50 Tons de Mentiras escrita por Carolina Muniz


Capítulo 28
Capítulo 27




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Mas me diz, você que é mais velha e portanto mais sábia, já ficou preocupada com o pensamento e certeza de que nada na vida é permanente?

 

 

Olaf

 

 

•••

Era, de certa forma, nostálgico o Natal na mansão Grey, a diferença de que agora Ana e Mia não eram mais crianças, não tinham mais que esperar aquela data para ganhar aquela coisa especial. Ainda assim, Ana - sempre seria Ana - se sentou no sofá perto da árvore de Natal quando o relógio marcava cinco para meia noite.

Era uma tradição para eles, os presentes sempre foram entregues depois da meia noite, e não na manhã de Natal como o resto do país fazia, e consequentemente o papai Noel não fazia parte daquela noite. Ana gostava daquele jeito, nunca acreditou naquele tipo de coisa não importava o quanto Grace tentou criar cenários, e isso fez com que Mia não acreditasse também. Bom, era uma decepção a menos no fim das contas. Os pais sempre acham uma magia perfeita fazer os filhos acreditarem em coelhinho da Páscoa, paou Noel, mas eles mesmo não se preocupam com a parte em que os filhos descobrem que essas coisas não são reais.

Ana se sentou na cadeira entre Kate e Elena, decidida a não pensar em mais nada que não fosse aquele jantar de Natal, as pessoas importantes em sua vida estavam naquela mesa, e com um baque necessário e um pouco dramático, ela não tinha muitas chances para o próximo ano.

Meio morbido, mas era a realidade que ela adquiriu para si.

Além da família Grey e família Lincoln, o noivo de Mia e seus pais estavam ali, também os pais de Grace e a irmã de Carrick com sua filhinha Sarah.

A mulher parecia que havia acabado de se divorciar, um assunto proibido, como Grace e Carrick haviam ordenado antes de sua chegada.

Em algum momento, Ana estava remexendo o prato ainda cheio com o garfo, havia comido duas garfadas e bebido dois copos inteiros de suco de laranja - restrição ao vinho, onde Grace ao menos colocou uma taça vazia a sua frente - e já não estava com fome, sentia o olhar de Christian sobre si, mesmo que seu pai lhe dirigisse a palavra, ela o encarou também. Quase todos já havia terminado, apenas conversavam amenidades antes da sobremesa, e o clima no ar estava agradável.

— Eu ainda não acredito no quanto você está mudada, Ana - Sofia, irmã de Carrick, falou, fazendo os outros pararem de falar por um instante.

Ana sempre foi muito faladeira, ela falava sobre tudo a qualquer momento, tinha opiniões formadas e encaravam qualquer um. Isso era antes, claro, quando não tinha uma bagagem completa emocionalmente e nenhum risco primordial de vida. A verdade é que, depois de um tempo, Ana não tinha muito o que falar, não tinha motivações em ter a necessidade de declarar suas opiniões pessoais, ela deixava como estava, ela respondia o que lhe perguntavam sem a menor intensão de continuar a conversa. Aquilo continuou, até mesmo a família, ali, não se importava muito em o tempo inteiro integrar Ana nas conversas, a desculpa de ela estava cansada, era ótima, e nem era  a própria Ana quem dava.

— Espero que seja algo bom - ela falou num tom baixo, naquele silêncio repentino, todos escutaram.

Com um pigarreio de Mia, a morena percebeu que ainda encarava Christian, e o mesmo devolvia seu olhar.

— Ah - Sofia murmurou. - Não sabia que estavam juntos - comentou, bebericando sua taça de vinho.

Ana a mirou. Primeiro pensamento: queria a taça de vinho dela. Segundo: what?

— Você dois combinam - continuou a mulher engolindo em seco, como se para dar enfase num precioso "mas". - Mas, ele é um pouco mais velho para você, bom, acho que seus pais não se importam pelo fato de se conhecerem desde crianças, não é?

Sofia era conhecida por um pouco "enxerida que fala demais". Mia e Ana sofriam um pouco com a mulher quando começaram a adolescência, ela as deixavam constrangidas na mesa do jantar quando começava a falar em namoros e como as meninas nao deveriam pensar naquelas coisas. Ana achou que poderia aliviar com o divórcio da mulher, talvez ela se fechasse um pouco na hora de comentar a vida alheia, mas...

— Mesmo assim, você ainda é muito nova para pensar casamento, enquanto Christian já deveria estar encaminhado.

Ana suspirou.

— Ah, meu Deus, Soph, você acha que Ana e Christian estão juntos? Que ideia mais estranha, eles são como irmãos, foram criados assim - Carrick interveio.

Ana fincou o garfo no pedaço de pernil e o colocou na boca, mastigando bem devagar.

Irmãos...

Ela amava Elliot, ele implicava com ela o tempo e tal, mas mesmo assim ela nunca pensou nele como um irmao mais velho. Imagina Christian!

Seu estômago embrulhou e ela encarou o outro.

Christian pegou a própria taça e tomou o restante do vinho, não conseguindo segurar o sorriso em debochar da expressão de Ana.

— Irmãos? Com esses olhares, eu já estava pretentendo ter Sarah - a mulher atacou novamente e Ana se engasgou.

— Ana, meu Deus - Mia se assustou, enquanto Elena tocou suas costas, segurando uma de suas mãos em imediato.

Okay, não era para tanto também, ela só havia se engasgado. Mas não, a mesa inteira parou num silêncio profundo como se ela estivesse sangrando a pompa no jantar.

— Eu estou bem - falou ela, retirando sua mão da de Elena e inspirando o ar, mirando o desenho bonito e perfeitamente desenhado da mesa de madeira maciça.

— Ah, sim, eu fiquei sabendo, querida - Sophia voltou a falar, o tom que Ana descobriu que odiava, mas que estava escutando muito ultimamente: pena. - Você é tão novinha.

Grace e Carrick haviam advertido sobre o assunto do divórcio porque seria indelicado, Ana queria dizer que tambem era indelicado falar sobre ela.

— Estou bem - sussurrou apenas para a mulher.

— É claro que está - a outra murmurou, no mesmo tom que devia falar com sua filha de sete anos. - Estarei orando por você.

— Se eu fosse crente, oraria pela senhora - respondeu Ana.

— Eu faço isso, meu amor, não se preocupe tanto.

— Puxa, se a senhora ora por si e ta' nessa, imagina o que vai acontecer comigo! - ironizou Ana.

— Hã, vamos falar sobre meu casamento? Já que estamos todos aqui, é alguns meses, e nem todos ensaiaram ainda, não é, Vovó e vovô? - Mia interveio enquanto Grace fez um sinal para o mordomo trazer as sobremesas e retirarem a louça do jantar.

Ana se recostou na cadeira e mirou Mia, sorrindo com seus dentes perfeitos.

— Vamos falar sobre o que eu não posso ter no meu casamento - ela falou.

Mia riu.

— Amiga, eu vou fazer seu casamento, não se preocupe, não vamos ter coisas igua-Hey, vai ser como se eu me casasse duas vezes! - a garota exclamou animada.

— Sortudo vai ser o meu marido - Ana rebateu.

Kate balançou a cabeça, sorrindo mínimo, claramente com ciúmes.

— É tão bom Mia se casando, é o momento certo - Sophia falou.

— Sim, Mia e Ethan são realmente apaixonados - Grace comentou.

Ana sorriu num pedido de desculpas para a empregada que retirava seu prato ainda cheio, que retribuiu com o sorriso sincero para a mesma.

— E é a idade perfeita, eu me casei com vinte e um - Sophia declarou.

Ana inclinou a cabeça, e Kate segurou sua mão num gesto de "se controle", sabendo bem o que ela havia percebido.

— Ue, por que eu com vinte e dois sou nova para casar, e você com vinte e um não era? - questionou a garota, não conseguindo "se controlar".

Kate bufou baixinho, soltando a não de Ana e desistindo da morena.

— Ah, não é bem a idade, é talvez, como...

— Mia e Ethan estão completamente apaixonados, e sobre encontrar o amor de sua vida... - dessa vez foi Grace quem tentou contornar.

— Talvez eu e Christian estejamos apaixonados, ele pode ser o amor da minha vida - Ana rebateu, virando-se completamente para Sophia.

Era um claro momento de clareza ali, de repente cada pessoa daquela mesa percebeu o real motivo e intenções de Sofia, não era idade, não era amor, era tempo. Sofia tinha Christian como o exemplo de homem perfeito, sem contar na infância também totalmente prodígio dele, ele sempre fora o orgulho que ela se gabava em dizer para todos. Deus o livre que ele se casasse com uma garota doente que pode morrer em alguns meses.

Desde sempre Christian fora o "garoto perfeito" da família, ele tinha um futuro incrivel, e realmente já tem aquela vida que todos sabiam que ele teria, agora a cobrança era apenas uma esposa, e teria que ser a "esposa perfeita", alguém que chegasse a seus pés.

Ana não queria pensar  na vida da mulher que seria sua esposa.

— É uma coisa de vocês, eu não tenho que dar opinião alguma - Sophia teve a decência de dizer apenas, antes de sobremesa começar a ser servida.

Agora você entende - ela começou, mas teve Elena  passando uma das mãos por seu cabelo, num pedido claro de "está passando dos limites".

Ana entendia como era Grace e Elena, elas teriam uma longa e dolorosa conversa com Sophia dali algum tempinho, falariam boas verdades para a mulher e com muita classe diria o quanto era perfeita. Mas o negócio era que a garota não era mais uma criança, ela não tinha que se calar e esperar sua mãe defende-la. Sua mãe não a defende ha muito tempo para ela sequer se lembrar de como era a sensação.

Mas ainda assim, era Natal, uma data importante com pessoas importantes - talvez não tão importantes assim, mas...

— Eu não estou a fim da sobremesa, com licença - pediu Ana antes de se levantar e se retirar da sala de jantar.

A morena caminhou para a sala de estar, onde a árvore de Natal estava rodeada de presentes, e se sentou no sofá de dois lugares ao lado dela. Havia alguns natais que Ana não tinha árvore, ela não se importava e nem tinha gente suficiente para isso, seu pai sempre estava ocupado e ela só tinha alguma empregada junto, então ela só arrumava alguma festa para ir ou passava a noite toda estudando, mesmo depois que Kate se juntou a ela, a loira não era fã, não era a coisa delas aquele lance todo de Natal.

Mas estando ali, olhando os presentes tão embrulhados, torcendo para que os mairores sejam seus e que se forem os pequenos que sejam joias, ela percebe que aquilo também foi tirado dela. Vira e mexe, em alguns momentos dos dias que Ana vivia desde que voltou a Seattle, ela percebe coisas que não havia sentido antes, tem aqueles loops de memória em que é atingida com o que perdeu, o que fora tirado a força dela. Ela tinha natais perfeitos, ansiava ir para a escola, ia a shows de boy band com Mia, falava sobre garotos durante uma festa no pijama. Aquelas coisas tão simples e banais que compunhavam a sua vida e fazia Ana ser Ana, fora brutalmente arrancado dela.

A garota se recostou no estofado e fechou os olhos, um segundo depois sentindo o calor de um corpo ao seu lado. Era estranho, mas ela reconheceu Christian apenas pelo cheio do seu perfume.

— Vocês apostaram para ver quem viria atrás de mim ou...? - ela questionou ainda de olhos fechados.

— Brigamos para ver quem ganharia pra vir atrás de você? -  ele terminou num tom divertido. - Bom, eu ganhei passe livre depois de não ter ido te visitar no hospital.

Ana  bufou baixinho e abriu os olhos, encarando Christian em seguida, com seus olhos estupidamente azuis elétricos, o que deixava o outro em transe mesmo que ela não percebesse.

Christian franziu o cenho, não perdendo muito tempo com o encanto que era os olhos brilhantes de Ana quando os mesmos estavam cheios d'água.

— Você sabe que ela nao tem razão - ele disse.

Ana sorriu sincera, inspirando o ar profundamente para controlar o nó na garganta que só então percebeu que tinha.

— Eu não ligo para a opinião dela - falou com dificuldade.

Ironicamente Ana tinha uma autoestima da porra em considerar a opinião dos outros sobre si, o problema mesmo era a opinião dela mesma.

— Nem na parte em que "combinamos"? - ele questionou baixinho.

Ana balançou a cabeça e riu.

— Somos totalmente o contrário um do outro - falou sem hesitar. - E nem vem com essa de os opostos se atraem - disse quando o mesmo abriu a boca.

O outro riu.

— Tem razão, você é boa demais para mim - ele murmurou.

— Christian, eu acho que não exista uma mulher boa o suficiente para você - a morena declarou de forma sincera, o que o outro apenas ficou muito surpreso. - Mas também não existe um homem bom o suficiente para mim.

— Combinamos em alguma coisa, então - ele brincou, tentando acalmar o clima tensionado que ficou com a decoração de Ana.

Ana inclinou a cabeça.

— Talvez o meu marido ainda não tenha nascido. Olha você e Elena...

Christian gemeu em desgosto.

— Pelo menos você me elogiou antes de falar da sua mãe dessa vez - ele rebateu, revirando os olhos.

— Ela não é minha mãe - Ana apenas disse.

Christian a encarou.

— E o transplante?

Uau, mudança drástica de assunto.

Ana franziu o cenho e se endireitou no sofá.

— Nada compatível 100%. Sete bilhões de pessoas no mundo, e aparentemente nenhuma é compatível comigo.

— Não foram feitos testes em sete bilhões de pessoas - ele retrucou.

— Mais de duzentos bancos de hospitais, e ninguém, ninguém mesmo, é ao menos 90% compatível.

— Mesmo se fosse, não poderia.

— É arriscado, mas o doutros acha que é mais arriscado esperar. Ele está limitando as buscas, disse que se houver alguém compatível com uma amostra de DNA que seja, eu deveria fazer o transplante.

— Mas isso não é perigoso?

— Perdi muito sangue, eles tiveram que injetar tanta coisa em mim, que se eu tivesse reação, nem saberiam a que seria. Passaram mais de vinte minutos para conseguir estancar, tem mais sangue de outra pessoa em mim nesse momento do que o meu próprio - ela declarou.

Christian passou a mão pelo cabelo, não querendo aparentar estar nervoso, mas seu coração apertou de repente.

— E se não conseguir?

Ana deu de ombros, não respondendo.

— Como consegue ficar tão calma? - ele questionou, sentindo seu cérebro pirar um pouco.

A morena sorriu sem humor.

— Eu fiz isso comigo, Christian, já da para ter uma ideia, né?

— Você entende que pode morrer, não é?

— Você entende que eu preciso de algo que talvez não tenha tempo de ter? - ela vociferou num tom baixo e então deu de ombros. - Nem sei se eu quero... - falou mais baixo ainda, mas Christian estava perto demais para não ouvir.

— Ana, é claro que você quer - ele insistiu, pegando uma de suas mãos e segurando entre as próprios num ato inconsciente.

Ana mordeu o lábio inferior e mira sua mão junto da de Christian. Odiou o pensamento clichê de que elas se encaixavam bem, a pele dele em contraste com a dela era meio gritante com o fato de a garota estar complementa pálida e opaca, tão magra que suas veias era visíveis e azuis, mas era bonito, de uma forma mórbida, mas muito bonito. O coração de Ana aqueceu com a possibilidade de combinação ali, mas então o gelo começou a crescer quando seus olhos esbarraram na cicatriz agora pequena em seu punho.

Ela puxou sua mão de volta e cobriu a cicatriz com a outra mao. Christian não deixou de reparar, desviando o olhar para o dela.

— Eu nunca quis te magoar - ele sussurrou sincero.

Ana era uma coisa que ele nunca iria superar. Ela era um estopim em sua vida de tudo o que ele já havia feito de errado, mas ao mesmo era a melhor parte, era o que motivava ele a ser o melhor possível em todos os aspectos. E ele tinha aquele encantamento com ela, com tudo nela. Era difícil se afastar, se manter são...

— Tem noção de quantas vezes eu já escutei isso? - ela falou para a surpresa dele. - Quantas vezes já escutei alguém me dizendo que não queria me magoar, que não queria me machucar... eu mesma já disse isso para mim, um monte de vezes. Não é importante, em todo caso. É vazio dizer a alguém, porque eu dizia para mim logo depois de vomitar todo o almoço, depois de forçar e forçar, depois de jogar as vitaminas na pia do banheiro... Não é real esse tipo de coisa - Ana fincou de repente, sentindo os olhos embaçarem com a droga das lágrimas voltando a inundar seus olhos. - Se você não quer magoar alguém, você apenas não faz. Por que não são erros que fazem você machucar alguém, são escolhas. Talvez você ache que suas escolhas tenham sido boas na hora, mas nós sempre sabemos as consequências das nossas escolhas. Você sempre soube de tudo o que estava em jogo, sempre soube que Elena era casada, sabia de mim... porra, você sabia o que eu sentia, eu tinha treze anos, não era muito boa em esconder as coisas... - ela engoliu em seco, e fungou novamente. - Nao pode dizer que nao quis me magoar, porque voce sabia que iria fazer isso. E está tudo bem para mim, foi uma escolha ruim, e as pessoas fazem isso o tempo todo. Eu perdoo voce. Também tenho minha cota de escolhas ruins...

Ela mordeu novamente o lábio inferior quando sentiu uma gota salgada tocando-o. Não havia nó na garganta, não havia aperto no peito, nem mesmo suas mãos tremiam ou o mundo girava. Ana sempre achou, que depois de tanto tempo sem chorar, sem uma única lágrima, quando enfim transbordasse seria um estouro, seria um maremoto e talvez estivesse sozinha, talvez com Kate, mas ela preferia sozinha, ela preferia inundar sua vida e seu quarto - seja lá onde fosse na vez - com ela mesma, porque seria um desastre, catastrófico. Mas não fora. Não foi assim. Quando a primeira lágrima  desceu foi tão silencioso que ela só percebeu que estava chorando quando sentiu o gosto da gota, e não era amargo, nem doce, era apenas salgado, como ela não lembrava que era uma lágrima.

E então outra desceu. E mais uma. Ela sentiu seu rosto esquentar com elas, sentiu seu nariz entupir de repente. E então, era isso: ela estava chorando. E, puta merda, ela estava chorando na frente de Christian Grey.

Foram apenas alguns minutos, mas era como se anos tivessem ficado suspensos no ar, como se um mundo inteiro tivesse se refeito. Ana limpou o rosto com as costas da mão de forma desajeitada enquanto Christian foi mais gentil em capturar suas lágrimas com o polegar. Num silêncio absoluto, era uma certeza de como aquelas lágrimas eram preciosas. Ana não chorou até inundar uma cidade inteira como alguém fez com Atlântida há muito tempo, e nada ressurgiu de repente também, era apenas Ana. Ela e seus constantes problemas que uma garota da sua idade não deveria ter.

A garota respirou fundo e suspirou pesado, deixando Christian agora segurar uma de suas mãos.

Involuntariamente ela inclinou a cabeça até encostar a testa no peito de Christian, fechando os olhos ainda molhados e inspirando o cheio bom que vinha dele.

Há algum tempo Ana parou de ficar remoendo sobre como é errado e tudo mais sequer estar perto do Grey. O negócio é que ela estava tão cansada de ter que ficar se afastando dele, convencendo a si mesma de que está bem e que ele não mexe com ela...

Ele tocou em seu cabelo, acariciando gentilmente e então aproximou a boca nos fios castanhos, deixando um beijo singelo ao tocar os lábios, sentindo o cheio do shampoo de bebê que Ana sempre usava, achando graça daquilo.

Até que eles ouviram as cadeiras na sala de jantar, a família estava se aproximando.

Ana se afastou, mais uma vez passando a mão pelo rosto e se endireitando no sofá.

— Vem. Se quer disfarçar que estava chorando, precisa lavar o rosto - Christian se levantou, puxando-a pela mão.

A morena se deixou ir enquanto ele a guiava pelo corredor contrário a sala de jantar, parando na frente de um dos banheiros de visita, abrindo a porta para a mesma. Ana se surpreendeu quando o outro simplesmente entrou com ela e fechou a porta atrás de si, logo parando recostado no mármore bonito e polido da pia.

Ana se encarou no espelho, arregalando os olhos em seguida.

Seu rosto pálido estava vermelho nas bochechas e embaixo dos olhos, sua boca parecia ter sido bastante beijada e seus olhos estavam mais azuis do que o normal - o que secretamente enlouquecida Christian.

A blusa que vestia deixava a mostra suas omoplatas e seu pescoço completamente, larga como a maioria ficava, destacando a pele branca e as manchinhas arrocheadas quase azuis. Ainda assim, não deixava de ser bonita, mesmo Ana não podia negar aquilo.

Christian se virou para ela, as mãos molhadas da água que saía da bica que ela nem havia percebido que ele abrira, levando-as direto para seu rosto, fazendo a menina fechar os olhos imediatamente.

— Christian! - protestou ela quando o mesmo começou a secar com uma toalha macia e quentinha. - Eu não sou criança - ralhou, mas nao se atreveu a levantar as mãos para afasta-lo, o que fez o mesmo rir.

— Você precisa de cuidados - ele murmurou baixinho.

Ana revirou os olhos quando o mesmo finalmente afastou a toalha. A garota mirou o espelho novamente, não tinha muito o que fazer, seu rosto apenas voltou a ser pálido demais, se bem que suas bochechas tinham um pouco de cor agora.

— Preciso ficar mais apresentável - ela sussurrou.

— Precisa mesmo - o outro falou num tom divertido.

Ela bateu de leve em sua barriga numa repreensão, ele segurou sua mão antes dela puxar de volta e a segurou contra si, fazendo o corpo da garota ir para frente, rescostando no seu.

Ana desviou os olhos dos dele no mesmo segundo, mirando a camisa vermelha que ele usava, não conseguindo disfarçar enquanto escabarrava no pedaço de pele exposto entre o V que o tecido formava.

Droga, Christian era tão bonito que as vezes Ana achava que era sua imaginação que via tanta coisa.

— É melhor descermos... - foi Christian quem falou, soltando sua mão de repente, mas nada brusco.

Ana mordeu o lábio inferior, indecisa, mas então olhou para cima, encontro as íris cinzentas de Christian, e sem hesitar ficou na ponta dos pés para tocar os lábios nos dele.

Aquela sensação.

Aquela sensação de que o mundo está parado, está esperando, que o tempo não está passando e você não tem que ter pressa para nada. Aquela sensação que Ana estava procurando, estava desesperada para sentir quando o peso do mundo desceu em seus ombros.

Christian dava aquilo para ela. Ele não dava a importância desesperada que todos davam para sua doença, ele a escutava, tentava entender e escutava de novo, ele devolvia as brincadeiras e não a julgava por rir daquilo. Ele não colocava mais peso no mundo.

Não era como se ela quisesse fugir, era só respirar. Respirar por alguns segundos no tempo com aquela sensação de que está tudo congelado ao redor e só eles dois existiam. E, para Ana, estava tudo bem Christian existir em seu mundo, ele já fazia parte dele há tanto tempo que ela não conseguia imaginar algo diferente.

E, sabe, ela nao é Atlas, não tinha como segurar o peso do mundo daquele jeito por tempo indeterminado, ela iria precisar soltar um pouquinho de vez em quando, deixar de lado. E se o jeito que encontrou fosse beijando Christian, ela faria esse sacrifício por si mesma.

Apesar de leve e calmo, tudo com ele era intenso, desde as mãos dele entrando por sua blusa e tocando a pele de sua cintura por debaixo do tecido até a forma que ele movia os lábios contra os dela.

Ela deixou ser completamente comandada, sem necessidade alguma de querer dominar, deixando Christian beija-la, tocar em sua pele nua, empurra-la contra a parede ao lado da porta.

Ana ofegou, precisando muito respirar de repente quando ele a apertou com força suficiente para deixar a marca dos digitais em sua cintura, o corpo pressionado contra o dela e os lábios colados aos seus, misturando os ares.

Nossa.

Da primeira vez que se beijaram fora um tanto quanto perfeito, mesmo que Ana lembrasse daquele dia de outra forma, aquele beijo ficou na memória. Ela também sentiu como se o mundo não existisse naquele momento, sentiu as drogas das borboletas no estômago, e entao no lago também, quando Chrsitian segurou em seu rosto como se ela pudesse quebrar a qualquer momento.

Aquele beijo não, aquele beijo estava sendo muito diferente, de um modo que Ana não sabia que Christian poderia ser.

Ele adentrou a língua em sua boca e moveu uma das mãos para sua nuca, os dedos emaranhando em seu cabelo ainda preso por um coque que já se soltava, fazendo a cabeça de Ana inclinar para cima, lhe dando total espaço para explorar. Ana seguiu seus movimentos, tocando em seus cabelos, tentando não se perder na sensação do corpo do outro tão pressionado ao seu, tocando todos os centímetros, e ainda a mão de Christian subindo e descendo em sua cintura por baixo da blusa, agora totalmente carinhoso, como se lembrasse que a morena era quebravel.

Ana teve de virar o rosto quando o ar faltou novamente, dando total acesso ao seu pescoço, que Christian tambem ofegante, não hesitou em deslizar os lábios. Ana passou a mão por seu peito, sentindo o corpo dele reverberar enquanto tocava de leve o caminho, até chegar em sua cintura e agarrar a barra da camisa dele entre os dedos quando o mesmo sugou um lugar específico em seu pescoço, a outra mão agora baixando o tecido de sua blusa para expor mais ainda sua pele, os lábios tocando cada centímetro. Ana gemeu baixinho e num suspiro, o peito subindo e descendo forte, os dedos ainda amassando a camisa de Christian, até que ele voltou os lábios para os seus, beijando-a novamente, como se não conseguisse ficar longe por muito tempo. Ana retribuiu com a mesma vontade, enquanto ele tocava a pele de suas costas, levantando a blusa, trazendo seu corpo para mais perto, como se quisesse fundir os corpos.

Ana não imaginava que apenas beijar alguém podia ser excitante, podia ser bom. Para ela sempre foi uma preliminar para sexo. Na verdade, ela nunca gostou muito de beijar, alguns caras realmente não era bons naquilo, alguns não sabiam beijar e tocar ao mesmo tempo, ou então quando começar a tocar. Era complicado a linha de raciocínio quando se está com a língua na boca de outra pessoa, Ana entendeu bem naquele momento, porque tudo o que ela conseguia fazer era seguir os lábios dele, a mente totalmente vazia para qualquer outra coisa, suas mãos ganhando vida própria bem longe de seu cérebro.

Eles desceu os lábios novamente, passando por seu queixo, arranhando com os dentes e mordendo de leve, até a lateral do pescoço, voltando a beijar o espaço de suas omoplatas, seu ombro, voltando o caminho novamente para o pescoço. Ana recostou a cabeça contra a parede, apenas sentindo a sensação de êxtase que se espalhava por seu corpo, a forma perfeita que as mãos dele a tocavam...

— O quarto que ela está aqui - a voz de Elliot se fez audível no corredor do outro lado da porta.

Ana tocou o peito de Christian num gesto para pedir que ele parasse e o mesmo se afastou um centímetro.

— Agora temos que descer mesmo - a morena falou, mesmo que não tenha se afastado ainda.

Christian sorriu para aquilo, apertou sua cintura mais uma vez e beijou sua bochecha antes de se afastar por completo da garota.

Ana respirou fundo e se encarou no espelho. Agora seu rosto estava vermelho por outro motivo.

Ela preferia aquele motivo, claro.

Alisou o shorts branco que usava enquanto Christian tentava desamaçar a blusa que Ana havia "destruído", a garota endireitou a própria blusa e se preparou para amarrar novamente o cabelo, mas... totalmente destuada de qualquer outra manchinha roxa, havia duas enormes e vermelhas em seu pescoço e um pouco mais abaixo. Seus olhos se arregalaram ao confirmar as marcas com a ponta dos dedo. A blusa não tampava aquela parte, e ela mexia no cabelo o tempo todo, não havia como esconder.

— Christian - gemeu em desgosto ao mostrar para o outro.

O mesmo abriu a boca e então a fechou, apenas rindo em seguida, enquanto perto, podendo acariciar o queixo da garota num pedido silencioso de desculpa.

Ana revirou os olhos e balançou a cabeça, sentindo o coração parar um pouquinho com o toque sereno enquanto soltava o cabelo e o arrumava em cima dos seios.

— Como vou esconder isso? - falou num tom baixo quando com uma mexida da cabeça, uma das marcas já não estava escondida pelo cabelo.

Christian bufou, e a puxou pela mão em direção à porta.

— O que você... - sua fala parou no caminho quando se depararam na parede da frente no corredor com Elliot e Kate.

Os dois pareciam bem envolvidos nos lábios um do outro, tanto que ao menos perceberam a porta do banheiro sendo aberta.

Ana levantou uma das sobrancelhas, e inclinou a cabeça.

Nunca vira Kate daquele jeito, a garota estava sempre sendo reservada e politicamente correta, nada de beijos no primeiro encontro, nada de maos bobas em lugares públicos. Sem contar que Elliot com certeza não fazia o tipo da loira. Então era uma grande surpresa ver a garota toda atracada a Elliot Grey.

Christian pigarreou para chamar atenção enquanto Ana permanecia paralisada com a cena dos dois, que logo se viraram. Kate de repente parecia ter engolido um tomate que explodiu do lado de dentro e Elliot apenas deu um sorriso ridículo, passando a mão no cabelo.

— Ai, Deus - a loira sussurrou, encarando o chão.

— Viemos procurar vocês - Elliot esclareceu, tomando postura ao lado de Kate.

— Eca, eu não estaria na sua boca - Ana implicou com Elliot.

— Gatinha, foi mal, só tenho olhos para outra garota agora, você já teve sua chance - o outro falou.

Kate ficou mais vermelha, Ana sorriu e Christian olhou boquiaberto para o irmão.

Ele havia levado um sermão do outro por conta da Ana, mas tudo bem o loiro beijar a melhor amiga dela!?

— Se bem que pelo visto você também está beeeem em outra. O que é isso? Vocês são selvagens! - Elliot falou enquanto se aproximava totalmente de Ana, logo tocando seu pescoço.

Christian revirou os olhos, Kate arregalou os olhos e Ana apenas os desviou, batendo na mão do Grey mais velho.

—  Não encosta na mercadoria - ela reclamou.

Elliot riu.

— Só o magnata pode - ironizou o outro.

Ana bufou antes de cruzar os braços, soltando a mão de Christian devagar.

— Eu vou pegar um casaco - falou. - Kate, você quer ir comigo? - perguntou sugestivamente.

A loira engoliu em seco e balançou a cabeça numa afirmativa, e entao franziu o cenho.

— Você não trouxe casaco - falou num tom baixo.

Ana bateu o pé no chão numa mania irritante. Ela não estava com frio, mas precisava cobrir aquele pescoço.

— É quase meia noite, nós precisamos descer... - Christian começou, mas foi interrompido por um puxão de Ana em seu braço.

— Me dá um casaco - falou ela.

— Mas vai ficar enorme em voc...

— Não importa contanto que esconda isso, eu com certeza não quero a sua tia me fazendo mais perguntas idiotas e a sua mãe imaginando coisas - falou tudo de uma vez.

— Okay, nós esperamos lá embaixo, vamos dizer que já estão descendo, só falta cinco minutos, sejam rápidos - Elliot disse, em seguida empurrando Kate seguindo pelo corredor.

Ana mordeu o lábio inferior enquanto mirava os dois, Elliot levando sua amiga embora, a loira que só ficava com ela, a melhor amiga que já teve... ele estava lhe roubando.

Tinha que ser o Lelliot!

Ana mal percebeu que já estava no quarto de Christian, enquanto ele procurava alguma coisa para ela, seu mal humor fazendo jus de repente sem nem um motivo plausível.

— Aqui - o outro lhe estendeu um casaco preto de lã, o qual ela sabia que ele com certeza nunca havia usado. - Foi minha vó - ele explicou quando Ana abriu um sorriso irônico.

— Que fofo - foi sarcástica.

Christian revirou os olhos e a empurrou de leve para fora do quarto enquanto a mesma colocava o casaco.

— Vamos, ou a minha mãe vai vir atrás de nós - falou ele.

Ana riu baixinho.

Seu mal humor esquecido.

Ela estava tão estável ultimamente. Com certeza era aqueles malditos remédios. Ela precisava parar de toma-los.

— Antes de descermos, eu preciso de te dizer uma coisa - a garota parou no meio do corredor quando Christian interrompeu seu monólogo interno.

— Se abrir a boca para falar sobre erros e essas coisas, eu juro que conto para a vovó Grey que você odeia os presentes que ela te dá e...

— Okay, cala a boca um segundo - Christian cobriu sua boca com a mão para interromper a morena e apenas se aproximou, tocando a outra mão em sua cintura.

— Não me manda calar a boca - ela ralhou quando o mesmo usou a mão que estava em seus lábios para tirar seu cabelo dos olhos.

— Você é tão difícil - ele falou num tom baixo e cadenciado, mais como se dissesse "Você é tão linda" do que realmente "difícil".

Foi ridículo, porque o coração de Ana disparou.

Ela odiava aquele negócio. Suspirou e apoiou a testa no peito dele.

Realmente desistido de tudo, então que mal tinha continuar perto?

— Eu só quero dizer que...

O toque do celular foi audível para os dois, fazendo Ana se afastar alguns centímetros para que Christian pudesse pegar o aparelho.

Quem estava ligando quando era quase noite de Natal?

Bom, não era da conta dela, então a garota apenas se afastou mais, ficando totalmente distante da ligação que Christian atendeu com o cenho franzido.

— Me desculpe pelo horário, senhor Grey, mas havia dito que eu poderia ligar a qualquer momento de qualquer dia.

Era Welch, seu acessor de segurança.

— Tudo bem, Wesh, fala - Christian o apressou.

Ana cruzou os braços um pouco impaciente de repente, e o Grey apenas a encarou, prestando atenção na outra linha.

— Encontramos - Welch falou, o tom ao menos contendo a animacao. - Encontramos a Carla Steele, o problema principal é que ela agora se chama Carla Adams.

— Você tem certeza de que é ela? - Christian questionou, afastando-se inconscientemente de Ana. - Tem todas as características?

— Sim, sim. Eu tenho certeza. Vamos fazer exame de DNA, mas é certo. A idade, a fisionomia, e ela reside em Seattle, tem uma clínica...

— Tudo bem, tudo bem, Welch, entendi. Mas agora eu tenho mesmo que ir, eu te ligo assim que der, quero um relatório na minha mesa, na sexta - Christian falou.

— Tudo bem, chefe, já estarei fazendo. Feliz Natal.

Christian encerrou a ligação e se virou para Ana, mas a garota já estava no fim da escada, pisando duro nos degraus, claramente irritada.

Mas não era como se ele fosse se importar muito naquele momento, tinha uma bomba relogio nas maos e precisava saber o momento certo de solta-la.

O Grey suspirou alto e seguiu pelas escadas para a sala, onde toda família já estava reunida num sonoro feliz Natal um para o outro, cheio de abraços e felicidade eterna.

Então era Natal, quase o momento de presentes e tudo mais que Ana sempre amou naquela data. Mas era claro que alguma coisa toda hora tinha que dar errado.

Hora do remédio, como uma criancinha Ana havia ido ate a cozinha e apenas bebido um copo inteiro de água.

— Não é só água - Elena falou assim que viu a garota.

A loira havia a seguido para desejar um feliz Natal, não fora nem mesmo na intensão de vigia-la. Mas Ana não pensava daquela forma.

A morena revirou os olhos e se virou.

— Esse me deixa com sono, e eu quero abrir meus presentes - falou a garota.

Elena suspirou e se aproximou, fazendo Ana dar um passo para tras e recostar totalemente na pia.

— Eu só quero dizer "feliz natal" -  explicou a loira, parando em sua frente.

Ana levantou uma das sobrancelhas.

— Por que? - questionou.

Elena inclinou a cabeça numa paciência que nunca teve antes.

— Porque é Natal e você é minha minha família - respondeu.

Ana não se abalou, apenas deu de ombros e permitiu que a loira lhe desse um abraço um pouco estranho, porque a morena nao sentiu nenhuma vontade de corresponder.

— Eu sei que é novidade, mas eu estou feliz que esteja aqui  -Elena falou.

Ana cruzou os braços, num sinal claro que queria espaço pessoal, e Elena apenas se afastou, logo saindo da cozinha.

A morena não teve tempo de respirar e processar aquele momento pois seus olhos logo de desviaram para a figura de Kate parada na outra porta, encarando-a numa expressao triste.

Na verdade em alguns minutos muita coisa tava acontecendo e ela não estava conseguindo processar.

— Kate, o que houve? - questionou, se aproximando.

A loira levantou uma das mãos num gesto de "dane -se o mundo" e olhou com raiva para a morena.

— Po que, Ana? Por que você não pode simplesmente tomar os remédios, se esforçar para comer e esperar super desesperada com a gente um milagre acontecer e alguem ser completamente compatível com você?

Ana relaxou, entendendo a amiga.

— Amig-

— Ah, para - a outra interrompeu. - Voce me chama de amiga, me faz a droga de uma promessa que ao menos se esforça para cumprir e ainda vem com esse tom de "voce está exagerando". Eu só quero saber por que, sério, eu nao entendo.

A morena continuou encarando Kate, não sabendo como responder,  porque ela ao menos sabia. Entende? Ela também não sabia.

— Eu não sei... - Ana respondeu sincera. - Eu realmente não sei. Desculpe.

Kate engoliu em seco e desviou o olhar, a visão embaçada por todas as lágrimas cobrindo.

— É tão idiota que eu me sinto a pessoa mais burra do mundo por ter feito isso comigo... e às vezes, tudo se torna tão difícil, tão insuportável que eu começo a pensar que não vale a pena tentar, eu quero que pare de repente, mas nao vai ser assim, então eu só quero desistir. Me desculpe, não é justo com você, eu sei. Eu prometi que ia ficar bem e eu não quero quebrar a minha promessa. Eu estou tentando, eu juro. Mas eu...

Kate deixou as lágrimas milharem seu rosto, enquanto as de Ana já manchavam a blusa azul, fazendo tudo se tornar intenso demais para suportarem.

Mas era preciso.

— Não tem que se sentir assim - Kate murmurou, segurando suas mãos.

Ana riu sem humor, limpando embaixo dos olhos com a ponta dos dedos.

— Não é como se eu conseguisse parar. Eu tenho vinte e um anos, eu não deveria me sentir assim, e eu nao quero, mas eu me sinto. Alguns dias mais do que nos outros - confessou a morena. - É tão ferrado o jeito que a minha própria família age comigo, eu sei que não é culpa deles, mas eu não consigo evitar também.

— Como não é culpa deles? Ana, você é a garota mais incrível que eu já conheci em toda a minha vida...

— Kate, você não conheceu muitas pessoas - Ana interrompeu, recebendo um olhar duro da loira em seguida.

— O que eu quero dizer é que você não pode se culpar pela forma que a sua família te trata, você era apenas uma criança, e agora as consequências estão sendo terríveis, a culpa é só deles. Não há ninguém nesse mundo que tenha o direito de sequer pensar que você é menos do que suficiente em qualquer coisa que seja - Kate a abraçou de repente.  - Nem mesmo você tem - sussurrou.

Ana devolveu o abraço, e as duas ficaram naquele momento quase que para sempre.

— Obrigada - Ana respondeu num suspiro de alívio.

Foi um momento parado no tempo, um momento em que seus sentimentos ficam tao intensos que se misturam numa confusao sufocante, fazendo Ana querer desligar tudo. Kate desligava para ela na maioria das vezes, como naquela.

— Está tudo bem você ter que ouvir essas verdades de vezes em quando para lembrar de quem é - a outra respondeu.

Ana riu baixinho, e tirou a cabeça de seu ombro, encarando a amiga, ainda sem desfazer o abraço.

— Eu te amo - falou simplesmente. - Eu te amo mais do que tudo nesse mundo.

Kate sorriu de volta, voltando a abraça-la, fechando os olhos, sentindo a paz que só Ana era capaz de fazer alguém sentir.

— Eu queria que você tivesse um pênis - declarou.

Ana novamente a encarou.

— Oi? - questionou, franzino o cenho.

— Seria perfeito, poderíamos nos casar e viver felizes para sempre, você me satisfaz de todas as formas, menos na cama, e eu te amo incondicionalmente,  você é com certeza a minha alma gêmea - esclareceu.

Ana riu novamente.

— Você precisa parar de andar com o Elliot. Não, melhor você fica com o Elliot só na cama e diz para ele ficar bem calado. Deixa que eu faço o resto - a morena deu uma piscadinha.

Kate riu alto, apertando a amiga em seus braços.

— Você também é minha alma gêmea - Ana confessou quando a outra voltar a puxar sua cabeça para o próprio ombro. - É sério, obrigada. As vezes eu acho que não te digo o suficiente o quanto você me faz feliz só porque existir na minha vida. É como se eu estivesse debaixo d'água, e você simplesmente chegou para me salvar.

Ana fechou os olhos com força, sentindo as lágrimas voltarem com a declaração de Ana.

— Se algum dia eu não conseguir te tirar do fundo do oceano, eu nado até lá embaixo e a gente fica lá conversando.

 


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