Hoseok ainda precisava verificar se era à prova de balas também no primeiro mundo, mas imaginou que não haveria práticas de tiro àquela hora em Seoul. Então, encerrou a projeção.

— Eva, me mostre algum lugar no mundo onde se esteja praticando tiro.

— Beurajil, serve?

— Beurajil, perfeito!

Hoseok se projetou novamente.

— Ainda bem que eu não sinto mais o clima.

O juiz se pôs em frente a um dos alvos e esperou o tiro. Como ele suspeitava, a bala bateu nele e caiu.

— Isso!

Observando a cara confusa do atirador, Hoseok retornou à sala de Eva.

— Excelente. Eu também sou à prova de balas no segundo mundo.

— Você sabe que podia simplesmente ter me perguntado isso, não é?

— Sério? — disse ele, um pouco decepcionado. — Bom, até que foi legal.

Hoseok passou o resto da noite trabalhando na anestesia. Por volta das seis horas, um espectro veio avisar, conforme ele havia pedido, que Jimin acordou. Hoseok foi procurá-lo e o encontrou no corredor do seu quarto.

— Chim Chim!

Jimin se virou para o hyung. Quando olhou em seus olhos e vislumbrou as novas verdades sobre ele, o mais novo arregalou os olhos e rapidamente cobriu a boca com as mãos para evitar gritar.

— Jimin, não se atreva...

Jimin saiu voando velozmente pela Casa do Juízo e foi seguido por Hoseok. Quando o alcançou, Hoseok viu Jimin com as asas ainda abertas pulando em cima da cama de Namjoon, e fechou a porta.

— Hyung! Hyung! O Hobi Hyung beijou a Yonseo! O Hobi Hyung beijou a Yonseo!

O líder acordou, confuso.

— O que você pensa que está fazendo, Jimin?

— Você não ouviu? O Hobi Hyung beijou a Yonseo!

Namjoon piscou várias vezes. Hoseok cobria os olhos de tanta vergonha.

— E por que você está pulando em mim com essa felicidade? Isso é muito sério. Hobi-shi, você não deveria se envolver assim com uma mortal.

— Jimin, já que você gosta tanto de contar a verdade, por que não conta as coisas direito? — disse Hoseok, ainda envergonhado.

— Ele sabe que não deve. Ele gosta dela, mas só quer que ela seja feliz. O Hobi Hyung fez isso porque a Yonseo estava tendo um pesadelo.

— Então está bem. Mas tome cuidado, Hobi-shi.

— Pode deixar.

— Agora eu vou tentar me preparar um pouco, Hyungs.

— Preparar pra quê? — Perguntou Namjoon.

— Esse doido aí resolveu que vai me meter no primeiro mundo. Sei nem se isso vai rolar, mas...

— Nossa recruta vai a uma missão de campo daqui a algumas horas, e quero que ela tenha mais segurança. Então eu disse que iria, e que levaria mais uma pessoa.

— E como ele disse que provavelmente seria eu, então vai eu, mesmo. Annyeong.

— Annyeong, Jimin.

— Vamos projetar às oito — Avisou Hoseok, enquanto ele saía.

— Conta outra, Hyung.

— Só pra ter certeza que você viu isso também. Annyeong.

— Que tipo de missão é essa, Hobi-shi? — Perguntou Namjoon.

Hoseok atualizou o líder sobre o que tinha acontecido.

Às oito, Hoseok e Jimin foram até a sala da Eva acompanhados por Namjoon, para o caso de algo dar errado. Os dois amigos entraram no espelho d’água: Hoseok no centro e Jimin à sua direita. Ele ergueu um painel de água e pediu a Eva:

— Eva, me mostre o atual quarto de Yonseo.

— Claro, mas antes preciso dizer uma coisa ao Jimin.

— Ele não pode te ouvir, Eva.

— Ah, jura? — Disse a voz, com ironia. — Eu não sabia. Acho que você vai ter que dizer pra ele, então preste atenção. Jimin verá uma verdade terrível, mas ele precisa se controlar, ou colocará tudo a perder. Pra que ele consiga manter esse segredo oculto, basta que ele se lembre de uma coisa: essa verdade será revelada ainda hoje.

— Eita — disse Hoseok, preocupado. Então, repetiu tudo para Jimin, explicando-o como Eva falava. Jimin sentiu-se desconfortável, com medo de que tudo desse errado por seu descontrole, mas tentou ficar bem. Depois, Hoseok pediu novamente que ela o mostrasse o quarto de Yonseo, e assim ela fez. A garota estava pronta, sentada na cama mexendo no seu celular. Parecia só estar esperando as visitas. O vidente fez o mesmo procedimento que das fez das outras vezes para projetar, mas dessa vez fez a água subir também em Jimin. O mais novo ficou um pouco temeroso, uma vez que havia morrido em uma banheira (que lembrava muito aquele reservatório). A água subindo pelo seu corpo o fez sentir-se estranho, mas ele ignorou a sensação como pôde. A água estava em uma boa temperatura. Fechou os olhos quando ela subiu ao seu pescoço e tomou-lhe a face. O desespero durou poucos segundos, até que ele finalmente viu a garota à sua frente e respirou o ar do outro mundo.

— Aigo, você sabe ser pontual — disse Yonseo, levantando-se.

Hoseok estava sorridente porque tinha dado certo. Jimin estava ao seu lado.

— Mas é claro. Yonseo, eu quero te apresentar Jimin... — Hoseok virou-se para o amigo e seu sorriso desapareceu, mas Yonseo não entendeu o porquê. Ele realmente estava ali, tudo tinha dado certo. Jimin estava ali, e parecia muito bem. Já o próprio Jimin parecia conhecer o motivo da hesitação (o que obviamente era verdade). — Aigoo... — Murmurou Hoseok. Imediatamente, Jimin colocou as mãos sobre os ombros do companheiro.

— Está tudo bem, hyung! Já passou, e não foi sua culpa. Ouviu bem?

Hoseok fez que sim e respirou fundo. Precisava estar forte para enfrentar aquilo.

— Gente... O que houve? — Perguntou Yonseo, confusa.

— É que... as roupas do Jiminie... Eu já devia esperar por isso, é claro, mas são as mesmas que ele estava usando quando... você sabe.

— Foi o hyung que me encontrou, e... digamos que não é uma boa lembrança.

— Certamente não — disse Yonseo, perdida em seus pensamentos. Aquele assunto a lembrara de seu pai, do assassinato e também de seu irmão. Dois dos amigos dele estavam ali. Por que ele não podia estar?

— Yonseo — disse Jimin, que como sempre, não conseguira evitar descobrir a verdade, mas sabia que essa não era a verdade terrível de que falara Eva. — Eu sei que você deseja ver o seu irmão, mas ainda não é possível. Vocês realmente têm muito o que dizer um para o outro, mas não podemos trazê-lo ainda. Nossa missão está sendo feita em segredo, para não comprometer o... como se diz?

— Parto, Jimin — disse Hoseok. — Ela sabe sobre nossa herdeira. Nós tememos que a investigação possa tirar o foco da gestação em andamento, e é um processo delicado demais para colocarmos em risco. Vamos contar quando a Sunghee vier, e provavelmente poderemos dar um jeito nisso, está bem?

— Sim, está bem... Meninos, temos que ir, ou vamos nos atrasar.

— Ah, sim — disseram os meninos, meio atrapalhados, movendo-se em direção à porta.

Na condução, Hoseok foi explicando para Jimin e Yonseo como funcionaria. Os dois visitantes ficariam analisando a área para notar a presença de pessoas estranhas e assim diriam a Yonseo que caminho tomar para manter a si mesma e a Baekhyun longe delas.

Pouco mais tarde, chegaram ao local do acidente de Jungkook, que não era uma lembrança ruim para nenhum dos dois espíritos, uma vez que já estavam mortos quando chegou a vez de Jungkook. Eles iam voando poucos metros acima de Yonseo, já tendo uma vista aérea do local onde se aventurariam. De longe, viram Baekhyun, que já estava esperando, além de algumas pessoas que estavam dentro do labirinto de lojas abandonadas que era o ninho das gangues. Perceberam um grupo pequeno de meninos e meninas que usavam drogas e também uma dupla de rapazes encapuzados alguns metros depois. Todos eram muito suspeitos. Enquanto os dois vivos se cumprimentavam, Hoseok olhou para Jimin, e a frieza em seus olhos e sua expressão o assustaram.

— Jiminie? O que houve?

— Não é nada — disse ele, torcendo o rosto para voltar ao normal. Ele deu um sorriso afetado que não convenceu Hoseok. O mais velho teve certeza que a verdade terrível tinha chegado aos olhos dele. Olhou para os jovens que tinham avistado, temendo que algum deles fosse o agressor de seu maknae.

Baekhyun levou Yonseo para a entrada do labirinto de lojas, que ficava alguns metros à frente.

— Era um antigo shopping a céu aberto, mas faliu — explicou ele. —  E virou o local favorito para as gangues, drogados, bandidos…

— E aí ele traz ela aqui — debochou Jimin. — Nesse lugar maravilhoso e seguro, onde as pessoas se drogam à luz do dia.

— Fica quieto, Jimin. Yonseo, não vai pra esquerda. A direita tá limpa.

Logo, apareceu uma entrada à direita.

— Vamos por aqui — sugeriu Yonseo, e Baekhyun não apresentou nenhuma resistência. Eles andaram por um tempo pelo corredor de lojas.

— Yonseo — disse Jimin. — Pare e observe.

Yonseo pareceu gelar, temendo o perigo, conforme desacelerava o passo. Baekhyun olhou pra trás, enquanto ela notava o que Jimin queria lhe mostrar.

— O que houve? — Perguntou ele.

— Olha isso — disse ela, aproximando-se de um dos portões de uma loja. Ela agachou e apontou com o dedo. — São marcas de sangue.

— Aigo, é mesmo — disse Baekhyun, abaixando-se também. — Você acha que é dele? Porque aqui devem acontecer brigas o tempo todo.

— Não sei — disse ela, e Jimin não se conteve.

— Com certeza é sangue do Kookie.

— Aigo — murmurou Hoseok.

— Eu diria que é uma possibilidade. Ontem, eu e Sehun analisamos os materiais, e encontramos uns ferimentos na cabeça dele. O impacto deixou uma impressão parecida com esse portão. — Yonseo tirou o celular e fotografou todas as marcas de sangue que achou, dos dois lados da ruela. Depois, se levantou. — Vamos.

Os quatro continuaram pela ruela por mais alguns metros. Os espíritos olhavam ao redor, sempre procurando pessoas suspeitas.

— A dupla de rapazes está se movimentando — notou Hoseok. — Estão vindo para o lado de cá.

— Continue nessa direção — sugeriu Jimin.

Yonseo decidiu apertar um pouco o passo, e Baekhyun tentou acompanhá-la, mas de repente a segurou pelo pulso.

— Espera. Olha isso!

Yonseo e seus escudeiros olharam para onde Baekhyun mantinha seus olhos. Era um grafite. Havia um menino de blusa azul e casaco cinza com capuz, calça jeans rasgada em um dos joelhos e tênis. Os olhos fechados pareciam tristes. Um deles estava coberto de roxo, e havia outras marcas de violência no rosto. Aos lados, havia a frase “If you’re in our way, you’re lost”, além de um símbolo estranho.

Baekhyun cobriu a parte inferior do rosto com as duas mãos.

— É o Jungkook, não é? — Perguntou ele, com a voz abafada.

— Yonseo… — Murmurou Hoseok, mas não obteve atenção.

— As roupas são as mesmas que ele estava usando. E, olha ali no canto.

— JK — murmurou Jimin, apavorado. — Quase não dá pra notar, mas é isso. Aigo.

— O que isso significa? — Perguntou Baekhyun, tirando as mãos do rosto.

— Yonseo, anda… — Mais uma vez, Hoseok foi ignorado.

— “Se você está no nosso caminho, você está perdido”. Isso tem duplo sentido. É uma confissão, claramente.

— Tem certeza? — Questionou Baekhyun, mais uma vez.

— Tenho — disse Yonseo, pegando o celular. — Porque eu conheço essa marca. É a assinatura de uma gangue. — Yonseo tirou várias fotos, e enviou logo para Minji e Sehun. — Uma gangue chamada 7.

— Você precisa continuar agora — disse Hoseok. — Tem dois caras vindo pra cá, e já estão bem perto.

— Vamos — disse Yonseo, guardando o celular e puxando Baekhyun pelo braço. — Vamos embora, já temos o que precisamos.

Eles andaram poucos passos antes que os dois rapazes virassem no mesmo corredor que eles.

— Não olhe pra trás — disse Jimin. — Eles estão atrás de vocês.

Yonseo conseguiu resistir ao impulso e continuou andando. Mas Baekhyun notou estar sendo seguido e olhou pra trás. A princípio, não tomou nenhuma atitude, como se eles não lhe dessem medo, mas isso se reverteu repentinamente.

— Aigo, corre!

Baekhyun se livrou do braço de Yonseo e o segurou. Os dois correram pela ruela, e os que os seguiam decidiram fazer o mesmo.

— Ei! — Gritou um deles, o que deixou a dupla de detetives ainda mais aterrorizada.

— Proteja-os — pediu Hoseok a Jimin. — Eu vou dar um jeito nesses caras.