50 Tons de Mentiras escrita por Carolina Muniz


Capítulo 15
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo



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♥ Capítulo 14 ♥

"Você é tudo o que eu achava que nunca seria e nada como eu pensei que você poderia ter sido, mesmo assim, você vive dentro de mim. Então me diga como é isso? Você é o único que eu desejo que pudesse esquecer, o único que eu adoraria não perdoar, e apesar de você partir meu coração, você é o único, apesar de existirem momentos que eu odeio você, os momentos que você me machucou e pôs lágrimas no meu rosto..."

— Broken-Hearted Girl - Beyoncé

➰➰➰

Ana deixou a bolsa em cima do sofá e seguiu direto para o quarto, enrolando o cabelo num coque, bateu a porta atrás de si e foi direto para o banheiro, se apoiando no mármore da pia, mirando o espelho inevitavelmente.

que havia acontecido em sua vida nas últimas horas?

Ela passou as mãos pelo rosto com agressividade, a maquiagem borrada ainda estava ali, aquele cabelo falso, a droga da dor no estômago.

Era aquilo que ela era diariamente, não?

Ela abriu a bica e lavou o rosto, o que fez a maquiagem borrar mais ainda, e pela forma nada gentil que estava agindo consigo mesma, fez o coque se desfazer e sua unha arranhar a lateral de nariz, deixando automaticamente um corte mínimo.

— Droga! – vociferou contra o espelho.

Nem sabia o que estava acontecendo consigo mesma, não sabia o que era aquele turbilhão de sentimentos lhe assaltando de forma desconfortável e sufocante.

Só queria que parasse. Que tudo parasse por pelo menos um dia na sua vida.

Era como se a noite passada ficasse se repassando em sua mente, as palavras de Christian naquela manhã, a forma que seu coração malditamente acelerava quando ele se aproximava, como odiava o fato de Elena estar tão bem, odiava ela se achar a dona do mundo, odiava que tinha que fingir estar bem e feliz quando tudo o que queria era se trancar naquele banheiro para o resto da vida... Odiava não gostar da garota que refletia no espelho.

Foi de repente, ela ao menos conseguiu ir até o sanitário, e o jato saiu por sua garganta ali na pia mesmo. Doeu. Doeu quando ela teve de abaixar a cabeça e tirar o cabelo do caminho, doeu quando arranhou sua garganta, doeu quando teve mais ânsias e não saiu nada... Doeu porque ela nem havia forçado, ela não queria aquilo, mas seu corpo já não obedecia.

Ana não era uma criança, ela sabia muito bem que precisava de ajuda, sabia já tinha um tempo. E ela iria procurar... Um dia. Um dia que ela percebesse que não importava o que fizesse, não tinha mais controle sobre nada em si. Naquele momento, bem ali, em que ela ainda sentia ânsias de vômito mesmo que não tivesse mais nada em seu estômago, ela sabia que não tinha controle, que não tinha o que fazer. Ela encarou a si mesma no espelho, os olhos vermelhos e cheios d'água pelo esforço, o rosto suado e manchado, o cabelo loiro desgrenhado, a pele mais pálida e apagada, sem cor alguma.

Ela estava um desastre. E não fora Elena quem fizera aquilo com ela.

Deus, ela precisava de ajuda!

Ana inspirou o ar profundamente e se concentrou em se manter de pé, analisando se não estava tonta a ponto de desmaiar. Caminho até o chuveiro e ligou o aparelho, ficando de baixo da água gelada sem se preocupar em tirar a roupa, sabia que iria desmaiar se não fizesse logo aquilo.

Nada ali era novidade, sabia as limitações de seu corpo, havia aprendido a viver com ele, apenas precisava segui-lo e tudo ficaria bem.

O barulho da porta foi audível no silêncio em que só existia a água caindo, e então Kate entrou no banheiro.

— Ana! Você está bem? – a loira se desesperou, parando na divisória do box.

— Uhum – a outra resmungou.

— Ana...

A garota abriu os olhos e encarou a amiga.

— Eu estou bem, só fiquei um pouco tonta – murmurou.

Kate olhou ao redor e mirou a bica da pia aberta. Sabia muito bem o que havia acontecido ali.

A loira fechou a bica e voltou-se para Ana com uma toalha, deixando-a no banco ao lado do box, e retirou a blusa que usava, logo amarrando o cabelo e então se inclinou para ajudar a amiga a retirar a própria roupa.

Foi tudo em silêncio, até que Kate terminou de ajudar Ana a lavar o cabelo e lhe entregou a toalha.

— Vem comigo – a loira sussurrou, guiando a amiga para fora do banheiro.

— Ai, eu quero sair – disse Ana, de pé no meio do quarto enrolada na toalha.

— Como assim? – Kate questionou enquanto com outra toalha enrolava o cabelo da menina que havia pingado água por onde passou.

— Vamos ao salão, isso – Ana decidiu. – Preciso fazer uma coisa – avisou, já indo em direção ao closet.

— Eu nunca vou entender você – Kate suspirou. – Mas tudo bem, vamos sair.

Ana não demorou em escolher uma calça e uma regata, pegou as primeiras sapatilhas que encontrou e penteou o cabelo sem se preocupar em secá-lo, logo sendo seguida por Kate para fora do apartamento.

— Nosso carro? – questionou.

— Eu o trouxe ontem – a outra respondeu, seguindo a amiga para o estacionamento. – Uma boa hora para falar sobre ontem?

— Na verdade – Ana esperou Kate lhe dar as chaves e então destravou as portas do Audi – é uma péssima hora – completou enquanto entrava no veículo. – Mas e para você? É uma boa hora? – questionou com um toque de malícia.

Kate revirou os olhos.

— Idem – murmurou e então ligou o rádio. – Para onde a gente está indo?

— Sua roupa está diferente – Ana acusou pois a garota havia colocado a mesma blusa de quando entrou no banheiro.

— Não é o que você está pensando. Eu vim para casa e depois fui naquele café que fomos ontem, e então voltei.

— Claaaro. A pequena Kate não seria promíscua – a outra brincou.

Kate lhe deu um leve tapa no ombro.

— Você e sua mente maliciosa: confere – brincou a outra loira de volta, fazendo Ana dar uma risadinha.

Kate suspirou feliz ao ouvir o riso da menina.

Ana era inconstante, nunca frágil de verdade, mesmo que vulnerável ás vezes, então ela podia ter uma crise e alguns minutos depois agir como se nada tivesse acontecido. Mas Kate sabia que aquilo era por fora, que por dentro, em sua cabeça e seu coração um pedaço se desfazia a cada vez.

— É sério, para onde estamos indo? – questionou a garota.

— Para um salão de beleza, parece que estamos chegando – Ana respondeu, virando em uma rua comercial.

— Você não sabe onde é?

— Eu sei onde é, mas nunca fui... Eu vi no Google Maps.

— Eu não vou colocar meu cabelo a prova lá.

— É um salão chique, deve ser bom.

— Hum, sei.

Ana balançou a cabeça para amiga e sorriu de lado.

— Você é tão desconfiada – comentou.

A garota parou o Audi em frente ao Esclava, logo entregando as chaves ao manobrista e saindo com Kate do veículo, entrando pelas bonitas portas duplas de vidro do salão.

— Nossa – Kate comentou em voz baixa quando viu o tamanho e a luxúria do lugar.

— Vem, vamos torrar o dinheiro do papai – a garota puxou a amiga em direção ao balcão.

Enquanto Kate foi direto fazer as unhas, Ana se sentou numa das cadeiras de frente para o espelho, Franco atrás de si encarando seu cabelo de forma pensativa.

— Um chanel ficaria lindíssimo – ele soltou de repente.

A garota arregalou os olhos.

Não mesmo!

— Algo menos radical – ela murmurou.

— Um franjão – ele sugeriu.

— Não com essa testa – ela rebateu.

O homem a virou para ele, fazendo-a ficar de costas para o espelho e puxou um fio de seu cabelo, fazendo uma careta junto de Ana.

— Você é linda, elegante... Um natural! É isso, natural – ele bateu as mãos uma na outra.

Ana voltou a se virar para o espelho e mirou a si mesma.

— Natural... – concordou.

Duas horas mais tarde, Ana sorria de frente para o espelho, admirando o trabalho perfeito que Franco fizera em seu cabelo, deixando-a morena novamente. Seus olhos pareciam mais impressionantemente azuis, até seu rosto parecia mais corado – palavras de Kate que tinhas as unhas pintadas de vermelho agora.

— Você está linda – a loira garantiu assim que saíram do salão.

Ana lhe devolveu um sorriso, mas logo se desfez quando viu a mulher que saía do SUV em frente as portas de vidro.

— O que foi? – Kate questionou, virando-se para onde Ana olhava.

Elena ao menos tentou disfarçar que não a viu, apenas caminhou em sua direção com o sorriso fixo nos lábios.

— Que coincidência, ou estava me esperando? – a loira questionou.

— Por que eu estaria te esperando? – Ana devolveu, afastando-se minimamente quando Elena tentou lhe dar um beijo no rosto.

— Bom, é o Esclava – a mulher falou como se fosse respondesse todas as dúvidas.

— E...?

— Sou a dona, querida. Bem, nós somos, claro.

Ana mordeu o lábio inferior e balançou a cabeça.

Aquilo só podia ser carma!

— Eu não sabia – falou.

Elena sorriu para ela novamente, e acenou para Kate.

— Katherine, não é? – questionou à garota.

— Só Kate – respondeu a loira de forme educada.

— Kate, então – devolveu Elena. – Ficou lindo o cabelo, filha.

— Hum. Eu tenho que ir, tchau, Elena – murmurou a garota.

— Foi bom te ver – a loira falou antes que a agora morena se virasse.

Ana levantou uma das sobrancelhas em questionamento, mas nada disse. Já havia tido uma boa cota de conversas difíceis só naquela manhã.

— Tchau – falou novamente e seguiu com Kate para o carro.

— Nossa, parece perseguição, onde vamos tem que estar um desses dois, se não os dois! – Kate comentou quando já estavam no veículo.

— Nem fala – concordou Ana.

— Hey, o que foi? Não vai ficar assim por causa dela, né? Não vale a pena.

— Não é nada. É só que... Elena tem um salão de beleza. Na verdade, várias, o Esclava é uma franquia grande – Ana respondeu.

— O que tem isso?

— Ela nunca se mostrou assim, nunca falou sobre querer ser dona de um salão, ela só parecia empenhada em gastar dinheiro e ser perfeita para a sociedade. Acho que nem o papai sabia disso.

— Eu ainda não entendi onde você quer chegar.

— Você acha que o Christian sabia?

— Como assim?

— Você acha que ele sabia que ela queria um salão? Que ela queria ser dona de um?

— O que isso importa, amiga?

Ana suspirou.

— Nada, não importa, na verdade. É só que... Ela é minha mãe, e eu não sei nada sobre ela. Nunca soube. E é engraçado que quando eu era pequena queria ser exatamente igual a ela.

— Que bom que não quer mais, né? Quem iria querer ser igual a essa mulher?

— Esse é o ponto, Kate. Eu não sou igual a ela. Eu não quero ter um salão de beleza, eu gosto de literatura, gosto de livros. E o meu pai gosto de madeiras – ela riu sem humor. – Eu sou completamente diferente deles dois, nunca consigo encontrar nada que nos faça parecidos.

Kate franziu o cenho.

— E você iria querer ter algo parecido? Amiga, desculpa, seu pai é até uma boa pessoa, mas ele traiu sua mãe com sua babá e te deixou ir para um colégio interno sem ao menos te visitar um dia sequer, e bem, nem vamos falar sobre Elena. Você deveria ficar feliz em não ter nada parecido com eles.

— Você é parecida com sua mãe e também com seu pai. E você nem conheceu sua mãe. Você não gosta disso?

— Mas meu pai me falava sobre ela...

— E você se parece com eles, vocês são uma família de qualquer forma.

— É... Eu ainda não estou te entendendo.
— Eu não sei nada sobre Elena ou sobre o Linc, nada de nada, só as coisas ruins. É como se eu não fosse filha de ninguém, como se ninguém fosse como eu.

— Bom, isso te faz única.

— Não, isso me faz acreditar que meus pais ao menos são meus pais, é como se eles apenas tivessem esse status, entende? Eu me sinto tão desconfortável com isso.

— Você nunca havia falado sobre isso...

— E nem sei porque eu estou falando agora – ela sentenciou num tom que dizia não querer mais falar sobre aquilo. – Vamos a algum lugar agora?

— É quase meio dia, vamos almoçar.

Ana sentiu o estômago revirar com a menção de comida.

— Eu passo – resmungou.

— Ana...

— Não estou com fome – foi rápida em dizer.

— Por favor, você precisa.

A morena continuou mirando a rua a sua frente.

Ela sabia que precisava. Mas Ana precisava de tanta coisa, que ela podia apenas deixar esses tipos nada importantes para um outro dia.

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Notas finais do capítulo

Instagram da Ana: https://www.instagram.com/?hl=pt-br



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