Bangtan Boys - Park Jimin

Overcome

Capítulo 4 - Ela não existe

Olhei para cima e me deparei com Park Jimin me encarando furiosamente.

— Você enlouqueceu? — disse por fim quando a garota já estava bem longe, franzi minha testa tentando me largar do garoto.

— Eu que o pergunto, qual o seu problema? — elevei o tom de voz, chamando a atenção de alguns alunos que passavam pelo corredor. Jimin semicerrou os olhos e mordeu os lábios nervosamente sem saber o que fazer.

— Venha. — disse me arrastando contra a minha vontade para a enorme escadaria da escola, começamos a subir incansáveis lances de escadas até finalmente chegarmos na cobertura da escola, que era basicamente um espaço livre onde os alunos iam socializar durante os intervalos.

Cruzei meus braços assim que ele soltou meu pulso, para evitar que o mesmo o pegasse novamente. Mentalmente me perguntava qual o problema dele para ter me arrastado até ali na maior pressa do mundo, devia admitir que se tinha uma coisa que aquele garoto era, é estranho.

— Do quê isso se trata? — usei o diálogo informal sem pensar, o garoto pareceu não se importar pois estava muito tenso para isso. Mais um motivo para achar ele estranho. — Por quê me impediu de conversar com aquela unnie?

— Você faz muitas perguntas. — ele resmungou demonstrando um semblante cansado ao se apoiar na parede da cobertura fechando seus olhos por alguns momentos, eu sentia que um enorme ponto de interrogação estivesse estampado na minha testa. Mas mesmo asssim apreciei a imagem do vento soprar sobre os cabelos ruivos de Jimin enquanto ele estava com os olhos fechados, daquela maneira ele não parecia mais tão tenso ou tão rude, simplesmente parecia um garoto agradável eu diria.

Apenas o olhei enquanto o silêncio se estendia, a esse momento Hoseok estaria desesperado achando que eu tinha me perdido na escola e começaria a me procurar a qualquer momento.

— Não tente falar com aquela garota. — disse apenas quando abriu os olhos e percebeu meu olhar sobre ele.

— Por quê? Me dê um motivo plausível.

— Porque ela não existe. — Jimin disse friamente, fazendo com que eu recuasse um passo. Ok, agora eu podia afirmar que Park Jimin definitivamente não batia bem da cabeça. — Não aja como se você não soubesse do que eu falo Kim Eunji-ssi.

Aquilo incrivelmente fez com que eu recuasse um pouco mais me sentindo assustada, o quê Park Jimin era afinal? Um tipo de stalker? Ele não podia saber de nada até então, a não ser que ele tenha mexido nos meus registros psiquiátricos o que era basicamente impossível.

— Do quê você está falando?

Ele suspirou como se juntasse toda a paciência do mundo para falar comigo.

— Porque apenas nós conseguimos vê-la.

Senti como se um choque tivesse percorrido todo o meu corpo, entreabri a minha boca algumas vezes e balancei a minha cabeça negativamente sem saber o que falar para ele. Me sentia extremamente ameaçada, não queria que começasse novamente. Eu estava penando para me acostumar a aquele novo ambiente e fazer novos amigos, Jimin poderia muito bem estragar aquilo em somente alguns segundos fazendo com que eu voltasse para alguma clínica psiquiátrica.

Eu não confiava nele.

Eu não sabia como ele tinha descoberto aquilo.

Me senti em pânico por simplesmente não poder tentar atuar, não poderia simplesmente rir e dizer que ele era louco, meu estado psicológico não me permitia fazer isso naquele momento. Recuei mais alguns passos assustada.

— E-eu não sei do que você está falando. — gaguejei finalmente percebendo que aquela não era nem a minha primeira semana de aula e eu já estava metida em encrenca, o que eu deveria fazer agora que Jimin sabia?

Ottoke?

Jimin deu alguns passos a frente, se desencostando da parede e se aproximando de mim, fechei meus olhos desejando que tudo aquilo fosse um pesadelo eu pudesse acordar na minha cama em Portland. Sentia que uma crise de pânico se apossaria de mim novamente, mas logo senti meu corpo relaxar quando senti a mão macia de Jimin no meu ombro.

— Kim Eunji-ssi? — ele perguntou com um tom de preocupação, eu abri meus olhos receosa me deparando com o garoto a minha frente. — Eu não comentarei nada com ninguém, seu segredo está a salvo comigo, só não se aproxime desse guishin, essa garota me aparenta ser um tanto perigosa.

Senti meus ombros se acalmarem com aquela atitude.

— Como eu vou poder confiar em você? — sussurrei me arrependendo de ser tão curiosa e ter chegado a aquele ponto.

— Eunji-ah! Eu fiquei tão preocupado! —  ouvi a voz de Hoseok atrás de mim, olhei para Jimin que apenas me deu um pequeno sorriso, me surpreendi aquilo. Até então não tinha reparado o quão bem Park Jimin ficava sorrindo, e ele parecia ter ciência disso. Sorri minimamente para ele e fui para junto de meu irmão.

[...]

Já era a terceira vez que eu acordava naquela noite e me pegava pensando naquele diálogo com Park Jimin, ainda me sentia desconfiada por ele ter percebido tão rápido que eu conseguia ver almas, mas algo na voz dele tinha conseguido me tranquilizar. Não sabia se deveria confiar nele, mas mesmo assim eu estava confiando. Ainda tinha milhares de perguntas em minha mente, como ele sabia? Ele provavelmente conseguia vê-los também? Me revirei na cama e assim que percebi que não conseguiria dormir por tão cedo, me levantei e abri meu notebook procurando por algo que pudesse me distrair e tirar aquilo dos meus pensamentos.

Em questão de minutos me vi pesquisando sobre guishins, sabia que desde o incidente naquela tarde eu deveria ter parado por ali, mas eu ainda tinha uma pequena chama de curiosidade. Sentia como se dar importância a aquilo fosse tirar Portland da minha cabeça e fosse me impedir de passar o resto do tempo chorando, me sentia incrivelmente fraca por admitir isso, mas eu precisava de uma distração para seguir em frente. Precisava de algo para esquecer que eu tinha perdido todas as minhas memórias sobre aquele acidente.

“Guishin Escolares:

Guishins escolares são almas que faleceram ou se suicidaram em um ambiente escolar por terem sofrido algum tipo de acidente, ou não ter conseguido boas notas.”

Suspirei ao perceber que a minha busca não iria a nada muito além do que aquilo, já que a minha curiosidade não se sentia completamente saciada. Talvez no dia seguinte eu conseguisse alguma coisa vasculhando os registros na biblioteca ou algo do gênero. Com esses pensamentos acabei por adormecer abraçada ao computador.

[...]

Acordei no dia seguinte com o meu corpo todo dolorido por ter dormido em má posição, assim que o alarme e me tirou de meus sonhos fui correndo para o banheiro me arrumar sabendo que eu chegaria atrasada. Vesti o uniforme da escola com pressa e calcei um par de tênis pretos, coloquei meu celular e meus cadernos jogados pelo quarto dentro da minha mochila e me dirigi até a cozinha. O senhor Jung e minha mãe já tomavam seu café da manhã tranquilamente, eu nunca tinha reparado como um olhava para o outro apaixonadamente. Apesar de tudo eu sorri de canto, o importante era que minha mãe estivesse feliz não é? Eu teria que crescer um dia.

Me curvei para os dois e comecei a comer o kimchi separado no lugar que eu costumava me sentar, logo Hoseok se sentou a mesa com cara de sono e começou a comer. Não demoramos muito para terminamos nossa refeição e irmos diretamente para o carro do senhor Jung.

— Eunji-ah? — Hoseok me chamou assim que fechou a porta do carro.

— Huh?

— O quê você estava falando com Jimin-ah ontem na cobertura? —  ele questionou.

No fundo eu sabia que ele iria me perguntar sobre, já tinha passado do horário das aulas e eu estava sozinha com um menino na cobertura, era mais do que óbvio que ele iria entender tudo da maneira mais errada possível.

— Vocês não estão…

Senti que todo o meu corpo ficou vermelho naquele momento com aquela fala, arregalei os meus olhos me sentindo sem palavras o suficiente para criar uma mentira convincente sobre aquele ocorrido.

— NÃO! — praticamente gritei, e assim que percebi que tinha gritado com o meu oppa bati na minha testa bem na frente dele mesmo, sem me importar se ele me acharia estranha ou estivesse assustado com a minha reação. Aigo, qual era o meu problema? — Me desculpe Hope, —  murmurei seu apelido com uma voz manhosa, era a melhor maneira de convence-lo a fazer algo era chamá-lo de “Hobi’ ou “J-Hope”, já que o mesmo detestava quando eu o chamava de Hoseok oppa. — eu estou nervosa com tudo isso, me desculpe.

— Aigoo, que bonitinha, finalmente me chamando de Hope! —  ele disse como se eu fosse uma criança de três anos e apertou as minhas bochechas enquanto eu apenas o olhava sem nenhuma reação.

— Hoseok, pare de torturar sua irmã. — o pai dele riu da minha expressão assim que entrou no carro.

Suspirei de alívio ao perceber que ele tinha esquecido de comentar sobre Jimin, já bastava a minha reação envergonhada que tinha sido bem denunciadora. Apesar de não ter acontecido nada demais naquela tarde algo me incomodava, era a primeira vez que eu corava por causa de um menino que não fosse Harry. Me assustei com aquele pensamento e logo apanhei meu celular abrindo minha conversa com Harry, dessa vez eu tinha certeza que ele tinha me ignorado e me bloqueado, e não somente ele, Dana também tinha feito o mesmo. Afinal qual era o problema deles?

Senti meu coração se afundar com aquilo. Então queria dizer que nós tínhamos terminado, assim, do nada? Tudo bem, era muita ingenuidade da minha parte achar que ele tentaria manter um relacionamento a distância sendo que ele tinha diversas garotas a disposição dele. Mas então por que eu sentia que não era exatamente aquele o ponto de tudo isso?

— Você consegue ir para a sua sala sozinha? —  meu irmão perguntou olhando para seu relógio de pulso — Tenho que procurar Jungkook pela escola e acho que não vai dar tempo de te levar.

— Sem problemas. — acenei enquanto ele se distanciava e subia a escadaria apressado. Aproveitei aquela brecha para andar pela escola e procurar a biblioteca, que por acaso era gigante, assim que a achei tentei marcar o lugar na minha mente e retornei com um pouco de dificuldade para a minha sala. Por sorte ainda faltavam alguns minutos para a aula começar o que evitou com que eu fosse chamada a atenção por estar chegando tarde na sala de aula.

— Eunji-ah! — Taehyung me comprimentou com um sorriso quadrado em seu rosto que automaticamente me fez sorrir de volta, como alguém podia ter um sorriso tão fofo como aquele? — Tudo bem?

— Sim. —  eu acenei me aproximando do rapaz.

— Você poderia me emprestar suas anotações da aula anterior? Eu esqueci de copiar algumas coisas… — sorri com aquela fala, era claro que ele esqueceria das anotações da aula porque estava ocupado demais observando um inseto em sua mesa.

— Claro — disse procurando o caderno em minha bolsa e logo após o entregando a ele.

— Obrigado, não demorarei para devolver!

Me dirigi a minha mesa percebendo o olhar de Jimin em mim, sem motivo algum eu estremeci ainda me questionando se poderia confiar tão cegamente nele. Arrumei minhas coisas enquanto esperava a aula começar, e em algum momento deixei de perceber o olhar de Jimin pelo reflexo da janela. Eu o olhei de volta, pensando que isso o faria desviar o olhar, contudo ele apenas se virou na minha direção e olhou diretamente em meus olhos.

— Eu sei que você ainda não confia em mim. — ele cantarolou e eu não pude deixar de notar o quão bonita a voz dele era.

— O quê você quer que eu diga? — ergui a sobrancelha me apoiando na mesa.

— Não é o que eu quero que você diga, e sim o quê você esta pensando. — ele comentou como se fosse óbvio e deu risada da minha cara de tacho,e a risada dele era incrivelmente contagiante, se eu não estivesse tão irritada estaria rindo com ele.

Recebi alguns olhares invejosos de algumas meninas, mas decidi fingir que não tinha percebido.

Minha única explicação para aquilo era que Park Jimin era bipolar.

Ele me deu uma piscadinha e se virou para a frente, me fazendo perceber que a professora já tinha chegado na sala de aula. Bufei, tentando me provar que ele não estava me incomodando e novamente me perdi em pensamentos olhando para a janela.

"Preciso de um momento

Eu não sei em que acreditar

Tudo que quer fazer é ir embora

O que posso dizer que te faria ver?

Te faria precisar de mim?

Talvez eu nunca saiba"