Foclore Oculto. escrita por Júlia Riber


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Vamos conhecer mais os Cabrall?



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Eram cinco da manhã, Iara estava no escritório olhando alguns relatórios e logo Edgar abriu a porta e calmamente sentou-se na mesa negra, de frente a esposa.

— O que faz aqui essa hora da manhã? _ perguntou ele.

Iara sequer tirava os olhos do papel.

— Temos um grande problema Edgar, aquele idiota do administrador não fez o que eu mandei, perdeu uma safra inteira e saímos no prejuízo!

Edgar levantou uma sobrancelha tentando parecer surpreso.

— É, eu vi os relatórios, mas não acho que seja algo tão grande, recuperamos sem problema essa perca.
— O Brasil está em crise Edgar! Mesmo empresários bem sucedidos como nós precisamos nos preocupar.

— Iara, você sempre administrou muito bem os negócios, mas... Passar a madrugada olhando um relatório que nem é tão importante assim não é a sua cara.

Iara deixou os papéis na mesa e suspirou.

— Eu... Estou nervosa, gaúcho. Preciso me distrair com algo.

— Imaginei que fosse isso. No que está pensando?

— Ontem á noite, quando rondei o sitio a procura do boto, não o encontrei, mas... Fiquei pensando, se isso não é um sinal.

Edgar franziu os olhos.

— Que bom que não foi só eu que notei algo errado. Também tenho um mau pressentimento, dessa aproximação repentina de varias criaturas ao sitio.

— Sempre achamos esse lugar o mais seguro de todos e agora... Ah, pode ser paranoia nossa, não é?

— Pode ser _ concordou Edgar, mesmo sem muita convicção.

— Bem, vamos resolver logo o assunto da internet, assim podemos voltar a administrar nossos negócios, nós mesmos. E quem sabe, com internet, Núbia pare de correr atrás daquele Cicero.

— Isso seria ótimo _ concordou Edgar. _ Agora vamos, deixe essa papelada ai, tu precisa dormir.

Edgar se levantou e estendeu a mão para ajuda-la a levantar e com um sorrisinho Iara aceitou a ajuda e assim ambos se foram para o quarto.

Horas mais tarde, era Núbia quem despertava, eram oito da manhã, ela se banhou, vestiu uma legue preta, uma camiseta comprida com estampa do Iron Medem e uma bota de cano curto que para a surpresa de todos, também ela preta (ironia no ar).

Ela sentia-se pronta para mais uma aula de autodefesa e fuga com Cicero Akilah e decidiu que sairia cedo para assim não precisar dar explicações a Iara de onde iria.

Depois da noite anterior, que ela voltou tarde, com a roupa suja e alguns machucados, tinha quase certeza que a preocupação de Iara só aumentou.

Ela saiu do quarto da forma mais silenciosa possível, fechou a porta com calma e desceu as escadas em passos leves, mas quando estava no quinto degrau ouviu uma porta a cima se abrir.

— Mocinha _ chamou Iara.

Núbia rosnou, mas ao fitar Iara tentou fingir um sorriso.

— Eh... Oi Iara. Tudo bem?

Iara estava encostada na porta do quarto dela com uma sobrancelha levantada.

— Tudo, vejo que já está arrumada, que ótimo.

Núbia analisou Iara e concluiu que ela também estava arrumada, na verdade, Iara sempre estava bonita, a única pista que suas vestes davam que ela iria sair, era quando calçava sapatos, pois quando ficava em casa Iara andava de pés descalços, parecia sentir-se bem mais confortável assim.

— Você vai sair?

— Nós vamos sair _ corrigiu Iara. _ Eu e Edgar vamos resolver assuntos na vila Fim do Mundo e você vai conosco.

— Hum... eu preciso ir? É que eu tinha outros planos para hoje, sabe.

Iara riu sádica.

— Duvido que esses tais planos sejam mais importantes do que o que iremos fazer.

Iara caminhou até Núbia.

— Nós enfim teremos internet nessa casa! _ disse ela tentando animar Núbia. _ Isso não é ótimo? Eu e Edgar poderemos voltar a trabalhar e você vai falar com seus amigos de São Paulo, e fazer outras coisas que te distraem sem precisar sair de casa!

Iara apertou a bochecha de Núbia que não gostou nada disso.

— Legal, então quando eu voltar para casa eu mexo na internet ok? Agora realmente preciso ir.

Núbia já voltava a descer as escadas quando Iara a pegou pelo braço e a olhou nos olhos.

— Você quer sair conosco Núbia, como uma família _ disse Iara com um sorrisinho. _ Depois pode até ir onde quiser. Mas agora, vai conosco.

Núbia apareceu confusa inicialmente, mas assentiu.

— Ok... Eu acho.

Iara beijou a testa de Núbia.

— Isso, agora vá, tome café da manhã rapidinho que a gente já vai sair.

Núbia sequer discutiu, somente fez o que Iara mandou.

Enquanto a garota ia em direção cozinha, Iara subiu ao quarto, buscar Edgar.

— Gaúcho, já está pronto?

Edgar estava de frente ao espelho arrumando o blazer negro, como todo o restante da roupa.

— Sim... Tu estava convencendo Núbia a ir, conseguiu?

— Claro.

Edgar a fitou.

— Conseguiu como?

Ira desviou o olhar.

— Hum... Conseguindo.

— Tu fez aquilo de novo, Iara?

— Edgar... Essa é única forma dela obedecer as vezes, só quero protege-la.

— Então a faça confiar em tu, oras. Daí ela te obedecerá por bem.

Iara fez cara feia.

— Ai Edgar, você sabe que não sou boa com crianças, ainda mais com adolescente. Você que já teve filhos poderia estar me ajudando, mas não...

— Você que quis adota-la, disse que se responsabilizaria por ela, então o problema agora é todo teu.

Iara rosnou e Edgar somente lançou uma piscadinha sínica para ela.

— Te odeio _ resmungou Iara.

— Também te amo.

...

Messias foi dispensado daquela vez e foi Edgar quem dirigiu o carro, Iara estava no carona e Núbia no banco de trás tentando lembrar porque queria estar saindo com Iara e Edgar.

Quando estavam chegando á vila Iara começou a listar o que fariam:

— Antes de resolver o assunto da internet vamos á prefeitura, Jorge Montero quer falar conosco.

— Por quê? _ questionou Edgar não parecendo nada animado.

— Ele provavelmente vai pedir conselho sobre algum assunto ou problema do Fim do Mundo, já que nós basicamente bancamos o lugar. E Você sabe como o senhor Montero só é líder da vila por ter comprado voto, mas é uma anta e adora fazer reuniões com você, o considera amigo do peito.

— Será que ele não entende que eu não gosto dele, o suporto _ resmungou Edgar e Iara deu uma risadinha.

— Acho que não.

Logo, Edgar estacionou o jipe e os três caminharam pelas estradas de tijolos da vila. As poucas pessoas que perambulavam olhavam Iara e Edgar com algo que Núbia não sabia dizer se era medo ou respeito.

Núbia estava logo atrás do casal e tinha que admitir que realmente aqueles dois juntos exalavam poder.

Logo eles pararam de frente a um prédio, onde o segurança na entrada cochilava num banquinho.

Edgar somente pigarreou e o guarda acordou em um sobressalto, ao ver Iara e Edgar a sua frente, ficou pálido, como se estivesse á frente da morte, ou algo bem próximo.

— Eh... Oi, senhores, vieram ver o prefeito, suponho.

Iara e Edgar não responderam, somente fizeram uma cara de quem diz "o que acha?" e o segurança abriu a porta para eles.

Núbia que ia logo atrás em silencio, recebeu um fitar de estranhamento do segurança, mas ignorou.

No segundo andar em uma sala de espera o "prefeito" que provavelmente os viu pela janela, já estava na porta de seu escritório com um sorriso de orelha a orelha.

— Cabrall! Meu grande amigo.

Edgar como sempre sério, soltou um resmungo que provavelmente era para ser uma risada.

— Olá Montero _ respondeu ele sem ânimo algum.

— E senhora Cabrall, é um prazer vê-la novamente _ disse prefeito a Iara e logo beijou a mão dela _. Como sempre lindíssima.

Iara abriu um sorrisinho.
— O senhor que é muito gentil.

Edgar fitava a cena com uma expressão que misturava ciúmes e nojo, algo que fez Núbia soltar uma risadinha sem querer.

O prefeito só então notou a garota.

— E quem é a bela jovem?

— A neta do Edgar, Núbia Cabrall _ apresentou Iara e Núbia acenou rapidamente com a mão, dando um oi.

— Não sabia que tinha uma neta, Edgar _ disse o prefeito.

— Nem eu _ admitiu Edgar. _ Pois bem, queria falar conosco, não é? Vamos direto ao assunto então.

O prefeito assentiu e os convidou para entrar, Iara pediu para Núbia ficar na sala de espera e ela assentiu, não ia perder nada mesmo.

A sala de espera tinha cadeiras em duas paredes de lados contrários, paredes essas de cor alaranjada. Núbia sentou em uma dessas cadeiras e ficou olhando alguns quadros que estavam pendurados, todos mostravam paisagens e nada mais.

— Tédio _ reclamou ela a si mesma.

Alguns minutos mais tarde, porém, ouviu passos na escada e um rapaz loiro de porte atlético surgiu. Ao ver Núbia largada no banco ele levantou uma sobrancelha.

— Olá. Quem é a senhorita?

Núbia o analisou, com aquele topete e aquelas roupas de marca, ele devia ser o bad boy da região.

— Núbia. E você?

— André Montero. Sou o filho do prefeito, já deve ter ouvido muito sobre mim_ disse ele com um sorriso convencido.

— Não.

— Então é nova aqui _ concluiu ele e a olhou de cima a baixo _ além do mais você é bem diferente das garotas daqui.

Núbia deu de ombros ainda sem ânimo algum, aquilo devia servir para ele deixa-la em paz, mas não foi isso que aconteceu, André sentou ao lado dela com aquele sorriso de garoto propaganda da Colgate.

— Mas então, está esperando ser atendida pelo meu pai ou algo assim? Posso te ajudar se quiser.

— Não, estou esperando alguém que está falando com seu pai, só isso.

— Ah é, quem?

— Meu... Vô, Edgar.

No mesmo instante o sorriso do rapaz sumiu e ele se afastou um pouco de Núbia, o que ela achou ótimo.

— Ah... você é uma Cabrall.

Aquilo parecia deixa-lo com medo o que obviamente Núbia adorou. Ela deu um sorrisinho maldoso e começou a inventar:

— Sim, Cabrall com orgulho, sou muito próxima do Edgar, sabe, dizem que somos muito perecidos, até.

O rapaz tentou sorrir, mas estava claramente nervoso enquanto Núbia segurava a gargalhada.

— É... Que interessante. Parecidos em que sentido exatamente?

— Ah, gostamos de coisas obscuras, sabe, morte, sangue _ disse ela se aproximando dele com expressão de maníaca _ corvos...

Logo a porta do escritório se abriu e o prefeito, Edgar e Iara, saíram. Ao verem Núbia e André sentados lado a lado pareceram um tanto confusos, provavelmente porque André estava com cara de assustado e Núbia com um sorrisinho psicopata.

— Filho, vejo que já conheceu a neta de Edgar _ disse o prefeito, como sempre carismático.

— É, conheci...

— Bem, precisamos ir agora _ disse Edgar.

— Claro, mas obrigada por comparecerem _ disse o prefeito.

Quando já estavam fora do prédio da prefeitura Núbia soltou uma gargalhada do nada e tanto Edgar quanto Iara a fitaram sem intender nada.

— Desculpem _ disse Núbia _ é que eu estava segurando isso. Precisava rir.

Núbia contou o que havia feito com André enquanto eles caminhavam, e tanto Iara como Edgar riram.

— Você é má guria _ comentou Edgar. _ Como seu avô _ brincou ele.

Núbia riu, mas depois notou o quão aquilo era estranho, quem daria, Edgar tinha senso de humor.

Logo eles haviam resolvido tudo sobre a internet também e o técnico iria a casa deles ainda naquele dia, depois eles foram ao correio buscar correspondências das empresas que Edgar possuía, algo que respondeu uma pergunta que Nubia fazia á muito.

Desde o inicio, o oficial tutelar disse a Núbia que seu tutor era bem rico e que a casa no Rio Grande do Sul era só uma entre várias propriedade que possuía, mas ele não disse como ele conseguia tal dinheiro. Naquela ocasião, porém Iara explicou que Edgar trabalhava basicamente no ramo agropecuário, tinha imensas plantações, criações e algumas indústrias por todo o país. Outra coisa que Núbia aprendeu naquele dia é que Iara não era só um rostinho bonito, tão pouco era só a esposa de Edgar, ela era sócia dele, tinha metade de tudo, administrava e trabalhava em parceria com o marido.

Porém, ser inteligente e empresária não a impedia de ser vaidosa e logo Iara inventou de levar Núbia para as únicas três lojas de roupa da vila.

Edgar não pareceu muito animado com a ideia, mas não interferiu.

Iara escolhia os vestidos sem estampa e com custaras diferentes, colocava as peças de roupa a frente do corpo e mostrava para Edgar, fazendo sempre a mesma pergunta:

— o que acha?

E a resposta dele também era mesma:

— Você sabe que fica bem em tudo Iara _ elogiava ele de uma forma um tanto tediosa.

Logo Núbia pareceu com as peças de roupa que achou interessante, as poucas lojas de Fim do Mundo Pareciam mais com brechós do que lojas mesmo, mas se você fosse criativo dava para achar algo bom.

— Eu posso levar essas? _ disse Núbia mostrando uma jaqueta, uma saia com babado, uma calça jeans e uma camiseta de gola V, todas com algo em comum:

— Por que todas pretas, Núbia? _ reclamou Iara.

— Porque eu gosto _ respondeu dando de ombros.

Edgar de uma risadinha.

— Preto é uma ótima cor _ disse ele _ agora escolham logo o que querem e vamos embora.

E assim foi, logo estavam os três de volta ao casarão, eles almoçaram e só então, vendo aquela comida na mesa que Núbia se lembrou o que queria fazer desde o começo do dia.

Ela esperou o almoço acabar e quando Edgar e Iara subiram para analisar mais relatórios, Núbia foi até a cozinha.

— Ângela.... _ chamou Núbia.

Ângela só abriu um sorrisinho.

— Já sei, comida para o Cicero _ supôs ela e Núbia assentiu.

Com lanches colocado em um potinho, Núbia caminhou pela mata a procura de Cissa e o achou agachado de trás de uma pedra observando o lago límpido onde caia a cachoeira do sítio. Ao ver Núbia, Cissa fez sinal para que ela fizesse silencio e se aproximasse. A garota não entendeu nada de inicio, mas fez o que lhe foi pedido. Aproximou-se cautelosamente e espiou junto a Cissa o que havia no lago. Eram dois homens de chapeis, o primeiro de palha, o outro de couro e ambos usavam roupas surradas. Eles andavam nas partes rasas do lago a procura de algo.

— É para mim _ cochichou Cissa apontando ao potinho e Núbia assentiu. _ Obrigada.

Ele abriu o potinho e começou a comer os lanches da forma mais silenciosa que conseguiu.

— O que estão procurando? Esses caras?— cochichou Núbia.

Cissa deu de ombros.

— Não faço ideia, mas estão aqui desde manhã. O que já está me incomodando.

— Por quê?

— Por que gosto de nadar no lago pela manhã e hoje eu não pude fazer isso que já faz parte da minha rotina porque esses dois estranhos estão fuçando na minha cachoeira — respondeu Cissa furioso.

Núbia revirou os olhos.

— Na verdade o Lago, a cachoeira e o bosque inteiro, pertencem a Edgar, né.

— Tanto faz, sou eu que mais os utilizo, então é meu também. Mas... — Cissa sorriu como se tivesse uma ideia. — Você é neta de Edgar, então isso também é seu! Você pode expulsa-los daqui!

Núbia negou com a cabeça.

— Eu não, nem os conheço.

— Então! Quem esses estranhos pensão que são para invadir o seu sitio? Vai lá, menina, mostra seu poder, bota moral.

Núbia revirou os olhos. Cissa então a beliscou forte no braço, o que a fez gritar e se levantar. Logo os dois homens do lago se voltaram a ela com expressões confusas de quem diz: "de onde essa menina surgiu?"

— Eh... Oi — disse Núbia forçando um sorriso.

Ela olhou para o lado e Cissa não estava mais lá. "Agora sei por que o chamam de demônio" pensou ela ardendo em raiva.

— Quem é você? — perguntou o homem de chapéu de palha.

— Eh... — Núbia não sabia se respondia ou não, mas achou melhor falar a verdade. — Sou a neta do dono do sítio.

Os homens se olharam com expressões nervosas.

— E-Edgar — gaguejou o de chapéu de couro.

— Sim — respondeu Núbia natural, mas os homens pareceram assustados.

O de chapéu de couro bateu no braço do outro.

— Eu disse que não devíamos ter entrado aqui, Miguel, se aquele bruxo nos encontrar...

— Nem fale uma coisa dessa, Pedro — disse o outro.

Até agora Núbia já sabia que o de chapéu de couro era Pedro e o outro era Miguel. Provavelmente, o bruxo era Edgar e o infeliz que lhe deixou naquela confusão era o Cissa, mas bem.

— Não precisam ficar nervosos — disse Núbia. — Eu não conto nada para Edgar, só quero saber o que vieram fazer aqui.

Miguel levantou uma sobrancelha.

— Não acha que eu vou confiar em você, né. Deve ser bruxa que nem o avô — disse ele fitando Núbia com desdém.

— Não! — protestou Núbia.

— Sem dúvida é — disse Pedro, — olhe só as roupas dela.

Núbia se olhou com aquelas roupas pretas e revirou os olhos.

— Isso não é ser bruxa — protestou Núbia — é... ser roqueira!

— O que não é muito diferente — disse alguém de cima de uma árvore, todos olharam na direção. Em um galho não muito alto de uma árvore próxima à cachoeira estava Cissa, sentado e assistindo atentamente o show lá em baixo. Núbia rangeu os dentes ao vê-lo e o garoto a correspondeu com uma piscadinha.

— Quem é você? — perguntou Miguel.

— Eu! — disse Cissa abrindo os braços. — Mas para que se preocupar comigo, sua discussão é com a menina aí — disse ele apontando para Núbia. — Só não seja muito indelicado.

Os dois homens voltaram para garota, que tentou acabar logo com aquela conversa.

— Olha, eu não sou bruxa, não sei quase nada sobre Edgar, na verdade nem falo com ele, então parem de me fitar como se eu fosse uma aberração, está bem? Agora digam logo, o que vieram fazer aqui?

— Ou ela transforma vocês dois em sapo — avisou Cissa.

Núbia rosnou e ele somente riu.

— Nós... Estamos atrás de alguém — disse Pedro. — Uma dama que vimos ontem à noite.

— Sim, sim — disse Miguel, abrindo um sorriso, — a dama mais bela que já vimos!

— Ah-han – disse Núbia com uma cara desconfiada. — E por que acham que ela estaria aqui?

— Porque foi para cá que ela veio — disse Miguel.

Cissa pulou da árvore e foi até eles, ele segurava um caderninho com uma capa de papelão em uma mão e uma caneta na outra.

— Bem cavalheiros — disse ele. — Diga-me com detalhes o que aconteceu e como essa tal dama era, que eu anotarei, e jugarei se podem ou não ficar no meu precioso lago.

— Onde conseguiu o caderno? — perguntou Núbia.

— Da árvore, todo mundo sabe que papel vem das árvores, menina — disse Cissa como se aquilo fosse obvio.

Núbia revirou os olhos, depois resolveu perguntar também sobre a tal bela dama que Miguel e Pedro viram, no começo ambos pareceram desconfortáveis em contar tudo, mas no fim não tiveram escolha.

No dia anterior Miguel e Pedro resolveram pescar riu a cima, perto da nascente da água que caia da cachoeira. A ideia era passar a noite na casa da mãe de Miguel, que ficava na beira do riu, porém, quando já anoitecia, ambos resolveram voltar a pescar, pensando que a noite, os peixes apareceriam, mas ao invés de peixes viram uma Moça lindíssima, do outro lado do riu. Ela estava sentada a beira, observando os peixes que nadavam fazendo voltas como se dançassem para moça. Miguel e Pedro tentaram chamar a dama, mas ela somente os fitava por um tempo, depois voltava a observar os peixes com seus olhos verdes e brilhantes. Segundo os dois, não dava para ver a moça muito bem, não saberiam descreva-la com exatidão, mas ainda sim ela os seduziu.

A tal dama então se levantou e começou a caminhar a beira do riu, arrastando seu vestido azul meio transparente pelo chão. Miguel e Pedro a seguiram, tentando chamar a atenção da moça, mas nada. E foi assim que chegaram à cachoeira e ao lago límpido do sitio. Eles disseram ter visto a mulher mergulhar no lago, mas, depois simplesmente sumiu, não voltou à superfície. Assim ambos ficaram a noite toda procurando a moça.

— Que babacas — disse Cissa ao ouvir a historia.

Os dois o fitaram raivosos, depois olharam para Núbia.

— Moça, lhe pedimos permissão para ficar essa noite, só essa, temos que encontrar a tal dama!

Núbia achou aquela historia toda uma loucura. Mas depois de tudo que já lhe acontecera, não havia dúvidas que a tal moça era algo sobrenatural, mais uma criatura para caça-la quem sabe. Mas no momento eram aqueles dois homens que estavam enfeitiçados e Núbia sabia o quanto isso era horrível, não controlar a própria mente e corpo. Lembrou-se do que passou com o Boto, e sério, ela não queria aquilo para ninguém.

— Já pensaram o quanto isso é meio louco e que podem estar correndo risco de vida? — disse Núbia.

— Não! — disseram os dois homens juntos.

Núbia olhou para Cissa pedindo apoio, ela sabia que ele estava pensado o mesmo que ela.

— Vocês deviam ouvir a menina — disse Cissa.

— Essa tal dama pode querer matar vocês, pode não ser... normal, — disse Núbia. — Além do mais, ela mergulhou e sumiu! Vocês não acham isso um pouco estranho?

— Está chamando a bela dama de monstro, ou algo assim? — disse Miguel irritado. _ Ela era um anjo, uma deusa quem sabe.

Nubia deu de ombros.

— Humana é que ela não é — concordou.

Pedro fechou os punhos.

— Como ousa bruxinha, você sim que não é humana sua...

Cissa se colocou na frente de Núbia.

— Pense bem no que irá falar — avisou ele com olhar sanguinário. — Não ouse ofender a menina, ela só quer ajudar vocês, mas se não querem ver a verdade, então não podemos fazer nada.

Cissa encarou os dois homens com seus olhos cinzas em fúria, até amedronta-los. Núbia então pôs a mão no ombro de Cissa, o que o deixou menos tenso.

— Vamos Cissa.

Ele assentiu.

— Sim, vamos, que procurem pela própria morte esse dois idiotas.

Núbia e Cissa resolveram esquecer os dois tolos homens e partiram para mais um dia de treino, dessa vez, a aula foi fugir, o que pode parecer fácil, mas não era.

Cissa decidiu que prepararia Núbia Cabrall para tudo e assim, a fez correr por locais difíceis, decidas, subidas, ou as partes da mata com mais pedras e troncos no chão que ele conseguia se lembrar. Nem é preciso dizer que agarota tropeçou por várias vezes e praguejou contra Cissa, mais ainda.

Depois Cissa teve mais uma genial ideia, escalar árvores, além do mais, não havia maneira mais simples de despistar um perseguidor, ainda mais, se este mesmo for um completo idiota. Os dois então acharam um pé de ameixa grande, com muitos galhos, perfeita para escalar. E assim começaram a segunda fase do treinamento. Juntos escalaram a árvore até o galho mais alto e desceram, depois escalaram novamente, dessa vez, mais rápido e desceram também em maior agilidade, na terceira vez, após escalar até o topo Núbia não conseguiu descer, ela escorregou nos galhos centrais da árvore a caiu.

Cissa imediatamente correu até ela, enquanto Núbia berrava, não de dor e sim de raiva.

— Droga! _ reclamou ela tentando de sentar _ Acho que torci o tornozelo.

— Hey anjo, caiu do céu, foi? _ disse Cissa com um sorrisinho enquanto ajoelhava-se ao lado dela.

— Não tem graça, Cissa, eu falhei, não consigo nem descer uma droga de árvore e ainda acabei com o tornozelo dolorido.

— Está bem, vamos colocar um gelo ai que melhora.

Cissa tentou ajuda-la a levantar, mas ela não conseguia firmar a perna no chão.

— Dói muito _ reclamou ela.

Cissa entortou os lábios.

— Acho que foi sério. Segura em mim.

Não houve tempo para argumentar, logo Cissa a pegou no colo e começou a caminhar em direção a sua cabana. Núbia pensou em dizer que não precisava daquilo, mas algo no fundo havia gostado da ideia.

Cissa a colocou com cuidado no sofá da sala e depois pegou um pouco de gelo colocou em uma sacola plástica e deu á Núbia.

— Pressiona onde dói. Deve ter sido uma lesão simples, logo melhora.

Ela assentiu e colocou o gelo contra o tornozelo direito.

— Valeu, por tudo.

— Bem, fui eu que te fiz subir aquela árvore, se isso aconteceu com você, é minha culpa.

— É mesmo _ concordou ela com uma risadinha.

Cissa franziu os olhos.

— Hei, não é para concordar. Mas espero que essa dor passe logo, precisamos treinar mais, pois como pode ter notado, se realmente tivesse algo atrás de você, não só te pegaria quando caiu da árvore, como teria mais facilidade de derrotar você por estar ferida. Resumindo, você estaria morta, cortada em pedacinhos e sendo digerida pelo estomago de um monstro.

— Isso foi muito animador Cissa, obrigada _ ironizou ela.

— ah, por nada.

Ele então foi até a estante e pegou um livro.

— Aliás, olha como eu sou legal, vou te emprestar um dos meus livros favoritos. Vai te ajudar a reconhecer os monstros antes de eles te reconheçam.

— Isso é ótimo.

Cissa assentiu e lhe entregou o livro. Núbia então deixou o gelo no chão e começou a foliar a obra escrita e ilustrada a mão, que parecia mais um diário e tinha capa de couro. Núbia concluiu que aquele era exatamente o tipo de livro que aparece em filmes de fantasia e que costumam ou salvar ou ferrar de vez o protagonista.

— Esse livro ai é mais velho que a Ana Maria Braga e o Roberto Carlos juntos, então cuida bem dele _ avisou Cissa.

— Tá bom _ disse Núbia arregalando os olhos. Depois ambos riram.

— Mas falando sério, é uma edição única e muito delicada. Eu... Emprestei de uma biblioteca há alguns anos.

— emprestou, sei.

Cissa deu uma risadinha sacana.

— Ah, esse livro foi uma doação á biblioteca, ele é incrível, foi escrito por um caçador e estudioso de criaturas, mas ninguém pegava ele, então o adotei de certa forma, sem ninguém saber, claro.

Núbia revirou os olhos.

— É, parece incrível.

— Sim, mas acho que você vai ficar ainda mais impressionada quando ver a assinatura do autor, vai na última página.

Núbia levantou uma sobrancelha, mas fez o que lhe foi pedido e viu na ultima página amarelada um recado escrito pelo próprio autor:

"Agradeço a morte por me oferecer o tempo necessário para terminar este livro, espero realmente que meus descendentes lhe usem bem e que as informações aqui presentes lhe sejam deveras úteis."

"Ass: Pietro Cabrall"

Núbia arregalou os olhos.

— Foi alguém da minha família que escreveu isso!

— Sim, se não me engano, o avô do Edgar, esse livro era para passar de geração em geração, mas Edgar por algum motivo se desfez dele, deixando na biblioteca da vila Fim do mundo onde por acaso, eu vivia. Então nem pense em dizer "ai esse livro me pertence, sou uma Cabrall", que eu torço o seu outro tornozelo.

— Nossa. Eu não vou roubar seu precioso livro não, mesmo que sim, ele me pertença.

Núbia abriu um sobrinho maldoso e Cissa a fuzilou com os olhos.

— Menina...

— Menino...

Os olhares brigaram entre si até os dois não resistirem e gargalharem. Logo Cissa e Núbias sentaram-se próximos um do outros no sofá e leram algumas partes do livro enquanto Cissa explicava uma coisa ou outra.

Já entardecia quando Núbia voltou para casa, ela tentou esconder a lesão no tornozelo, mas Iara notou que ela estava mancando. Ela falou meia verdade, disse que subiu numa árvore e caiu, mas não disse o porquê de ter subido.

— Bem seja, como for, tome um banho e troque de roupa, teremos visita hoje _ disse Iara.

— Por que alguém nos visitaria? _ disse Núbia com estranhamento.

— Me faço a mesma pergunta _ resmungou Edgar.

— Porque somos uma das famílias mais poderosas da região e vocês dois, Edgar e Núbia, serão simpáticos á altura de nossos nomes, certo?

Edgar e Núbia bufaram, mas não contra argumentaram o que fez Iara esboçar um sorrisinho.

— Ótimo, é assim que eu gosto.

Logo o "prefeito" Jorge Montes e seu filho André chegaram ao casarão. Enquanto Iara e Edgar, que sequer escondia a insatisfação da visita, os recebia, Núbia estava na cozinha conversando com Ângela.

— Não acredito que tenho que jantar com aquele otário André.

— Já o conhece? _ perguntou Ângela.

— Um pouco e já não gostei dele.

— A tendência é piorar, ah é. André Montes é um metido a príncipe, é o filho caçula do prefeito e o mais mimado e irresponsável, muito irresponsável. Todos os irmãos já foram formar suas famílias e seguir suas carreiras, e André continua dando trabalho ao pai, é um idiota, grande idiota.

Núbia assentiu compreendendo e odiando ainda mais aquele jantar, mas infelizmente não havia como fugir.

Logo estavam todos iniciando o jantar. Como sempre, Edgar e Iara sentaram-se nos centros opostos da mesa, no começo prefeito teve e intenção de sentar-se no centro, como um líder faria, mas Iara sentou antes e lhe lançou um sorrisinho cínico como se dissesse: "Você pode até ser o homem, mas quem manda nessa casa sou eu" e Jorge não teve escolha a não ser sentar-se nos lugares restantes da mesa. André se acomodou ao lado do pai e Núbia sentou do outro lado sozinha, mas infelizmente, de frente a André que de vez em quando mandava uns sorrisinhos para a garota.

Aquilo deixou Núbia um tanto confusa, pois podia jurar que da ultima vez que viu André ele estava prestes a se borrar de medo dela. Logo, porém, em meio a vários assuntos tratados na mesa de jantar, o prefeito começou com uma conversa que provavelmente explicava o comportamento do filho.

— Sabe no que eu estava pensando? _ dizia o prefeito com seu costumeiro sorriso simpático.

— Diga _ disse Edgar tentando sem sucesso demonstrar interesse.

— Que meu filho e sua neta dariam um ótimo casal.

No mesmo instante Núbia se engasgou com a comida.

— Oh, não queria deixa-la constrangida, senhorita, me perdoe _ disse o prefeito.

Núbia forçou um sorriso tentando ser simpática, mas por dentro dizia: Constrangida é cacete, eu quero é te matar, seu velho maluco.

— Acho que isso não é algo que possamos decidir _ comentou Iara _ quero dizer, romance é algo que acontece por acaso, não é?

— Sim, claro _ disse o prefeito. _ É, que não consigo realmente imaginar moça mais adequada para meu filho, do que a herdeira do senhor Cabrall.

— Que gentileza a sua _ disse Edgar nada convincente.

— Ah, nossas famílias já são tão próximas não é amigo? _ disse o prefeito como sempre sorridente.

— Claro _ disse Edgar, como sempre de cara fechada.

— Sem contar _ começou André _ que honestamente, é claro, sou um ótimo partido.

Edgar, Iara e Núbia fizeram cara de nojo quase que simultaneamente.

— Certamente _ disse o prefeito dando palmadas no ombro do filhão.

Núbia estava muda, olhou para Iara, que costumava ser a mais falante, mas até ela já não sabia se fazer de simpática, por fim quem falou foi Edgar, o que pareceu deixar André bem nervoso.

— André, se me permite perguntar, qual é sua profissão?

— Ah... como assim? _ questionou o rapaz.

— Suponho que tenha entre os vintes anos, sendo assim, já deve ao menos pensar em alguma carreira a qual seguir, ou ajudar Jorge nos negócios...

André pigarreou nervoso.

— É, eu ajudo, é claro.

— E deve estar estudando também, suponho _ prosseguiu Edgar.

— Ah, na verdade eu larguei os estudos na oitava série.

— Hum, por quê?

— Achei que... Não precisava, meu pai é rico mesmo.

Jorge montes expressou profunda decepção.

Edgar por sua vez somente abriu um sorrisinho cínico.

— Realmente, um ótimo partido _ ironizou Edgar dando alguns goles em seu vinho.

Os Montes tentaram disfarçar o constrangimento, Jorge fitou André com raiva e o rapaz deu de ombros.

Enquanto isso Iara e Núbia seguravam ao máximo a gargalhada, o que não foi tarefa fácil.

Mais tarde, quando os dois Montes já haviam ido embora e a família Cabrall riu tudo que precisava rir, Núbia foi para o quarto escutar música e ler o livro de Pietro Cabrall. Em outro quarto Iara estava penteando os cabelos de frente a penteadeira, enquanto Edgar sentado na cama olhava para o nada pensativo.

— O que você fez hoje no jantar Edgar... nem sei o que te dizer.

— Deixa eu adivinhar, vai me repreender por não ter sido simpatizo.

Iara começou a rir.

— Na verdade eu quero te dar o parabéns. Meu tupã! A cara que eles fizeram...

Ela voltou a rir o que fez Edgar dar uma risadinha também.

— Eu não perdi todo meu senso de humor _ disse ele dando de ombros.

— Notei. Mas o que realmente me deixou feliz foi você ter feito isso para proteger a Núbia.

Edgar levantou uma sobrancelha.

— Na verdade eu só fiz aquilo para ver cara de Jorge. Já estava na hora dele perceber que o filho é um inútil.

— Edgar... Vai dizer que não sentiu nada de diferente hoje?

— Como assim?

— Impossível que só eu tenha notado! Você e Núbia começaram a se aproximar, nós parecemos quase uma família comum hoje, não acha? _ disse ela com um sorrisinho esperançoso.

Edgar respirou fundo, tentando ao máximo não perder a paciência.

— Não Iara, não acho, nunca seriamos uma família comum, você sabe disso.

Iara fechou a cara.

— Você podia ao menos tentar... Eu sei que prometi cuidar da Núbia sozinha, mas... Você já foi um bom pai, achei que pudesse me ajudar ou algo assim.

— Não! _ disse Edgar perdendo a paciência _ Se eu tivesse sido um bom pai as coisas não acabariam como acabaram! Quer saber uma coisa Iara? Sua órfã não me faz bem, muito pelo contrário. Toda vez que olho para Núbia a única coisa que consigo lembrar é de Taina sagrando até a morte!

Iara encarou Edgar, desolada.

— Eu... não imaginei que... Me perdoe Edgar. Quando eu trouxe Núbia a nossas vidas eu pensei que ela pudesse, não sei, trazer o antigo Edgar de volta.

Edgar se levantou e pegou Iara pelo braço a fazendo ficar de pé e cara a cara com ele.

— O antigo Edgar era fraco, deixou as pessoas que amava morrer, por que quer traze-lo de volta, Iara? _ dizia ele serrando os dentes.

Iara o encarou sem expressar medo.

— Por que foi o antigo Edgar quem eu amei.

Edgar franziu os olhos.

— Eu mudei e se tu não gosta dessa mudança então vá embora.

Iara afastou o braço da mão dele e o encarou com fúria.

— Pensando bem. É uma ótima ideia.

Só então Edgar notou o que havia feito e sua expressão cruel se desfez.

— Iara eu... Eu falei sem pensar, tchê, esqueça o que eu disse, sim?

— Não Edgar, está decidido, quando Núbia fizer 18 anos, o que não irá demorar muito, eu e ela iremos sair dessa casa.

Edgar negou com cabeça.

— Não diga isso Iara. Você não pode...

— Cale a boca! Eu decido o que posso ou não fazer, aliás, hoje vou dormir no outro quarto.

Ela já estava saindo, mas Edgar a pegou pelo braço. Ele pensou em várias formas de pedir desculpa, mas com um simples olhar de Iara notou que nada adiantaria naquele momento, ela não iria perdoa-lo tão cedo, assim somente a largou e a deixou ir.

Edgar fechou a porta devagar e sentou-se na cama.

— O que eu fiz? _ disse ele desolado.

O Cabrall fechou os punhos com raiva de si mesmo e tudo no quarto começou a flutuar, ele berrou em ódio e espelhos e janelas se quebraram, o guarda roupa voou para o outro lado do quarto e a única coisa que não mudou de lugar foi a cama e Edgar. Quando a raiva passou, ele olhou em volta e notou que havia conseguido perder a esposa e quarto na mesma, noite, oque obviamente, só o deixou mais nervoso.


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