Im-permanência escrita por Eddie Rodrigues


Capítulo 7
Passado Inacabado




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Parece-me que foi ontem. O telefone tocou insistentemente num daqueles dias em que eu só queria ficar quietinho em casa, sem dar as caras no mundo ou falar com as pessoas, mas apesar do meu pequeno pacto de ignorar qualquer chamado de fora, depois do terceiro toque atendi, era você. “Alô.” Imediatamente reconheço a tua voz, fico mudo, ouço a respiração do outro lado e você pergunta se estou ouvindo. Não consigo dizer uma palavra sequer e desligo o telefone. Que atrevido, como ousa? Súbito enjoo. Então, apalpo a parede às minhas costas e deixo meu corpo escorregar para baixo, sentando-me no chão. Me sinto fraco, enjoado, impotente. “Quem você pensa que é pra brincar assim com os meus sentimentos?” Pergunto enfurecido e com histeria. Silêncio. Ninguém responde. Me dou conta de que estou sozinho, sentado no chão da sala do meu apartamento vazio. Começo a chorar copiosamente. Infelizmente, as lágrimas lavam o meu rosto mas não a minha alma. Não sei quanto tempo fiquei ali, entregue a minha dor. Então, ainda soluçando e desestruturado, arrasto-me escadas acima. Entro no quarto que outrora compartilhamos, bato os olhos na cabeceira que um dia exibia nossas fotografias mas não aguento continuar olhando para nada, tudo me lembra você. Sem alternativas, me jogo na cama e fecho os olhos. Tantos bons momentos vividos juntos. Sorrisos, abraços apertados, promessas, beijos roubados. Hoje, são apenas lembranças dos momentos que ficaram no passado. “Está vendo o que você faz comigo?”, sussurro embaixo dos lençóis. Aos poucos, ainda lembrando de você e sentindo o seu lado da cama vazio, vou apagando neste quarto gélido que um dia também foi seu. Sonho contigo. Eram umas imagens borradas e quase inaudíveis, mas era impossível não reconhecer os momentos que se passavam diante dos meus olhos. Nosso primeiro encontro e primeiro beijo que tu roubou de mim. Um sonho de memórias felizes, e a calmaria trazida com ele não me desperta no meio da madrugada. Acordo diferente. Acredito que pela primeira vez consegui dormir tranquilamente depois que você se foi. Desço para tomar café e percebo que estou sorrindo. Pego o celular que tinha deixado na mesa e me surpreendo ao descobrir que tem uma mensagem sua. “Oi, preciso falar com você. Me liga”. Eu, sem pensar em mais nada, digito teu número sem nem ao menos raciocinar, pois ainda sei de cor e pressiono o botão para chamar. “Oi”.


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