Castelo de Cartas escrita por Clove Flor


Capítulo 9
Capítulo 9 - its collapsing again


Notas iniciais do capítulo

Boa madrugada, gente!
Uh, acreditam que nem tomei banho ainda? Eu tô há umas sete horas escrevendo esse capítulo, sem brincadeira. Com pausas, óbvio.
Tenho algumas novidades >IMPORTANTES<. Então vamos lá.

> primeiramente eu criei uma playlist no spotify da fic. Tem músicas que recomendo nos capítulos e outras que me inspiram a escrever. Quem se interessar, pesquisem no spotify "castelo de cartas clarizze" que provavelmente vai ser o primeiro. Sim, eu enfeitei ele com uma palavra em chinês (amor) e um coraçãozinho;

> O MAIS IMPORTANTE, gente, eu vou sair pra um intercâmbio em agosto. Vou passar 1 ano nos Estados Unidos, em Ohio (help quero ficar fluente e passar a fic pro inglês, seria tão legal!). Isso quer dizer que, no exterior, não vou poder me dedicar tanto à fic quanto eu gostaria. Minha sorte é que eu sou acostumada a escrever no papel antes de passar pro pc, pq normalmente eu escrevo durante as aulas, então provavelmente eu vou conseguir continuar com material escrito. O problema vai ser postar - vou tentar agilizar as coisas aqui para eu poder postar a história e, quem sabe, terminá-la antes do ano novo!

> ESSE CAPÍTULO EU DEDICO EM ESPECIAL À KAI, QUE RECOMENDOU A FIC! Eu fiquei tão impressionada e honrada, sério, eu não esperava! Muito muito obrigada, de todo o coração! ♥

Então é isso gente, espero que gostem do capítulo! E obrigada pelos comentários!

musica do cap: house of cards - bts



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A house made of cards, and us, inside
Even though the end is visible, even if it’s going to collapse soon
A house made of cards, we’re like idiots
Even if it’s a vain dream, stay like this a little more

 

 

 

Quinta, 15:26

Jungkook pensou seriamente em se matar.

Olhando para baixo da sacada, seus dedos agarravam com força o parapeito branco, balançando o corpo para frente. Que merda eu disse?, se indagava havia mais de três horas. Seu estômago estava revirado e Jungkook suava frio de nervoso, suas pernas ainda bambas. Adentrou seu pequeno apartamento e começou a catar os pertences espalhados pela sala, se afastando da sacada. Precisava se ocupar com alguma coisa, manter a mente longe das incessantes perguntas, antes que fizesse mais alguma loucura. Era quinta, afinal. Faltavam apenas quatro dias para estar dentro de um avião.

Quatro dias e ainda não havia contado.

Havia alguns tênis, fotos e acessórios espalhados pela sala; seu aparelho de bluetooth descarregado ao lado da televisão, algumas embalagens de roupas que havia comprado em uma lojinha no centro de Maryland... Jungkook não tinha tanta bagagem, mas quanto antes deixasse suas coisas arrumadas, menos perda de tempo teria quando fosse trancar o aluguel do apartamento.

Jungkook se lembrava vagamente do fim da noite anterior. Sabia que Savannah havia voltado no mesmo carro que ele e que, em algum momento, teria adormecido com a cabeça no ombro da mais velha, as marcas das lágrimas já secas sob os olhos. Via a imagem da morena o acompanhando até dentro de seu apartamento, ajudando o corpo sonolento e bêbado de Jungkook ir até sua cama, onde o deitou e beijou demoradamente sua testa. O telefone dela tocou em algum instante, os amigos esperando que ela descesse logo para o térreo e fosse embora.

E então acordou nove horas depois, assustado com sua própria voz revelando sua identidade dentro dos sonhos.

Ele queria poder dizer que tudo aquilo era mera coisa de sua cabeça.

Não estava mais triste: estava com raiva.

Jungkook pegou a câmera fotográfica sobre o criado-mudo e seus fones de ouvido; ficar dentro do apartamento apenas o deixaria mais louco – caminhar pela cidade havia se tornado um modo de escape nessa última semana.

Então, novamente, saiu pela porta da frente e correu para o mundo que ainda existia do lado de fora.

X

A ideia de arquitetura ainda não havia parado de palpitar na mente de Jungkook. Ele era bom em desenho, de qualquer forma, e quanto mais caminhava pelas ruas largas de Maryland, mais admirado se encontrava ao observar todas as linhas que compunham as construções.

Enquanto caminhava, o dedo nunca soltando o botão de capturar imagens da câmera, parou diante de uma pequena loja.  Dizia em uma placa de chão que eles revelavam fotos por apenas cinco dólares a cada dez imagens.

Ele respirou fundo, ponderando. Queria muito poder carregar consigo e não correr o risco de perder sua máquina fotográfica com todas as lembranças que tinha no cartão de memória, mas ao mesmo tempo sentia medo de ser acidentalmente exposto. Contaria, de qualquer forma, aos membros sobre Savannah? Ou qualquer outro amigo que havia feito?

O que pensariam dele se ao invés de ter tirado esses quase dois meses de férias, o teria usado para beijar uma garota – namorá-la? – e fingido ter uma vida normal? Não parecia correto. Parecia mal agradecido.

Mas mesmo assim, fez isso por si mesmo. Entrando na loja, o cheiro forte de erva doce impregnado no carpete o fez espirrar imediatamente; pediu para o homem atrás do balcão atendê-lo ao tocar um sino.

─ Em que posso ajudá-lo? – o funcionário indagou, fungando.

─ Uh... eu precisava revelar as fotos dessa câmera – Jungkook ergueu sua máquina para mostrar ao homem, que levantou uma sobrancelha.

─ Todas?

O maknae tentou se lembrar do dia em que havia chegado em Maryland. Tinha sido no começo de outubro, já que o outono estava quase no seu auge. Agora, com alguns pares de dias até dezembro, mal se lembrava do inicio da sua jornada até ali.

─ A partir do dia três de outubro. – chutou.

Entregando a câmera para o atendente, sentiu o olhar dele pesado sobre si, como se o analisasse. Jungkook queria se esconder de repente, o sangue subindo ao rosto.

─ Eu já te vi em algum lugar?

Ele tossiu, paralisado.

─ Eu? Hm, uh, acredito que talvez sim? Não deve ser a primeira v-vez que venho aqui...

O homem esfregou a barba rala em seu queixo, pensando. Pegou a câmera do mais novo e se virou no balcão, conectando-a no computador para selecionar as imagens que seriam reveladas. Jungkook sentiu-se nervoso ao ver algumas fotos antigas em que ele estava com o grupo aparecerem minimizadas na pasta, não sendo clicadas devido a data.

─ São fotos muito boas. – o atendente elogiou enquanto verificava algumas delas. ─ Vai querer essa aqui também? – mostrou uma um tanto borrada através da tela do computador.

Jeon maneou a cabeça em negativa, o coração ainda palpitando forte.

Mais alguns minutos em silêncio.

─ Essa menina que aparece nas fotos é realmente muito bonita.

Ele sentiu as bochechas esquentarem.

─ É, hm, ela é.

Terminando de selecionar as imagens, o funcionário preparou a impressora com o papel especial para as fotos, um tamanho pequeno retangular. Ele fazia muito barulho enquanto andava ao arrastar os pés sobre o carpete, espalhando o cheiro doce que fazia o nariz de Jungkook coçar.

─ São cento e setenta e duas fotos. Isso dá... – ele pega a calculadora. ─ Oitenta e cinco. Desconto de dois dólares pra você.

O maknae fez um careta, retirando sua carteira do bolso. Ele não tinha mais tanto dinheiro assim, já que a empresa havia parado de enviar após um mês de sua ausência, como uma chamada para voltar.

As fotos demoraram poucos minutos para serem todas impressas. O funcionário tinha razão – Jungkook era um bom fotógrafo. Tanto as capturas feitas da cidade, das saídas com os amigos, dele mesmo, todas estavam muito bem feitas.

─ Obrigado ─ o maknae agradeceu, recolhendo todas as imagens em uma sacola transparente.

─ Ah! – o homem exclamou, o coreano quase alcançando a maçaneta da porta. ─ Acho que me lembrei... Umas garotas de uns quinze anos vieram revelar um monte de foto de uns asiáticos.

Jungkook prendeu a respiração.

─ Mas eles eram de uma banda ou sei lá o que ─ o funcionário continuou. ─ Devo ter me confundido com você. É tudo igual, não é?

O maknae riu sem graça, a mão indo involuntariamente atrás da nuca. Havia se sentido ofendido, mas estava aliviado de ter saído dessa. Talvez não fosse o seu grupo que as garotas tivessem vindo imprimir fotografias – poderia ser EXO, Monsta X, Seventeen...

─ Pois é. Obrigado novamente – ele disse, saindo da loja.

Já do lado de fora, olhou para o céu, respirando fundo. O sol continuava forte, a cor azul clara preenchendo os quatro cantos. Estava tudo bem. Tudo ficaria bem.

X

Sexta, 10:54

─ Quer dizer que essa é a sua última aula com a gente, Kook? – a professora de pintura indagou, contorcendo a boca em uma careta triste.

O acastanhado sorriu um pouco sem graça.

─ É, eu tive uns imprevistos e vou ter que voltar mais cedo pra Coréia. – se explicou, chutando o chão com a ponta do tênis. ─ Mas foi um prazer ter aula com a senhora. Eu sinto que aprendi muito nessas poucas aulas que tive e com certeza vou levar meu conhecimento adquirido para casa.

A mulher mais velha colocou a mão em concha sobre a bochecha de Jeon, olhando com ternura para ele.

─ Você é um menino de ouro. Pena que não concluiu o seu quadro...

─ Por favor, guarde-o. Assim eu posso voltar e terminá-lo. – Jungkook sorriu, respeitoso.

A professora se afastou, buscando algo entre o amontoado de folhas e pincéis que possuía em sua bancada, bagunçando-a ainda mais. Voltou com algo pequeno nas mãos.

─ Fique com o meu cartão, querido.

O maknae queria chorar. Por mais que não houvesse se aproximado tanto da professora, sentia um carinho e apoio vindo dela em relação as suas pinturas. Era uma força e uma tranquilidade que recebia estando naquele pequeno ateliê.

─ Obrigado – Jungkook fez uma reverência respeitosa, mesmo sabendo que aquilo não era da cultura americana. Guardou, mais como lembrança do que uma forma de contato, o cartão no bolso da calça.

A aula já estava ao fim, mas os outros três alunos que faziam no mesmo horário que ele acenaram e desejaram uma boa viagem quando o estrangeiro saiu pela porta. Seu coração aqueceu e ele sorriu, grato. Deu uma última olhada em seu quadro, encostado na parede no fundo da sala. Faltavam alguns detalhes nas pétalas das flores rosas e azuis, e o vaso ainda estava um tanto incompleto; mesmo assim, Jungkook sentiu como se houvesse cumprido seu trabalho.

X

Sexta, 18:09

─ Você tá bem?

Savannah ergueu os olhos para Maya, que a encarava deitada em sua própria cama, fazendo o dever de casa. Após a aula no período da manhã, Maya havia passado a tarde na casa da amiga para estudarem juntas, mesmo que não fizessem o mesmo curso. As provas já estavam se aproximando e algumas matérias eram específicas demais em seu conteúdo – a companhia uma da outra parecia acalmar os ânimos.

Havia algo, realmente, de errado com Savannah. Sentada em sua cadeira giratória, seus dedos não paravam de batucar na escrivaninha de madeira do quarto. A pesquisa que deveria fazer sobre Conservação Fotográfica e Audiovisual tinha poucas páginas e não estava indo para frente tinha uma hora.

Algo a prendia. Dentro de sua mente, um choro sofrido ecoava nas profundezas da sua memória, desviando sua atenção toda vez que lia as perguntas da ficha de estudos.

─ Acho que estou. – ela respondeu, colocando uma mecha de seu cabelo ondulado atrás da orelha. ─ É besteira.

Maya parecia interessada ao se sentar na cama da amiga.

─ Bem, qualquer coisa melhor que meu dever de casa.

A morena apoiou o rosto na mão, pensando. Por fim, abriu a boca:

─ Você já escutou alguma música coreana?

─ Eu nunca escutei coreano, Sa.

Ela continuou quieta por alguns instantes, ponderando se deveria levar a diante sua angústia ou terminar com ela de uma vez só.

Isso é ridículo, pensou, se martirizando. Ele estava completamente bêbado e abalado com alguma coisa. Estava zoando com a minha cara e eu fico aqui, pensando nisso por dois dias. Minha nossa!

─ Você tá interessada em escutar? ─ Maya indagou, alheia aos pensamentos da melhor amiga que vivia um conflito interno.

─ Talvez? – ela respondeu, fazendo uma careta. ─ Quero dizer, faz parte da cultura do Kook. Eu pensei em... não sei. Me envolver mais?

A loira continuava esperando que a amiga completasse.

─ Eu só... – Savannah suspirou, esfregando os olhos. ─ Ele é um intercambista. Em algum tempo vai embora... Eu não sei, Maya...

─ Ei – a loira chamou, se erguendo da cama e indo até a morena, interrompendo o mental breakdown que estava tendo. ─ São apenas músicas, Sa. Vamos, estamos estudando há tanto tempo. Eu também to curiosa.

─ Ok – ela respirou, voltando-se para seu computador e abrindo o youtube. Digitou Korean songs no procurador e recebeu um monte de vídeos como resposta. Ela riu nasalado, pensando em como era boba. Estava tão nervosa em pensar que iria aparecer o rosto do garoto do qual gostava nas capas que mal parou para refletir o quanto aquilo era loucura.

─ Vamos nesse aqui ─ Maya apontou para o terceiro vídeo que aparecia, um de quatro meninas. Elas se impressionaram no início o quanto suas roupas eram curtas e como seus cabelos tinham cores diferentes (não podiam negar, eram lindas). A música tinha uma batida forte e a coreografia bem agitada.

─ Meu Deus, acho que eu nunca conseguiria dançar assim – Savannah murmurou, impressionada. Nunca havia visto aquilo. ─ Aliás, elas estão cantando em inglês?

─ Definitivamente algumas palavras ─ assentiu Maya, os olhos vidrados nas jovens coreanas que rebolavam e mexiam o braço com rapidez. ─ Até o nome do grupo é em inglês! Isso que é globalização.

Savannah riu, empurrando levemente o corpo da amiga ao seu lado.

─ Não diga besteiras.

A música encerrou após curtos quatro minutos.

─ Eu adorei elas. Blackpink. Vou baixar algumas músicas depois. Vamos ver mais alguns!

A próxima música era de um outro grupo de meninas.

─ Socorro – Savannah comentou ao ver a quantidade delas. ─ como que elas dividem o salário? Tem quantas garotas aí?

─ Dez? – a loira contou. ─ Nove. Você não tá achando muito rosa?

─ Vamos esperar – ela pediu. ─ Talvez a música seja boa.

Na metade do vídeo, as amigas ficaram de queixo caído. A melodia não era exatamente o que elas gostavam, mas a dança sensual mexeu com o interior delas.

─ “I got a boy”— leu Maya. ─ você super deveria dançar isso para o Kook. Ele iria amar.

─ Cala boca – Savannah pediu, mas sorria. Não era uma má ideia agradá-lo de alguma forma.

─ Esse vídeo é de quatro anos atrás, Sa. Vamos ver outro, algum mais recente. – a loira pediu. ─ Que tal esse?

O vídeo que ela apontava era de um grupo masculino. Parecia ter bastante integrantes também e um conceito um pouco mais rude do que os anteriores.

Nos primeiros segundos, Savannah sentiu seu coração perder uma batida.

─ O que é isso?

Maya parecia sem palavras.

─ Meu Deus, Sa... – ela sugou o ar, os olhos bem abertos. ─ Eu não acredito que tenho vinte e um anos e vou sofrer por coreanos. Você tem sorte de ter um.

A coreografia desse grupo era incrível e a música não ficava para trás. Ambas as meninas não desprendiam os olhos da tela do computador, a música Monster ecoando em seus ouvidos.

─ Eu adorei esse – a loira mostrou um de cabelo preto com uma joia enganchada na boca, ligada a uma corrente presa no pescoço.

─ Não é o mesmo que apareceu no início?

Maya semicerrou os olhos.

─ Não, acho que não era. Ah, não sei. Eles são e ao mesmo tempo não são parecidos.

Savannah concordou, continuando a assistir o videoclipe do tal grupo EXO. Quando chegou ao fim, o coração da morena estava mais leve. Kook idiota, ela riu em pensamento.

─ Só mais um? – a amiga pediu. ─ Eu realmente gostei dessa coisa de K-pop.

─ Ok – Savannah sorriu. ─ Só mais um.

Arrastou o mouse para um vídeo que estava no final da lista dos recomendados. Ouvir a língua nativa do garoto que era apaixonada era engraçado. Ás vezes se perguntava se ele realmente conseguia ler e falar aquelas letras tão diferentes do seu alfabeto, apesar de já ter escutado poucas vezes.

A melodia, nos primeiríssimos segundos, parecia ser algo mais calmo e trabalhado – nada comparado ao que haviam escutado até enfim. Um garoto de cabelos pretos estava de costas para a câmera e, ao se virar e iniciar a canção, Maya soltou uma exclamação:

─ Wow, nesse vídeo tem legenda! – ela colocou a mão no peito em forma teatral. ─ Isso é super gentil. E tem mais de cento e dez milhões de visualizações! Caramba!

─ Shhh – Savannah pediu, tentando prestar atenção na música. O corpo do garoto era leve enquanto realizava seus movimentos, o que fez a morena sorrir levemente com a sutileza dele. Dança sempre fora uma atividade que amava e contemplar uma coreografia, mesmo que em seu início, bem realizada, trazia um conforto dentro de si.

Don’t wanna be lonely, just wanna be yours – repetiu Maya, que suspirou. ─ Que lindo.

O próximo garoto que apareceu fez Savannah gelar. Completamente. Da ponta dos dedos do pé até os fios de cabelo.

─ Ai meu Deus – foi só o que conseguiu pronunciar.

─ Esse daí é muito parecido com o seu garoto – Maya concordou, mesmo que sua amiga não tivesse dito nada. Savannah continuava paralisada. Logo, já era um de cabelos vermelhos que cantava. ─ Esse! É esse que eu quero, Sa. Qual será o nome dele? – a loira gritou, extasiada com a beleza do integrante, não prestando muito atenção nas vozes e a música em si. ─ Tão sexy – suspirou.

Savannah pausou o vídeo em súbito. Estava tendo dificuldades para respirar.

Não era só parecido.

Era ele.

─ Savannah? – a amiga chamou, pondo a mão no ombro da morena. ─ Você tá assim por causa daquele menino? É só parecido com ele, Savannah. Você sabe como asiáticos são. – então, puxando o rosto da garota para encará-la, olhou no fundo dos olhos verdes da amiga. ─ Ei, respira. Relaxa. Não é o Kook.

Savannah respirou fundo, enchendo os pulmões. Era ele. Era tão óbvio que era ele.

Mas não fazia sentido.

─ Vamos ver o vídeo até o final e aí pesquisamos os integrantes, ok?

A morena nem percebeu que havia apertado o play novamente. A coreografia se tornava incrivelmente difícil e agitada na parte instrumental da música, mas os olhos dela não desviavam do garoto de camiseta branca. Os movimentos, o jeito que mexia os braços, e, principalmente, a voz. Savannah já havia o ouvido cantar e dançar antes.

E então, tudo se encaixou.

─ Ai meu Deus, Maya – ela soltou, as palavras passando tão rápido por sua mente que mal conseguia registrá-las. ─ Ai meu Deus!

A loira a olhou surpresa, esperando que terminasse sua frase. Realmente, depois de um tempo, a garota estava começando a acreditar que talvez, só talvez, aquele garoto no videoclipe não fosse apenas um integrante aleatório de um grupo.

─ Ele me disse – Savannah soluçou, abanando as mãos em nervosismo. ─ Ele me disse que dividia um apartamento com mais seis caras!

Imediatamente Maya pausou o vídeo, contando quantos membros havia dançando na tela.

─ Puta que pariu – a loira sussurrou, a realização daquilo tudo caindo em seus ombros.

Mas elas não queriam aceitar.

─ Deve ser uma coincidência. – afirmou Maya, descrente em si mesma.

─ É a voz dele! – Savannah gritou, extravasado. ─ É a porra da voz dele, Maya!

─ Ok, ok, vamos pesquisar! Calma! – Maya gritou de volta, tomando partido para copiar o nome do grupo e jogar no Google, que logo apontou os integrantes.

Olhando rapidamente, a loira suspirou.

─ Viu? Não tem nenhum Kook aqu...

Ela se calou no meio do caminho.

Jeon Jungkook.

Dezenove anos.

Maknae, Dançarino e Vocalista Líder.

Savannah não sabia como reagir, então apenas chorou. Alto, soluçando, dolorido – ela não conseguia acreditar. Não conseguia entender. Aquele não podia ser o seu garoto – não, não podia, ele era um simples intercambista sul-coreano, de coração doce e sorriso fofo. Ele aprendeu a jogar boliche com seu pai, que ele não vê muito em Seoul – por que ele não o via mesmo? Tinha algum motivo? Não era por causa de uma carreira musical. Não podia ser. Devia ser faculdade.

Faculdade, isso! Kook estava em uma faculdade! Não tinha tempo para música ou shows internacionais. Que faculdade que ele cursava? Qual era? Ele deveria ter mencionado em algum momento nas conversas entre os dois. Como poderia ter até dormido em seus braços sem ao menos saber onde ele estudava? Ou seu sobrenome?

Savannah chorou mais alto, sua amiga envolvendo-a em um abraço apertado. Maya estava chorando também – não era só Savannah que havia sido enganada, afinal.

Ela pensou em como ele havia sido doce, gentil e cavalheiro desde o início. Em como havia dias em que Jungkook parecia distante e triste, não saindo do seu celular, respondendo mensagens. Tão abalado, tão quebrado, e de repente, juntos, ele parecia brilhar; era tão bom em tudo o que fazia! Arte, fotografia, canto, dança, boliche. E deveria haver diversas coisas em que Savannah ainda não havia descoberto das quais ele era igualmente bom.

Mentir para as pessoas, talvez.

Não.

Savannah continuava chorando e negando a verdade. Não. Aquele menino não podia ser o seu. Ele não podia ter partido seu coração tão friamente.

Se lembrava de quando o havia visto pela primeira vez, perdido em uma rua, perguntando por informação. Em como notou que seu cabelo era um tom mais claro do que o que crescia na raiz, e em seus piercings na orelha, e como achou aquele conjunto bonito. O garoto tímido, inocente e cheio de conhecimento dentro de si, que admirava o céu dentro de uma roda gigante e a ensinava a se alimentar com chopsticks. O seu primeiro beijo – minha nossa, ela havia sido o primeiro beijo dele! E o segundo. E o terceiro. E o quarto...

Seu mundo parecia ter caído.

Como voltaria a acreditar em alguém?

Ela havia pensado que, depois de Thomas, seria diferente. Que Jungkook fosse diferente.

Céus, ela mal sabia pronunciar seu nome verdadeiro.

Empurrando a amiga do abraço, Savannah se levantou da cadeira de rodinhas, raiva líquida preenchendo suas veias. Não ia mais aguentar qualquer merda de qualquer pessoa. Ela precisava de respostas, merecia isso.

Iria falar com ele.

─ Imprime isso, Maya – Savannah pediu, enxugando as lágrimas que ainda desciam em seu rosto.

Savannah a olhou triste. Não queria que sua melhor amiga passasse por isso tudo.

─ Olha...

─ Imprime logo essa merda, Maya! – a morena gritou, batendo um pé no chão. Nunca era tão rude com alguém, principalmente se fosse a loira, mas seu corpo tenso denunciava que estava fora de si.

Após alguns instantes, uma folha com a ficha do maknae estava nas mãos de Savannah. Ambas encararam a foto que seguia das informações; ele estava lindo, vestindo um terno com gravata, a franja com uma repartição na têmpora e um sorriso tranquilo nos lábios.

─ Sa... – a mais alta chamou, fazendo a morena erguer o olhar quebrado até ela. ─ Respira fundo. Vai dar tudo certo, você vai ver. Não se esqueça do quão bom ele foi pra gente nesse tempo, sabe? Não importa, no final, o que ele faz pra ganhar a vida.

─ Ele mentiu pra mim – Savannah soluçou fraca, arrastando as costas das mãos para limpar as lágrimas que insistiam em escorrer. Sentia-se infantil. Estava tão vulnerável e exposta ali, no meio de seu quarto amarelo, que não se lembrava de como era ser forte em um momento daqueles.

─ Pra todos nós – suspirou Maya. ─ E isso é errado. Só... o permita falar. Ele não deixa de ser um garoto bom por causa disso, entende, o jeito que ele te tratava e nos tratava... Não podia ser teatro. Era real.

─ Não tem como saber – Savannah se afastou, respirando fundo para tomar coragem. ─ se eu não for até ele. Você pode me dar uma carona, Maya?

A amiga sorriu triste.

─ Claro, Sa. Tudo por você.

Savannah suspirou, agradecida. Talvez o maior problema fosse que ali, nem por um momento, um segundo sequer, ela havia deixado de amá-lo com tudo o que tinha.


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Notas finais do capítulo

ta ta ta taaaaaan



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