Foclore Oculto. escrita por Júlia Riber


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é aquele que te dá amostras de ataques cardíacos.



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Núbia estava indo tomar o café da manhã quando viu Iara saindo do quarto de hospedes, provavelmente com o mesmo objetivo.

— Bom dia mocinha _ disse Iara num bocejo.

— Bom dia, mas, por que está saindo do quarto dos hospedes?

Iara, pois a mão no ombro de Núbia e juntas desceram as escadas.

— Dormi lá, estou brigada com Edgar, como sempre, só que agora é mais sério _ dizia ela com naturalidade.

— Você deve estar mal _ supôs Núbia.

Iara riu.

— Oh não, estou ótima, aliás, não sou mulher de chorar por macho.

Núbia riu.

— Isso ai.

Caminhando pela sala Iara deu um rodopio.

— Me sinto livre! _ disse ela. _ Renovada!

— Estou vendo 

Iara sorriu.

— Já Edgar... se o conheço bem, quebrou o quarto inteiro ontem a noite, está com raiva do mundo e não vai descer para o café.

Núbia levantou uma sobrancelha, mas logo se lembrou de barulhos altos pouco antes de dormir, ela estava com tanto sono que ignorou os berros de raiva e estrondos que vinham da casa, agora ela sabia, do quarto de Edgar.

Logo Ângela apareceu.

— Senhora Iara, o café, o café está na mesa, está sim — disse ela em seu tom baixo.

Iara foi até um vaso de flor que havia na estante e entregou á Ângela uma flor.

— Obrigada minha querida — disse ela.

Depois saiu cantando e rodopiando até a mesa de jantar se achando uma princesa da Disney. Ângela olhou a flor em sua mão como se não acreditasse no que seus olhos enxergavam.

— O que aconteceu com Iara? — perguntou a cozinheira.

Núbia deu de ombros.

— Parece que brigar com Edgar a faz bem, muito bem.

Ângela franziu as sobrancelhas, confusa.

Após o café Núbia foi até a cabana de Cissa e o viu na varanda lendo um livro. Porém, ele ouviu os passos dela quando se aproximava e levantou o olhar.

— Menina? Veio cedo hoje.

Núbia deu de ombros.

— Sei lá, não quero perder tempo, mas se você tiver outra coisa para fazer volto outra hora.

— Na verdade ultimamente estou meio desempregado, então não, não tenho nada para fazer.

— Ótimo. _ Núbia sentou-se no chão ao lado dele com um sorrisinho _ e ai, o que vamos fazer hoje?

Cissa levantou uma sobrancelha.

— Que vontade de treinar, ou você gosta muito de se machucar ou está apaixonada por mim.

Núbia fechou a cara e deu um tapa no braço de Cissa, que somente riu com isso.

— Tá parei _ disse ele _Olha pensei em duas coisas para hoje, primeiro, uso de armas brancas, segundo, mais aulas de fuga.

Núbia bufou.

— aff, Cissa, aula de figa é ficar correndo que nem uma idiota não tem graça alguma.

— Eu tive umas ideias que vai colocar muita graça na aula.

Ele sorriu psicopata depois simplesmente levantou.

— Bem vou pegar os materiais didáticos de hoje.

O material didático de Cissa eram dois pedaços de bambu, de um metro e bem resistentes.

Ele ficou com um e entregou o outro a Núbia.

Ele falou que era para imaginar que os pedaços de bambu eram espadas afiadas e que ela deveria se defender com todas as forças dos ataques que ele faria. Tarefa nada fácil.

Cissa era mais rápido e forte do que Núbia, porém, o fato de perder tantas vezes começou a deixar Núbia com raiva, ela começou a atacar de verdade, com mais força e rapidez, Cissa e ela contra batiam suas "espadas" com rapidez e força iguais, a batalha deles estava virando uma cena de filme, que infelizmente, não tinha duble. Cissa notou que aquilo estava indo um pouco longe de mais, e em um movimento rápido e arriscado, ele pegou o bambu de Núbia com a mão e a puxou para perto, pegando nos dois braços dela e segurara firme.

— Calma _ pediu ele.

Núbia fungava raivosa, porém logo tomou uma expressão assustada.

— Eu... me descontrolei, não foi?

— É um pouquinho _ disse Cissa, ele largou os braços dela. _ em compensação, você estava muito forte.

— Mas você me pegou de qualquer jeito, se fosse uma luta de verdade eu teria perdido _ recamou ela.

— Te peguei, mas levei um tapa de bambu e tanta na mão. Doeu.

— Foi mal.

Cissa franziu os olhos pensativos.

— acho que sei qual é o problema... _ prosseguiu ele. _ Quando você fica nesse modo raivoso, você fica forte, rápida, mas age por completo extinto, não pensa muito.

— Eu quase não fico consciente quando fico assim _ admitiu Núbia.

— então, da próxima vez que sentir essa raiva, tenta ao máximo ficar consciente para usar essa força de forma inteligente.

Núbia assentiu.

— Ok, eu vou tentar.

— Essa é minha menina, agora _ Cissa sorriu sapeca _ vem a parte mais esperada... treino de fuga, com novos métodos educacionais.

Núbia levantou uma sobrancelha.

— como é?

Cissa esfregou as mãos uma nas outras.

— Digamos que nosso treino de fuga só estava chato porque você não estava fugindo de verdade. Mas agora isso vai mudar, você vai ter que correr muito, pois estará fugindo de alguém cruel e ágil. _ Cissa a fitou com um sorriso psicopata _ Cícero Akilah, o terrível.

Núbia fez uma cara que dizia claramente: sério isso?

— Vou fugir de você? E por que eu faria isso?

— Essa é parte mais genial. Você vai fugir de mim porque se não, eu faço cócegas em você.

— Está brincando né?

Cissa mexeu os dedos enquanto se aproximava de Núbia.

— Não, não estou.

Núbia deu alguns passos para trás.

— Cissa eu não gosto de cocegas.

— Esse é o segredo, ninguém gosta.

Cissa então avançou fazendo cocegas na barriga e na cintura de Núbia, que ria em desespero, pois a risada de cócegas, como todos sabem, é a única risada de desespero que existe.

Quando ela conseguiu se desfazer dele ela correu, correu muito.

— Cissa, para! _ dizia ela...

— Agora que meu plano está dando certo? Nem pensar _ disse ele correndo logo trás.

Os dois correram pela mata, por várias vezes Cissa quase a alcançou, algumas ele conseguiu fazer mais cocegas, mas ela se afastava aos tombos e voltava a correr. Não daria para defenir se tal cena era engraçada ou desesperadora, mas os dois estavam rindo bastante.

— Fuja o quanto puder Núbia Cabrall _ dizia Cissa deixando a mais voz grave _ mas irei lhe pegar, hahahah, lhe darei cocegas até não conseguir respirar! Hahahahahaaa

— Cícero; Você um péssimo vilão _ disse Núbia ofegante sem parar de correr.

Logo Cissa a pegou pelo braço e ela o empurrou, mas ao cair a levou com ele.

Estavam os dois no chão, rindo como idiotas, porém a risadas cessarem e só então notaram a posição constrangedora em que estavam. Núbia rapidamente saiu de cima de Cissa e se levantou.

— Oh, foi mal _ disse ela.

— Pelo o que? _ disse ele também se levantando.

— Por ter... ficado em cima de você.

Cissa abanou as mãos.

— Ah, tudo bem. Eu não tenho nada contra a uma garota ficar em cima de mim, acredite.

Núbia o encarou com fúria e antes que ela lhe desse um tapa ele estendeu as mão.

— Calma, foi só uma brincadeira... ou não. Mas então, está vendo como deu certa minha tática educacional? Você fugiu de verdade.

— É _ disse ela limpando o suor da testa _. Deu muito certo. Mas não faça mais isso, sério.

— Não posso prometer nada, achei bem divertido _ admitiu ele.

Núbia revirou os olhos.

— Acho que vou para o casarão almoçar. Depois posso te procurar de novo?

— Ah, quer mais cocegas?

— Não! Outro treino, que não seja esse.

Cissa riu.

— Está bem, se eu não tiver muito cansado a gente treina, se não, vamos nos encontrar de qualquer jeito, além do mais, a senhorita não me deu comida hoje.

Núbia revirou os olhos.

— Estava demorando... ok, vou levar algo para você onde nos encontramos?

— Na cachoeira, duas horas em ponto.

— Ok

Os dois bateram as palmas das mãos e assim foram cada um para sua casa.

Depois do almoço, Núbia ajudou Ângela a preparar e arrumar os alimentos que levaria a Vila fim do mundo. Iara mandou Messias levar Ângela até a vila, então Núbia não era necessária nessa parte, o que era bom considerando que logo seriam duas horas.

Sendo assim Núbia foi á procura de Cissa e logo o encontrou na cachoeira junto ao Curupira; os dois observavam algo na água, quando Núbia viu o que era ficou perplexa. Um corpo boiava de barriga para baixo envolto de sangue. Curupira e Cissa dialogavam:

— É um dos homens de ontem — disse Cissa.

— Hum... E o que a gente faz com ele? — perguntou Curupira. — Podíamos dar para os urubus, vi alguns famintos sobrevoando o sítio ontem à tarde.

Cissa deu de ombros. Depois se agachou e virou o corpo. Agora com o rosto visível, podia se ver que o homem era Pedro, mas a imagem era horrenda. Os lábios dele foram arrancados, o peito estava rasgado pelo que parecia garras grossas e o corpo estava enxado pelo tempo boiando na água.

— O que aconteceu? — perguntou Núbia ao se aproximar.

— Oi menina — disse Cissa forçando um sorriso. — Só para começar, não fui eu.

Curupira revirou os olhos e disse:

— Achamos esse resto de gente agora apouco, deve ter sido assassinado ontem a noite.

— O que pode ter feito algo assim com ele? _ disse a garota assustada

— Coisa boa é que não foi _ disse Cissa.

— Mas então — falou Curupira. — Posso chamar os urubus?

— Acho que seria meio falta de respeito com o homem, né — comentou Núbia.

— Que nada — disse Cissa abanando as mãos. — É o ciclo da vida, menina.

Curupira assentiu concordando.

—Vocês já pensaram que ele pode ter família? _ questionou Núbia.

— E daí _ questionou Curupira sem paciência.

— Curupira, você nunca perdeu alguém querido?

Curupira franziu os olhos como se tentasse lembrar.

— Hum... eu tive um meio irmão, que morreu numa guerra. Foi muito triste. Gostava bastante dele e olha que eu não sou de gostar de pessoas.

— Então! E provavelmente você fez despedida honrosa ao corpo dele certo?

— Sim dei para os urubus comerem _ disse ele natural.

Núbia bufou e Cissa caiu na gargalhada.

— Está bem então — falou Núbia dando-se como vencida. — Façam o que quiserem. Mas e o outro? Miguel? Será que se salvou?

Cissa deu de ombros e falou:

— Não sei, mas... Menina, lembra que disseram algo sobre a mãe do Miguel morar perto na nascente do rio? Então, se ele fugiu deve ter ido para lá. Se não, o corpo está em algum local próximo.

A garota olhou para cima, de onde a cachoeira caia.

— Devemos subir o rio então? — supôs ela.

— Se a senhorita menina não tiver problemas em encontrar mais um corpo como esse ou até pior... — disse Cissa.

Núbia o fitou com os olhos semicerrados

— Depois de ver Ângela devorando restos mortais de crianças, minha mente e meu estomago estão bem mais fortes.

— É assim que eu gosto — disse Cissa com seu sorriso sapeca.

Assim, Núbia e Cissa subiram o rio, enquanto Curupira limpava o lago com a ajuda dos Urubus.

Eles caminharam a beira do rio por um bom tempo, mas não acharam nem um cadáver até então. Contudo, ambos conversavam e riam muito enquanto andavam. Núbia amava a companhia de Cissa, sentia-se segura e humorada, algo raro de se acontecer, às vezes até esquecia que além de um palhaço corajoso e muito louco, Cissa escondia muito, e era um mistério enigmático. Todavia. Logo seus pensamentos foram interrompidos.

— E aí — disse Cissa — o que achou do livro de folclores que te emprestei?

— Muito bom, ainda não li tudo, mas gostei. As criaturas estão bem explicadas nos livros e são horríveis! Bem diferente das que eu via quando pequena no Sítio do Pica-pau Amarelo — comentou ela.

Cissa riu.

— Concordo. Realmente não da para acreditar em tudo que o monteiro lobato fala — brincou ele.

— O Saci foi o que mais me espantou — comentou Núbia.

— Por quê?

— Ele realmente é mau — disse Núbia. — Tipo, muito mau. A historinha dele trançar as crinas dos cavalos é só um resumo do que realente ele faz. Eu li que ele cortava a garganta de animais e os deixava de ponta cabeça para vê-los sangrar até a morte. Sem dizer que no tempo da escravidão ele fazia o maior alvoroço na senzala, judiava dos escravos e dos senhores.

Cissa coçou a nuca.

— Acho que não devia se preocupar tanto, sabe. O Saci não é mais um problema. Ele não existe mais.

Núbia levantou uma sobrancelha.

— Como assim. Ele morreu?

Cissa deu de ombros.

— É, ele morreu.

Antes que Núbia perguntasse algo mais Cissa apontou para o rio.

— Ali, acho que Miguel está dando um mergulho.

Núbia se virou realmente com a esperança de encontrar o homem vivo, mas se deparou com o corpo de Miguel boiando envolto por sangue que corria junto a ele pelas águas.

— Você é muito sádico, Cissa — acusou Núbia.

Cissa somente sorriu e lançou uma piscadinha para Núbia, que fungou. Depois ambos foram até o lago e tiraram o corpo da água.

Miguel estava quase irreconhecível. As tripas expostas, os olhos fora da orbita.

— Quem sabe por ele ter tentado fugir — supôs Cissa — a criatura resolveu caprichar.

Núbia fez cara feia.

— Mas que tipo de criatura é essa? _ perguntou ela.

— Não sei... Acha que devemos procurar a mãe dele? — perguntou Cissa.

— Acho que sim.

Eles deixaram o corpo atrás de algumas árvores que ficavam envolta do riu. Depois voltaram à caminhada, até acharem uma casa de madeira perto de uma gruta que segundo Cissa era a nascente do rio. A mulher que ali morava chamava-se Regina e era realmente mãe de Miguel. Foi difícil informar a mãe sobre a morte de seu filho, mas era necessário.

Eles estavam na varanda da casinha branca e simples de Regina, sentados em bancos de madeira que havia no local, a senhora Regina estava aos soluços, e Núbia e Cissa a fitavam sem saber como agir.

— Se quiser que chamemos a policia? — disse Núbia tentando consolar a idosa.

— Não é necessário, guria, não há dúvidas de quem fez isso _ disse Regina em seu sotaque Gaúcho _ Aquela... montra, Iara.

Núbia franziu as sobrancelhas ao ouvir o nome, algo realmente ruim passava pela sua cabeça, já Cissa coçou a nuca com certo nervosismo.

— A senhora sabe sobre... quer dizer: acredita na Iara? — perguntou Núbia.

Agora quem parecia assustada era Regina.

— Menina — disse Cissa. — Aqui na região o povo já está acostumado com esse tipo de coisa — explicou ele. Depois voltou-se a senhora. — Liga não, senhora Regina, é que a menina é nova por aqui.

Regina assentiu compreendendo, depois olhou para o rio e ao horizonte.

— Onde esse pequeno riu acaba se encontra o culpado por tudo isso — disse a senhora com expressão sombria. — O culpado pela morte de meu filho e de tantos outros. É no sítio onde fica a cachoeira que ele se encontra, ele e as outras criaturas monstruosas que mantem em casa, e que devia controlar, mas não, nem para isso aquele maldito Cabrall serve.

— Edgar Cabrall — supôs Núbia.

Cissa e Regina assentiram.

— Já ouvi falar — lamentou Núbia.

— Bem devemos ir agora — anunciou Cissa se levantando. — Chame as autoridades da Vila Fim Do Mundo para te ajudar com o que restou do seu filho — opinou.

Regina voltou a chorar e Núbia deu uma cotovelada em Cissa.

— Seu idiota, olha o jeito como falou — murmurou ela e Cissa deu de ombros. — Até mais senhora Regina.

Núbia e Cissa então saíram de fininho caminhando de volta ao sítio.

No meio do caminho, Núbia não suportou mais o silêncio.

— Cissa, me diz, a Iara... A Iara minha tutora, não é Iara dos mitos, certo? A que assassinava pescadores.

Cissa respirou fundo.

— Eu não te contei antes porque notei que você era bem apegada a ela.

Núbia parou bruscamente, ela ficou parada e desolada.

— Não... A iara não é má, ela é a única pessoa que se importa comigo naquela casa, ela não pode ter feito aquilo com Miguel e Pedro, não pode! A Iara é uma sereia loira, não uma índia.

— Na versão original do mito da Iara, ela é uma deusa indígena, menina, ela estava aqui bem antes da colonização, antes de alguém no país saber o que era ser loiro. Os deuses tupis deram a Iara a missão de tirar das aldeias homens impuros, sem caráter, mas quando a colonização começou, os europeus eram tão violentos, cruéis, que Iara decidiu que qualquer homem é impuro, todos merecem morrer. Provavelmente ela só não causou um extermínio porque enfraqueceu com o tempo, dizem que quando um deus deixa de ser adorado ele perde poder.

Toda aquela história parecia loucura de mais, fictícia de mais, mas Núbia já estava cansada de tentar não acreditar, o fato é que as coisas eram assim, insanas e sangrentas.

— Eu... gosto tanto dela, mas agora percebo que não era só impressão minha sobre ela me enfeitiçar de vez em quando, me abrigar afazer o que eu não quero... E eu confiei nela.

Cissa acariciou o braço de Núbia.

— sinto muito, menina.

— eu quero ouvir da boca dela! — exclamou Núbia do nada.

— O que? — disse Cissa, mas antes que prosseguisse, Núbia começou a correr de volta ao sítio, e Cissa não teve outra escolha a não ser segui-la.

Cissa ficou do lado de fora, não podia entrar no casarão, mas não queria ir embora também, já Núbia entrou em disparada a procura de Iara, mas somente encontrou Ângela chorando no sofá da sala.

— Ângela? O que aconteceu? — questionou ela.

— Edgar descobriu, descobriu tudo, tudinho...

Núbia sentou-se junto a Ângela.

— Ângela, diga, o que ele descobriu?

— De Iara voltar a fazer maldades, descobriu tudo e não gostou, não gostou nem um pouco. — Ângela estava tão nervosa que falava sem muito nexo. — Iara não resistiu, é mais forte que ela, bem mais forte. Eles brigaram, Edgar e Iara brigaram e Iara sumiu, simplesmente foi embora e Edgar mandou Messias traze-la de volta, mas Messias é mau, eu ouvi messias dizer que estava cansado de Edgar, ele está bravo, muito bravo, mas Edgar não sabe disso, mas eu sei, sei sim. Messias vai fazer algo contra Iara, só para se vingar de todas as humilhações de Edgar, ele vai fazer mal para Iara! Edgar é mau, Messias é mau, são todos maus, até Iara é mau, mas Iara é mal do bem.

Núbia levantou uma sobrancelha, aquilo estava fazendo nós em sua cabeça.

— Eh... OK. Acho melhor você beber algo e se acalmar; está bem?

— Ah-ham — disse Ângela, ela então agarrou Núbia pelo braço e a encarou. — Mas você tem que salvar Iara, tem que salvar Iara!!!

Núbia assentiu um tanto assustada.

—Ok... Mas como eu faço isso?

Ângela olhou para os lados de forma suspeita, depois a levou até a cozinha.

— Prata — disse ela. — Temos que ter prata, muita prata.

Ângela abriu uma gaveta e do fundo desta tirou um facão de prata reluzente e entregou a Núbia. Depois tirou mais dois objetos do mesmo material, uma adaga e um Cutelo.

— Tudo prata — dizia Ângela com um sorriso maníaco. — Eu não gosto de Messias, então guardo muita prata para espanta-lo.

— Eh... Legal — disse Núbia ainda confusa. — Mas e Edgar, Ângela, onde ele está?

— Foi pro quarto, fazer bruxaria — sussurrou Ângela. — Nem vai nos ver, nem nos ajudar, eu tentei falar para ele que Messias estava maluco, mas ele não me ouve! Só nós podemos ajudar Iara. Eu, você e Cícero, Cícero é uma boa ajuda.

—Cícero pode nos ajudar, mas... Ângela, você sabe o que Iara fez ontem á noite? Ela matou, torturou dois homens por motivo algum! Nem sei se eu quero ajuda-la.

Ângela negou com a cabeça.

— Não diga isso, não diga! Nós não vemos motivo, mas Iria vê, sei que parece tudo muita crueldade, mas depois, Iara pode te explicar tudo, mas agora temos que salva-la. Precisamos — Ela então segurou o cutelo com mais firmeza. — Vamos logo, vamos.

Núbia sem ver outra saída entrou naquela loucura, em seguida ambas correram para o bosque e Cissa mesmo sem intender nada, as seguiu e Núbia explicou tudo no caminho.

Já era tarde, logo anoiteceria e Ângela avisara que isso seria muito ruim.

— Mas Messias é o que exatamente? — perguntou Núbia.

— A besta! — exclamou Ângela abraçada ao cutelo.

Cissa que segurava a adaga com firmeza, levantou uma sobrancelha ao fitar Ângela.

— Você me dá medo, Ângela — comentou ele. — Mas bem, o que ela quer dizer é que Messias é o lobisomem.

— Ham... — disse Núbia. — Isso explica a prata, mas, vocês acham que conseguiríamos vencer o lobisomem com utensílios de cozinha?

— Quem sabe né — disse Cissa.

— Não — disse Ângela simplesmente.

— Então por que entrou nessa, se acha que não vai dar certo? — perguntou Cissa.

— Porque prefiro morrer por lobisomem do que por Edgar — disse Ângela com um sorrisinho (o porquê disso não se sabe).

Logo um grito feminino percorreu a floresta.

— Iara! — berrou Ângela.

— Quieta — ordenou Cissa. — Não podemos chamar a atenção dele.

— aham, aham — disse Ângela contraindo os ombros.

Os sentidos de Núbia aguçaram e assim conseguiu ouvir o som tranquilizador da cachoeira, que estava próxima.

— Se Iara corresse para algum lugar, seria para água, certo? — sussurrou Núbia.

Cissa a olhou com um leve sorriso.

— Exato, é onde ela estaria mais forte. Menina, estou começando a sentir orgulho de você.

Núbia desviou o olhar com um leve sorrisinho.

— Melhor irmos à cachoeira então.

Em seguida os três avançaram ao lago e ao chegar lá inicialmente não viram nada.

— Iara — chamou Ângela em tom baixo e logo algo surgiu à superfície. Era Iara, só que com algumas características diferentes, seus olhos estavam amarelos, em volta dela parecia haver uma áurea clara, havia glândulas no pescoço, nadadeiras no braço, além de dentes afiados como de uma piranha.

— Eeca — disse Cissa fazendo cara feia. — Realmente eu lhe prefiro na forma humana, sem ofensas.

A Iara o fitou com fúria, já Núbia curvou a cabeça, em expressão confusa.

— Iara? — perguntou um tanto pasma.

— É, eu sei, estou diferente — disse ela com expressão tediosa, — digamos que essa é minha forma "pronta para matar", ao menos assim fico mais assustadora. Eh... me perdoa por não ter te contado antes sobre eu ser... assim.

Núbia respirou fundo.

— Ser uma criatura diferente não é o problema, ser assassina sim.

Iara bufou.

— É, complicado mocinha, mas prometo te explicar tudo isso depois _ ela então olhou as armas brancas nas mãos do trio _ isso é prata? Ótimo, vão precisar, Messias está louco.

Ângela assentiu.

— Aham, aham, por isso viemos, eu ouvi Messias dizer coisas horríveis, ele está com raiva de Edgar, muita raiva.

— Descontasse nele, não em mim _ disse Iara nervosa _ Eu sempre disse para Edgar que aquele animal inútil do Messias daria problema algum dia, mas o idiota não me ouvia.

— O que exatamente Messias quer? _ perguntou Cissa.

Iara o olhou de cima abaixo cogitando se devia falar ou não.

— Edgar mandou ele me levar de volta para o casarão, mas Messias decidiu que faria mais que isso, ele disse que meu marido mandou me buscar viva ou morta, mas sei que não foi esse o pedido de Edgar, Messias está o traindo, quer me matar por vontade próprio.

— Como pode ter tanta certeza de que Edgar realmente não mandou te matar? _ questionou Cissa.

— Edgar é cruel, possessivo, insano, mas ele não mandaria ninguém me matar, ele mesmo faria isso se fosse o caso.

Cissa iria falar algo, mas Iara o interrompeu.

— E não tente contra argumentar, porque eu conheço Edgar e você acha que o conhece.

Cissa franziu os olhos e Iara fez o mesmo.

Claramente eles tinham algum segredo ou rixa antiga, e Núbia estava louca para perguntar do que se tratava, mas não houve tempo, infelizmente.

Logo se ouviu um uivo grave mais próximo do que o esperado.

— Ele está aqui— disse Ângela levantando o cutelo.

Dentre galhos baixos e arbustos se via dois olhos vermelhos e amarelos em fúria. O rosno da criatura era grave e baixo. Os quatro permaneceram parados e observando o monstro que os espreitava. Os olhos vermelhos voltaram-se para o lago, onde Iara respirava pesadamente, e prosseguia em sua forma monstruosa. Um passo foi dado e agora se podia ver de forma mais nítida aquela horrenda criatura, de pelos negros, com quase 3 metros, corpo curvo e garras gigantescas como as presas. Era um lobo, mas que andava somente com as duas patas traseiras, como um homem.

— O cachorrinho de Edgar até que é bem grandinho né — comentou Cissa.

O lobo uivou e os encarou, depois avançou para lago, onde respectivamente Iara mergulhou.

O lobo bateu na água como se isso fosse trazer a Iara para superfície. Depois que notou que aquilo seria em vão resolveu dar atenção a outros inimigos. Avançou contra o trio. Cissa ficou a frente de Ângela e Núbia e fez um corte profundo, porém inútil nas patas traseiras do animal. O lobisomem uivou; de sua ferida saia fumaça, ainda sim, este suportou a dor e tentou cortar o resto de Cissa com suas garras dianteiras, mas este foi mais rápido e fincou a adaga na barriga do lobisomem que recuou. Agora mais furioso, a criatura voltou a acatar, mas Núbia pulou e usou o facão para cortar o peito do lobisomem. Mais fumaça e sangue surgia dos ferimentos do monstro. Em uma nova tentativa ele jogou Cissa que bateu com força em uma árvore. Aquilo enfureceu Núbia que atacou várias vezes o lobisomem, sem pensar ou fazer estratégia. Ângela enfim saiu do estado de choque e tentou ajudar, porém logo ambas, também foram jogadas de lado. Ninguém ali tinha força para o lobisomem.

— Ei! — disse Iara voltando a superfície. — Como ousa jogar duas mulheres dessa forma na frente de uma deusa feminista?

Núbia teve que abrir um sorrisinho com aquilo, definitivamente, Iara era incrível.

A água do riu envolveu o corpo dela e a fez flutuar, o que lhe deixava uma verdadeira deusa, todos ali, inclusive o lobo, paralisaram a fitando, um verdadeiro efeito de sedução digno de Iara, porém logo o transe passou e o Lobo avançou e com rapidez agarrou Iara pelo pescoço com suas garras afiadas. Iara rosnou e mostrou suas presas, depois garras-retráveis e amareladas formaram-se em suas mãos enrugadas e com estas ela arranhou os "braços" do lobisomem, que a soltou no mesmo estante.

Logo litros e litros de água empurraram o lobisomem há metros de altura, com tanta força, que ao cair quebrou uma árvore.

— Quer mesmo brigar comigo? _ provocou Iara.

O lobisomem pareceu menos confiante, mas tentou a atacar apanhando novamente dos poderes de Iara.

Núbia aproveitou que o lobisomem estava distraído, bem distraído aliás, e foi até Cissa que prosseguia inconsciente encostado numa árvore.

— Cissa — sussurrou ela — Fala comigo, por favor.

Ela acariciou os cabelos encaracolados de Cissa e levantou sua cabeça. O chamou mais algumas vezes, mas ele não respondeu. Ângela observava tudo de longe e negou com a cabeça junto a uma expressão de quem diz: sinto muito.

Uma lagrima de desespero rolou pelo rosto de Núbia, porém logo Cissa emitiu um pequeno gemido.

— Cissa! — exclamou Núbia sorridente.

Ele abriu os olhos e a fitou com seu sorrisinho sapeca.

— Oi menina. Não consegue mesmo viver sem mim, não é? — Núbia riu com isso e ele tentou se mexer o que não deu muito certo. — Ai, acho que quebrei uma costela.

— Calma — disse Núbia. — Eu vou te ajudar. Mas preciso acabar com isso de uma vez.

Ela olhou o lobisomem que mesmo muito ferido estava determinado a terminar o trabalho enquanto Iara já parecia debilitada. Ela não conseguia controlar mais a água como fazia há alguns segundos antes. O cutelo de Ângela estava fincado nas costas do lobisomem, o que significava que a pobrezinha havia tentado lutar, o que não demostrou resultado. Já desarmada Ângela somente gritava desesperada para que Messias-lobisomem deixasse Iara em paz, mas ele a ignorava. Núbia segurou seu facão com mais firmeza e Cissa segurou em seu braço.

— Menina, não faça nada idiota— pediu ele.

— Sou suicida, esqueceu? _ disse Núbia com um sorrisinho.

Cissa arregalou os olhos queria poder segura-la, mas não conseguia sequer se mexer, assim não pode impedir quando Núbia simplesmente correu com seu facão de prata, o qual fincou nas costas do lobisomem. O lobo se contorceu e uivou. Contudo antes que se virasse Núbia voltou á espetá-lo com o facão. Sequer ela sabia o que estava fazendo, por dentro se perguntava "sério que estou lutando contra o lobisomem?" Ela não entedia o que era aquilo, mas toda vez que estava frente a frente com alguma criatura como aquela, ela sentia-se mais forte, invencível. Foi a mesma coisa com a mula-sem-cabeça, ou com boto (depois de ter voltado a razão, é claro). Ela pulava, usava uma força que nem sabia que tinha e lutava como nunca imaginou lutar. Por sorte, ou melhor, graças a Iara, o lobisomem estava extremamente cansado e machucado, o que o tornava mais lento e fraco.

O lobisomem cambaleou já coberto pelo próprio sangue, Núbia tinha alguns arranhões, havia torcido o calcanhar, mas prosseguia firme, porém ofegante, com olhar sanguinário enquanto observava sua vítima prestes a morrer. Logo a criatura caiu no chão, sucumbida. Núbia olhou em volta. Ângela a fitava com os olhos arregalados. Iara já havia voltado á forma humana, parecia esforça-se para manter seus lindos olhos verdes abertos; o corpo estava ferido, e coberto por água até os ombros, mas seus lábios expressavam um grande sorriso de satisfação.

— Estou tão orgulhosa de você, sabia que era poderosa — ela conseguiu dizer.

Ao lado, Cissa a fitava com uma mistura de encanto e medo.

Logo o lobisomem foi voltando a sua forma real e em alguns segundo, Núbia estava a frente de um homem morto, estirado e terrivelmente ferido. Ela imediatamente largou o facão.

— Eu... o matei _ disse ela pasma consigo mesma.

— Sim! _ disse Iara com um amplo sorriso. _ Você me salvou, matou um lobisomem, você é incrível mocinha.

Núbia negou com a cabeça.

— Eu matei um homem _ murmurou ela _ eu... matei alguém, eu não queria ter feito isso, não queria!

— Calma Núbia _ pediu Cissa, ainda sem conseguir se mexer.

— Meu bem, você fez o que era certo _ disse Iara.

Núbia, ao lembrar-se de como tudo aquilo havia começado, fitou Iara com fúria.

—Iara, eu não sou assim, não sou como você.

Aquilo conseguiu tocar Iara, ela simplesmente se calou e fitou Núbia com dor.

Nem Cissa sequer Ângela quiserem interferir, sequer sabiam como. Logo, porém, Núbia sentiu aquela pontada no peito, que costumava indicar que algo ruim estava perto e Iara também mudou a expressão e olhou com desespero para um lado especifico da mata.

— O que foi? _ disse Ângela já com medo

Iara parecia confusa.

— Isso... Só pode ter sido um plano, Messias me deixou fraca, deixou todos nós fracos, para facilitar para ele!

Ninguém pareceu entender nada, até uma outra criatura surgir na mesma direção de onde Iara fitava.

A criatura de olhos negros, dois metros ou mais, arcada, duas presas gigantescas e retas e orelhas pontuda, deixou todos ali pálidos, Cissa principalmente, o que deixou Núbia ainda mais assustada.

— Desgraçado! _ berrou Iara.

Núbia imediatamente pegou o facão do chão, pronta para mais uma, ou melhor, fingindo estar pronta.

Mas a criatura se desfez em uma fumaça negra e se materializou novamente já no lago frente a frente com Iara, não dando tempo á ninguém de sequer pensar como agir.

Logo a criatura pegou Iara com um só braço longo.

— Não! _ gritou Iara e essa foi a ultima coisa que conseguiram ouvir antes da criatura se desfazer em fumaça novamente e desaparecer com Iara Tupânae.

Núbia tentou resgata-la, mas foi tudo muito rápido, ela sequer tocou na fumaça daquela estranha criatura, sequer pode entender o que aconteceu, simplesmente acabou, toda a esperança de salvar a Iara, morreu, tudo que lutaram, foi em vão.

Ângela correu até Núbia que estava paralisada em frente ao lago e a abraçou.

— Vamos salva-la, vamos sim _ disse Ângela.

— Como? Ela se foi, simplesmente se foi.

— Edgar não vai mata-la, não, ele não vai, vai deixa-la presa, sei que é isso que ele vai fazer.

— Então temos que descobrir onde ele vai prende-la _ disse Núbia.

Ela então foi até Cissa ainda em silencio e Ângela foi atrás.

Núbia se ajoelhou e colocou a mão no ombro de Cícero.

— Cissa, você está bem?

— Tirando a imobilidade e uma dor do cacete que estou sentindo, tô ótimo. _ ironizou Cissa.

— Ao menos voltou ao normal _ comentou Núbia revirando os olhos _. Você... pareceu com muito medo quando viu aquele ultimo monstro.

Cissa levantou uma sobrancelha.

— Menina, eu não sinto medo.

Núbia baixou o olhar, cansada.

— Queria ser como você então. Eu estou perdida, Cissa, não sei o que faço agora.

— Ei menina, não fica assim — disse Cissa com olhar piedoso que quase não combinava com ele. — Eu sei o que você deve fazer agora. Vai para casa descansar e leve Ângela com você.

— Não! — exclamou Ângela

— Edgar não irá fazer nada nem com você nem com Núbia — prometeu Cissa. — Não sei explicar porque, mas sinto isso. Sem dizer, que só quem sabe onde está Iara, é o Edgar, quer salvar a sequestrada? Vá atrás do sequestrador.

— Isso me parece loucura, mas, acho que não custa tentar. E você? — disse Núbia á Cissa.

— Eu chamo o Curupira e ele me ajuda. Aquele monstro cura qualquer coisa. Só não sei se ele vem...

— Ah sim, cura sim, e ele vai vir, tem que vir _ afirmou Ângela.

Ela então pegou um pingente que costumava colocar por baixo da camiseta. Ela sempre andava com dois colares, um crucifixo e um tubinho que Núbia nunca entendeu o que significava, até então.

— pegue isso _ disse Ângela entregando o tubinho á Cissa. _ É um apito, um tipo de apito. É para chamar o Curupira, ele me deu, caso eu precisasse dele. Mas pode usar, depois me devolve.

Cissa analisou o apito e deu uma risadinha.

— Acho que se o Curupira ouvir o apito, chegar aqui e me encontrar, pode ficar meio decepcionado.

Ângela soltou uma risadinha.

— Diz que fui eu que te dei, diz que quero que ele ajude e ele vai ajudar, vai sim.

Cissa assentiu e Núbia estava louca para perguntar qual a relação de Ângela com Curupira, mas infelizmente não havia tempo para isso.

Núbia não queria deixar Cissa daquela maneira, mas teria que confiar em Curupira. Ela deu um beijo no rosto de Cissa como despedida e junto a Ângela voltou para casa, mesmo sem saber como conseguiria viver ou dormir sobre o mesmo teto que Edgar Cabrall.

Ao chegar no casarão, Ângela se recusou a entrar, ficou na porta, logo Núbia entendeu o porquê. Na escada Edgar apoiava-se ao corrimão enquanto fitava a entrada com um sorriso mordaz. Ele usava uma calça e uma camiseta preta, só. Estava um tanto soado e com arranhões nos braços e alguns também no rosto. Núbia sentiu uma fúria imensa lhe invadir e marchou até Edgar.

— Seu monstro! — exclamou ela. — O que fez com ela? Onde Iara está?

Edgar riu secamente.

— Guria ingênua. Só por que matou um lobisomem e está coberta de sangue com um facão na mão, acha que pode me assustar?

Núbia não disse nada, somente prosseguiu o fitando com ódio.

— Não vou negar que estou orgulhoso — disse Edgar. — Inicialmente pensei que você fosse somente uma adolescente que eu teria que abrigar por alguns meses, nada de importante. Agora vejo que você é uma Cabrall tão digna quanto meus descendentes mais próximos. É tão forte e corajosa quanto meu filho, seu bisavô. Nascida para o mundo sobrenatural, é indiscutível seu parentesco comigo.

— Pois saiba que eu não sinto o mínimo orgulho de ser sua tataraneta! — exclamou Núbia e Edgar levantou uma sobrancelha.

— Não me surpreendo. De qualquer forma. Você não tem para onde ir, Núbia Cabrall. Sou seu tutor temporário e essa é sua casa. Ficará aqui, me odiando ou não. Contudo... Se você estiver disposta, poderia ser uma feiticeira como eu.

Núbia levantou uma sobrancelha como se não acreditasse no que ouvia. Edgar então fitou Ângela, que encolheu os ombros, amedrontada.

— Ângela, eu devia lhe castigar por sua traição, mas... você só quis salvar sua patroa, sendo assim, vou somente demiti-la. Pode arrumar suas coisas, amanhã de manhã você irá embora. E Núbia, vá para seu quarto, tome um banho e descanse, parece exausta – disse ele em um tom de sarcasmo. _ Amanhã conversamos melhor, deve estar com ideias bem equivocadas sobre mim?

— Ideias equivocadas? Você tentou matar a Iara!

— Eu jamais a mataria _ disse Edgar, agora extremamente sério.

Ele então começou a subir as escadas, mas Núbia o parou.

— Ei! E Iara? E aquela criatura que a pegou? Ele trabalha para você também, não é?

Edgar negou com a cabeça e bufou como se dissesse: Ninguém merece; Em seguida voltou-se para Núbia e a pegou pelo braço.

— A criatura não trabalha para mim, criança. — Os olhos dele ficaram totalmente negros. — A criatura sou eu.


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Notas finais do capítulo

Sejam legais, comentem. kk. Falando sério, comentários super ajuda á um escritor prosseguir sua história.



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