Através de um vidro escuro escrita por Scya


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Bom, eu sumi de novo, eu sei! Mas agora retornei e pretendo finalizar essa história... Esse é o ultimo capítulo e depois teremos um epílogo que será postado nesse final de semana.



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Através de um vidro escuro

Capítulo 18

Por Scya

 

Depois do jantar, Teddy não soube dizer ao certo como havia se desvencilhado de todos seus familiares e amigos. Ele só sabia que precisava de um minuto sozinho e, quando teve oportunidade, se esgueirou pelos corredores do castelo. Escolheu o corredor propositalmente, onde podia observar as paredes de pedra forradas por fotografias que se moviam e quadros que conversavam entre si.

Ele, depois de todo esse tempo, já havia decorado a ordem das fotos, que contavam a história de como tudo começou e terminou, como uma linha do tempo. Seus olhos se pousaram por longos segundos na fotografia da Ordem da Fenix original, com sua formação datando o inicio da Primeira Guerra Bruxa. Ele observou seu pai, Remus, se movendo timidamente na foto, como um adolescente de recém completos 18 anos que seguiria seus amigos, James e Sirius, até o último de seus dias.

Mais adianta, encontrou a fotografia da nova formação da Ordem da Fenix, que foi convocada em 1995 por Albus Dumbledore ao sinal do retorno do Lord das Trevas. Lá, haviam mais rostos conhecidos, entre eles de seu padrinho Harry Potter e Arthur e Molly Weasley. Havia também o sorriso radiante de sua mãe, vigorosa ao lado do seu mentor Alastor Moody e, assim como na foto original, Remus estava ao lado de Sirius e possuía já o rosto marcado por linhas que demarcavam sua idade, porém o sorriso era o mesmo do rapaz de 18 anos da foto anterior.

Eram poucos os que haviam lutado em ambas as duas guerras e participado das duas fotografias da Ordem da Fenix. Após os eventos que marcaram o final da Guerra, uma nova fotografia foi retirada dos membros da Armada de Dumbledore e os membros da Ordem da Fenix que ainda estavam vivos. O resultado? Nem Sirius, nem Dumbledore, Alastor Moody ou seus pais, Remus e Tonks, estavam presentes.

Um vazio tomou conta de Teddy por um instante, na medida que ele se perguntava como seria ter vivido naqueles tempos sombrios. Pensou em sua mãe, que quando criança conheceu a primeira guerra e anos depois, quando adulta, participou da segunda.

Observou a Ordem de Merlin Póstuma que seus pais haviam recebido anos depois da Guerra e que Andromeda Tonks guardava com tanto zelo em sua sala de estar. Ela sempre emprestava a honraria para ser exposta no corredor de lembrança no 2 de maio, todos os anos, mas para Teddy parecia que era sempre como se tivesse a observando pela primeira vez.

E de repente, como um sobressalto, Teddy pensou em sua avó. Mesmo não estando presente nas fotografias da Ordem da Fenix em diferentes tempos, Teddy precisou se lembrar de que Andromeda viveu tudo aquilo arduamente, de várias perspectivas.

— Voce saiu cedo do jantar, não está com fome? – Disse a voz preocupada de Andromeda Tonks atrás do neto. Teddy a encarou com curiosidade, se perguntando como ela sabia que ele estaria aqui e, ainda por cima, parecia ter aparecido em total sincronia com seus devaneios.

— Vovó, a senhora viveu durante as duas Guerras Bruxas. – Teddy começou a falar, ignorando a pergunta da avó e se dirigindo para ela com uma voz cautelosa.

— Sim, eu vivi. – Respondeu Andrômeda com simplicidade, seus olhos parecendo suspeitar de que alto estivesse errado com Teddy, com uma pontada de preocupação.

— E como foi? – Quis saber Teddy.

Andromeda fechou os olhos por um momento e respirou fundo. Quando olhou para Teddy novamente, ele parecia ter se transformado naquele garotinho de seis anos que sempre a prosseguia pela casa com perguntas e mais perguntas, o tempo todo, completamente inocente.

Ela já havia conversado com o neto sobre isso algumas outras vezes, mas pensou em como a data poderia tê-lo deixado sensível e talvez, só talvez, o que ele realmente precisasse fosse ouvi-la falar sobre isso de maneira mais pessoal e, assim, mais próxima dele.

“Bom, eu presenciei a Primeira e a Segunda Guerra Bruxa e o que eu posso te falar, Teddy, é que nós não percebemos a Guerra chegando no início. Foi algo extremamente sutil, de modo que nós só percebemos que estávamos vivendo em uma Guerra quando as pessoas começaram a morrer ao nosso redor e, assim, eu comecei a sentir medo.

Durante toda a minha vida, eu nunca precisei sentir medo de nada. Essas ideologias nunca foram um problema para mim, por causa da minha família e da onde eu nasci. Os Black eram uma das mais respeitáveis famílias puro sangue do mundo bruxo, sempre perpetuavam o sangue mágico puro. Desde que eu nasci, foi isso o que eu aprendi. Nós éramos superiores e melhores do que os outros. E eu aprendi que era normal os nossos pais quererem continuar com a linhagem pura, por isso minhas irmãs Bellatrix e Narcisa tiveram seus casamentos arranjados com Rodolfo Lestrange e Lúcio Malfoy. E eu mesma, quando tinha 8 anos, cheguei a me tornar noiva de Lúcio Malfoy e até os meus 15 anos eu realmente achava que um dia me casaria com ele, porque pra mim não havia outra escolha ou possibilidade.

Eu só comecei a perceber como o mundo era diferente quando eu me apaixonei por Ted Tonks mesmo ele sendo um nascido trouxa. E então eu percebi como tudo aquilo era errado, foi só então que eu percebi como tudo aquilo era perigoso. E na época que eu e seu avô nos conhecemos, a Guerra não havia começado, mas a ideia que deu origem a Guerra já estava começando a se espalhar e as pessoas estavam tendo no que acreditar.

Ted sofreu bastante na Escola por ser um nascido trouxa e principalmente, sofreu muito por ter se apaixonado por mim. Quando fugi da casa dos meus pais depois que terminei a Hogwarts e abandonei meu noivado com Lúcio Malfoy, nós tínhamos medo de sair de casa, seu avô não conseguia arrumar um emprego que durasse mais de alguns meses porque ele era nascido trouxa. E um pouco depois que nos casamos, a Guerra começou de verdade. Foi quando pessoas realmente começaram a morrer. Tudo estava se tornando um caos... E nós tínhamos uma filha. E foi muito difícil, cada vez que seu avô saísse de casa, eu tinha medo de que ele nunca mais fosse voltar.

Nós não sabíamos o que fazer além de acreditar que um dia tudo aquilo ia passar e as coisas seriam melhores. E foi nisso que nós acreditamos... Que o futuro poderia ser melhor. E quando a Guerra acabou, tudo o que eu e o Ted conseguíamos pensar era que nós nunca mais queríamos ver nossa filha vivendo em um mundo em Guerra novamente. Nós não queríamos que nossa filha tivesse medo como nós tivemos.

Nós criamos a Nymphadora em um mundo melhor. As pessoas acreditavam que a Guerra tinha acabado e ninguém sabia que a Guerra ia retornar e tudo ia se repetir de novo... Não tinha como saber. Nós estávamos felizes e nós fomos felizes por anos. Quando nossa filha decidiu se tornar uma Auror, nós nos tornamos os pais mais orgulhosos do mundo. Nós a apoiamos e eu me lembro de como pensei que minha filha fosse a mulher mais corajosa e destemida... Fazendo o que era certo. Como eu tive orgulho da minha filha...

Até que os rumores voltaram... De que a Guerra estava recomeçando. E Nymphadora havia acabado de se tornar uma Auror e de repente estava no meio de uma Guerra. E Ted... Ted teve tanto medo! E eu também tive. Cada vez que Nymphadora saia em alguma missão para a Ordem ou para o Ministério, Ted ficava a esperando na sala, perto da porta, e não conseguia dormir até a hora que Nymphadora voltasse para a casa.

Ele sabia que ela era um alvo, principalmente por ser nossa filha, com metade da minha família servindo ao Lord das Trevas. Mas a Nymphadora sabia no que estava se metendo, Teddy. Ela sabia que aquilo era o certo a se fazer... Lutar por um mundo bruxo melhor era o era preciso ser feito. Ela não hesitou nenhuma vez, não recusou nenhuma vez... Pela Ordem da Fênix e por um mundo melhor.

E foi também quando eu perdi meu marido e muitos outros amigos... E tudo de repente se tornou tão escuro. Ninguém tinha nenhuma esperança. Nymphadora ficou em casa por longos meses quando estava grávida de você, porque não havia nenhuma atividade da Ordem da Fênix; as pessoas simplesmente estavam escondidas ou com medo. Não havia sinal de nada a ser feito, além de esperar. E no meio da Guerra, no meio de tanto sofrimento e de tantas perdas, ela se casou e encontrou a felicidade. E no meio de tudo isso, ela conseguiu se tornar mãe. E depois que você nasceu, esse milagre realmente aconteceu. Nós tivemos a noticia de que Harry Potter havia voltado e estava em Hogwarts e poucas horas depois, Nymphadora recebeu a noticia de que ia acontecer uma Batalha.

E eu me lembro de olhar pra minha filha quando ela saiu de casa com Remus aquele dia... Ela saiu de casa para lutar pelo o que era certo e pra lutar por um mundo onde o filho dela pudesse crescer.”

Andrômeda se afastou da imagem de Nymphadora na parede do Castelo e enxugou as lágrimas com o polegar. Havia falado muito mais do que planejou, mas dessa vez sentiu que era necessário. Teddy estava ouvindo cada palavra de sua avó e seus olhos igualmente se encheram de lágrimas, assim como sentiu um aperto gigantesco em seu peito.

Ele se adiantou e envolveu o corpo fragilizado da avó em seus braços e soluçou contra seu pescoço. As lágrimas saiam quentes de seus olhos e, logo depois, Andrômeda havia retornado a chorar.

Ela havia esperado mais de quarenta anos para finalmente ter a certeza de estar vivendo em um mundo seguro. Havia perdido as pessoas que mais amava e, agora, seu neto precisava dela mais do que nunca.

Teddy já era um adulto, podia já ter 20 anos ou podia ter 4 anos e usar os cabelos cor de chiclete, que sempre seria seu neto, seu Teddy e, portanto, sua responsabilidade. O dia 2 de maio nunca foi uma data fácil para ele, ainda mais sendo filho de heróis de Guerra. Mas Andrômeda sabia que após todos esses anos, o coração de Teddy estava cada vez mais leve e que, eventualmente, esse se tornaria um dia especial para comemorações e não para sofrimento.

Ela aguardava ansiosamente por esse dia também.

A questão não era ficar se perguntando como as coisas seriam se Remus, Tonks ou qualquer outra pessoa que faleceu na Guerra estivesse ali. A questão era justamente aceitar que não estavam. Era honrar e celebrar as pessoas que eles foram quando estavam vivos, o que fizeram para tornar esse mundo um lugar melhor e, acima de tudo, não esquecê-los.

Se Remus e Tonks estivessem aqui, Teddy Lupin sabia que ainda seria a mesma pessoa, com o coração menos fragilizado e um menor peso sobre seus ombros, mas ainda seria ele mesmo. Não havia como saber, afinal, mas ele esperava que sim.

Ele tinha certeza que sim.

Apesar de tudo o que aconteceu, Teddy sabia exatamente quem ele era e, agora, cabia somente a ele decidir o que fazer a seguir. Onde quer que estivessem, Remus e Tonks estariam sorrindo se soubessem como a alma de Teddy se acalmou após aquela conversa com sua avó e, principalmente, como ele estava pronto para continuar em frente. Havia uma vida inteira esperando para ser vivida por Teddy, com muitos outros 2 de maio o aguardando a cada ano, repleto de novas descobertas, de novos sabores e de novos desafios. Cabia somente a Teddy decidir se estava pronto para enfrentar a nova etapa de sua vida, já como adulto e em breve compartilhando suas decisões com a garota que tanto amava.

Após respirar fundo e fechar os olhos, seus cabelos assumiram a cor rosa claro de maneira inconsciente e, quando se soltou do abraço de sua avó, teve certeza de que o Remus e a Tonks retratados no quadro na parede ao lado também estavam chorando, mas eram lágrimas de felicidade.


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Notas finais do capítulo

Espero realmente que tenham gostado da história que escrevi com tanto carinho e atenção! O próximo será o epílogo e, assim, finalizarei esse projeto. É uma alegria imensa terminar essa história, que fez parte de mim por tanto tempo...
Espero que tenham gostado tanto quanto eu!
Até o próximo



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