Retrato escrita por Alice Fitzwillian


Capítulo 2
"A" que me ensinou


Notas iniciais do capítulo

Eu estou feliz ao postar esse capítulo. Ele foi feito com muito amor, eu espero que gostem ♥



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“A” é uma figura observável.

Conheci uma garota muito bonita uma vez. Bonita por dentro. Aqui vou chama-la de “A”. Não posso chama-la de amiga pois a conheci de uma forma que impede que o sejamos, então posso dizer que somos... Confidentes por tabela. Não entendeu? “A” faz parte de um grupo muito especial pra mim, mas em comum acordo, não podemos revelar nada do que acontece nele. É uma das atividades mais interessantes que já pratiquei, admito.

         Mas isso não vem bem ao caso. “A” em seus relatos sempre foi bastante...pacífica. Ela teve uma vida difícil, cercada de altos e baixos e de pessoas que nunca contribuíram que ela crescesse saudável. Ela foi muito negligenciada ao longo de sua estrada. De uma forma que sua existência, para alguns era quase uma afronta e sua sobrevivência um fato inacreditável. Ela nunca escapou da morte, mas floresceu lado a lado entre seus caminhos amando cada um de seus espinhos. Eu gosto de pensar que “A” sabe amar direitinho. Perfeitamente. Enquanto ela fala, muitas coisas dentro de mim se remexem e doem, voltam, depois amenizam, para, por fim, morrer antes de chegar na língua como muitas das conversas que nunca tive.

         A última vez que nos falamos ela disse, com pesar e um pouco de arrependimento, que durante a última semana tinha agido de forma indiferente e até certo ponto hostil em um dos ambientes onde convive. A placidez continuava ali, mas ela revelava um lado manipulador e egoísta que eu não conhecia. Isso me levou a concluir que “A” comete erros e igual a todos, mas ela não deixou de amar direitinho porque os fez. Ela continua indo bem nisso e eu estou tentando pegar suas lições, ainda que ela não saiba que está me ensinando alguma coisa. “A” ama perfeitamente porque ela foi capaz de fechar os olhos para tudo que aconteceu em seu passado sem cegar para feridas. Elas continuam lá, ela está de pé. Ela consegue lidar com a estupidez autoritária e arrogante de sua família, que às vezes chega a ser hipócrita visto o histórico de como ela foi tratada. “A” também ama as crianças de sua família e as ensina coisas sobre como conviver em coletivos. Ela é capaz de fazer os próprios curativos enquanto estanca o sangue dos outros...

         Mas até mesmo ela, errando, me mostrou que amor e apego andam juntos. Seu arrependimento recorrente tinha a ver com uma atitude em que ela não abria mão de uma de suas ideias. Quis rir, visto o tanto de coisas que já a vi fazer certo e que eu mesma não sei se agiria da mesma forma. “A” provavelmente já protegeu pessoas e tem um senso de responsabilidade sobre seus companheiros que é impressionante. Uma única vez em que ela me deu um abraço apertado eu percebi o que ela quis dizer. Era algo como “eu estou aqui”, mesmo com semanas estranhas de convivência por “tabela”.

         Acho que amar é isso. Ser da forma como ela se pré-dispõe a tudo. Não lhe há falta de coragem sabe? Ela vê cores e percebe movimentos poeticamente e os internaliza. Ela tem amor por tudo. Ainda quero ser capaz de fazer o que ela faz. Não é como se a visse como uma super-heroína ou alguém inalcançável pelo fato de que, na mais crua das visões, ela consegue manter os vínculos com pessoas que a maltratam no passado. “A” ama de verdade porque vive isso. Ela ama, ela cuida, ela pratica e se dedica para as pessoas sem nenhuma barreira ou pré-requisito. Eu tenho milhões de relatórios emocionais internos sendo preenchidos todas as vezes que um ser humano, com duas pernas, braços e pele, como eu, chega e me diz “oi”. Naquelas palavras, eu estou gerando suposições e às agarro, como fonte de defesa. Quando não há de fato ameaças. “A” somente estende os braços e sorri. Gosto disso. Ela sabe se colocar pra alguém ser ser servil.

As pessoas têm necessidades e desejos. Mesmo que a tensão proveniente dos corpos em questão exista, ela se abate à medida que os afetos se cruzam, elas vão trocando e caminhando na mesma direção. Apesar da dificuldade dos diálogos, pelas diferenças de linguagens, temores e anseios, quem ama completamente é sensível ao outro e na medida que o conhece, o tem nas mãos, mas não o invade.


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Notas finais do capítulo

Comentem, eu estou animada pra respondê-los!



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