A Bela e a Fera escrita por Lilissantana1


Capítulo 23
Capítulo 23 - Susto


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo. Estamos indo em direção ao fim meninas. BJO



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Eles fizeram, cadenciada e tranquilamente, o trajeto que conduzia ao chafariz. Um caminho longo, repleto de pontos escondidos, onde por alguns minutos um casal pode permanecer incógnito entre a folhagem alta. Trepadeiras e arbustos.

Mabel percebeu essa possibilidade e entendeu que aceitando tomar aquela direção poderia acabar novamente com os lábios do marquês sobre os seus. Mas, ao diabo! Ela estava cansada de ser sensata e correta. Precisava descobrir como se sentia realmente quanto a Dominic. Se o desejava como homem ou apenas compensava a ausência de Elliot aceitando seu cortejo inesperado.

Como a garota supôs, Dominic estacou a caminhada num ponto estratégico, olhou em volta, segurou a mão que se apoiava em seu braço, conduzindo a dona para o lado, para perto da gigantesca macieira repleta de frutas. Tão logo estiveram frente a frente, ele a encarou por alguns segundos. Não era uma forma de avaliação, era apenas aquele simples olhar carinhoso e repleto de emoção que o marquês passara a lhe oferecer desde o primeiro beijo.

Ou até antes disso. Mabel disse a si mesma se jogando no azul dos olhos masculinos.

Com o coração batendo mais forte, as mãos estremecendo e as pernas levemente bambas, ela tocou o rosto de Dominic, acariciando a face lisa e sem barba. Ele gostou do toque, era  primeira vez que a garota se achegava assim, que o acariciava assim, que o observava assim. A esperança se renovou no peito masculino.

— Tenho pensado cada vez mais em estar a sós com você. - ele falou num tom baixo, melodioso e encantador abandonando a senhorita Nagle.

— Temo que não seja apropriado... - ela rebateu com um sorriso a brincar nos lábios delicados.

— Sim, eu sei... mas, é impossível evitar esse desejo.

O rosto masculino estava mais próximo. Mabel podia ver com clareza os desenhos e linhas que cruzavam pelo azul límpido dos olhos de Dominic. Motivando-o a continuar, ela fechou os seus, e esperou pelo toque que veio em seguida.

Um toque quente e gentil, que gradualmente se aprofundou até que seus lábios estivessem presos aos dele de uma forma sensual e apaixonada. Um beijo exigente que buscava muito mais do que os dois primeiros. As mãos de Dominic pressionaram o tronco de Mabel contra o seu, obrigando-a a ficar na ponta dos pés para conseguir enlaçar o pescoço masculino.

O calor do beijo se aprofundou no corpo feminino. Ondas inebriantes de algo desconhecido tomavam-lhe os sentidos. Os lábios do marquês liberaram os dela e desceram perigosamente pelo pescoço delicado enquanto as mãos subiam e desciam pelo tecido fino do vestido. Deixando um rastro de energia a cada novo ponto tocado por Dominc.

O que era aquilo? Todas aquelas emoções e sensações que de repente a tomavam de assalto todas as vezes em que aquele homem a beijava.

Impossível deixar de fazer uma comparação. Pois nada daqueles sentimentos apareciam quando dos poucos beijos trocados com Elliot. Isso significava muito mais do que ela supôs e a cada novo movimento feito por Dominic, Mabel perdia mais e mais o medo de estar errada.

Ela abriu os olhos e observou a face masculina. Traços diferentes estavam salientados naquele belo rosto. Dominic a queria, ele desejava realmente estar com ela. E ter a exata noção disso produzia um efeito inebriante, um efeito de encantamento, um efeito de... paixão incontida dentro do peito.

— Mabel... – ele sussurrou separando-se do rosto dela, os olhos inflamados pelos beijos, pelas carícias, pelas emoções despertadas através da proximidade. – Por favor... aceite minha mão... você me fará o homem mais feliz do mundo... – ele soltou um beijo rápido nos lábios dela – e sei que poderei fazê-la feliz também.

A garota acreditava que sim, que aqueles breves instantes poderiam muito bem ser a prévia da vida deles juntos num futuro não muito distante. Mas não teve tempo para responder se aceitava ou que não. Sir Hall surgiu no corredor estreito obrigando Dominc a liberá-la. O marquês poderia esperar mais um pouco. Um pouco mais pela resposta dela. Já havia chegado muito longe. Ter um pouco mais de paciência não poderia ser considerado um problema tão grande assim, não depois de ter sentido a entrega de Mabel, de ter percebido que ela era capaz de corresponder aos seus anseios com a mesma desenvoltura e paixão que o consumiam.

— Sir Deeping. Finalmente o encontro!

— Sir Hall... – o marquês começou tentando controlar a decepção por ver o homem diante de si.

— Estive a sua procura... – e encarando Mabel falou: - Bom dia senhorita.

— Bom dia... sir. – Mabel quase não conseguiu dizer nada, aquele homem quase os pegara aos beijos ali, no meio daquelas flores, sob a copa da macieira.

— É algo urgente? – Dominic perguntou em tom seco largando a mão feminina, que ainda estava presa a sua, de maneira mais discreta possível.  Apesar de ter conhecimento que o velho advogado sabia muito bem o que estava acontecendo ali.

— Preciso retornar à capital ainda hoje, recebi uma correspondência importe que exige meu pronto atendimento. Gostaria de saber se o senhor precisa ainda dos meus serviços.

Um suspiro incomodado escapou pelos lábios do marquês. Ele precisava. Havia algo que ainda não discutira com o velho advogado e que deveria ser resolvido antes que a família e ele retornassem para casa. Seus olhos correram para o rosto de Mabel antes que explicasse o motivo de ter de deixa-la.

— Tenho negócios a tratar com sir Hall... – sem constrangimento algum ele segurou a mão que Mabel largara ao lado do corpo e que estivera na sua momentos atrás – Nos veremos logo, durante o almoço. – se abaixando beijou a mão dela em despedida.

Aquele toque úmido e quente trouxe outras imagens e outras sensações à garota. Mas Mabel refreou, evitando que sir Hall percebesse o poder que Dominic já exercia sobre seu corpo. E quando os olhos do casal se encontraram, ela simplesmente sorriu. Fez uma reverência e concordou que se encontrariam durante o almoço.

A dupla masculina se afastou em passadas diretas e até certo ponto rápidas. Mabel viu um banco há poucos passos de onde estava e foi em sua direção. Estava perdida dentro de si mesma, confusa com tudo o que sentia. Com a falta da racionalidade que sempre foi o ponto forte de sua personalidade.

Nunca, em momento algum de sua vida a pequena menina, filha de sir Nagle se imaginou naquela situação. Beijando e aceitando os beijos e carícias de um homem num canto escondido do jardim. Elliot custara a tocar-lhe. Custara a roubar-lhe um beijo. Eles não tinham oportunidade de estar a sós, não tinham a liberdade para se falarem mais intimamente, como noivos que eram, devido ao segredo imposto por sir Chowes.

Será que ela se sentiria da mesma forma se o ex noivo tivesse a chance de abraça-la e beijá-la como sir Deeping fazia sem qualquer constrangimento? Mabel acreditava que não. Em nenhum breve instante de todo o tempo em que estiveram juntos ela sentiu a necessidade de tocar ou beijar o noivo. As palavras de amor que trocavam por carta eram mais do que suficientes para manter o amor vivo.

Agora havia todas aquelas conflitantes emoções dentro dela. Seu coração batia com tal voracidade e felicidade que Mabel acreditava que todos os outros eram capazes de ouvi-lo. A racionalidade parecia perdida em algum ponto de seu cérebro. Distanciada milhas das sensações corporais.

— Fico satisfeito em encontra-la sozinha.

Assustada diante do tom de voz, Mabel ficou em pé e encarou o rosto sério de Elliot. O rapaz continuou a fala:

— Nós. Você e eu precisamos conversar.

Empertigando-se Mabel cruzou as mãos diante de corpo. Ergueu o rosto tentando encarar o ex noivo frente a frente. Uma hora ou outra Elliot viria, ela tinha certeza disso, gostaria de estar melhor preparada. Mais determinada e firme em seus sentimentos por Dominc quando isso acontecesse, porém, depois da noite anterior quando permitira que todos a vissem com o marquês, era óbvio que as perguntas e comentários logo começariam. E ali estava sua confirmação. Parado diante dela. Com olhar chateado e lábios apertados.

— Sobre o que deseja falar?

Elliot se aproximou um pouco mais, olhando-a firmemente.

— Sobre sua dissimulação. Sobre sua falsidade em afirmar que me amava quando esperou apenas que outro com um título viesse e a resgatasse antes que eu conseguisse resolver as pendências que nos afastavam.

Mabel gesticulou indicando a inverdade contida naquelas acusações.

— Isso não é verdade. – ela retrucou firme.

Mas o futuro visconde estava certo de que estava certo.

— Se não fosse, você e eu ainda seriamos noivos apesar de todas as dificuldades. Mas, é mais fácil para a senhorita Nagle aceitar a corte de um marquês a esperar que eu receba meu título.

Nervosa ela moveu a cabeça em negativa. Como Elliot podia conhecê-la tão pouco depois de anos de noivado?

— Estava disposta a espera-lo pelo tempo necessário.

— Entretanto, quando percebeu que fisgara o marquês desistiu da espera. Fico admirado ao constatar até onde foi o seu amor por mim...

Ele a acusaria, ele que não tinha moral ou honra para isso.

— Até onde foi o seu. – ela retrucou sentindo as lágrimas aflorarem. Elliot não poderia culpa-la pela separação quando nunca fizera nada que a aproximasse da viscondessa ou da família dele. Pelo contrário, tinha tanto medo da reação do pai e da mãe que jamais falava com ela em público. – Percebi que está muito próximo de Abigail... tão próximo que cheguei a me questionar desde quando são assim tão chegados.

Os olhos bonitos de Chowes desviaram dos dela por alguns segundos como se ele meditasse no que ouvia.

— Está com ciúmes? – perguntou diretamente voltando a encará-la e se aproximando – Ela é apenas uma distração, para mamãe... a pessoa que desejo ao meu lado é outra, é você Mabel...

Ele permanecia perdido nas artimanhas que montava. Mabel pensou notando a mudança nos traços do ex noivo. Elliot parecia transtornado, com olhar fixo e alterado.

— Nós podemos fugir... podemos ir para qualquer lugar, quando nos encontrassem, seria tarde demais e...

— Seus pais já o teriam deserdado. – ela explicou baixo com um surpreendente medo se instalando dentro de seu peito.

Chowes riu, um riso perigoso e nervoso.

— Floyd não quer o título, ele deseja o sacerdócio. Soube disso hoje, por mamãe. Ela acredita que estou cortejando a senhorita Strang e me confidenciou o desejo do caçula e o medo que tinha de que eu fizesse uma péssima escolha para o futuro...

E que péssima escolha seria se fosse a senhorita Strang. Mabel disse a si mesma e Elliot continuou:

— Sendo assim, eles teriam de aceitá-la como nora ou papai seria obrigado a passar o título para um primo. E isso ele jamais fará. Eu sei. Agora, o caminho está livre para nós Mabel... – ele encerrou a distância entre eles e segurou os braços femininos – basta apenas que você venha comigo para a cidade, nos instalamos em uma estalagem, ficamos lá até a noite, quando nos encontrarem ninguém poderá mais nos separar.

— Não posso fazer isso! – ela anunciou horrorizada com a proposta.

Ele viu medo no rosto feminino e entendeu que ela estava apenas com receio pelo que poderia acontecer quando os encontrassem.

— Sei que você pode temer a reação de Dominic depois de ter incentivado a corte de meu primo. Mas, eu lhe garanto, tia Frances jamais permitiria que o filho agisse como...

— Como você agiu quando o desafiou a um duelo.? – na tentativa de puxar o braço Mabel se desequilibrou e caiu sentada no banco onde estivera meditando alguns minutos antes. – Eu não vou com você a lugar algum Elliot. – concluiu em voz firme e determinada - Você já teve sua chance, nunca se mostrou interessado em tornar nosso amor conhecido ou aceito por sua família.

— Você conhecia meus motivos.

— Conhecia e os compreendia até que eles passaram a ser um peso para mim. Um peso que apenas eu carregava. A espera de um bilhete, um encontro, um sorriso, uma dança, um olhar... enquanto você dançava e sorria para outras, tudo de acordo com os desejos de seus pais. Exatamente como vinha fazendo com Abigail nos últimos dias.

— Você está magoada com tudo o que aconteceu. Eu aceitou e peço perdão... mas não é necessário que continue a se relacionar com Dominic apenas porque meu primo está apaixonado por você... eu sei que ele se fez próximo, tia Frances tentou aproxima-los também, mas pensei muito nisso e vi agora que suas razões para aceita-lo são justas.

— Não... – ela tentou falar e ele se sentou muito próximo, com o rosto a centímetros do dela.

— Dominic sabe como se aproveitar das situações, é expert nisso desde criança. Ele se aproveitou de sua fragilidade, a colocou contra mim e depois se aproximou como se fosse seu salvador...

Mabel desviou os olhos do rosto de Elliot. Em momento algum Dominic se colocara como um manipulador, exceto na tentativa de ajuda-la a tornar o relacionamento com Chowes concreto e viável. De resto, o marquês agira com total e completa seriedade em todos os sentidos.    

Aproveitando-se da breve distração, Elliot a beijou. Surpresa com o movimento inesperado, Mabel não reagiu negativamente de imediato. Só quando as mãos firmes do futuro visconde apertaram seus braços com firmeza, a boca pressionou a sua sem qualquer receio e ele a empurrou contra o encosto do banco quase se colocando sobre ela, foi que a garota atinou de tomar uma atitude.

Nervosamente, se remexeu e sentiu as mãos masculinas se apertarem contra seus braços. Aquilo não era um beijo, não era carinho, amor ou era qualquer coisa que lembrasse uma emoção, um sentimento. Era apenas a eterna briga que Elliot mantinha com Dominic. E ela queria sair dali. O pânico pela possibilidade de serem vistos e mal interpretados a invadiu.  Moveu a cabeça na tentativa de afastar os lábios masculinos dos seus sem sucesso. Com as mãos empurrou o corpo que a pressionava sem obter resultado.

Numa última tentativa, mordeu a boca de Elliot que se afastou imediatamente sentindo dor e o gosto de sangue na garganta. Aturdido pela reação feminina ele não percebeu quando a garota se ergueu do banco e correu pela estrada de cascalho, afastando-se o máximo que conseguia.

Enquanto suas pernas a empurravam para longe do futuro visconde, a mente de Mabel não descansava. O pavor por ter sido quase invadida. Por perceber que aquele homem não a queria realmente. Apenas precisava ganhar, ganhar de Dominic, na eterna disputa em ser o primeiro, como acontecia quando eles eram crianças, a motivava na corrida desenfreada.

Só que Mabel Nagle não passaria por um prêmio a ser conquistado. Não quando se tratava de Elliot.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todas q comentam, eu amo os reviews de vcs. BJOOOOOOOO



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