Fui te ver, de longe, te vi entrar naquele ônibus e, minutos depois, partir. Estávamos em Setembro, noite fria, dia mais ou menos chuvoso. Você se foi sem se despedir, e eu com uma leve esperança, esperei por notícias suas, um bilhete perdido em meio a bagunça eterna do nosso apartamento, uma carta talvez, ou até mesmo um simples sms, uma ligação. Nada.

Novembro chegou mais quente que nunca. Dias longos, cansativos. Noites em claro, olhos inchados, mil pensamentos. Apartamento vazio. Silêncio. Tristes sinais de solidão.

E assim como novembro, veio dezembro, janeiro, fevereiro, março. E nada de você. Nenhum sinal sequer. Meus dias estavam cada vez mais vazios. Costumava trabalhar o dia inteiro e passava a noite remoendo nossos incríveis momentos de felicidade. Nós éramos felizes. Eu era feliz. O que aconteceu com a gente?

Decido que não esperarei mais. Que jamais voltarei a me importar tanto com alguém. Decido que posso muito bem ser feliz sozinho. Decido fazer uma completa mudança na minha vida.

Vou ao cinema, ao teatro, ao shopping. Faço compras. Ah, tinha esquecido como adoro fazer compras. Vou ao parque, ao museu, a galerias de artes. Descubro que passei uma tarde inteira me divertindo em minha própria companhia. Vou ao zoológico, a praia, até mesmo ao circo. Sinto-me dez anos mais jovem. Sorrio. Sou outra pessoa.

Meus dias são bem mais tranquilos agora. Voltei a ler e escrever despretensiosamente. Estou trabalhando em um livro novo. Sinto-me mais feliz que nunca.

São 10 horas da manhã. Caminho até o outro lado da rua para tomar um café. O sinal fecha, atravesso, peço o café, sento, pego o jornal, começo a ler. Alguns minutos depois o garçom se aproxima com a minha xícara de café forte, cheiroso, levanto os olhos, dou de cara com você, sentado bem em frente a minha mesa. Estremeço.