50 Tons de Mentiras escrita por Carolina Muniz


Capítulo 16
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo



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♥ Capítulo 16 ♥

"Eu não saberia te dizer porque ela se sentia daquela maneira, mas ela se sentia assim dia após dia e eu não podia ajudá-la. Eu só a via cometer os mesmos erros novamente... O que está errado, o que está errado agora? Os sentimentos ela esconde, os sonhos ela não consegue achar... Ela está perdendo a cabeça, ela ficou pra trás, ela não consegue achar seu lugar, ela está perdendo a sua fé, ela caiu em desgraça, ela está despedaçada, ela quer ir pra casa, mas não há ninguém em casa."

— Nobody's Home - Avril Lavigne

➰➰➰

 

Era o jantar de noivado de Mia, mais de duzentas pessoas haviam sido convidadas e Ana nem queria pensar na quantidade de gente que teria no dia do casamento.

— Eu já falei o quanto adorei seu cabelo? – Mia comentou enquanto terminava de retocar o batom.

Ana riu.

— Só umas três vezes hoje – ela respondeu, ajudando-a com o cabelo que não podia ter um fio fora do lugar.

— Ai, 'to nervosa – declarou a garota de chanel.

— O que é desnecessário, você está perfeita e nasceu para ser o centro das atenções – Ana incentivou.

— Eu não sei...

— O que você não sabe?

— Você não acha que é cedo? Que eu deveria esperar mais?

— Para se casar? Mia!

A garota suspirou e se sentou na cadeira da escrivaninha.
— Sabe o que eu sei? Que você é louca pelo Ethan e ele por você, vocês se amam então não tem nada disso de ser cedo. Esperar está fora de moda e a Mia que eu conheço está sempre na moda.

A garota riu alto.

— Eu estou tão feliz porque você está aqui – ela confessou, aproximando-se de Ana. – Foi difícil quando você foi embora, nem acredito que você está de volta, que vai estar no meu casamento...

— Eu também estou feliz por estar aqui.

Okay, aquilo era uma meia mentira.

Ela estava feliz por estar com Mia, não por necessariamente estar em Seattle.

— Por mim ou pelo meu irmão? – ela brincou.

Ana sorriu amarelo.

— Que engraçadinha – devolveu fingindo entrar na brincadeira, virando-se para o espelho na intenção de arrumar o que nem estava desarrumado.

— Fala sério, ele fica mais gato a cada dia, você não tombou para trás quando o viu pessoalmente? – Mia continuou. – Ai, seria tão incrível se vocês ficassem juntos!

— Mia, quantos anos você tem? 10?

— E você? 100?

As duas se encararam seriamente e um segundo depois caíram na gargalhada.

— Você é tão boba! – acusou Ana.

— E você é louquinha pelo meu irmão. Aproveita que ele não tem nenhuma ex para superar, vai em frente que é só sucesso com ele.

Ana revirou os olhos e balançou a cabeça.

— Você continua a mesma sem noção – resmungou.

Uma batida na porta fez as duas se virarem. Grace entrou no quarto de Mia já com um sorriso no rosto.

— Está pronta, querida? Os convidados já estão aí.

Ana não havia se esquecido do jeito sempre gentilmente maternal que Grace falava com seus filhos e até com ela mesma, de uma forma que a fez sentir mais do que falta durante os anos.

Mia sorriu largo e passou a mão pelo bonito vestido rosa claro que usava.

— Mais do que pronta – respondeu, ganhando um abraço da mãe.

Ela sorriu para Ana e então seguiu para fora do quarto, logo sendo acompanhada pela amiga e a mãe. Ana fechou a porta atrás de si e de repente fechou os olhos com força, sentindo a onda escura que lhe atingiu.

— Ana! Querida, fala comigo? – era a voz de Grace lhe chamando de perto.

— Ana – e então Mia.

A garota abriu os olhos, sentindo os braços das duas lhe segurando.

— O que está sentindo? – Grace questionou.

— Está tudo bem, não foi nada – garantiu quando sentiu segurança. – Eu só fiquei tonta.

— Tem certeza de que está bem? Precisa se sentar? – Mia disparou.

— Não, não, é sério, está tudo bem. Foi só uma tontura, provavelmente porque andei muito rápido.

Mia trocou um olhar com a mãe, que Ana não perdeu.

— Gente, não se preocupem, eu juro que estou – ela se afastou, ficando de pé sozinha para mostrar que estava falando a verdade. – Você precisa descer, Mia. Nós precisamos, vamos lá.

E lá estava ela: perfeita, ao lado de Mia e Grace, descendo as escadas.

Enquanto todos tinham olhos para o sorriso de Mia e Ethan, Christian não conseguia desviar os olhos de Ana, a garota parecia um anjo - um anjo provavelmente do mal  - enquanto sorria e respondia alguma coisa que Grace dizia.

Por obra do destino - ou só de Mia mesmo - Ana e Christian seriam seus padrinhos principais, aqueles que realmente importava como testemunhas. Não era novidade para ninguém que Mia praticamente beijava o chão que Christian passava de tanto que era encantada pelo irmão, e não tinha como ela não colocar Ana - sua melhor amiga de infância - para ser par dele.

Então lá estava os dois, como um casal bonito e elegante sendo "as testemunhas do amor" de Mia e Ethan. Ana respirava uniforme enquanto Grace discursava sobre a filha e o genro, ao lado de Christian, sabendo que os olhos dele estavam sobre si desde o momento em que ela se apoiou nele após ficar tonta pela enésima vez aquele dia.

Após o discurso emocionado e feliz de Mia e Ethan, Ana se caminhou até o jardim, sentindo que iria desmaiar a qualquer segundo. Só precisava se sentar e respirar calmamente, sem nenhum estresse ou coisa parecida. Ela sabia o que estava acontecendo com seu corpo, precisava comer mais do que uma fruta a cada seis horas. Mas era difícil, seu estômago doía, e parecia que tudo havia piorado depois que chegou em Seattle, com certeza por todo o estresse que estava passando.

Que vida dramática ela tinha!

A garota se sentou no banco perto da piscina e suspirou, apoiando a cabeça entre as mãos, sentindo como tudo parecia rodar e latejar de repente.

Era uma sensação horrível!

Ela sentia como se pudesse morrer, era pesado e extremamente desconfortável, era o limite.

Ana só queria poder estar em seu quarto naquele momento, com Kate lhe contando sobre seu dia, na TV passando algum seriado clichê...

Mas ela estava naquele banco, no jardim da casa dos Grey, tendo a pior sensação de sua vida.

Foi tão de repente, a pegou de forma tão desprevenida, que pela primeira vez na vida ela pensou em pedir ajuda de verdade.

E era uma coisa importante, era um momento de impacto, porque Ana nunca soube pedir. Deus, ela não sabia nem admitir as coisas para si mesma, imagina pedir... Imagine pedir ajuda! Ela nunca gostou de depender dos outros, nunca conseguiria se ouvir dizendo "eu preciso de você". Era bem simples, mas não saía. Algo travava, a voz não saía, tudo embaralhava, se tornava uma bagunça completa. Ana sempre achou que deveria saber se virar sozinha, que deveria se reconstruir, se levantar sem dar a mão para ninguém. Mas ela não julgava quem conseguia, admirava até, as pessoas que choram, pedem, imploram, suplicam. Mas ela não conseguia. Para ela era quase uma traição consigo mesma, era dar responsabilidade demais para outra pessoa, era dar sua vida. Não importava o que ela precisasse. Então de repente ela sentiu vontade de chorar, mas não saía lágrima alguma, como sempre. Era só uma espécie de náusea, de incapacidade, uma mistura de uma com a outra. Provavelmente não deve existir nada pior. E ela estava tão envolvida naquele nada que se desligou do mundo, nem mesmo uma mão tocando em seu ombro a fez voltar para a realidade, sentir a Terra novamente.

— Ana - seu nome foi pronunciado de forma lenta e preocupante.

A garota levantou a cabeça, mas não conseguiu manter os olhos focados na pessoa parada ao seu lado.

— Hey – ele se sentou no banco e segurou a morena quando a garota baixou a cabeça novamente. – O que você... Você não está bem – ele constatou, tocando levemente em sua testa enquanto segurava a menina com a outra mão.

— Não... – ela sussurrou.

— Ana... – ele segurou sua cabeça entre as mãos e a encarou.

Seus olhos estavam completamente apagados, o azul límpido mais parecia cinzentos como uma tempestade num dia nublado, a pele completamente fria, sem cor alguma. Ela deixou que a cabeça tombasse em seu ombro, o corpo sendo sustentado não mais por si.

Christian...

Ele tinha o mesmo cheiro de sempre, era bom e estranhamente seguro.

Ana odiava.

Mas naquele momento, era tudo o que ela precisava.

Tinha como odiar mais?

— Eu sinto muito – ela murmurou para si mesma.

— O que?

— Eu não... Eu acho que...

— Você está muito fria.

— Christian, eu preciso... – ela se afastou, colocando a mão na boca, sentindo a náusea aumentar.

— Você está enjoada?

Ela olhou em seus olhos, inspirando o ar profundamente, fazendo questão de controlar a respiração.

Não havia absolutamente nada em seu estômago, a única coisa que havia passado por sua garganta nas últimas cinco horas fora água. Ela não podia vomitar, ainda mais no estado em que estava.

Ela sentiu Christian pegando em sua mão e com a outra tocando seu queixo, fazendo-a se concentrar nele. Foram logos minutos em silêncio até que Ana finalmente se recostou no banco, ainda respirando de forma calculada.

— Não é primeira vez que isso acontece, não é? Você ficou do mesmo jeito na minha casa – Christian comentou.

— Não foi nada – Ana murmuro.

— Nada? Você com certeza ia desmaiar, nem sei como você consegue controlar isso.

— Eu sei controlar o meu corpo.

— Isso é assustador.

— Eu estou bem, você já pode ir – ela foi rude.

— Bem? Você continua gelada – ele salientou ainda segurando uma de suas mãos. – Você está mais branca que papel e eu posso ver que está contando sua respiração.

Ana mordeu o lábio inferior e virou o rosto para o lado oposto, se xingando por não querer tirar a mão da de Christian, e também irritada ele por acusa-la daquela forma. Ela odiava quando alguém ficava pontuando seus fatos verídicos de que não estava bem. Ela sabia que não estava, mas se ela estava dizendo que estava, o que os outros tem que a ver com isso?

— Eu só fiquei tonta.

Aquela era sua desculpa para tudo.

— Você comeu?

— O quê? – ela se virou para ele.

— Você. Comeu?

A garota revirou os olhos.

— O que isso importa?

— Por que você não responde?

— Porque isso não tem importância – ela rebateu, levantando-se do banco. – Eu vou voltar para festa...

Ana não conseguiu terminar a frase quando tudo se tornou escuro diante de seus olhos, e ela parou de sentir o seu corpo.

— Ana!

Ele a segurou antes que a garota caísse, os braços gentilmente a mantendo de pé.

— Você precisa ficar quieta – ele se irritou pela falta de consideração da garota. – Deus, Ana, você está muito fria – falou tocando em seu braço enquanto a segurava pela cintura.

— Vai ver eu sou uma vampira – ela soltou de repente.

Christian a encarou seriamente, mas nem mesmo ele conseguiu não rir da fala da garota.

E Ana gostou daquilo.

Droga, ela malditamente gostou da risada dele!

— Você bebeu? – ele questionou.

Ana suspirou e engoliu em seco, sentindo a reviravolta no estômago novamente.

— Não – respondeu. – Foi só uma piadinha.

— Você precisa se deitar – ele falou.

— É, acho que você tem razão – ela confessou, apoiando-se completamente nele.

— Eu te levo.

— Não precisa.

— Até parece que vou deixar você dirigir nesse estado.

— Christian, é sério, não precisa, você pode...

— Te levar para casa? Claro.

Ana bufou quando a virou para o outro lado, fazendo-a caminhar em direção aonde os carros estavam estacionados.

— Eu nem falei com a Mia.

— Eu vou mandar uma mensagem para ela sobre você não estar se sentindo bem.

— Não! – ela parou no lugar, fazendo Christian segurá-la completamente de novo quando se desequilibrou.

Droga, ela precisava comer.

— O quê? – questionou ele.

— Não fala para ela que você vai me levar para casa.

— Por que?

— Como por que? Ela vai ficar pensando besteira.

— E quando a Mia não pensa besteira?

— Christian, só...

— Ta', relaxa, eu falo com a minha mãe, agora pode voltar a andar? Se você desmaiar aqui, eu vou ter que te carregar...

— Você nem pense nisso – ela mandou, voltando a andar, com Christian em seu encalço. – Não quero você tocando em mim.

— Hum.

— Dois.

— Eu não vou continuar isso – ele bufou.

Ana o seguiu até o R8 e deixou que o mesmo a ajudasse a entrar. Foi uma viagem curta até seu apartamento, e sem querer ela deixou escapar que Kate não estava em casa, o que resultou em Christian levando-a até a porta e surpreendentemente entrando no recinto.

Ana queria protestar sobre aquele cuidado todo, queria dizer que não precisava, que era desnecessário e com certeza não queria Christian tão perto de si como ele estava naquele exato momento, ajudando-a a sentar no sofá.

Mas ela não conseguiu pronunciar uma palavra sequer contra nem mesmo quando ele se ajoelhou para tirar seus saltos.

— O que você está fazendo? – ela questionou num tom baixo quando ele colocou os scarpins ao lado da mesa de centro. – Por que você está fazendo, na verdade?

Christian a encarou, ainda ajoelhado a sua frente.

— Você não está bem, e eu quero que você fique, a sua amiga não está aqui, não é bom você ficar sozinha – ele disse prontamente, como se já estivesse esperando que ela fizesse aquela pergunta.

Ana se surpreendeu com a resposta e não teve uma dar.

— Elena não vai gostar disso – ela comentou, ironicamente.

Ele se levantou e balançou a cabeça.

— A gente não tem que fazer isso – falou.

— Falar sobre a sua amante?

— Não estamos mais juntos – ele disse apenas. – Você ficou linda com esse cabelo – ele descaradamente mudou de assunto.

— Obrigada. Foi no salão da sua amante – ela devolveu sarcasticamente.

Christian passou a mão pelo cabelo e sorriu de lado para Ana.

— Eu não tenho amante – ele murmurou calmamente.

— Minha mãe é só mais uma para você, então? – ela riu.

Christian revirou os olhos.

— O que você quer saber? Eu já disse que não estamos juntos, nós nunca estivemos de verdade... Aquilo foi... Uma coisa complicada e eu sinto muito que você tenha sofrido por causa disso.

A morena balançou a cabeça e fechou os olhos, recostando-se no sofá.

Ele sabia como fazê-la parar de falar sobre Elena.

— Você precisa comer, tem comida aí? – ele caminhou em direção a cozinha que dividia a sala.

— Não, eu não estou com fome – ela falou abrindo os olhos novamente.

Christian se virou e levantou uma das sobrancelhas.

Ana abriu a boca automaticamente enquanto o admirava.

Que sexy!

— Você precisa comer... E parar de me olhar assim.

Ana desviou o olhar.

— Eu não estou te olhando – vociferou ela.

Cretino!

— Eu não janto, okay? – ela falou mudando logo o assunto.

— Como assim você não janta?

— Eu não janto, só isso.

— O que você faz quando alguém te chama para jantar? – ele questionou só de brincadeira.

Ana deu de ombros.

— Eu não aceito. Eu não janto, como eu iria sair para jantar com alguém? – ela respondeu seriamente.

Christian inclinou a cabeça e a encarou.

Ana não achou aquilo fofo!

— Você não sente fome à noite?

— Comida engorda – ela respondeu simplesmente.

Christian engoliu em seco pelo desconforto que sentiu ao ouvir a frase da garota. Ele já ouviu aquilo antes, direcionado aquela mesma garota.

— Jantar é desnecessário para a saúde humana – Ana continuou. – E eu não preciso de mais comida que o necessário. O necessário já me deixa assim – ela revirou os olhos. – Eu como frutas à noite, e eu já comi. Não precisa se preocupar. Acho que foi só uma queda de pressão...

— Toma – ele lhe estendeu uma maça.

Ana olhou a fruta com desdém.

— Eu não quero, obrigada – ela murmurou.

— O que? Você gosta de comer fruta cortada em cubos ou algo assim? Posso fazer isso para você, contanto que você coma.

Ana sentiu o coração dar um pulinho acelerando. Christian estava disposto a cortar uma maça em cubinhos só para ela comer?

Espera, ela ainda tinha certo rancor dele, mas aquilo era...

O que era aquilo?

— Por favor – ele pediu.

— Não precisa cortar, eu não ligo para essas coisas – ela murmurou enquanto pegava a fruta.

Ela encarou o objeto em sua mão, ponderando sobre querer fazer aquilo por vontade – sabendo que precisava – ou para agradar a Christian – sabendo que sentiria dor depois.

➰➰➰

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Ana: https://em.wattpad.com/eb4bbba683cfb78c0af1e3f6c7fb6d39965fa171/68747470733a2f2f73332e616d617a6f6e6177732e636f6d2f776174747061642d6d656469612d736572766963652f53746f7279496d6167652f756c4a424a6f7a764c674f7876413d3d2d3637353139373231362e313537356435363832323134343830343437363338393533343736382e6a7067?s=fit&w=1280&h=1280



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