Castelo de Cartas escrita por Clove Flor


Capítulo 8
Capítulo 8 - you're the ground my feet won't reach


Notas iniciais do capítulo

ME PERDOEEEM eu demorei muito dessa vez pra atualizar, mas tive vários compromissos e um bloqueio terrível pra escrever. O capítulo não ia tomar esse rumo, mass......... espero que gostem. Encontro vocês nos comentários! E ah, esse foi o maior cap que escrevi!

musica do capitulo:
this side of paradise - coyote theory



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Passion is crashing as we speak
You seem so lonely
You're the ground my feet won't reach
I'll be yours if you'll be mine 

[...]
'cause i'm lonely, im so lonely
If you hold me you'll be my only

 

 

Terça, 4:27 AM.

Jungkook acordou assustado. Jurava ter ouvido a voz de Savannah o chamando em seu quarto, mas era apenas o vento assoviando pela janela. Ainda estava escuro lá fora – ele havia adormecido sobre sua cama, a câmera fotográfica ainda presa no pescoço. Seus músculos doíam, rígidos naquela posição desconfortável e presos sob os jeans.

Após ter chegado em seu apartamento, Jungkook havia ligado o computador para comprar a passagem de volta para a Coréia, mas acabou pegando no sono no momento em que a finalizou. Sentia, agora, os olhos inchados e doloridos por conta do choro sofrido da noite anterior.

Ele se levantou, tentando alongar o corpo. Retirou a calça, que pesava em suas pernas, e percebeu que ele não estava cheirando tão bem – não havia tomado banho ontem, após a caminhada pela cidade. Tinha chegado tão tarde, tão exausto emocionalmente, que nem havia se lembrado desse detalhe.

A tela do seu computador continuava ligada, um aviso de pouca bateria piscando. Jungkook coçou os olhos embaçados, conectando o carregador com um pouco de dificuldade. A página aberta mostrava o número de seu voo.

Ele fez uma careta. Esperava de verdade que a empresa pagasse pela passagem, porque havia sido muito cara. Pegaria o avião em Washington, tendo que fazer uma rápida escala em São Francisco, e chegaria em seu país por volta das dez da manhã do dia seguinte. Seu coração acelerava ao observar todos aqueles dados, mas  logo os enviou para seu manager e Hyuk-nim. Não deveria ficar se remoendo tanto: afinal, você colhe o que plantou. Era algo que precisava aceitar.

Decidiu começar o dia cedo. Havia ido dormir ontem por volta das 6 pm, portanto o maknae não havia nem ao menos jantado, o que estava causando o ronco em seu estômago. Queria as panquecas de Savannah.

Cambaleou até sua geladeira, que não possuía mais grande coisa dentro. Pegou uma pedra de gelo e segurou contra um dos olhos inchados, tentando suavizar sua aparência desastrosa de choro; aproveitou e também alcançou a última caixa de leite da geladeira, despejando o conteúdo em uma caneca e esquentando-o no microondas sobre o balcão.

Sentou no sofá, olhando ao redor. Observava os traços de seu pequeno apartamento – não havia trazido muita coisa, mas a pouca mobília não era de total desagrado. Jungkook pensou em começar a organizar suas coisas na mala, preparar para a partida, mas o sol não havia nascido ainda – então, por hora, apenas ligaria a TV e assistiria algum desenho animado enquanto se esquentava com seu leite.

X

A lavanderia do prédio de Jungkook não parecia facilitar tanto a sua vida quanto deveria. Os inúmeros botões da máquina piscavam e apontavam palavras específicas, difíceis demais para que o confuso coreano pudesse entender. Achou que, depois de todas essas semanas, descobriria as funções de cada um, mas ainda os chutava ao colocar suas roupas dentro do compartimento.

Apertou um conjunto de teclas e, como sempre, rezou para que suas roupas não encolhessem ou manchassem. Iria demorar cerca de uma hora para que a lavagem e secagem rápida se concluíssem, portanto Jungkook escolheu matar seu tempo no quintal do edifício, sentado em um pequeno banco de madeira.

Estava nublado. Ainda era muito cedo e o coreano se perguntou se o dia seguinte também ficaria melancólico daquele jeito – não podia, aliás, iria pela primeira vez ao Six Flags! –. A brisa fria parecia renová-lo ao soprar em seu rosto, limpando as impurezas e resquícios das lágrimas da noite anterior, varrendo para longe suas inseguranças.

Apesar de seu coração ainda solavancar quando os pensamentos invadiam sua mente, conseguia os controlar com mais facilidade – talvez porque o dia anterior não parecia ter sido real.

A vista diante de si era simples: a lavanderia do apartamento atrás do maknae tinha portas que abriam diretamente a um pequeno quintal. Alguns moradores mantinham uma horta em vasos compridos e outros fizeram um jardim bonito no solo, com muitas flores coloridas crescendo bem ordenadas. A grama, bem aparada e verde, abrigava alguns bancos de madeira, onde o garoto observava o ambiente ao seu redor. Havia uma cerca de vidro que delimitava o espaço, a transparência dando um aspecto de liberdade e limpeza. Gostaria de desenhar esse lugar.

Os lábios de Jungkook se curvaram para baixo ao se lembrar de deixar as aulas de pintura. Havia feito apenas três sessões e duvidava que terminasse seu quadro na sexta feira – perfeccionista que era, talvez fosse levar mais duas aulas. Seu vaso de Mugunghwas rosas e azuis – a flor considerada natural da Coréia – estaria, para sempre, incompleto.

Assim como muitas outras coisas que não seria capaz de completar – e Jungkook suspirou, cansado, tentando aceitar esse fato.  Tinha que parar de se remoer e entender que, desde o início, sabia que tudo isso tomaria esse rumo. Precisava agir como um adulto agora.

Agir como um adulto.  Jungkook esfregou o rosto com força. Como ele poderia agir como um adulto, se nunca passou pela adolescência antes? Ele pulou fases. Sempre o fora exigido uma postura muito acima de sua idade: desde a tarde infância, o coreano já havia iniciado seus dias como trainee, ensaiando e dando tudo de si por horas e por anos. Isso o impediu de ter algum tipo de fase para amadurecer, cair e aprender de vez em quando, o deixando sem um alicerce sólido para o qual se apoiar. Não havia nada sob seus pés.

As mãos de Jungkook tremiam com a brisa fria do ambiente aberto, o fazendo puxar as mangas do seu fino moletom para cobri-las. A primavera já estava chegando e Jungkook temia a aproximação da nova estação: significava que teria que lidar com um estágio novo em sua vida. Imaginou que, em alguns meses ou anos, olharia para trás e se lembraria da loucura que fez, viveu. Se veria ali, esperando suas roupas ficarem limpas, sentado naquele banco de madeira sob o céu nublado em Maryland. Estados Unidos. Sozinho. Vivo.

O celular do coreano vibrou em seu bolso algumas vezes, indicando várias mensagens chegando. Ele ignorou, respirando fundo. Quem quer que fosse, o moreno não queria conversar. Não agora. Precisava da quietude por mais alguns minutos.

X

O dia inteiro havia sido preguiçoso, apesar de Jungkook não ter parado quieto. Estava sempre se movimentando, andando de um lado para o outro no seu pequeno apartamento, tentando canalizar toda a energia e nervosismo que sentia nos passos que dava. Achou que iria enlouquecer. Seu coração batia muito forte.

Em um impulso, agarrou o celular. Tinha decidido que não olharia as mensagens, mas precisava desesperadamente ouvir alguma música. Colocando em uma playlist aleatória que havia criado para o voo de ida até Maryland, Jungkook aumentou o volume até que as paredes de sua pequena sala vibrassem com o som.

Desse modo, talvez, ele não escutasse seus pensamentos.

Cada nervo do seu corpo tremia com o ritmo da batida, sofrendo para poderem extinguir todo o estresse que os enchia – então, Jungkook fez o que fazia de melhor: dançou. Com força, machucando seus músculos com o ritmo rápido e duro que impôs sobre si mesmo, tentando se cansar. Tentando fazer com que a única coisa que preenchesse sua mente e coração fosse a música e a dança.

Só porque Savannah não podia mais ocupá-los.

X

Quarta, 9:35 AM.

Naquela manhã, Jungkook se lembrou de mandar uma mensagem para o trio de amigas, avisando que novamente não almoçaria com elas – não havia problema, porém, porque todos iriam se encontrar para irem juntos ao parque de diversões mais tarde. Savannah estava um tanto desapontada, mas deixou pra lá: afinal, o coreano era um estudante como ela e também tinha seus trabalhos de faculdade para concluir. Não poderia cobrá-lo presença o tempo inteiro.

E sim, ele obviamente estava tardando o momento de encontrá-la o máximo possível. Quem poderia julga-lo?

O celular pressionado contra sua orelha tremia por conta dos dedos de Jungkook. Ele estava com o estômago embrulhado enquanto esperava a ligação completar para o outro lado do mundo – até que se ouviu um ruído:

— A-alô? – uma voz fina gaguejou ao atender, um tanto receosa. Parecia não acreditar muito em quem estava a ligando.

Jungkook podia sentir as lágrimas queimando seus olhos e engoliu duro, tentando contê-las. Bastava de chorar.

Omma...?

Ah, Jungkookie...! — a mulher suspirou em alívio, como se um grande peso saísse de suas costas.  As poucas notícias que recebia do filho eram raras e vinham devagar, sempre causando nervos na mais velha, que era constantemente amparada pelo marido e primogênito. – Meu Deus, onde você está? Está se alimentando direito? Faz um mês que você não nos manda uma mensagem! Jungkookie... ─ ela soluçou. ─ O que você fez, meu filho? ─ O mais novo sentiu o coração doer sob o peito e ele mordeu a boca com força, tentando segurar seu choro. – O que está acontecendo com você, meu querido? Você está sozinho? Está a salvo?

— Omma... – o maknae fechou os olhos, contorcendo o rosto. – Não se preocupe, omma... Eu estou voltando pra casa.

X

A mochila pesava um pouco em suas costas. Jungkook havia ido a pé até em frente da faculdade dos seus amigos, apesar de ser algumas boas quadras de distância do seu apartamento. Quando chegou lá, Theo estava com mais dois amigos extremamente altos e Mariah, faltando apenas as três meninas.

— Eaí, coreano? – seu amigo moreno cumprimentou, sorrindo. Jungkook sorriu de volta ao se aproximar do pequeno grupo de pessoas. Ele não conhecia os dois caras que os acompanhavam, mas saldou-os de um modo amigável. – Esses aqui jogam basquete comigo no time da facul. Big Wolf – apontou para o de ombros largos, cabelo até a metade do pescoço. – e Isaac. – apresentou o loiro de queixo pontudo, um pouco mais baixo que o outro.

— Sou J... Kook. Pode me chamar de Kook. É um prazer conhecê-los. – o maknae sorriu amarelo.

Toda a cor de seu rosto parecia ter sumido com a quase revelação de seu primeiro nome completo. Era tão comum para si dizer a famosa frase decorada “hi, I’m Jungkook, nice to meet you” em entrevistas e shows, que as palavras quase deslizaram para fora de sua boca. O coração batia forte no peito.

— Finalmente! – Theo gritou de repente, assustando o mais novo. Ele virou o corpo na direção que o moreno olhava. – O parque fecha às nove hoje, madames!

As três amigas corriam até o portão da faculdade, uma mochila extra nos ombros. Estavam rindo de si mesmas até alcançarem o grupo de amigos. Katie tinha os cabelos molhados.

— Eu não acredito que vocês foram tomar banho no vestiário! – Mariah contestou, a boca aberta. – Eu também queria!

— Fala sério – Theo revirou os olhos. – vocês vão suar lá, tontas.

— Passei dez horas na faculdade hoje – Savannah justificou, ainda sem ter cumprimentado as pessoas ao redor. – Eu precisava de ao menos uma ducha. Miss Katherine aí que foi longe demais.

— Meu cabelo tava um nojo, eu fiz um favor pra vocês ao ter lavado! – a mais baixa explicou, rindo. As meninas deram beijos nos rostos dos amigos, os fios molhados de Katie gelando a bochecha do maknae. Jungkook sentiu algo estranho apertar suas entranhas quando Savannah abraçou o tal de Big Wolf forte, exclamando um “há quanto tempo!” animado. Então ela se aproximou.

Ela cheirava bem. Seus cabelos levemente ondulados escorriam pelos seios, parando antes da cintura, pendendo sobre a blusa fina de moletom que ainda grudava em certos pontos sobre a pele ligeiramente úmida. A americana parou na frente do acastanhado, como se hesitasse. Ao notar um sorriso tímido esticar discretamente os lábios do sul-coreano, ficou nas pontas dos pés e beijou demoradamente a boca alheia. Jungkook fechou os olhos ao sentir o calor de Savannah, o rosto esquentando.

Hey there — ela disse, piscando seus longos cílios.

O mais alto abriu os olhos.

— Oi...

— Gente, vamos em dois carros – Theo anunciou, tentando apressar as coisas. – Estamos em oito.

— Meninas em um e meninos noutro? – Isaac sugeriu. O coreano queria poder ficar ao lado de Savannah durante a curta viagem, mas todos concordaram em separar os gêneros.

— Vocês estão com GPS? – Theo perguntou para Maya, a encarregada a dirigir, que assentiu, beliscando as bochechas magras do amigo.

— É tão preocupado esse aniversariante! – disse com uma voz infantil. O moreno mostrou a língua.

— Quero que cheguem seguras. Nos encontramos na entrada principal, ok? Qualquer coisa, liguem.

Theo beijou Mariah em despedida e Jungkook não se sentiu fazendo a mesma coisa com Savannah. Os dois grupos rumaram para direções diferentes, já que os dois carros estacionados estavam longe um do outro no estacionamento da faculdade.

Antes de entrar no veículo, Jungkook parou o amigo moreno.

— Eu te trouxe uma coisa – explicou, tirando da mochila que carregava nas costas uma embalagem pequena. – Feliz aniversário.

O mais alto o olhou surpreso, feliz. Pegou das mãos do sul-coreano seu presente e o abriu, exclamando ao ver o pequeno acessório.

— Wow, Kook, isso é muito legal! – disse, segurando as duas capinhas de celular oficiais do NBA. – Você não precisava trazer nada. Obrigado mesmo, cara.

Jungkook sorriu, simpático, feliz por ter agradado. Theo deu-lhe um abraço de lado, que deixou o maknae um tanto vermelho por ter sido pego desprevenido, e ambos entraram no carro. O aniversariante se sentou na frente, ao lado do motorista – Isaac – e Jungkook ficou com o Big Wolf no banco de trás.

Os meninos ligaram o rádio e colocaram o volume no máximo, gritando em animação quando seguiam para fora da vaga. Jungkook riu e gritou junto. Precisava espairecer mesmo.

O carro das meninas passou buzinando quando os ultrapassaram em uma rua, seguindo diante deles por uma parte do percurso até não poder ser mais visível o carro. A cidade em que o Six Flags estava construído era um pouco mais de meia hora de Columbia, o que tornava o caminho até lá uma pequena viagem para os amigos.

Do banco da frente, Theo tirou uma mini geladeira do chão do veículo, pegando algumas cervejas.

— Isso aqui não vai te matar igual a bebida que te ofereceram na festa. Você quer? – o moreno perguntou. Jungkook, mesmo um tanto receoso, aceitou, dando alguns goles longos no líquido. O gosto era amargo e o teor alcoólico não era tão baixo quanto parecia;

— Ah, eu adoro essa música! – o maknae exclamou ao reconhecer uma batida na rádio. Era uma música de um cantor chamado Drake que Namjoon vivia colocando no dormitório, o que fez o mais novo decorar a letra em algumas semanas. Ele passou a cantar a parte do rap, envolvido na música, até perceber os gritos a assovios dos colegas ao lado. O maknae começou a rir enquanto tentava continuar seguindo o lyrics.

— Nossa, Kook! – Theo exclamou, o corpo todo virado para trás, encarando de olhos arregalados o mais novo. – Você é foda, cara! Isso ficou melhor que o original!

— Nem a gente que sabe inglês desde o berço consegue cantar esse negócio – Big Wolf gargalhou, empurrando levemente o ombro de Jungkook.

— É prática – justificou, rindo das reações dos meninos, tomando mais um gole de cerveja. O pouco do álcool que havia ingerido o ajudou a levantar seu astral naquele momento, por mais que não fosse durar muito. O nervosismo ainda pairava, silencioso, sobre sua cabeça.

X

Apesar de ser uma quarta feira a tarde, havia uma fila para a compra dos ingressos na bilheteria. As garotas estavam saltitando, cantando uma música adolescente bem alto. Jungkook se perguntou se talvez elas tivessem levado bebidas em seu carro também, mas logo percebeu que era apenas livre e pura felicidade.

— Deixa comigo – o maknae disse ao chegar sua vez na fila, pagando o ingresso de Savannah. Ela reclamou alegando que não era necessário. – Deixa eu fazer algo por você, jagi.

Savannah suspirou, mas seu coração estava aquecido por dentro. Kook não respondia suas mensagens havia dois dias e, mesmo sendo pouco tempo, a conversa desconfortável que teve naquela segunda durante o almoço a tinha deixado hesitante. Era reconfortável saber que o coreano ainda parecia sentir algo por ela.

Todos ganharam uma pulseira como entrada para o parque. Jungkook estava muito animado: tudo era colorido, grande e alegre. Enxergava, de longe, as silhuetas dos brinquedos grandes espalhadas entre as atrações, convidativos, e a criança em seu interior gritava para poder ir em todos.

Apesar de já serem seis horas da tarde, o céu continuava claro, começando a ter tons arroxeados e rosa. Jungkook estava acostumado com o pôr do Sol às nove horas da noite, típico da parte leste do país, e se perguntou como seria a volta dos dias mais curtos da Coréia. Alguns funcionários entregaram para o grupo um mapa do parque para caso se perdessem, mas os olhos do mais novo não conseguiam desgrudar das imagens desenhadas no papel. Taehyung insistiu tanto com ele naquela pequena turnê pelos Estados Unidos para poderem ir juntos, e agora Jungkook estava ali, sem ele, realizando o sonho pelos dois. Deveria fazer tudo aquilo valer a pena.

— Vamos nesse? – Jungkook perguntou, o coração batendo forte em animação. Havia indicado uma montanha russa vermelha e alta, os assentos deixando os participantes com as pernas pendendo no ar.

— O coreano gosta de adrenalina, uh? – Isaac questionou, brincando. O mais novo queria muito entender porque seus amigos insistiam em chamá-lo pela nacionalidade, mas como achava graça disso não questionava.

— Nós definitivamente vamos nesse – Theo afirmou, contente. Jungkook focou seu olhar em Savannah, que andava ao seu lado.

— Você tem medo? – perguntou baixinho, um sorriso provocativo brincando nos lábios. A morena ergueu seus olhos verdes, encontrando os castanhos dele. Savannah estava pensativa, porque queria muito segurar os dedos do coreano contra os seus, mas não queria parecer grudenta ou carente.

— Eu vou sobreviver – a morena disse séria, mas com um traço risonho em sua fala. O coreano sorriu em seu jeito de coelhinho, pensando em como ela era corajosa.

— Aquele primeiro! – Katie gritou, apontando para uma atração próxima. Era um elevador que subia algo que era próximo a quatro andares e despencava.  Os gritos das pessoas estavam incrivelmente altos.

Jungkook sentiu seu estômago dar voltas de excitação, o sangue pulsando forte nas veias. Todos correram para a fila do brinquedo, tendo que esperar alguns minutos – os quais passaram conversando e rindo, brincando de charadas – antes de serem chamados. Jeon sentou-se entre Maya e Big Wolf, mas tinha esperado que Savannah tivesse ocupado o lugar ao seu lado. Ele não estava facilitando o contato entre ambos, mas ela poderia ter sido mais rápida ou combinado com ele... Jungkook suspirou. Não estava se esforçando apenas para não se sentir to culpado mais tarde.

Antes que todas as pessoas entrassem no brinquedo, o coreano se virou para Maya.

— Você pode trocar de lugar comigo?

A loira piscou seus cílios claros. Ela assentiu e soltou um “ah, sim!”, desprendendo seu cinto. Rapidamente, Jungkook se levantou e sentou no assento ao lado de Savannah, que o encarou por um momento.

Ela não conseguia definir o humor dele naquele dia. Em um momento estava distante, pensativo; em outro, animado e admirado com o parque ao seu redor. Seriam os hormônios? Kook tinha 19 anos, ao final de tudo. Não que ela fosse muito mais velha quase beirando os 21, mas talvez...-

Todos soltaram uma exclamação quando o conjunto de bancos passou a subir com um pequeno solavanco, tirando Savannah de seus pensamentos. Jungkook estava com um sorriso bonito e congelado no rosto, rindo entrecortado. A americana sentia um vazio no estômago, o nervosismo da queda se fazendo presente.

O maknae balançava os pés, ansioso enquanto se elevavam do nível do solo. Gostava da adrenalina que enchia todo milímetro do seu corpo nos brinquedos mais radicais. Quando atingiram os clamados trinta metros do chão, um pequeno solavanco travou os assentos no topo.

Era lindo.

Jungkook conseguia enxergar o parque inteiro diante de si. O céu, manchado de rosa, parecia calmo e estava totalmente livre de nuvens, diferente do dia anterior. Era possível ver a natureza verde que envolvia toda a área ao redor e a estrada que pegaram para chegar até ali, a movimentação dos adolescentes e crianças sob seus pés inquietos. Havia pássaros que voavam ao longe, em direção ao horizonte, batendo suas asas de tamanho pequeno, devido a distância delas. Os Estados Unidos parecia um verdadeiro paraíso.

Então ele olhou para o lado, para Savannah, que gritava e ria em antecipação à queda, assim como os outros. Seus dedos agarravam a proteção cobria seu corpo  do banco com muita força, um sorriso grande estampado no rosto, os olhos verdes bem abertos. Naquele momento, o coração do mais novo não bateu forte pela adrenalina, mas sim por amor.

Ela foi a última coisa que viu antes de despencar.

X

As pontas de seus dedos estavam grudentos por continuar roubando o algodão doce de Savannah. O céu já estava alguns tons mais escuros, os fios de cabelo da sua nuca molhados de suor. Os brinquedos eram incríveis, Jungkook podia afirmar com toda a certeza. V iria ter gostado também.

Haviam comprado um pedaço de bolo em uma doceria dentro do parque e cantado parabéns ao Theo. Jeon bebia sua terceira cerveja e, apesar de conseguir se manter andando em uma linha reta, sua língua estava bem mais solta.

— Acho que eu vou voltar dirigindo o carro deles – Mariah avisou, olhando para a figura gargalhante de Theo. – Nem a pau que esses meninos vão pegar num volante.

Savannah concordou, observando o comportamento de Jungkook. Ele estava tentando equilibrar a lata de cerveja e seu celular enquanto digitava algo ou lia mensagens em sua língua materna. Já fazia bons minutos que ele encarava a tela, o cenho franzido.

— Muitos amigos na Coréia? – a morena perguntou, chamando a atenção dele. O maknae ergueu seus olhos castanhos do aparelho, olhando para ela.

— Aham – respondeu, quase como um “não”. Ele escondeu o celular no bolso. – Savannah, vamos em um último brinquedo?

A americana introduziu seus dedos nos cabelos do mais novo, penteando-os.

— Qual você quer ir? Logo o parque fecha e eu to meio cheia do lanche pra ir em algo radical...

Ele bebeu mais um gole da bebida, pensando. Savannah estava descobrindo aos poucos que Kook ficava de um jeito meio manhoso e tagarela quando estava quase bêbado.

— Vamos na roda gigante, então? – o rosto corado dele denunciava a sua timidez e a ingestão de álcool.

— Mas nós já fomos lá, Kookie...

— Não ficamos na mesma cabine! Por favor, jagiyaaa...

Ela suspirou, mas sorriu. Pegou o último pedaço de algodão doce e jogou o palito no lixo.

— Ok, vamos lá. – então, se virou para o grupo de amigos. – Nós vamos no último brinquedo, nos encontramos no estacionamento em, sei lá, quarenta minutos?

— Último brinquedo, sei. — Big Wolf debochou, rindo exageradamente em sua quinta cerveja.

Savannah franziu a testa para ele.

— Você é tão sujo.

— Vai lá, Sa. A gente se encontra às nove na frente do carro. – Maya abanou a mão para ela, indicando para que não perdesse tempo. O maknae logo segurou os dedos da menina e correu com ela em direção à roda gigante, quase tropeçando em seus próprios pés. Ele gostava do sabor da cerveja, mas normalmente evitava beber muita porque ainda não tinha um organismo muito forte para o álcool – era sempre o primeiro a ficar chapado com poucos copos. Não queria ficar bêbado – esse não era o seu objetivo -, mas pensar em ir embora apenas machucava o seu coração e ocupava sua mente. Pensava que, talvez, além de entrar na onda dos meninos que estavam com ele e se enturmar, poderia direcionar os pensamentos para outro lugar.

As cabines estavam todas iluminadas, assim como o grande sorriso de Jungkook ao observá-las. A última vez que havia andado nesse brinquedo, antes desse dia, fora aos dez anos, com sua mãe e seu irmão mais velho.

— Somos os próximos – Savannah o tirou de seu torpor, puxando o menino para dentro de uma cabine amarela. Ela balançou levemente com o peso das duas pessoas dentro si e Jungkook logo grudou no assento ao lado da janela, ansioso para observar a vista da noite lá de cima.

Ele tagarelava algo sobre o mecanismo do brinquedo, enrolando algumas palavras em inglês e usando termos coreanos quando não sabia dizer o nome de certas peças utilizadas para a construção. Savannah ria, fingindo entender o que ele estava falando enquanto sentia a cabine se erguer lentamente.

Então o menino ficou em silêncio.

A morena o observou encarar a paisagem noturna de fora da enorme janela de vidro. Ele tateou, impulsivamente, pela mão da americana que repousava sobre sua coxa, a apertando contra a sua. O céu já estava em um azul escuro, as luzes se acendendo sob seus pés. Era muito diferente da imagem vista duas horas antes na torre que despencava, mas igualmente bonita.

— Eu vou sentir falta disso.

A voz embargada do menino chamou a atenção de Savannah, que o olhou preocupada, seu coração dolorido no peito com a lembrança de que um dia seu intercâmbio viria a terminar.

— Você não vai embora agora. A gente ainda pode te trazer aqui mais vezes e...-

Jungkook começou a chorar silenciosamente, balançando a cabeça em negação repetidas vezes.

— Não, não, você não ent-tende, eu n-nunca mais vou p-poder voltar aq-qui, Savannah! E e-eu gos-to tanto daqui. Você não gosta t-também?

A americana franziu a testa, preocupada. Seus dedos seguraram o rosto do coreano e passaram a limpar as lágrimas que escorriam pelas bochechas dele.

— Kookie, quando que o seu intercâmbio acaba? – ela perguntou cautelosa, como se conversasse com uma criança, tentando acalmá-lo.

— A-agora, jagi! E-eu vou t-ter que voltar ag-gora, porque eu sou c-cantor na Coré-réia e, pra começar, eu não deveria n-nem ter vindo p-pra cá, porque n-não contei nada pros meus am-migos e fã-ãs, nem pros meus empresá-sários. E-eu to indo e-embora agora, jagi. Você v-vai me p-erdoar? Eu não qu-uero te deixar...

Savannah comprimiu os lábios, tentando evitar que a sua risada saísse. Continuou a limpar as lágrimas do mais novo em sua frente, que tinha o formato de bico em sua boca.

— Definitivamente, a gente não deve te dar bebida. – ela riu baixinho, sem conseguir segurar. Quando o maknae tentou protestar, ela beijou delicadamente seus lábios molhados de lágrimas. – Olha pro lado, Kook. Você tá perdendo o melhor da vista.

Mas ele não olhou, não imediatamente, porque de todas as vistas do mundo, ele queria ver apenas ela.


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Notas finais do capítulo

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