O Verdadeiro Mundo Pokémon escrita por Ersiro


Capítulo 25
Ex-inimigo?


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus queridos leitores! Estranho receberem novo capítulo rápido, não acham? hahaha
Aqui se encontra a aguardada continuação do que aconteceu com Lucy, Baker e Jeremy. Será que o ajudaram ou o empurraram ladeira abaixo?
Aproveitem e boa leitura!



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JEREMY OUVIU OS PASSOS SE APROXIMANDO, sorriu de lado e seu rosto doeu pelo simples movimento muscular. Finalmente o ajudariam. Ou ao menos era isso o que esperava.

— É ele... — sussurrou Lucy, o tremor na voz por ver alguém machucado na sua frente.

Baker não respondeu. Estava refletindo.

O uniforme Rocket do caído estava puído e rasgado quase por completo. Com esforço, Jeremy abriu os olhos inchados e roxos, ou melhor, semicerrou-os, pois era o máximo que conseguia.

Lucy olhava para ele. Sua lamentável e penosa imagem era de cortar o coração.

— Vamos levantá-lo — Baker cedeu.

 

LUCY PEGOU OUTRA GAZE, umedeceu com a água limpa na vasilha de barro, debruçou-se e limpou com cuidado o sangue coagulado no rosto de Jeremy.

Lucy alertara que a escolha de passar a noite na Ala de Treinadores no Centro Pokémon não era a melhor escolha, pois por mais que a Enfermeira Joy não fosse negar atendimento a Jeremy, teriam que prestar explicações, principalmente o motivo pelo qual estavam caminhando ao lado de um Rocket detonado. Desta forma, dirigiram-se à única estalagem da cidade.

O quarto em que se encontravam era o único da pousada em Industriápolis com as luzes acesas. O silêncio era quebrado pelo roncar das máquinas nas fábricas trabalhando incessantemente, mesmo durante a madrugada escura.

Baker estava na última cama, no canto do cômodo, sentado com as pernas dobradas entre si, e olhava firmemente para Jeremy. Já este último, sentia o observar pelo canto do olho que desinchara consideravelmente graças à Gwinterland.

A tensão no cômodo era palpável.

— Gosta de me admirar? — murmurou roucamente Jeremy, provocando Baker.

— Gosto da sua atual imagem. Imagino que tenha merecido para estar neste estado.

Lucy pediu com um olhar suave que Bernardo fosse mais cauteloso, mas Jeremy pareceu não se importar e, depois de uma pausa, respondeu, com voz embargada:

— Se para você desistir dos Rocket for o suficiente para que os próprios membros da facção acabem com um ex-irmão de causa, bem pode ter certeza de que foi merecido.

Houve outro momento de silêncio causado pela surpresa, mas não durou muito tempo, pois Baker estava disposto a incitar o que agora se intitulava “ex-Rocket”.

— Além de levar desgraça e sofrimento por onde passa, agora você é um traidor? — Baker riu, desdenhoso. — Você é alguém realmente deplorável.

— O que ocorreu? — pediu Lucy, olhando seriamente para o jovem de cabelos espetados para trás. Tentou fazer, desta forma, que Jeremy ignorasse a última coisa que Bernardo tinha dito.

O jovem ficou calado.

Bernardo ia começar a caçoar novamente dele, quando Jeremy resolveu abrir a boca.

— Já faz um tempo... Tenho questionado muitos dos princípios dos Rocket e não me identificado...

— Ora essa, pare com essa ladainha! — Baker se levantou da cama, avançou e parou com o rosto de frente para o de Jeremy. — Como os ideais deles foram te incomodar só agora e não incomodaram assim que se alistou?

Jeremy, da forma que pôde, fuzilou o padeiro com o olhar.

— Você não sabe da metade de tudo o que acontece, então cale essa praga de boca se quiser continuar vivendo com ela, seu maldito pirralho! — As entradas de suas narinas dilataram.

Baker puxou a Pokébola com seu Roselia e Jeremy fez o mesmo, levantando de supetão do colo de Lucy e ignorando os puxões manifestados por todo o corpo.

— Parem com isso! — esbravejou Lucy. — Parecem dois moleques sem noção.

Bernardo guardou com má vontade sua Pokébola. Jeremy tornou a se deitar, tonto de dor.

— Jemy... — Lucy começou, mas se interrompeu incomodada. Jeremy também pareceu levemente embaraçado pela forma como a menina o chamara. Baker olhou para os dois desconfiado, mas preferiu ficar calado. Lucinda se recompôs e continuou firmemente. Em suas palavras, havia sinceridade, mostrando que ela não estava brincando: — Fale tudo o que aconteceu e o que fez para ficar nesse estado, pois até ontem, você podia ser considerado um dos nossos inimigos, já que junto com aquela sua companheira, estava disposto a fazer de tudo para alcançar seus objetivos, mesmo que isso significasse passar por cima de nós. Vamos, diga, pois juro que não tenho escrúpulos algum de te devolver aos Rocket para que terminem o que começaram.

Jeremy olhou de Lucy para Baker e colocou a palma de sua mão no rosto.

— Você cresceu — disse com uma sombra de sorriso no canto dos lábios. Mudou a narrativa, assumindo uma postura cansada, rememorando o passado: — Quando Roger me adotou, tinha entrado há pouco tempo nos Rocket e foi enganado com falsas promessas e finalidades distorcidas de que o grupo era uma melhor opção ao modo atual de governo desproporcional.

"Aos poucos os ideais Rocket foram se distorcendo, tornando-se mais sujos e pútridos... Foram mostrando como verdadeiramente era aquele grupo. Roger estava criando, em conjunto com outras pessoas, os Revolucionários, que possuem um objetivo e meio de alcançá-lo mais nobre. Roger...", a voz embargou, "Roger tentou me convencer de que meu lugar não era mais ali com os Foguetes, mas não dei ouvidos... A lavagem cerebral estava feita.

"Só acordei do transe quando ouvi boatos cada vez mais frequentes de que Roger tinha sido assassinado. Os Executivos da Rocket disseram que Roger fora morto pelo Exército de Treinadores Pokémon do governo. Mas cada vez mais as nuances se tornaram perceptíveis e desconfiei ainda mais de que foram eles que fizeram essa barbaridade!

"Acordei de vez quando finalmente me chegou a informação de que Roger, meu único e verdadeiro pai tinha sido torturado, sofrido antes... antes de ser assassinado..."

— Eu o vi amarrado de ponta cabeça pelo vitral de uma janelinha do porão de um prédio em Lucuática — falou Bernardo engolindo em seco e olhando pela janela as estrelas sumindo atrás da fumaça expelida pelas refinarias. A lembrança ainda mexia com ele. —  E... Fugi. Não pude ajudá-lo.

Jeremy baixou a cabeça.

— Você não tem culpa — rumorejou. — Sozinho, não podia fazer muito diante daqueles demônios.

Por mais difícil que fosse para Baker admitir, sentiu o peso por não ter ajudado Roger e correr para longe da cena, sair de suas costas. Obrigado, pensou, mas duvidou de que Jeremy tivesse recebido a mensagem telepática.

— Sinto muito, Jeremy — murmurou Lucinda.

— Enrico — respondeu ele.

— Como? — indagou ela, confusa.

— Meu primeiro nome, de nascimento — explicou ele, fraco. — Fui rebatizado como Jeremy assim que entrei para os Rocket. Meu verdadeiro nome é Enrico.

Naquele momento, ouviram um urro vindo de algum lugar da quieta cidade. Baker estremeceu. Enrico (ou Jeremy) ficou atento, pois achava que reconhecia o nome pelo qual a voz chamara. Lucy se levantou de supetão e correu para a janela aberta. O eco da voz aguda ainda assomava o ar.

— ...KOOOOOOOOOOOOOOS!

Lucinda se agarrou ao parapeito da janela. Os olhos arregalados.

— É... — Sua voz tremia. — É ele, tenho certeza!

— Ele? — perguntou Baker, mas sabendo a quem Lucy se referia.

Enrico ficou sem entender.

— Meu irmão... Hudson.

 

OS DOIS CONSEGUIRAM CONVENCER LUCY a se acalmar e ficar dentro do quarto, já que não houve mais ocorridos iguais ao que escutaram. Podia ter sido qualquer coisa, inclusive um Pokémon pássaro qualquer choramingando na floresta. Com relutância, a Gwinterland se relaxou um pouco e todos foram dormir.

No dia seguinte, Lucy acordara mais cedo que os outros e deixara uma muda de roupa simples para Enrico: calça jeans, camiseta branca e tênis confortáveis. Arranjou o conjunto com a dona da pousada.

Descerem para tomar o café da manhã e Enrico ficou à mesa de canto, sentado desconfortável pelo corpo dolorido, aguardando Lucy levar seu desjejum. Baker estava atrás dela, montando o seu próprio café, indeciso sobre o que pegava da comprida mesa farta.

— Não confio nele — resmungou.

Lucy se virou para ele, a bandeja em uma das mãos.

— Eu sei — respondeu, tornando a passar geleia de Cherubi no pão doce. — Não penso de maneira diferente.

Silêncio.

Baker pegou um ovo frito de Torchic e colocou em seu prato.

— Não está pensando em...

— Bake — Lucy estava olhando em seus olhos. — Não podemos deixá-lo jogado em qualquer canto. Pense se fosse você nessa situação. Não gostaria de ter alguém para estender a mão?

— Não tem a ver com empatia. — Ele retesou, como se temesse o que soltaria a seguir: — Parece que você nutre algum tipo de sentimento por ele que está turvando a sua visão e tirando a racionalidade que há dentro de seu ser.

— Bernardo, por favor, sem essas baboseiras logo de manhã...

— Então por quê levá-lo conosco?

Lucinda depositou a bandeja e suspirou.

— Apenas uma chance. Se ele a desperdiçar, eu mesma faço o trabalho sujo de jogá-lo de volta na sarjeta.

 

ARRUMARAM SEUS PERTENCES e saíram para a rua. O dia estava quente e os abetos que a envolviam, traziam certo frescor à cidade.

— Vocês batalham contra Líderes de Ginásio para arranjar o dinheiro que gastam? — perguntou Enrico.

Lucy o analisou dos pés à cabeça antes de responder:

— É do meu pai.

Jeremy ficou visivelmente embaraçado.

— Oh, é claro... É, hum... Obrigado por me ajudar.

— Só fiz o que gostariam que fizessem por mim se me encontrasse na mesma situação, Jeremy — falou a Gwinterland começando a andar.

Enrico estava prestes a corrigi-la para que se lembrasse de que não era mais Jeremy, mas o pensamento de que seu personagem Rocket tivesse impregnado a mente daqueles dois, como chiclete grudento na roupa, ressurgiu na sua cabeça e preferiu deixar para lá. Que o chamassem da forma que quisessem.

— Mesmo assim... — Lucy voltou a falar. — Não pense que te acolhemos. Veja mais como... um auxílio inicial. — Olhou para ele. — Você precisa escolher seu rumo, já tem idade o suficiente para se virar.

 

UMA AGLOMERAÇÃO ESTAVA FORMADA em um canto, justamente no limite em que os abetos davam início à floresta que rodeava a cidade.

Curiosos, os três se aproximaram.

— Com licença, senhora — chamou Lucy, cutucando uma mulher de meia-idade, uma das muitas que tapavam a visão do acontecido à frente. — Pode nos dizer o que aconteceu?

A matrona virou-se, o rosto vermelho, suando e assustado.

— Minha querida, nem queira saber! Nem-queira-saber! — Exasperada, enxugou a sudorese do rosto e suas dobras vertentes com um paninho encardido que exalava queijo azedo de MooMoo Milk. — Com certeza é coisa daqueles imprestáveis e arranjadores de confusão dos Rocket junto com aqueles imundos dos Revoltados! — Sua voz foi gradativamente elevando-se a um guincho. — Misericórdia, meu Arceus, tende misericórdia de nossas almas!

E saiu, sem dar mais explicações. Tinha dado seu show.

Os três se entreolharam e juntaram-se à multidão, forçando passagem para alcançar e descobrir o que tanto assustara a mulher.

Após se espremerem entre as pessoas, conseguiram chegar à fita de isolamento de faixas amarelas e pretas que a polícia de Toran tinha esticado para deixar a sós a pessoa que estava ali caída, como que aproveitando uma ala VIP. Entretanto sua aparência nada tinha de parecida com os esnobes riquinhos burgueses da cidade. O homem estava largado ao solo, ainda vestido com sua roupa de trabalho. De todos os orifícios faciais escorrera sangue misturado a algo roxo, porém agora já secos.

Baker estremeceu diante de tal visão. Lucy parou, como que refletindo. Depois disso, agonizada, começou a empurrar novamente a multidão para sair dali. Baker e Enrico foram atrás.

— Isso está cheirando mal... — resmungou ela. — Eu devia ter seguido meus instintos hoje de madrugada e vindo ver o que estava ocorrendo.

— Lucy, você estaria pondo sua vida em risco — tentou Baker, conciliador. — Vai saber que tipo de gente, ou pior, que tipo de bicho fez o que fez com aquele homem.

Enrico concordou com a cabeça. Baker olhou para ele com desdém e notou algo incomodante em sua expressão. Parecia que ele estava escondendo algo, ou melhor, que sabia de algo e não quisesse revelar.

— Bake, você não entende — ralhou Lucinda. Estavam longe da multidão. Ninguém os ouviria. — Não acho que foi um monstro que fez aquilo com o pobre coitado!

Baker esperou, em silêncio tenso que ela completasse. E assim ela o fez.

— Acho que quem fez aquilo, foi meu irmão, Hud!

 

— ELE DEVE ESTAR POR PERTO — resfolegou ela. — Precisamos procurar por uma pista dele... Talvez...

— Talvez dentro da floresta, já que o corpo foi deixado no limite dela. — Recaiu sobre Baker a compreensão que esse era o objetivo da jornada de Lucy e estava complacente para com ela. Faria o que fosse necessário para ajudá-la.

— Certo, então vamos dar uma olhada por lá — respondeu Lucy, com um sorriso de gratidão.

— Precisamos tomar cuidado com os policiais — avisou Enrico. — Eles estão rondando a floresta também.

Os dois olharam para ele e assentiram, firmes. Foram, então, em direção àquele verde a perder de vista.

Caminharam no emaranhado da floresta por um tempo indeterminado. Contavam com a ajuda de Capricórnio, o Skiddo de Baker que farejava o ar com seu narizinho arrebitado em busca de pistas e Kadabra que estava ansioso e nervoso com a expectativa de encontrar seu antigo amigo.

Não conseguiriam dizer se estavam ali há minutos ou horas, entretanto o sol baixando informou que a tarde estava preparando sua mala para se despedir. Suas barrigas roncavam e tiveram de parar várias vezes para Enrico descansar, alegando sentir muita dor pelo esforço que empreendia na procura. Este sentou e apoiou as costas em um dos troncos das inúmeras árvores que o rodeavam.

— Não dá mais... — grunhiu Enrico entre dentes, a expressão no rosto de alguém que era afligido por dores intensas. — Parece que há algo querendo que minhas costas se dividam em duas... E, por favor, guarde ele. — Apontou para Kadabra. — Não estou acostumado a suas ondas alfa1 como vocês estão; a dor de cabeça me deixa com náuseas.

Baker revirou os olhos.

— Isso não é nem metade do que você merece por todo o sofrimento que fez as pessoas passarem.

— Cale a sua boca imbecil, quem está sentindo dores aqui sou eu, não você!

Capricórnio se achegou para perto de Bernardo e olhou para Enrico em desafio a se aproximar.

— Shhh! — Lucy colocou o indicador na frente dos lábios e olhava ao redor, atenta.

— Como assim? Você também está achando que estou fingindo sentir...

— Shhh! — repetiu ela e os dois acabaram ficando em silêncio.

No silêncio do ambiente, seus ouvidos se acostumaram à quietude e conseguiram então ouvir tudo o que era de diferente e que não pertencia às vidas naturais que ali viviam.

Escutaram um murmúrio que parecia de desagrado. Se afastava preguiçosamente e ficava mais baixo a cada segundo que se passava.

Lucy caminhou com cautela em direção ao som rumorejante. Abriu um espaço entre um arbusto cheio de folhas largas para observar. Seus olhos se arregalaram quando focalizaram o responsável pelos resmungos, ainda choramingando:

— Idiota... me deixou de novo... da próxima vez que prometer se importar comigo, vou prendê-lo para não fugir mais...

Lucy não pensou duas vezes. Desajeitada, pulou o arbusto e iniciou a carreira de encontro com o ser; derrubando, caindo junta, porém por cima, de forma a imobilizá-lo.

— Te peguei — riu para a figura abaixo de si.

Seus olhos reluziam de algo que podia ser interpretado como o meio termo entre ansiedade e alívio.

Kadabra parou ao lado. A colher caiu de sua mão. Transtornado, recuou devagar daquele ser sombrio à sua frente e se falasse a língua dos humanos, teria implorado que Lucy deixasse de prender aquela malignidade oprimida e enclausurada no pequeno corpo caído e desorientado.

 

 


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Notas finais do capítulo

1 Sobre as ondas alfa de Kadabra, é explicado mais sobre elas no capítulo “Primeira Briga”. Para saber mais, entre neste capítulo e com CTRL+F pesquise por “ondas alfa” e releia o pequeno trecho explicativo.
Lendo: Enquanto lia e revisava: • Cidade dos Etéreos / Ransom Riggs. • Sombras de um Verão / Sidney Sheldon e Tilly Bagshawe.
Obrigado por virem, lerem e estarem fiéis à história! Aos leitores fantasmas, não pressionando, mas adoraria saber o que estão achando da história em forma de comentário; é ruim continuar um trabalho e não saber quais as percepções dos seus leitores. É quase como um tiro no escuro, entendem?
Abraços e até o próximo ♥



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