Bangtan Boys - Park Jimin

Overcome

Capítulo 5 - A Biblioteca

“Estou muito confuso

Para ser honesto, eu não sei

Eu não sei quem eu sou

Então, senhorita, diga um pouco sobre mim

Como se sentiu quando me viu?”

24K, Bingo.

 Finalmente tinha chegado o recreio, vulgo, intervalo.

Eu naturalmente me sentava nas mesas com algumas meninas que faziam parte do grêmio, e sinceramente, era a melhor maneira de se sentir deslocada possível. Aquelas garotas eram lindas e gentis, além de serem estudiosas. Já eu era alguém que tinha que tomar comprimidos para controlar meus ataques de pânico e coisas do gênero. Só que desta vez eu estava sentada na mesa dos meninos, Hoseok, Taehyung, Jungkook e Jimin. Certamente não tinha como ficar mais incomodada do que eu já estava, por estar em uma mesa sozinha com quatro rapazes fazia com que eu recebesse alguns olhares bem desconfortáveis. Eu até tinha tentado argumentar com o meu oppa que não ficaria muito bem me juntar a eles, mas como todas as outras vezes ele não me ouviu.

— Yah, Eunji-ah, — Taehyung estalou os dedos na minha frente, fazendo com que eu o encarasse me perguntando qual o problema dele — você não come nada? Coma alguma coisa!

Baixei o meu olhar para o meu almoço, estava intocado. Sorri torto para Tae, estava tão perdida em pensamentos que não me lembrei de comer. Comia silenciosamente enquanto os meninos conversavam animados entre si, sorri disfarçadamente ao perceber o como os quatro eram bons amigos. Os meninos conversavam animados e riam escandalosamente chamando atenção de algumas garotas ao nosso redor, os outros garotos ou apenas reviravam os olhos ou fingiam não se importar. Eu era certamente a pessoa mais deslocada daquela mesa, embora ora ou outra algum dos meninos me faziam falar alguma coisa.

— É a sua primeira vez em Cheongwa? — Taehyung perguntou enquanto colocava um pedaço enorme de kimchi na boca.

— Não, eu nasci aqui pra falar a verdade. —  dei um sorriso tímido atraindo a atenção dos outros meninos.

— Yah, você não comentou isso comigo. — Hoseok resmungou fazendo um biquinho chateado, eu apenas sorri minimamente. Comentar sobre a época que eu morava na cidade era um pouco difícil para mim pois fazia com que eu me lembrasse do divórcio dos meus pais, que ainda uma ferida aberta e tanto.

— Você nunca perguntou… — murmurei usando o diálogo informal o que fez Hobi me olhar cruzando os braços.

— Estão vendo isso? Ela nem me trata como se eu fosse um irmão mais velho! —  fez um careta chorosa para os meninos, acabei rindo do drama dele e o abracei de lado. — Ah, agora você quer demonstrar afeto por mim?

Eu apenas ri balançando a cabeça positivamente, fazendo com que ele risse também.

Passei a refeição inteira analisado cada um dos meninos, me perguntando qual deles me ajudaria a conseguir as respostas que eu precisava obter. Hoseok estava fora de cogitação, já que ele era naturalmente curioso e iria querer saber sobre o que eu estava procurando. Jungkook não olhou nos meus olhos durante nenhum momento, o que me fez concluir que ele era tímido demais para me dar alguma informação clara. Taehyung provavelmente não entenderia o que eu queria procurar, o que me levava a minha última opção. Park Jimin. E ele era a pior última opção que eu poderia ter.

Jimin com certeza não me ajudaria, tanto que ele já estava mais ocupado flertando com algumas garotas que tinham se sentado ao seu lado e constantemente falavam “Jimin oppa” com uma tonalidade de voz irritante. Não tinha sentido nenhum pedir ajuda para ele, o garoto seria rude como da última vez. Eu prefiria me aventurar por aí sozinha.

Saí do refeitório com a desculpa de que eu iria ao banheiro e comecei a andar por toda a escola procurando pela tal biblioteca, e incrivelmente eu não conseguia mais a achar. Bufei enquanto passava pelo mesmo corredor pela terceira vez, a escola era gigante, tinha vários prédios e vários andares, se eu ficasse zanzando o intervalo inteiro certamente não encontraria nada. Quando eu finalmente encontrei a biblioteca já não aguentava mais caminhar pela escola, me perguntava como eu iria achar a minha sala depois.

A biblioteca era gigante cheia de estantes e computadores, era tudo muito organizado e silencioso. A bibliotecária me olhou por cima de seus óculos com um olhar emburrado me pedindo para fazer silêncio, acenei com a cabeça e comecei a andar em busca de algo que pudesse ser registros dos anos anteriores ou simples anuários...Coisas do gênero.

— Aish, esse lugar é simplesmente enorme. Eu não vou achar o que quero em cinco minutos. —  suspirei fuçando em alguma prateleira, um livro prateado me chamou atenção. Acabei o tirando da estante conseguindo ver do outro lado da estante, quase pulei para trás.

Ela estava lá de costas, olhando diretamente para um livro. A guishin estava lá.

— Kim Eunji, —  assim que ouvi meu nome ser mencionado por ela, senti meu corpo inteiro gelar. Eu deveria ter ouvido Jimin quando ele tinha comentado sobre a aura negra daquela garota. —  eu irei encontra-la Kwon Moonseol sunbae…

 Ela deu uma risada seca.

— Tenho certeza de que ela é igualzinha a você sunbae, uma pena que desta vez ninguém poderá defendê-la.

Apertei o livro prateado contra o meu peito, sentindo meu coração pular para fora da minha boca. Meus batimentos estavam tão acelerados que eu sentia que ela poderia ouvir do outro lado.

— Park Jimin, — uma sensação de calafrio percorreu o meu corpo ao ouvir o nome dele da boca dela — espero que você morra exatamente como ela, Oh Minjoo. Eles pagarão por tudo isso.

Me afastei da estante, a qualquer momento aquela garota iria se virar e perceber que eu tinha a observado por aquela pequena fresta. Assim que ela começou a se virar eu me esgueirei para o lado, impedindo-a de me ver. Sentia meu corpo em choque e o máximo que eu conseguia fazer era piscar, arrisquei-me a olhar novamente pela brecha. Ela já não estava mais lá.

E eu nunca tinha corrido tanto para longe de uma biblioteca.

[...]

A aula já tinha começado, mas eu não conseguia me focar em absolutamente nada. Meu rosto estava pálido e eu não conseguia fazer nada além de olhar para a folha em branco do meu caderno. Nunca tinha sentido tanto medo. Poderia ser simplesmente uma piada de mau gosto comigo por eu ser uma caloura, eu queria acreditar nessa opção, mas parte de mim sabia que aquilo provavelmente não era uma brincadeira. Como aquela garota saberia que eu tinha uma tia chamada Kwon Moonseol?

— Eunji-ah? — Taehyung cantarolou o meu nome estalando os dedos na minha frente, fazendo com que eu acordasse de meu transe. — Aqui está o seu caderno, muito obrigado por emprestar.

— A-ah, p-por nada. — murmurei com a voz fraca pegando o caderno e formulando um sorriso torto. Tae me olhou confuso, provavelmente pensando se tinha algum problema comigo, mas apenas me deixou quieta.

Olhei para frente me deparando com as costas de Jimin.

Jimin!

Eu deveria contar para ele que aquela garota estranha desejava a morte dele e tinha dito coisas estranhas sobre ele? Ou ele provavelmente riria da minha cara ou me trataria com grosseria como sempre? Melhor não, ele parecia estar ocupado demais conversando com a garota a sua frente. Tornei a olhar pela janela procurando uma resposta plausível para aquilo.

E se eu perguntasse para minha mãe sobre Kwon Moonseol? Eu sabia que era um assunto um tanto proibido em nossa casa, aprendi desde pequena que a morte de tia Moonseol a magoou muito. Não me pergunte sobre minha irmã novamente, o suicídio dela é algo que não gosto de falar sobre. Não, também estava fora de cogitação, aquilo a magoaria e eu estava com uma relação tão boa com minha mãe, que não pretendia magoá-la por tão cedo.

Mordi meus lábios nervosamente, me questionando o que eu faria. Eu estava com medo, e no fundo, esperava que aquilo fosse apenas uma brincadeira de mau gosto.

De repente eu não ouvi mais a voz de Jimin, a garota com quem ele falava perguntava se ele estava prestando atenção, mas ele olhava para outro lugar. Segui o seu olhar, era a garota estranha. Senti meu corpo estremecer e desviei o olhar imediatamente, tornei a olhar para a janela tentando conter as minhas mãos que insistiam em tremer.

O ruivo voltou a conversar, rindo envergonhado, alegando que tinha se distraído por um momento. A garota olhou para onde ele tinha encarado, mas aparentemente não viu nada e deu de ombros.

A garota passou por mim e por Jimin olhando fixamente para um ponto qualquer e se sentou na última carteira vaga no fundo da sala, quem a encarasse, vulgo quem pudesse vê-la teria a impressão de que ela estava morta ou era algum tipo de zumbi. Naquele momento eu queria muito cutucar Jimin e tentar conversar algo com ele, ou falar com Yoongi, o garoto quieto do meu lado. Queria fazer qualquer coisa que esquecesse que aquela guishin estava a algumas carteiras atrás de mim querendo matar o garoto a minha frente.

Uma eternidade se passou até que o sinal finalmente tocou alegando o fim do horário de aulas, senti uma sensação de alívio percorrer pelo meu corpo enquanto eu saía apressada da sala de aula. Só senti as batidas do meu coração se acalmarem quando eu estava no estacionamento esperando que Hoseok não demorasse muito para aparecer. Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha enquanto meu pé estremecia.

— Alguém estava com pressa. — Jimin sorriu debochado se encostando na parede ao meu lado.

Olhei para ele e logo desviei o olhar, eu queria muito sair dali. Tinha medo de que ela aparecesse na minha frente, o que eu iria fazer caso isso acontecesse? Eu teria um ataque de pânico? Desmaiaria? Saíria correndo? Novamente meus olhos encontraram o de Jimin, eu queria muito falar o que eu tinha ouvido para ele, mas não sabia se eu deveria de fato fazer isso.

— Você foi atrás dela, não é mesmo? — Jimin soltou um suspiro cansado quando eu concordei olhando para os meus tênis.

— Ela falou algumas coisas estranhas…

— Você falou com ela? — o ruivo quase gritou me encarando assustado — Por acaso você enlouqueceu?

Bufei sabendo que ele estava certo, eu deveria ter deixado aquela história quieto e nunca ter pisado na biblioteca em busca dos anuários. A ideia de que Park Jimin estava certo e estava prestes a me dar um sermão era como um tiro no meu orgulho.

— Não exatamente. — soltei olhando desolada para o chão.

— Você não saí daqui até você me dizer o que raios você ouviu. — o tom de voz de Jimin mudou de uma hora para a outra.

Apesar da minha situação, foi a minha vez de rir debochada.

— Por quê toda essa curiosidade da sua parte, huh? — ergui a sobrancelha. Pela expressão furiosa dele eu sabia que estava o tirando do sério.

Ficamos nos encarando por longos segundos furiosamente, de repente a preocupação que eu estava sentindo se dissipou. Eu não queria mais ficar sair de perto da escola e ficar longe daquela garota, eu queria sair da escola e ficar longe de Park Jimin.

— Você não vai falar porra nenhuma? — era incrível como naquele momento os outros alunos passavam por nós e simplesmente nos ignoravam — Pense bem, eu sou a única pessoa que pode te ajudar, eu sei que você está com medo. Você ouviu algo que te deixou com medo, me deixe saber o que é.

A voz dele pareceu ter mudado e se tornado mais macia e reconfortante.

Pela segunda vez naquele dia eu tinha de admitir que ele novamente estava certo.

Assim que eu terminei de contar tudo o que eu tinha visto, o ruivo apenas respirou fundo depois de pensar um pouco.

— Vamos voltar para a biblioteca.