(Capítulo narrado pela Rainha Vasilisa Dragomir)

    Eu detestava despedidas. Mas no momento era necessário. Eu tinha conversado bastante com Christian, e ele assim como Ariana Szelsky haviam me aconselhado a dar umas férias sem previsão de retorno para Rose e Dimitri. Ariana era a única Moroi do conselho que sabia sobre a condição "especial" da gravidez de Rose. Fora os guardiões da minha guarda pessoal, ela era a única que sabia. 

    Fiquei mais uma semana na Academia tendo reuniões desgastantes com Kirova e alguns professores. Eles queria saber como proceder caso algum aluno apresentasse ser usuário de espírito. 

    - Eu sei que até agora nenhum aluno apresentou as características peculiares para esse tipo de magia, mas se algum aluno apresentar traga-o imediatamente e o cadastre no sistema. Eu quero acompanhar a quantidade exata de quantos Moroi vamos encontrar com essa magia poderosa. E a propósito, não desgaste o aluno com muita magia. E se possível, faça esse aluno ter acompanhamento psicológico uma vez por semana. Usuários de espírito são bem instáveis. Digo isso por experiência própria. Se um usuário não tem um shadow-kissed para ajudar no equilíbrio da escuridão que nos acomete, podemos perder de vez nosso juízo. Acabei pensando em Rose, e em todas as vezes que ela se sacrificava por mim. Em todas as vezes que ela puxava a escuridão do espírito e me salvava. Rose era muito mais que uma simples amiga. Rose era uma irmã para mim. Ela já havia dado inúmeras provas de lealdade, e não era justo que eu tirasse dela a única coisa que antes era praticamente impossível ela ter. Um filho com Dimitri. Enquanto minha mente divagava nesses pensamentos fui chamada de volta a realidade. A diretora Kirova junto com os outros professores esperavam uma resposta minha.

    - O que? Kirova pediu desculpas e retornou à falar.

    - Estávamos perguntando se a majestade gostaria de receber um relatório sobre cada aluno individualmente. Balancei a cabeça e disse. 

    - Claro, ficaria muito feliz com esses relatórios. E eu gostaria de pedir desculpas a todos pela minha falta de atenção. Como eu disse, o espírito exige muito de nós usuários. Estou me sentindo um pouco dispersa. Com um pouco de descanso e com a volta dos remédios ficarei bem. Pedi licença e sai da sala com Christian. Ele estava feliz, pois tinha conseguido com Kirova, que alguns alunos que tivessem interesse pudessem treinar magia ofensiva.

Kirova havia ficado relutante com o pedido inusitado de Christian. 

     - Lord Ozera, seu pedido é muito ousado. Um debate acalorado começou, e eu tive que intervir.

     - Me ouçam, e depois poderemos discutir se é correto ou não ensinar magia ofensiva. Quando nossa academia foi atacada por Strigois, a magia de usuários de fogo foi muito útil. E se vocês lembram, a guardiã Rose Hathaway que na época era ainda uma novata, junto com Christian acabou com vários Strigois. Ela usando a estaca e ele a magia. E nós sabemos bem que muito dos Moroi não possuí um guardião para sua proteção. E se esses Moroi puderem usar sua magia para conseguirem se defender será uma vitória. E eu também espero que se algum Moroi desejar aprender lutar, não impeça. Eu sabia que era errado, mas usei um pouco de compulsão para impor minha vontade. Os que estavam na sala a favor do meu pedido nem relutaram em aceitar. Kirova aceitou, meio relutante, aceitou. 

    Fui com Christian para nosso quarto quando me deparei com Eddie, Jill, Sonya e Mikhail. Eles tinham vindo ao meu pedido. Eu precisava de pessoas confiáveis ao meu lado. Rose havia praticamente me feito prometer que eu chamaria nossos amigos para me ajudarem. Eles vieram ao meu encontro e foram logo me reverenciando. Pedi para que eles levantassem. Fora da Corte eu gostava de ser tratada como Lissa.

    - Fizeram uma boa viagem? Creio que a Corte tenha disponibilizado um jato particular para vocês. Pedi para Ariana Szelsky providenciar tudo. Todos disseram que a viagem ocorreu de forma tranquila. Fomos para área de visitantes e cada um foi para seus quartos. Me joguei na cama com a cabeça latejando.

     - Christian meu amor, estou necessitando muito de uma massagem. Fiz cara de carente e eu sabia que ele não resistiria. Ele deu um sorriso e falou.

     - Seu desejo é uma ordem majestade. Eu murchei na mesma hora. Estava literalmente cansada de ser rainha. O cargo tomava muito do meu tempo. Fora que nem sempre eu conseguia fazer o que eu considerava certo. Eu vinha lutando com os conselheiros a respeito da aprendizagem dos Moroi na luta tanto na magia ofensiva. Christian, Mia e mais dois Moroi juntamente com Rose e Dimitri tinham criado um grupo onde eles ensinavam a Moroi usarem sua magia e aprenderem a lutar corpo a corpo. Porém os maioria dos conselheiros vetaram esse projeto. Me lembro bem o escândalo que Rose fez na época. 

    - Ah Christian, eu estou cansada de ser rainha. Me vejo a cada dia mais e mais atolada em regras e protocolos. Por mim eu acabaria com essa monarquia. Transformaria nosso governo numa democracia. Christian arregalou os olhos. 

    - Você teria coragem de fazer isso mesmo? Creio que boa parte do nosso povo apoiaria você, já não digo as famílias reais. Elas iriam surtar. Saber que o título de nobreza que eles tanto prezam não valeria mais nada. E com essa democracia qualquer um poderia se eleger a presidente. Balancei a cabeça e disse. 

    - No caso não seria qualquer um. No começo só membro das doze famílias reais poderiam se candidatar. E a votação todos poderiam votar. Moroi da realeza, comum e dhampirs. Todos sem distinção. Estou cansada de ver os Moroi da realeza tratando os outros como se fossem meros capachos, onde eles possam dizer ou fazer o que quiserem. Os dhampir tem lutado por séculos protegendo a nossa raça, e não vejo reconhecimento nenhum da parte dos Moroi. Não posso generalizar, mas você sabe que grande parte da realeza só sabe dar festas e mais festas se promovendo. Vivem discutindo formas de proteção onde a única coisa que farão é colocar mais dhampir na linha de frente, para virarem ração dos Strigoi. Christian concordou, pois ele sabia que isso era a mais pura verdade. Moroi como Nathan Ivashkov me dava asco. Ele acreditava que era melhor que os dhampirs.    Eu precisava mudar essa situação, só não sabia como. Me deitei para dormir, o sol já havia nascido e não adiantaria nada ficar acordada.

     Acordei num impulso. Meu coração estava agitado, minha boca estava seca e a única coisa que eu sentia era medo. Eu havia acabado de ter um pesadelo. E era tão real que me assustava. No pesadelo eu estava sozinha, cercada pelos membros do conselho. Eles estavam furiosos, todos eles. Até Ariana Szelsky que sempre me apoiava, estava contra mim. Eles me acusavam de traição, diziam que eu merecia morrer. E que o sobrenome Dragomir nunca fora tão envergonhado. Na hora em que todos eles vinham para cima de mim, eu me acordei. 

Christian acabou se acordando com meu impulso e viu o estado em que eu me encontrava. 

    - Lissa meu amor, você está bem? Encarei aqueles olhos azuis que eu tanto amava e desabei. Chorei tanto que assustei Christian. Mas com uma paciência incrível ele esperou que eu me acalmasse e assim pude contar tudo.

    - Eu sei que foi só um pesadelo, mas estou com a sensação de que algo muito ruim está para acontecer. Eu só não sei quando nem como, mas estou com essa sensação. E eu vou precisar ainda mais do seu apoio. Christian beijou minha testa e disse.

    - Sempre estarei ao seu lado.