Através de um vidro escuro escrita por Scya


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Bom, para compensar o 1 ano de atraso decidi postar dois capítulos esse final de semana! Último flashback... Aproveitem.



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Através de um vidro escuro

Capítulo 17

Por Scya

 

Eram as férias escolares de Teddy antes de retornar para seu último ano em Hogwarts. O rapaz estava aproveitando o máximos suas horas de lazer ao lado de sua namorada, Victoire Weasley, enquanto ambos corriam juntos pelo bosque ao redor da casa onde Teddy morava.

— Ele foi por ali! Eu tenho certeza que eu o vi indo por ali, Vic! – Anunciou Teddy enquanto corria na frente da namorada, abrindo caminho por entre os ganhos de árvores e procurando entre os arbustos qualquer sinal da criatura.

 - Teddy, eu tenho certeza que você está imaginando coisas. Eu não vi nenhum Knarl sair correndo do jardim da sua avó... – Victoire reclamava, ofegante, atrás de Ted. Seus cabelos estavam repletos de galhos secos de árvores que haviam prendido enquanto ela se esforçava para alcançar o namorado.

— Eu tenho certeza que ele veio por aqui! Ele se parece muito com um ouriço, você sabe. Ou um poço-espinho, como dizem os trouxas... – Insistia Teddy que, mesmo sendo mais alto e largo do que Victoire, parecia ter maior facilidade em percorrer caminhos sinuosos.

— Eu não vi nada. Você está perambulando pelo meio dessas árvores por nada. – Ela revirou os olhos e, respirando fundo, apressou os passos.

— Nós estamos perambulando por essas árvores atrás do Knarl, eu já te disse...

— Eu me lembro de estudar sobre eles nas aulas de Trato das Criaturas Mágicas desse ano e continuo tendo certeza que nada saiu correndo do seu jardim. – Tagarelou a garota.

— Era um knarl! – Afirmava Teddy, quase desequilibrando-se quando subiu em uma pedra que estava no meio do caminho.

— E você sabe diferenciá-lo de um porco-espinho? – Victoire rebateu. - Teddy, você conhece esse lugar tão bem quanto eu para saber que daqui adiante só vamos encontrar lama e muitos galhos com espinhos, eu realmente acho melhor voltarmos antes que... – Ela começou a falar, mas rapidamente desistiu quando Teddy a encarou nos olhos. Aqueles olhos sempre seriam seu maior ponto fraco.

— Vem, Vic. Só segura minha mão. – Ele afirmou com convicção e estendeu a mão para sua namorada. Victorie não hesitou e, no instante seguinte, eles estavam subindo pelas pedras e desviando da lama por uma descida estreita e mal delimitada. Teddy se apoiava nas árvores ao redor e nos galhos escassos enquanto Victorie apenas pisava nos lugares onde Teddy já havia passado.

Quando conseguiram passar pela descida com pedras, chegaram até outra descida que era puramente composta por lama e ganhos secos. Pensando que o pior já tinha passado, Teddy respirou fundo e soltou-se das árvores de apoio para conseguir mover-se com maior agilidade. Victoire apertou firme sua mão e, quando Teddy pensou ter visto uma movimentação em um dos arbustos adiante e alegrou-se por pensar ser a curiosa criatura, não percebeu quando seus pés deslizaram e ele começou a cair, levando Victoire pelo mesmo caminho.

Teddy teve a impressão de derrapar e depois rolar por um caminho cheio de lama até cair em uma depressão entre as raízes das árvores. Victoire soltou um grito alto quando pousou, sentada, ao lado do namorado.

Eles se olharam por um instante, apreensivos. Sentiam seu corpo doendo em diversas partes e Victoire não queria nem pensar como estariam seus cabelos. Teddy, com os cabelos azuis escuros, tinha o rosto repleto de sujeira marrom que Victoire torcia para ser apenas lama.

— Eu não acredito nisso! – Ela olhou para o Teddy antes de, exausta, deitar de costas e apontar para Teddy acusadoramente – Olhe só para você! Está completamente imundo... E esse era o casaco que sua avó te deu de aniversário... Ele está rasgado!

Teddy torceu o nariz enquanto avaliava o estado das próprias roupas.

— Ah, por Merlin... Vovó não vai se importar tanto, Victoire. Agora, eu duvido que a senhora Fleur Weasley vai ficar muito feliz com isso. – Ele apontou para o vestido rasgado em alguns pontos e completamente sujo de lama que Victoire usava. Em algum momento, ela também havia perdido um dos sapatos.

Depois de ambos analisarem o estrago com olhos críticos e atenciosos, chegaram a conclusão de que, no fim, estavam bem. Depois de perceber que o estado de suas roupas era apenas um detalhe insignificante, Teddy e Victoire caíram na gargalhada e Teddy, deitando-se do lado da garota, puxou-a pela cintura e no instante seguinte eles estavam se beijando.

Claro que havia um gosto curioso de poeira e terra nos lábios de Teddy, mas Victoire não pareceu se importar. Eles se beijaram e riram um do outro enquanto, cuidadosamente, limpavam o estrago em seus rosto e continuavam a se beijar, com Teddy delimitando os traços do rosto de Victoire com as pontas dos dedos e, consequentemente, deixando-a ainda mais suja de lama.

— Então, para onde aquele knarl foi? – Victoire perguntou com um sorriso divertido.

— E agora quer dizer que existe um knarl? – Teddy arqueou as sobrancelhas.

— E não existiu o tempo todo? – Vic sorriu para ele antes de beijar-lhe a ponta do nariz. – Vamos embora daqui antes que você exergue algum outro porco-espinho.

         ***

— Pelas Barbas de Merlin, olhe só para vocês dois! – Reclamou Andrômeda Tonks ao observar os dois jovens saindo do meio das árvores e alcançando o quintal da propriedade.

— Vovó, está tudo bem... Foi só um acidente. – Teddy se apressou para explicar, carregando um sorriso torto nos lábios.

— Victoire, querida... Olhe só para as suas roupas! Sua mãe vai ficar furiosa... – Andrômeda se apressou em direção a Victoire onde começou a observar com olhos críticos os estragos em seu vestido. - Venha, entre. Vamos tentar dar um jeito nisso antes que seus pais venham buscá-la.

Abrindo passagem pela porta da sala, Victoire entrou na casa com Tonks com as bochechas coradas de vergonha. Teddy se adiantou para entrar na casa também, mas sua avó o impediu.

— Tem alguém aqui que gostaria de falar com você, Teddy. – Andrômeda indicou com o olhar em direção ao balanço, que ficava mais adiante no quintal.

Quando Teddy seguiu o olhar da avó, percebeu que havia um Curandeiro vestido de branco com o uniforme do St. Mungus. Ele estava de pé ao lado do balanço e, mais adiante, havia um homem sentado em uma cadeira de rodas.

Teddy precisou piscar para perceber quem era, porque se recusava a acreditar. Os cabelos agora estavam completamente brancos e a coluna parecida estranhamente arqueada na cadeira de rodas, mas apenas de observá-lo de longe e de costas Teddy podia afirmar com certeza que era seu avô, Lyall Lupin.

Teddy ficou surpreso ao vê-lo em uma cadeira de rodas. Por um instante, ficou preocupado e queria saber o que havia acontecido, mas ao mesmo tempo a lembrança de sua ultima conversa com o homem o fez hesitar. Ele sentiu uma sensação estranha percorrendo-lhe por inteiro, algo semelhante a culpa. E tudo piorou quando se aproximou ainda mais do balanço.

— Olá... – Teddy chamou.

— Olá, Edward. – Cumprimentou o senhor, ainda sem encarar Teddy nos olhos.

— O senhor está bem? – Teddy percebeu a dificuldade com a qual o senhor respirava pesadamente e parecida sempre faltar-lhe ar.

— Eu vou ficar. – Ele olhou para Teddy e sorriu-lhe fracamente, - E como você está, Teddy? Já faz um tempo... Eu deveria ter ido procurá-lo antes, mas infelizmente não foi possível. Mudou a tonalidade de azul, pelo visto.

O avô apontou para os cabelos de Teddy com curiosidade.

— Já faz mais de um ano, você sabe. – Teddy deu de ombros.

— Me perdoe por isso. As coisas ficaram um pouco complicadas desde a última vez que eu te vi. Foi muito difícil conseguir sair do St. Mungus depois disso.

Ele indicou para o Curandeiro parado logo atrás dos dois. Ele tinha uma postura séria e impassível, ao mesmo tempo em que parecia bastante sereno.

— Sobre a última vez que conversamos, eu preciso dizer que eu estava... – Começou a dizer Teddy, sentindo que as palavras estavam escapando-lhe pela boca sem nenhum planejamento prévio.

— Eu entendo perfeitamente. – Lyall o cortou com um aceno da mão. - Você disse exatamente o que estava pensando. Não fez nada de errado e com certeza eu teria feito o mesmo. Eu não posso dizer que não fiquei magoado, mas eu mereci cada palavra. Após todos esses anos, Teddy... Eu dificilmente conseguiria aprender a lição.

A voz do avô era falha e vacilante, além de parecer se tornar mais fraca e rouca a cada palavra.      

— O senhor quer entrar? Está um pouco frio aqui fora. – Teddy convidou gentilmente, subitamente interessado em passar um maior tempo na companhia do avô.

— Eu gostaria de conversar com você, Teddy. – Lyall o encarou novamente. Os olhos estavam caídos e opacos, quase sem vida alguma. Ele reconheceria de longe aqueles olhos, cresceu os observando em sua escrivaninha ao lado da cama quando passava horas admirando o retrato de seu pai. - Eu entendo que para você seja um pouco difícil me ver assim. E eu peço que você não tenha pena de mim pela minha condição atual. E que, também, não seja por pena que esteja me escutando agora, depois de tanto tempo...

Teddy se sentou ao balanço de metal ao lado da cadeira de rodas do avô. As correntes rangeram pelo grande tempo que estavam em desuso, mas Teddy ficou feliz por não terem arrebentado.

— Senhor Lupin. Eu fui infantil e imaturo da última vez que conversamos. Foi completamente irresponsável e indelicado da minha parte. Eu peço desculpas pelo modo como o tratei... – Teddy se apressou em dizer, embora tivesse medo de olhar diretamente para os olhos do avô e, portanto, apenas encarou o restante do jardim onde sua avó cultivava uma coleção de cactos.

— Está tudo bem, Edward. Eu só gostaria de deixar algumas coisas esclarecidas com você. É o mínimo que eu posso fazer. – Lyall tossiu algumas vezes e o Curandeiro se apressou para trazer-lhe um copo de água e um comprimido. Lyall tomou sem apresentar nenhuma reluta e, quando respirou fundo algumas vezes, Teddy viu que ele estava recuperando forças para continuar falando.

“Primeiro, eu acho que seria justo dizer que eu fui o responsável por condenar Remy, por ter feito com que ele fosse mordido por um lobisomem quando criança. Eu devo dizer que por muitos anos trabalhei como um especialista com repelir Bicho-Papão pelo Ministério da Magia e por muito tempo, também, fui um completo preconceituoso e ignorante com respeito á condição causada pela licantropia... Não me julgue mal, antigamente era bastante comum que a sociedade tivesse um olhar bastante conservador com respeito aos lobisomens na comunidade bruxa e comigo não foi diferente. Durante os primeiros movimentos do Lord das Trevas, eu fui recrutado pelo Ministério para investigar o que estava acontecendo quando me encontrei por acaso com um lobisomem... Eu o insultei a causei sua ira, causando também a transformação de meu próprio filho em um lobisomem quando ele tinha apenas 5 anos.

Quando Remy foi mordido, eu senti que estava vivendo o maior pesadelo de toda minha vida. Quando ele era pequeno, conseguíamos trancá-lo em um quarto com feitiços silencializadores para não assustar a vizinhança... Mas eventualmente, ele foi crescendo e as dificuldades aumentaram. Minha família precisou se isolar no campo onde Remy poderia se transformar com menos restrições, embora fossem necessários maiores feitiços para trancá-lo em um quarto. Foi extremamente doloroso ver o meu filho, sempre tão inteligente e gentil, de repente se transformando em um monstro! Todo o seu futuro estava arruinado, tudo estava perdido... Eu o eduquei em casa para evitar contato com outras crianças, sempre evitava contato com a comunidade bruxa em geral para evitar alvoroços sobre a origem de sua maldição. Eu nunca notifiquei o Ministério sobre a licantropia de Remy.

Eu senti que havia privado Remus de ter uma vida normal, de ser grandioso como ele merecia ser. Eu via a tristeza no olhar de todos que sabiam a verdade sobre ele, inclusive minha esposa, que era trouxa. Foi terrível para ela entender que o que estava acontecendo com Remus aconteceria para sempre, todo mês, sem exceções. Eu já estava conformado de que ele jamais poderia estudar em uma escola de magia quando Alvo Dumbledore... Grande homem, Alvo Dumbledore!... Bateu em minha porta uma bela tarde após Remus ter completado 11 anos. Ele disse que sabia da condição de meu filho e ajustou a escola toda para recebê-lo e assim possibilitou o seu aprendizado de magia.

Mesmo depois de formado em Hogwarts, Remy nunca conseguiu um emprego que durara mais de um ano. Tudo era por conta de sua ausência periódica que sempre levantava suspeitas... É claro que se qualquer um soubesse que ele era um lobisomem, nunca o empregariam de verdade. O único que fez isso foi Dumbledore quando o recrutou para a Ordem da Fênix e para lecionar em Hogwarts, onde ele conheceu o seu padrinho. O que eu quero dizer é que Remus teve uma vida miserável. Após a primeira Guerra, quando dois de seus melhores amigos estavam mortos e um preso em Azkaban, Remus se recusou a voltar a morar comigo no interior, porque minha esposa já havia falecido e ele alegava que eu vivia uma vida tranquila demais. Ele dizia que não queria me prejudicar muito mais com o fardo de ter um filho lobisomem e ter que esconder isso por mais tempo do que eu já tinha feito. Ele se tornou um andarilho, que conseguia empregos temporários por cidades ao redor do Reino Unido e nunca ficava por muito tempo no mesmo lugar.

Eu sei que eu deveria ter insistido para Remus ficar ou ter ido com ele, mas havia algo no olhar de Remus quando ele avisou que não voltaria a morar comigo que eu reconheci como sendo irredutível. Eu era o culpado por sua condição e nunca escondi isso do meu filho. Por muitas vezes quando mais jovem, ele se tornou agressivo e me acusou de destruir sua vida, o que, novamente, era verdade. Mas meu filho nunca deixou de responder as cartas ou enviar ocasionalmente um cartão postal diferente de cada lugar onde se aventurava. Era doloroso pensar que ele vivia ás sombras da sociedade mágica e trouxa, miserável e sozinho.

Quando Dumbledore recrutou novamente a Ordem da Fênix para o início da segunda Guerra Bruxa, Remus retornou para a Inglaterra. E foi aí que tivemos uma briga. Eu aconselhei Remus para que deixasse de participar dessas Guerras sem sentido, que procurasse um lugar para viver mais tranquilamente o restante de sua vida... Não é como se ele tivesse saído intacto da primeira guerra, perdendo todos os amigos daquele jeito, mas dessa vez ele não era mais um jovem pronto para enfrentar o mundo. Ele era um homem cansado e marcado por uma maldição irrecuperável.

Mas ele não me escutou. Eu pensei que estava tudo acabado e que ele tivesse percebido como estava sendo imprudente para um homem em sua condição. Ele voltou para me visitar depois disso, mas não tocamos no assunto. Ele só queria saber como eu estava e se eu precisava de alguma coisa. As visitas foram se tornando menos frequentes porque Remus estava se ocupando novamente, trabalhando para a Ordem. E então ele estava triste novamente, quando Sirius morreu e depois quando Dumbledore morreu.

Eu recebi pouquíssimas notícias dele desde então. Quando a Guerra se intensificou, Remus não retornou para a casa nenhuma vez. Ele mandou apenas duas cartas no último ano que ele estava vivo... A primeira foi apenas para avisar que ele estava vivo e ativo com a Ordem da Fênix. A segunda carta contava sobre seu casamento com a senhorita Nymphadora Tonks. Não vou mentir e dizer que não fiquei decepcionado por não ter sido convidado, mas Remus sabia que eu não voltaria para a Inglaterra com a Guerra tomando proporções cada vez maiores. Eu tinha me mudado para a Escócia depois que minha esposa faleceu. Por um bom tempo, eu não tive nenhuma notícia do meu filho. Ouvia nos rádios e jornais bruxos que a interceptação de correspondências era intensa na Inglaterra e sem dúvida, com Remus fazendo parte da resistência que lutava contra o Lord das Trevas, tudo era muito mais complicado. Por isso, eu nunca o culpei por não me mandar cartas nos seus últimos meses de vida... Não teria como ele saber, também, que tinha tão pouco tempo restante. É completamente injusto para um pai viver mais tempo do que um filho. E eu senti que meu mundo havia sido destruído quando, pouco depois da notícia da morte do Lord das Trevas chegar á Escócia e após eu entrar em tantas celebrações com meus companheiros bruxos pelo fim da Guerra, eu recebi a notícia que meu filho estava morto.

Não foi nenhum pouco fácil, Teddy. Eu imediatamente entrei em contato com o Ministério Britânico para saber detalhes sobre o que havia acontecido. Recebi uma carta do Ministro da Magia Interino que havia, felizmente, conhecido muito bem Remus. Fiquei sabendo, então, sobre a data e o local de seu funeral. Não foi nada feliz comparecer ao funeral do meu próprio filho e encontrar tantas pessoas estranhas á minha volta. Entre eles, eu me lembro de reconhecer primeiro seu padrinho, Harry Potter. Foi nesse dia, Teddy, no dia do funeral dos seus pais que eu vi você pela primeira vez. Primeiro, observei como você era transferido dos braços de uma pessoa para outra, como ocasionalmente você chorava por estar em um lugar com tantas pessoas... Era terrível para qualquer um pensar que você, com um mês de idade, estava presenciando o funeral de seus próprios pais. No início, eu não sabia quem você era. Apenas reparei que era o único bebê presente por ali. Harry Potter o segurava no colo quase o tempo todo. Foi muito tempo depois, quando todas as pessoas já estavam começando a ir embora, que eu pude conhecer a mãe da esposa do meu filho, Andrômeda Tonks. Ela me convidou para conversarmos melhor em sua casa e foi então que eu percebi, após ver o modo como ela cuidava de você, que havia alguma coisa errada.

Ninguém precisou me dizer. Eu sabia. Você era filho de Remus e Nymphadora. Eu fiquei surpreso por descobrir que eu era avô e ao mesmo tempo, fiquei imensamente assustado. E esse foi o meu maior erro, Teddy. Eu tive medo de que você fosse um lobisomem como Remus foi. Eu tive medo do que isso poderia significar para você, para o seu futuro... Eu tive medo do que isso significaria para mim, novamente, ver uma vida ser destruída por essa condição maldita que, ainda, era minha culpa. Eu não suportaria, em minha idade já um pouco avançada, criar outro filho lobisomem para vê-lo viver uma existência miserável e cruel. Algo que eu jamais desejaria a ninguém. Por mais que eu tivesse muito ressentimento por Remus, eu sei que ele conseguiu provar que apesar de ser um lobisomem, ele nunca deixou de ser uma das melhores pessoas que eu já conheci.

Naquela noite, quando conheci você e sua avó, eu também fui embora por medo. Eu não suportaria passar novamente por tudo aquilo. Eu fui covarde e completamente egoísta quando escolhi deixá-los sozinhos. Alguns anos depois, Harry Potter bateu á minha porta. Ele me convenceu de tentar pelo menos conhecer meu neto antes que fosse tarde demais para nós dois. E eu comecei a frequentar secretamente alguns de seus aniversários e até mesmo ceias de natal onde Harry me convidou. Andrômeda, porém, foi bastante clara comigo quando disse que não precisava de minha ajuda para criá-lo, que não precisava de um avô que transmitisse medo e insegurança para o seu neto. Grande mulher, sua avó, embora também muito assustadora. Eu sempre imaginei que você estivesse melhor sem mim, de qualquer maneira. Observá-lo crescer sempre encheu meu coração de alegria e deu um novo significado para minha vida que havia se tornado tão miserável quanto a de Remus.

Eu sei que eu te abandonei e que eu não fui o avô que você precisava que eu fosse... Eu sei, também, que eu não sou um grande homem e que cometi muitos erros durante minha vida. Mas eu gostaria de deixar claro, Teddy, que não houve um dia sequer que eu não me arrependi de cada uma das minhas escolhas ruins, como insultar aquele lobisomem ou decidir não participar da sua vida. Eu entendo que eu possa ser um completo estranho para você agora, mas apesar de tudo, eu espero que você seja capaz de não me odiar tanto assim. “

 Eles permaneceram em silêncio por longos minutos, as palavras do avô ainda pairando no ar ao redor de Teddy. Ele apenas conseguia ouvir a respiração falha e cansada de Lyall ao seu lado, mas por um longo tempo não foi capaz de dizer nada.

Após o que pareceram horas na mente de Teddy, ele pigarreou alto e decidiu começar a falar. Não pensou, não planejou e nem hesitou. Apenas se virou para encarar o avô e começou a tagarelar.

Contou que havia se tornado Monitor e agora era Monitor-Chefe em Hogwarts. Contou que sempre tirou as notas mais altas em Transfiguração e que seu patrono era um lêmure. Também sobre seus amigos em Hogwarts e sobre seu namoro com Victoire. Em todas as palavras de Teddy, os olhos de Lyall se iluminavam novamente com vida, com um brilho cada vez mais peculiar de felicidade. Lágrimas discretas escorriam hora ou outra por seu rosto e Teddy, em momento nenhum, parou de falar. Foi interrompido somente quando, depois algum tempo, Andrômeda interrompeu os dois para chamar Teddy e Lyall para o jantar.

 

*****

 

Meses depois, em Hogwarts, o jovem Monitor-Chefe percorria os corredores de pedra em passos largos e rápidos. Teddy virava os corredores com pressa, praticamente atropelando os alunos do primeiro ano que passavam por seu caminho.

Quando chegou até a porta da sala de Herbologia, usou toda a sua influência como Monitor-Chefe para tirar Victoire da aula do Professor Neville.

— O que houve? – Ela sussurrou para o namorado assim que o alcançou do lado de fora da sala de aula.

— Meu avô acabou de falecer. – Teddy respondeu, com a voz fraca, entregando a carta com dedos trêmulos para Victoire.

A garota arregalou os olhos ao ler a carta e, ainda sem acreditar, não deixou de sentir seu coração acelerar quando olhou para Teddy e viu que ele estava chorando.

Ficando na ponta dos pés, Victoire o abraçou e, afagando seus cabelos, sussurrou em seu ouvido:

— Vai ficar tudo bem, Teddy. Eu estou aqui com você.


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Notas finais do capítulo

Bom, a fanfic está chegando ao fim. Teremos somente mais dois capítulos que serão postados ~provavelmente~em dezembro. Me perdoem pelo sumiço e obrigada a todos que acompanham até aqui. Gostaria de dizer que iniciei uma nova história baseada na vida de Andrômeda, é um projeto antigo meu que dessa vez decidi levar para a frente. Quem quiser conferir podem acessar no meu perfil, se chama Borboleta de Madeira e conta a história de amor do Ted Tonks com Andromeda.

Um abraço e até o próximo capítulo!



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