse, sua situação é grave. Ele pode sobreviver, mas há uma grande chance de não despertar tão cedo e ainda restar sequelas. Seu filho ainda está vivo graças as quase duas bolsas de sangue que recebeu. É provável que precisemos de outro doador do tipo O-. Acredito que seu tipo sanguíneo seja esse. 

— Sim. Pode tirar, doutor, mas salve meu filho por favor. – Suplicava em desespero. 

— Farei o possível, senhora. Pode me acompanhar? 

— Sim. – E assim eles seguiram para o setor cirúrgico. Alguns minutos depois o rapaz de outrora atravessou a porta, retirou o celular do bolso da calça, realizou uma ligação e caminhou até os meninos. 

— E aí? – Os cumprimentou. – Eu sinto muito pelo o ocorrido. Tentei ajudar da maneira que pude. 

— Obrigado. Você fez muito mais do que imagina. – Nick agradeceu. 

— Sim, o médico veio aqui e nos contou sobre o estado do Arthur. – Renan complementou. – Ele disse que você doou quase duas bolsas de sangue e que ele só sobreviveu por causa disso. Foi muito arriscado, mas muito obrigado mesmo pelo o que você fez. – Tocou-lhe no ombro.

— Vocês são parentes? Eu os vi na festa em alguns momentos separadamente. 

— Na verdade não, só amigos. Ele é colega de sala do Arthur e eu sou um amigo de infância. – Explicou o moreno. 

— Entendi. – O rapaz fez uma pausa. Por um momento o silêncio reinou entre os três. – Ah, não me apresentei. Sou o Rafael, faço arquitetura na mesma faculdade que ele, quinto período. Já o vi outras vezes pelo campus, inclusive em seu primeiro dia, quando tomou um banho de água suja. – Sorriu. 

— Ele me contou que um cara muito bonito tinha o ajudado a encontrar o banheiro, mas na verdade ele acabou entrando no vestiário do time de basquete, onde me viu pela primeira vez. – Comentou. 

— Parece que nossos destinos já estavam ligados de alguma maneira. – Rafael continuou. 

— Pois é. – Sorriram. 

— Vocês são namorados? Desculpa a pergunta. – Indagou ao observar que os dois estavam sentados juntos, com um mantendo o braço sobre o ombro do outro. 

— Alguma coisa assim... – Nick respondeu. 

— Legal. – Comentou. Instantes depois seu celular tocou, era sua amiga que acabara de chegar para levá-lo até em casa. Ele estava um pouco fraco demais para ir sozinho. – Bem... minha carona chegou. Foi um prazer conhecer vocês. – Retirou um papel do bolso e pediu uma caneta emprestada na sala de triagem, onde anotou seu número e entregou a Renan. – Qualquer notícia do Arthur, me liguem ou falem comigo lá pelo campus, passo grande parte do dia no quarto bloco do prédio a esquerda ou próximo às palmeiras da entrada. Até mais. – Despediu-se e saiu. 

— Ele parece ser um cara legal. – Deitou a cabeça sobre o ombro do outro novamente e fechou os olhos na tentativa de descansar um pouco.

— Sim, Nick. – Respondeu-lhe e tocou os cabelos de seu companheiro. 

O restante da noite seguiu lentamente. O vai e vem de pessoas entre as salas foi diminuindo e, aos poucos, apenas alguns funcionários passavam por ali, ou pessoas que estavam acompanhando algum enfermo. 

Próximo das 2h da manhã, vendo os rapazes tentarem dormir sentados no banco, uma senhora de cabelos grisalhos aproximou-se e entregou-lhes uma almofada e um cobertor. Em poucos minutos de conversa, descobriram que seu neto também havia sido espancado, mas na escola, e pelo mesmo motivo que Tetsan, apenas por sua opção sexual. Descobriram que casos como aqueles eram tão comuns quanto imaginavam. Que por mais que tentassem fazer algo, sempre existirá alguém para espancar e até matar outras pessoas por motivos tão fúteis e que não desrespeitam a ninguém. 

Ela contou que seu neto frequentemente voltava da escola com o olho roxo, roupa suja ou rasgada, quando não voltava sangrando e chorando, pedindo para não ir mais. Tudo isso por que um dia a sua professora de artes pediu para a turma fazer um desenho de uma pessoa que eles gostavam ali, e ele fez dois meninos de mãos dadas e disse que era seu melhor amigo, que amava ele e o abraçou. 

— O mundo é cruel, Renan... mas nós somos mais fortes. – Nick comentou enquanto eles deixavam o hospital na manhã seguinte. 


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Notas finais do capítulo

Posto o último daqui a pouco.



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