Retrato escrita por Alice Fitzwillian


Capítulo 4
Inconformado, seguiu


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ♥ Esse capítulo tem diálogos e personagem. Tenho mais alguns assim, se gostarem, comentem ♥



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Afonso bebeu mais um pouco, inconformado e entretido em lembranças, olhando o copo meio cheio ou meio vazio, abrigando o líquido. Seus olhos refletiam o Whisky, ainda mais quando se encheram de lágrimas. Reparando bem, eram suposições o que eu fazia porque, desde que Afonso me chamara para conversar, não havia me dito nada. Eu sentara à mesa, esperando que ele me dissesse o que de tão importante ele tinha pra me dizer. Pelo telefone, sua voz era trêmula, mas contida, como se ele estivesse abafando qualquer coisa que ameaçava sair de dentro de si a qualquer momento. Por fim, enquanto eu devaneava sobre seu telefonema tão urgente, ele disse:

—Vou esquecê-la.- Sua postura relaxada se tornou ereta assim que ele se pronunciou, à contragosto. A boca sem nenhum sorriso de determinação, pelo contrário, os lábios se curvaram pra baixo, os olhos sem vida não se direcionavam aos meus, talvez por vergonha. Afonso sempre foi muito tímido. Somos amigos a muito tempo, sei que ele é do tipo de pessoa que sofre calado, mas não consegue lidar com a sensação de solidão. Nunca o havia visto abalado com estava, não por uma garota, pelo menos.

—Tem certeza? –Perguntei, com aparente receio, ele confundiu com pena, por isso emburrou a cara.

—Ela não quer ficar comigo. Arrumou outro cara. –As palavras saíram amargas em sua boca, se pudesse vomitá-las o faria.

—Foi falar com ela, Afonso? –Perguntei, o tom baixo, porém sério.

—Sim. Ela estava indecisa, mas dessa vez, fez sua escolha. –Apertou o copo nas mãos, bebendo o resto de uma vez. Sua dor era quase palpável.

         -Eu nunca tive problemas com mulheres. Eu posso arranjar outra. – Mas não será ela.

         -É.- Respondi, pensativa. Depois de alguns minutos sem falar nada Afonso sucumbiu ao choro. Minha garganta travou. Não fazia ideia de como consolá-lo.

         -Eu a amo. Porque ela teve de escolher outro? O que eu tenho de errado? –Ele me perguntou, suas sobrancelhas se juntaram, enquanto seu rosto se contraía.- E meu Deus, isso é um bar! Adele, me salve disso, eu nunca cheguei a esse ponto por ninguém! Estou deplorável, não durmo a semanas e não tenho vontade de fazer absolutamente nada porque aquela maldita não me ama! Socorro.- Nunca foi de escândalos, por isso cada letra saiu sussurrada. Estava com vergonha. Mesmo que passassem das dez da noite, em plena segunda feira e o lugar estivesse lotado de gente na pior, afinal de contas a vida não é fácil pra ninguém.

         -Vamos sair daqui? –Lhe perguntei, esperando que ele concordasse. Ele fez que sim com a cabeça. Entramos no meu carro, ele estava tenso

...

         Já na minha casa, da forma mais “didática” possível, tentei verbalizar o que pra mim era muito óbvio, apesar de não ser por isso mais prático.

         -Algumas pessoas por vários motivos se amam. Mas de formas diferentes. Eu sei que você tentou de todas as formas fazer com que Júlia amasse você, mas não aconteceu. E é isso. Você não vai conseguir outra chance com ela, estando com outras mulheres. Nenhuma delas vai suprir a falta que ela faz. Precisa seguir em frente, mas de outra forma. –Me olhava com o olhar mais descrente da terra.

         -Eu fui na casa dela às duas da manhã pra receber um “não”. Eu penso nela ouvindo “desculpe” do J.J. –Ele riu de si mesmo, parecia que não tinha mais jeito. É, ele é meio determinista quando quer, mas acho que faz parte de estar assim, desregulado.

         -Além de apaixonado você está sem esperanças. Não deixe uma garota levar tudo de você. –Toquei em seu ombro.

         -Me desculpe. –Levantou-os, irônico.

         -Também não se amargure.- Aconselhei, acenei de leve com a cabeça.

         -É apavorante. Me sinto em outro lugar por causa dela, mas não foi o mundo que mudou, fui eu. Todas as coisas permanecem em seus lugares, mas pra mim, tudo virou de cabeça pra baixo. –Suas mãos se ajeitavam no ar, tentando desenhar o que se passava em sua cabeça, eu supunha.

         -Não evite isso, sempre será apavorante se você não enxergar com naturalidade. Também entenda não será pra sempre. Esse tipo de coisa não dá pra prever, simplesmente acontece Afonso. –Toquei uma de suas mãos, apertando levemente- Eu gosto de pensar que não é só de romance que vive o amor, mas de inconstâncias, de perdas. Todo esse tempo você se dedicou completamente a ela, somos capazes de muitas coisas pelas pessoas que amamos. É essa capacidade que devemos preservar. Não perca isso.

         -Esses dias, eu sinto que morri um pouco, Adele. –Ele baixou a cabeça, apoiando os cotovelos nos joelhos. Me coloquei por cima dele, por um minuto ele lutou, quase recusando meu abraço, mas eu sabia que naquele momento era o que ele mais precisava. Quando nossas peles se ajustaram eu o pressionei fortemente, ficamos juntos, por um tempo. O apartamento estava minimamente iluminado, só a luz do banheiro, com a porta entreaberta, atrás de nós, estava ligada. Ele retribuiu meu enlace, murmurando um agradecimento. Me olhou profundamente.

         -Eu sempre lhe disse, todos os dias a gente vive mais e fica mais perto da morte. Algumas coisas aceleram ou reduzem o processo. –Eu sorri contra seu corpo.

         -Seria mais fácil se eu fosse apaixonado por você Adele.Você é minha melhor amiga.- Ele disse, a voz meio embargada.

         -Tem razão. –Eu ri, ajeitando meu cabelo curto, nos separando.

         -Do jeito que eu tenho sorte, você nem ia me corresponder.

         -Não foi você que disse que tinha sorte com mulheres? –Perguntei, arqueando as sobrancelhas e cruzando os braços, usando um pouco de sua ironia contra ele. Arranquei-lhe um sorriso. Aquele sorriso.

Missão cumprida.


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