Kingdom Hearts: Motherland escrita por Kyra_Spring


Capítulo 1
O Festival das Luzes




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–Bem, Kairi, Riku e eu andamos conversamos e decidimos que devemos treinar você e te ensinar algumas técnicas de luta. Sabe, agora somos meio que os solucionadores oficiais de problemas do rei Mickey, então nunca se sabe quando precisarão de nós.

 

Aquele trio estava tendo uma conversa bem séria sob a luz do sol poente. O garoto que falava, Sora, encarava os dois amigos com seriedade no olhar. Um deles era uma garota, Kairi, de cabelos castanhos lisos e grandes olhos azuis, e o outro, um rapaz de cabelos claros e olhos verdes chamado Riku, também a observava.

 

–Sora está certo – continuou Riku – Você lutou bem da última vez, mas precisamos estar prontos. Nada me tira da cabeça que Maleficent vai voltar a aprontar muito em breve – e, com um sorriso – E acho que podemos te ensinar uma coisinha ou duas.

 

–Na verdade, eu estava mesmo pensando em pedir isso a vocês – sorriu Kairi – Afinal, não é justo andar com dois heróis usando Keyblades e ficar de mãos abanando. Aliás, não quero mais voltar a ser a donzela em perigo enquanto só vocês salvam o dia.

 

Os dois garotos riram. Eles tinham passado por uma série de maus bocados e desencontros, e foram jogados dentro de uma batalha perigosíssima, da qual dependia a continuação da existência não só do mundo deles, mas de diversos outros. Agora que estavam reunidos outra vez, porém, lutariam juntos para manter a paz entre os mundos. E o espírito de luta de Kairi era uma boa arma a favor deles.

 

–Bem, você não pode lutar desarmada – observou Sora – Então nós preparamos uma coisa para você. Espero que goste.

 

Ele estendeu a mão, e no segundo seguinte se materializou uma estranha arma. Ela tinha o formato geral de uma chave, mas era feita de prata finamente entalhada. Do punho, pendia uma fina corrente, na ponta da qual havia uma meia-lua também feita de prata, com uma pedra azul octogonal incrustada em seu centro. Ele a observou por um momento, antes de estendê-la à garota.

 

–É sua – ele sorriu – Nós a batizamos de Moonbeam. Pegue, ela não morde.

 

Ela não pegou imediatamente. Em vez disso, observou-a por alguns instantes, antes de tocá-la. A prata era lisa e polida como vidro, e, ao contrário do que ela pensava, era leve como uma pluma. Segurou-a, ainda incerta, e observou-a maravilhada. Era muito delicada e bela.

 

–Com toda a certeza não foram vocês que fizeram isso – foi a primeira coisa que ela disse – Sabe, eu ainda guardo aquela escultura que vocês dois me deram no meu aniversário de dez anos.

 

Os dois se encararam. Ela ainda era realmente gentil em chamar aquela bolota disforme de argila seca de "escultura". Foi Riku quem confessou:

 

–Tá, não fomos exatamente nós – e, então, Sora lhe deu uma cotovelada – Tá bom, não fomos nós. Os Moogles fizeram e o Merlin deu as coordenadas – e, depois, acrescentou – Mas nós sugerimos o nome!

 

–Bem, já é alguma coisa – ela deu uma sonora risada, enquanto manuseava a arma – Bem, agora somos três os que carregam a Keyblade. É, dá pra colocar medo nos caras maus.

 

–É com isso que estamos contando – concordou Sora – Então, pronta para a primeira lição?

 

–É claro que sim – ela acenou com a cabeça.

 

Sora e Riku estenderam as mãos, e logo outras armas apareceram. Também tinham o formato de chave, mas eram diferentes daquela que Kairi segurava. Em essência, as três eram as armas poderosíssimas chamadas de Keyblades, que já haviam impedido o desaparecimento de diversos mundos. Mesmo naquele momento, elas ainda estavam a serviço da manutenção da paz, uma missão que os três acabaram atribuindo a si mesmos.

 

–Eu não vou pegar leve com você – disse Sora, preparando-se para o ataque – Siga seus instintos. Você é bem ágil e a Keyblade é leve, então não haverá problemas. Pronta?

 

–Eu sempre estou pronta – respondeu ela, sorrindo e também se colocando em posição de ataque.

 

Eles se encararam por alguns instantes. No segundo seguinte, Sora saltou na direção dela. A garota se esquivou, mas ele se virou e atacou-a novamente. Ela se defendeu com a Keyblade e saltou para trás rapidamente, voltando à posição inicial.

 

–Você é rápida e suas esquivas são boas – ele elogiou – Andou jogando blitzball com o Wakka, né?

 

Ela apenas deu de ombros, sorrindo. Sora se preparou para atacar outra vez, mas ela foi mais rápida. Sem que ele percebesse, ela saltou sobre ele, obrigando-o a rebater os golpes com a Keyblade e recuar cada vez mais. Quando percebeu, estava na borda da rocha onde estavam. Ela apenas deu um sorrisinho maroto, antes de golpeá-lo uma última vez, atirando-o na água.

 

–Ei, você está bem? – disse Riku, às gargalhadas – Sério, ela acabou com você!

 

–Isso é um golpe muito baixo – os dois ouviram a voz de Sora, emburrada – E afinal de contas, Riku, de que lado você está?

 

–Do dela, é claro – ele riu mais – Kairi, onde aprendeu isso? Foi genial!

 

–Só fiz o que o Sora disse – ela disse, dando de ombros – Segui meus instintos.

 

–Acho que é melhor voltarmos – Riku olhou para o céu – Está escurecendo, e parece que vai chover. Continuamos treinando amanhã – e, mais alto, para que Sora, que nessa hora se arrastava em direção à praia, ouvisse – e, dessa vez, longe da água, está bem?

 

Os dois riram, e Sora protestou alto, dizendo "muito engraçado, Riku, estou morrendo de rir por dentro!". Então, os três pegaram seu barco e começaram a remar em direção à ilha principal. Haveria um acontecimento muito importante na cidade, e eles queriam estar presentes.

 

A noite seria realmente memorável... até mais do que eles poderiam esperar.

 

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A praça central da cidade de Destiny Islands estava movimentada como não se via há muito tempo. Era possível vê-la da janela do quarto de Sora, e ele estava muito empolgado. Seus amigos viriam jantar na sua casa, e depois iriam juntos. Ele já estava pronto, e olhava impaciente para o relógio a cada minuto ou dois.

 

–Qual é, Sora, não vai se aprontar? – Riku irrompeu pela porta do quarto dele, sem aviso.

 

–Do que você tá falando? – retrucou o outro – Eu tô pronto, não tá vendo?

 

–Ah, que pena, essa é a sua cara, mesmo – o primeiro riu, e se aproximou da janela. Sora resolveu ignorar solenemente o último comentário – Vai ser uma festa linda, não vai?

 

–Vai, sim – os dois sorriram – Olha só as luzes... Vai ser muito legal!

 

–Sora, eu preciso falar com você – Riku o encarou – É sobre algo que eu venho percebendo já há algum tempo.

 

–Do que você está falando?

 

–Sobre você... e Kairi.

 

–Ah... isso – Sora sentiu-se corar, e odiou a si mesmo por ser tão óbvio – Ela é minha amiga.

 

–Dá um tempo! – o outro riu – Eu vejo o jeito que você olha pra ela, o jeito que você fala com ela. É diferente, sabe? E você tem que concordar comigo que ela é muito bonita. É normal.

 

–Se é tão normal – a voz dele estava mais débil do que gostaria – por que não acontece com você?

 

–Comigo? – outra risada divertida – Acredite, eu amo a Kairi, mas para mim ela é como uma irmã mais nova. E acho que ela também sente algo diferente por você. Eu também vejo o jeito que ela olha para você. O problema é que vocês dois são bobalhões tímidos, e se continuarem assim nunca vão dizer o que sentem um pelo outro.

 

–Tire isso da cabeça, Riku – retrucou Sora – Ela também é como uma irmã para mim.

 

–Repita isso até se convencer... se puder – Riku deu de ombros – Vamos descer? Kairi já deve ter chegado a essa hora, e eu vi que sua mãe está preparando aquele purê de batatas que só ela sabe fazer. E lembre-se que não podemos nos atrasar.

 

–Eu sei, eu sei... vá indo na frente, eu já te alcanço.

 

Riku saiu, deixando Sora sozinho por um instante. Ele abriu a gaveta da mesa de cabeceira e tirou um álbum de fotografias. Logo na primeira página, havia uma foto que mostrava seus melhores amigos – Riku, Donald, Goofy e ela – em frente ao castelo do rei Mickey. Ele não pôde deixar de sorrir ao lembrar aquele dia, mas, sem querer, acabou fixando os olhos na imagem de Kairi, sorridente, doce.

 

Sim... ela realmente era muito bonita...

 

"Ah, besteira!", ele deu de ombros, dando as costas e saindo do quarto, decidido. "Kairi é minha amiga, só isso. Uma grande amiga, eu a adoro, mas nada além disso. E Riku deveria aprender a cuidar da própria vida, às vezes".

 

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–Nossa, quanta gente! – murmurou uma maravilhada Kairi ao observar a praça central da cidade, apinhada de pessoas – O prefeito não poupou esforços, mesmo!

 

–É claro! Já pensou na publicidade que uma coisa dessas traz para ele? – disse Sora – Mas eu não me lembro de ter visto a praça tão iluminada... e tão bonita!

 

–Vamos chegar mais perto do palanque – convidou Riku – Será que eles já chegaram?

 

Os três correram até o palanque, onde havia uma movimentação intensa de pessoas ligando luzes e cabos. Geralmente, os eventos da cidade eram assim: tudo era planejado e discutido minuciosamente, mas sempre quando faltavam poucos minutos para começarem, havia alguma coisa ainda a ser terminada às pressas.

 

–Isso aqui está ligado? Alô, alô... Ah, sim, agora sim! – então, o próprio prefeito subiu ao palanque, e começou a falar, fazendo com que todos se virassem na direção dele – Boa noite, caros cidadãos de Destiny Islands! Estamos aqui hoje para comemorar uma data histórica na nossa cidade!

 

Uma onda de aplausos varreu a platéia. Os olhos dos três garotos estavam fixos no palanque.

 

–Neste mesmo dia, há trezentos anos atrás, nossos antepassados começaram a construção da nossa querida cidade! Desde então, temos trabalhado duro para fazer deste lugar um recanto de paz e tranquilidade para todos os nossos cidadãos. E, desde então, todos os anos comemoramos com o nosso grande Festival das Luzes, e nos lembramos da promessa que eles fizeram.

 

Mais aplausos. E Sora começou a assobiar.

 

–Até hoje, repetimos suas palavras – ele continuou – Prometemos que jamais deixaremos que nosso paraíso se perca, que sempre cuidaremos daquilo que é nosso e que lutamos tanto para conquistar e construir. Mas, mais importante do que isso, prometemos que as Ilhas sempre serão o lar do nosso coração, onde quer que estejamos. E é por isso que até hoje estamos aqui, repetindo nossas promessas e garantindo que elas continuarão sendo cumpridas!

 

Sora olhou para o lado, e observou seus amigos. Sim, aquele juramento tinha um sentido especial para eles. Era lá que o seu coração morava, e era para manter esse juramento que ele havia lutado tanto. A verdade era que aquele Festival das Luzes era especial para ele, pois marcava definitivamente a sua volta para casa. E, pelo brilho nos olhos dos amigos, ele sabia que eles também sentiam isso.

 

–Esperamos que, pelos próximos trezentos anos ou mais, possamos seguir comemorando a cada ano e repetindo nosso juramento, enquanto continuamos fazendo de Destiny Islands nosso pedaço de paraíso! Agora, eu declaro oficialmente aberto o Festival das Luzes! Espero que todos se divirtam muito essa noite, e façam com que esse Festival seja o melhor de todos os tempos!

 

A platéia explodiu em aplausos. A única que não aplaudia era Kairi, e Sora pôde ver uma lágrima escorrendo pelo seu rosto.

 

–Por que está chorando, Kairi? – ele sussurrou para ela – É uma noite de festa, temos que ficar felizes.

 

–Ah, não é nada – ela enxugou o rosto com as costas da mão, sorrindo sem-graça – É só que... sabe, eu nunca dei muita bola para esse festival, mas esse ano... sei lá, esse ano é diferente. Esse ano eu realmente tenho algo para comemorar hoje. E eu estou tão feliz!

 

–Então, se você está feliz, tá ótimo! – ele vibrou – O que acha de irmos logo para o melhor da festa?

 

–E o que seria?

 

–Bolinhos, é claro! O que mais poderia ser?

 

–Ei, alguém aí falou em bolinhos? – disse Riku – Espero que não tenham pensado em ir sem mim!

 

Os dois riram, e foram juntos até a barraca de bolinhos, mais à frente. Foi então que ouviram uma voz bem conhecida às suas costas...

 

–Por que será que eu sabia que ia te encontrar aqui, hein?

 

–Donald? – Sora se virou, com a boca cheia – Goofy?

 

–É claro que somos nós! – o próprio Donald se manifestou – Quem esperava, a Fada-Madrinha? Além do mais, nós prometemos que viríamos!

 

–Nossa, estou tão feliz em ver vocês – ele os abraçou, contente – Sejam bem-vindos a Destiny Islands! Espero que gostem do Festival. Esse ano está muito mais bonito do que de costume, então aproveitem!

 

O grupo saiu (levando um saco de bolinhos de tamanho considerável) e começou a passar pelas barracas que estavam espalhadas pela praça. Todo tipo de coisa era vendida no Festival: doces, petiscos, bijuterias, lanternas, enfeites, flores. No palanque, uma banda começou a tocar uma música animada, e já havia até casais dançando por perto. Havia também outras barracas com jogos e brincadeiras. Eles ficaram passeando de uma para outra por bastante tempo, até que pararam em frente ao caminho que levava à praia.

 

–Olha, tem uma trilha de lanternas em direção àquela ilhazinha – apontou Goofy – E mais um monte de lanternas lá...

 

–Existe uma lenda aqui em Destiny Islands – explicou Riku, sem conter uma risadinha – Bem, você deve conhecer a história das frutas paopu.

 

–Sim – confirmou o outro – Se duas pessoas compartilharem uma dessas frutas, seus destinos ficam ligados para sempre, independente do que aconteça, não é?

 

–Exatamente – continuou o garoto – Muitas pessoas acreditam que o Festival é uma noite especial para fazer isso. Então, os casais costumam ir até aquela ilha, dividir uma fruta e fazer seus pedidos de casamento durante a queima de fogos. Por isso, são colocadas as lanternas... para iluminar o futuro e o amor dos casais que se formarem nessa noite.

 

Nesse momento, ele deu uma piscadinha para Sora, que passou despercebida pelos outros. Ele não gostou da insinuação, mas não disse nada. Em vez disso, continuou explicando:

 

–Na verdade, esse é o sentido do Festival das Luzes. Todos os anos, acendemos as lanternas como uma forma de acender luz sobre nossa vida, até o próximo festival. As pessoas aproveitam e fazem seus pedidos, e suas promessas – e, então, teve uma idéia – Que tal se a gente fizer uma dessas?

 

–Que ótima idéia! – Kairi concordou na hora – Vamos fazer isso juntos!

 

Eles correram até uma das barraquinhas e compraram uma grande lanterna vermelha. Havia um pequeno compartimento na base dela, e um pedaço de papel em branco.

 

–Aqui nós escrevemos as nossas promessas – explicou a garota – Depois, acendemos a lanterna e a colocamos no mar. Quando ela se apagar, a promessa ficará selada para sempre. É um juramento inquebrável, que temos que cumprir.

 

Ela tirou uma caneta do bolso, e observou por um instante o papel em branco.

 

–O que acham de prometermos que, não importa o que aconteça, estaremos sempre prontos para ajudar uns aos outros, e lutar uns pelos outros? – sugeriu Donald – Que, mesmo que estejamos distantes uns dos outros, sempre seremos "um por todos e todos por um"?

 

–Eu concordo – Goofy foi o primeiro a responder.

 

–Por mim, está ótimo – Sora também aceitou.

 

–É claro que sim! – Riku acenou afirmativamente com a cabeça – E você, Kairi?

 

–Espere um pouquinho... sim, pronto! – ela disse – Está escrito. Mas – ela os encarou – lembrem-se que esse é um juramento inquebrável, para sempre. E um juramento tem que ser mantido.

 

Ela estendeu a mão com o papel dobrado a eles. Um a um, foram colocando suas mãos sobre a dela, até que os cinco estivessem unidos.

 

–Sabemos disso, Kairi – disse Sora – E é exatamente por isso que estamos dispostos a tornar esse juramento oficial. E vamos mantê-lo.

 

Os outros concordaram com a cabeça. E ela sorriu, dizendo:

 

–Bem, nesse caso, vamos terminar isso!

 

Eles correram até a praia. O mar já estava cheio de pontinhos luminosos, e havia várias pessoas colocando lanternas coloridas na água.

 

–As pessoas que prometeram devem acender juntas a lanterna – disse Kairi, pegando um graveto caído no chão – Donald, pode acender para mim, por favor?

 

O mago estalou os dedos e acendeu o graveto. Os outros todos o seguraram ao mesmo tempo, enquanto a garota conduzia a chama. E, então, logo um brilho vermelho se espalhou ao redor. Ela continuou levando a lanterna até a praia. Sora foi o primeiro a arrancar os sapatos e sair correndo na direção da água, chamando os outros para segui-lo.

 

Logo depois, ele pegou a lanterna e entrou no mar, caminhando até que a água atingisse a altura de suas coxas. Delicadamente, colocou-a na água, e deu um empurrão. Logo, o movimento gentil da água começou a arrastá-la para longe, e em algum tempo ela era apenas mais um pontinho brilhante entre as ondas. Os outros a observavam, da praia, enquanto se afastava.

 

E, então, começou a queima de fogos. A dança das fagulhas coloridas pelo céu levou embora o fôlego de todos. As faíscas caíam em cascatas douradas, voavam em espirais vermelhas, se espalhavam em nuvens verdes, criando desenhos complexos que se somavam aos pontos de luz no mar e às estrelas no céu. E, a cada estouro, aplausos eram ouvidos na praia e na praça. A noite ficava mais mágica a cada momento.

 

Todos tiveram que se sentar na areia úmida para poder contemplar melhor o espetáculo. Sora lançou um olhar de relance a todos eles, que observavam a cena maravilhados. Acabou parando em Kairi, que estava como sempre ficava quando via algo que a encantava: um meio-sorriso tímido e indeciso nos lábios, os olhos brilhantes e tão límpidos que pareciam pedras preciosas, um ar de admiração respeitosa e reverente. Provavelmente, ela estava pensando em muitas coisas, no passado, no presente e... quem sabe, no futuro...

 

–É tão bonito... – sussurrou Riku, chamando Sora de volta à realidade. Seu amigo também tinha os olhos fixos na cena, mas seu olhar era diferente... penetrante, intenso, como se quisesse absorver cada pequena partícula daquele momento – Eu quase tinha me esquecido...

 

De repente, ele ficou acabrunhado, e baixou os olhos. Sora o observou por um momento. Ele podia entender o motivo da tristeza do amigo, e sabia que ele era torturado por lembranças tristes e sombrias de uma série de erros que cometera. Mesmo que todos esses erros tenham sido perdoados, Riku ainda continuava sendo duro demais consigo mesmo, e embora fizesse de tudo para esconder isso dos outros, seus amigos podiam perceber uma tristeza profunda e inalcançável em seus olhos.

 

–Eu não sei vocês, mas adoraria voltar para a praça – Kairi interveio, também percebendo a mudança no estado de espírito do amigo – Quero gastar toda a minha mesada com bijuterias essa noite!

 

–Bijuterias e bolinhos, não se esqueça – acrescentou Sora.

 

Mas, no instante seguinte, as bijuterias, os bolinhos, as lanternas, os fogos, tudo foi varrido da mente dos cinco companheiros quando o som de uma explosão violentíssima atingiu seus ouvidos. Eles se viraram na direção do som ao mesmo tempo, e viram alguma coisa em chamas caindo do céu, na direção do mar.

 

–Mas o que é isso? – murmurou Riku, levantando-se com um salto.

 

–Vamos descobrir isso agora – retrucou Sora – Donald, Goofy, voltem para a praça e tentem acalmar as pessoas. Enquanto isso, nós dois vamos... Urgh!

 

De repente, Sora começou a sentir a dor de cabeça mais violenta que já teve em toda a sua vida, tão forte que o arremessou de joelhos no chão. Ele pressionava as mãos contra as têmporas, tentando fazer a dor parar, mas ela o paralisava, e o cegava. O som das ondas, das vozes, dos gritos, tudo soava como se ele estivesse ouvindo de dentro da água.

 

–Água... água... – ele murmurou, fazendo os outros se virarem sobressaltados em sua direção.

 

–Água? Está com sede? – Kairi foi a primeira a acudi-lo – Quer alguma coisa?

 

–Não – sua voz saiu ainda mais baixa – Estou ouvindo... água...

 

–São apenas as ondas – ela explicou – Vamos levá-lo para casa, está bem?

 

–Não é o mar! – e, então, ele abriu os olhos – Não é o mar. É diferente... É um som suave... de água caindo... bem devagar, bem leve. É mais como... como uma fonte...

 

E então, subitamente, a dor desapareceu, deixando em seu lugar apenas um cansaço profundo. Kairi e Riku não esperaram que uma segunda crise viesse, e logo o fizeram se apoiar nos ombros dele, andando o mais rápido que podiam em direção à praça. Donald e Goofy fizeram menção de acompanhá-los, mas Riku o impediu, dizendo:

 

–Tentem descobrir o que foi isso. Vamos levá-lo para casa, e depois vamos atrás de vocês, OK?

 

Os dois se entreolharam por um instante, antes de concordarem com a cabeça e correrem na direção da explosão. Enquanto isso, Sora mal conseguia se apoiar sobre as próprias pernas, e era arrastado pela praça apinhada de pessoas até a sua casa. Sua mãe esperava na porta, aflitíssima, e ao vê-lo amparado pelos amigos, ficou ainda mais apavorada.

 

–Sora! O que aconteceu lá? – ela correu até eles – Você está bem? Está ferido?

 

–Eu estou bem, mãe, estou bem! – ele respondeu, tentando se recompor – Foi só uma tontura.

 

–E vocês, meninos, estão bem? – ela perguntou, sem esconder o alívio – O que está havendo lá fora? Estou ouvindo o tumulto, e fiquei preocupada com vocês lá. E então veio a explosão, e...

 

–Calma, calma – cortou Kairi, ao perceber que ela estava ficando nervosa outra vez – Sora passou mal e nós o trouxemos de volta. Acabamos ficando presos no tumulto, mas está tudo bem agora. Pode trazer um pouco de água, por favor? Vamos colocá-lo no sofá enquanto isso.

 

Ela assentiu, e saiu em direção à cozinha com passos rápidos. Riku conduziu Sora até o sofá, enquanto Kairi sussurrava para os dois:

 

–Não acham estranha essa explosão? Acham que pode ser...

 

–...Maleficent? – concluiu Riku – É bem possível. Ou alguém trabalhando com ela, ou pior que ela. Mas não acho que seja uma coincidência.

 

–Seria querer demais, não é? – respondeu Sora – Eu só não entendo o que aconteceu comigo...

 

–Mais uma prova de que temos problemas à vista – observou a garota – Você é a chave, lembra? Então, você seria o primeiro a sentir alguma perturbação nos mundos, e... – parou depressa, ao ver que a mãe dele se aproximava – Depois falamos disso.

 

A mulher estendeu a água ao garoto, que a bebeu sofregamente. Quando terminou, disse:

 

–É melhor vocês ficarem aqui até a confusão passar. Se quiserem, podem dormir aqui e ir para casa amanhã. Eles podem ficar, não é?

 

–É claro que sim – respondeu a mãe – Vou pedir ao seu pai para ir à casa deles avisar a todos. Seja lá o que for, espero que tenha acabado.

 

Ela fez menção de ir novamente até a cozinha, mas uma visão a fez parar onde estava. De repente, um som ensurdecedor se fez ouvir do lado de fora, e um clarão atingiu em cheio as janelas. Era possível ouvir o som do vento golpeando com fúria as janelas.

 

–Ah, droga, aqui também não! – sibilou Riku – Abaixem-se todos!

 

–Acha que estão nos atacando? – Kairi o obedeceu na hora, cobrindo os ouvidos com as mãos para tentar abafar o barulho insuportável.

 

–Não sei – ele respondeu – Mas precisamos estar prontos!

 

Mas Sora tinha outros planos...

 

–Não na minha casa – ele sussurrou, colocando-se de pé. Com uma das mãos, ele se apoiou no encosto do sofá, e a outra ele estendeu, fazendo a Keyblade aparecer sob o olhar incrédulo da mãe – Se alguma coisa sonhar em tentar entrar e fazer alguma coisa, vai se arrepender amargamente!

 

–O que você está fazendo? – Riku tentou puxá-lo para o chão – Você é idiota ou o quê?

 

Mas ele não deu atenção. Em vez disso, aproximou-se em silêncio da porta, apoiando-se à parede. As pernas pesavam como chumbo, mas ele prosseguia. Então, parou em frente à porta, e respirou fundo por um momento. No instante seguinte, alguém a abriu do lado de fora, e ele se colocou em posição de ataque, dizendo:

 

–É melhor nem pensar em fazer nada, ou acabo com você!

 

Mas a visão que teve de quem estava na porta o fez parar. E, em um segundo, passou pelo choque e pela incredulidade, para afinal se sentir um completo imbecil.

 

–Acho que isso não vai ser necessário comigo, Sora. Eu vim só para conversar.

 

Ele olhou para trás por um instante. Riku e Kairi tinham as mesmas expressões embasbacadas que ele exibia. Voltou seu olhar para o visitante inesperado, e por alguns instantes ficou em silêncio, sem ter a menor idéia do que dizer. Por fim, só conseguiu gaguejar:

 

–Rei... Mickey? O que está fazendo aqui?

 

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