Acordei cedo no dia seguinte, correndo a arrumar as coisas para ir ao show. Não sabia quais eram os planos de John para aquele dia, então não queria correr o risco de me atrasar ou algo assim, por isso já deixei tudo pronto.

Tomei um café da manhã reforçado, já que provavelmente não iríamos almoçar para ficarmos na fila para o show, mesmo com ingressos de área vip. Eu queria, de qualquer forma, ficar o mais perto possível de Larry naquele dia. Coloquei algumas frutas e alguns doces numa bolsa para levar e logo em seguida peguei meu celular, que tinha uma mensagem de John.

“Encontro você no estacionamento, às 11h00.”

Respondi apenas com um positivo e olhei no relógio, faltava pouco mais de uma hora para nos encontrarmos, então fui me arrumar. Coloquei uma calça jeans um pouco mais colada ao corpo e uma regata branca, com um cardigã cinza por cima. Estava um dia fresco, já que estávamos próximos ao começo da primavera.

Saí do dormitório assim que terminei minha maquiagem e fui me encontrar com John, que já me esperava dentro do carro com um sorriso leve nos lábios.

— Tá feliz por quê? - perguntei, sem conseguir conter o sorriso.

— Hmmm, porque a minha amiga sortuda conseguiu dois ingressos para um show incrível que eu queria muito ir, talvez.

Soltei uma risada leve e concordei com a cabeça enquanto colocava o cinto de segurança.

— É, me parece um bom motivo para estar feliz. - Dei de ombros, brincalhona.

Algum tempo depois estávamos no local do show, o The Sinclair. Pelo que eu havia visto, o show estava sendo organizado pela rádio que havia feito o sorteio dos ingressos, poucas pessoas tinham ingressos para ver algo tão intimista que, pelo jeito, há muito tempo o U2 não fazia. John estacionou o carro e logo fomos para a fila que já se formava em frente à casa de show.

Minhas mãos suavam e eu sentia minhas pernas bambas. Aquilo tudo estava sendo tão inesperado, tão louco, que ainda não havia conseguido assimilar. Num dia, sonhava com alguém que eu nem sequer sabia quem era, e no outro, estava esperando para entrar no show de uma banda de 40 anos de carreira, torcendo para que conseguisse ver Larry de perto.

A entrada foi liberada aos poucos. Apenas 10 pessoas por vez, para não haver correria ou empurra-empurra. Respirei fundo, apertando a mão de John enquanto entrávamos na casa. Abri um sorriso largo ao perceber que conseguiríamos ficar próximo ao palco, num local onde teria uma boa visão de Larry.

***

Estava caminhando de um lado para o outro no backstage, nervoso com a possível presença de Lindsay no show. Precisava vê-la de novo, precisava tentar entender o que estava acontecendo. Não é como se estivesse apaixonado por ela, claro que não, nem sequer a conhecia. Mas o fato de ter sonhado com ela por tanto tempo sem saber nada além de um nome realmente mexia comigo.

Vi Bono me encarando do outro lado da sala e suspirei. Ele ainda estava bravo comigo por causa do acidente, culpava-me pela má imprensa que isso poderia trazer sobre nós. Adam se aproximou de mim com um sorriso leve, tentando me passar confiança.

— Larry, se acalma.

— É difícil me manter calmo vendo Bono com aquela cara - resmunguei.

Adam riu, colocando a mão sobre meu ombro.

— Eu nunca te vi nervoso assim por causa de uma garota, Larry.

Dei risada, negando com a cabeça.

— Não estou nervoso por causa dela, Adam. É por causa de toda a situação…

O grisalho riu enquanto se afastava.

— Ok, continue dizendo isso que uma hora vira realidade. - brincou, indo conversar com Bono.

Mordi o lábio inferior, suspirando mais uma vez. Alguém da equipe veio nos avisar que estava na hora. Todas as pessoas já tinham entrado e era nossa vez de subir ao palco. Ajeitei minha camisa pela milésima vez e, então, subi. A primeira pessoa que eu vi quando me posicionei na bateria foi Lindsay e aquilo me fez sorrir de maneira discreta.

Fiquei sabendo, por intermédio de Adam, que a produção havia autorizado que chamássemos alguns fãs, ao final do show, para levá-los ao camarim, para que conhecessem o backstage e era óbvio para todos que eu chamaria Lindsay. Suspirei e logo comecei a tocar The Miracle, enquanto Bono começava a cantar e a andar pelo palco. Eu só queria que o show acabasse logo para poder finalmente conversar com ela e entender aquilo que se passava comigo.

***

O show estava sendo incrível e, então, eu pude entender por que tantas pessoas gostavam dessa banda: eles, simplesmente, arrasavam ao vivo. O álbum deles que eu havia escutado, realmente, era muito bom. Mas ao vivo… Abri um sorriso ao perceber Larry me encarando. Acenei de maneira discreta para ele, sem saber se seria notada, e me peguei suspirando quando ele piscou em minha direção.

Algum tempo depois, Bono começou a cantar uma música que John disse se chamar Mysterious Ways e se aproximou de onde eu estava, estendendo a mão em minha direção, o que me fez segurá-la com um sorriso largo. Em seguida, alguns seguranças me pegaram no colo e me colocaram sobre o palco.

Bono começou a dançar na minha frente enquanto cantava, o que me fez acompanhá-lo, balançando meus quadris no ritmo da música. Olhava para Larry, que estava com a expressão séria, tentando chamar a atenção dele, mas ele não me olhava. Não desviava os olhos assassinos da mão de Bono em minha cintura.

Suspirei, sendo puxada pelo moreno alto em minha frente até onde o guitarrista, Edge, se encontrava. Começamos a dançar os três juntos, enquanto o solo de guitarra ecoava em meus ouvidos. Ele era simplesmente o melhor guitarrista que eu já havia escutado tocar.

Assim que acabou a música, Bono puxou-me pela cintura para um abraço apertado e deu um beijo no canto dos meus lábios, num quase selinho. Olhei para ele com a testa enrugada, sem entender o porquê daquilo. Podia sentir o olhar enfurecido de Larry em minha nuca, mas evitei olhar para ele. Já estava confusa o suficiente.

***

Eu queria matar o Bono. Não acreditava no que estava vendo. Por que raios aquele baixinho metido à besta havia beijado a minha Lindsay? Ok. Ela não era minha, mas todos sabiam o quão interessado nela eu estava. Tá, o Bono não sabia que ela era a Lindsay. O meu lado racional sabia disso e não o culpava, mas o meu lado irracional queria fazê-lo engolir as baquetas que eu estava usando aquela noite. E confesso que eu estava mais propenso a escutar o meu lado irracional.

Respirei fundo quando a música acabou e torci para que o show acabasse logo também. Por sorte, Mysterious era uma das últimas do setlist e logo encerramos a apresentação. Saí da bateria e desci para o backstage sem sequer olhar para trás ou para Lindsay. Só queria socar a cara de Bono e estremeci quando o moreno tocou em meu ombro, para me avisar que deveríamos voltar para chamar os fãs que poderiam conhecer os bastidores e passar um tempo conosco, como havíamos combinado horas antes do show.

— Bono, eu agradeceria se você evitasse encostar em mim - eu disse completamente irritado.

Edge se aproximou ao perceber o quão irritado eu estava. Minhas mãos estavam fechadas em punho e as veias dos meus braços saltavam. A expressão em meu rosto era séria, dura. Eles provavelmente nunca haviam me visto daquela forma.

— Larry, o que houve? - Bono indagou, aparentando realmente estar confuso.

— A mulher que você praticamente agarrou no palco, Bono, era a Lindsay.

Adam negou com a cabeça, tocando meu ombro numa tentativa de me acalmar.

— Larry, ele não sabia. Nenhum de nós sabia. Acalme-se. - aconselhou o grisalho.

Respirei fundo, sabendo que ele estava certo e vendo o olhar de arrependimento e até um pouco de confusão no rosto de Bono.

— Tudo bem. Já passou. - falei após alguns minutos em silêncio, sem desviar meu olhar do moreno.

***

John e eu estávamos conversando em frente ao palco, esperando que algo acontecesse. Um dos técnicos, que descobri se chamar Dallas e provavelmente era o técnico de Edge, havia dito que os quatro ainda teriam uma surpresa e que não era para nós ali da frente deixarmos o local.

Abri um sorriso largo ao ver Larry voltar para o palco e anunciar que cada integrante escolheria um fã da Red Zone, que era onde eu estava graças ao ingresso que ele havia me dado, para conhecer o backstage e passar um tempo com eles. Senti meu corpo arrepiar quando o loiro largou o microfone e veio em minha direção, olhando-me nos olhos sem hesitar. Não era impressão, não era coincidência. Ele sabia que eu estava ali e estava indo me buscar.