A Bela e a Fera escrita por Lilissantana1


Capítulo 15
Capítulo 15 - Desespero


Notas iniciais do capítulo

O desfecho do duelo. espero q gostem. BJO



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Uma noite mal dormida significava olheiras, rosto inchado, e aparência de doente. Era assim que Mabel estava quando acordou naquela manhã menos ensolarada. Sonhos confusos e um sentimento de insatisfação preenchendo o peito. Quantos dias ainda teria de suportar aquele mal estar? Se perguntou abraçando uma almofada e logo respondeu para si mesma, até que a data marcada para o retorno chegasse. E isso ainda demoraria um pouco. Pouco para alguns, mas para ela seria torturante aguentar aquelas últimas horas daqueles últimos dias.

Virando o rosto percebeu que a colega dormia a sono solto. A garota viera de madrugada para o quarto. A festa com certeza estava muito boa. Como todas as que a marquesa se propunha a dar.

Mabel se perguntou se Elliot fora. Não teria coragem de questionar a outra sobre esse assunto, que motivos alegaria para justificar o interesse? Nenhum! Melhor ficar na curiosidade, que nem era tão grande assim.

Pela cortina ela viu a luz do sol se estender cada vez mais pelo céu e consequentemente pelo cômodo. As penumbras se desfaziam e de repente a porta do quarto se abriu sem fazer qualquer ruído. Nesse momento de breve suspense, em que Mabel acreditou estar sonhando, até o ingresso de Abigail no quarto, a garota não conseguiu respirar. Porém, assim que constatou a realidade surpreendente daquela visita inesperada recobrou a segurança anterior.

— O que você quer? – perguntou sentando no colchão macio ainda abraçada na almofada.

Abigail sorriu brevemente e Mabel acreditou que ela viera para cantar vitória. Talvez o marquês tivesse dançado com Strang a noite toda, talvez tivesse até realizado o pedido de casamento. Oras, mas o que ela tinha com isso? Nada!

— Vim para lhe contar uma novidade. – a voz sussurrante da outra informou.

Sim, estava certa. Mabel pensou cruzando os braços diante do corpo desejando que Abigail concluísse rapidamente o que tinha para contar.

— Que novidade? – perguntou sem interesse e a “amiga” se sentou na ponta do colchão fazendo suspense. – Se não vai contar, é melhor sair daqui...

— Ontem a tarde, quando estivesse com o marquês, aconteceu algo inusitado.

O que poderia ser inusitado? Mabel se perguntou sem dar-se ao trabalho de formular a questão verbalmente. Será que Abigail não diria nunca o motivo de estar ali aquela hora da manhã?

E de repente Strang começou a falar como se liberasse uma enxurrada de palavras:

— Seu noivo ingressou intempestivamente no escritório acusando o marquês de traição ao se envolver com a noiva dele... como foi mesmo que ele disse? – a outra bateu com a mão na colcha como se estivesse pensando – Ah! Lembrei! Que queria resolver a questão em um duelo... não é excitante? Um duelo! Neste exato momento, no bosque, seus dois pretendentes estão duelando por sua causa.

Mabel permaneceu calada por vários segundos, encarando diretamente o sorriso satisfeito no rosto da outra. Não conseguia acreditar no que ouvia. Era mentira! Abigail estava mentindo. Mas então, por que ela tinha a sensação de que não era mentira?

— Mentira! – falou alto sem perceber que poderia acordar a colega de quarto ao fazer isso.

— Querida! – a outra começou espalmando a mão sobre o peito num gesto irritante – Gostaria muito de estar mentindo, mas, a esta hora, um dos primogênitos das família Deeping e Chowes pode estar morto. E por sua causa...

Por sua causa? Ela e Dominic eram apenas amigos. Que loucura era essa?

— Você sabe que não há nada entre mim e o marquês. – só Abigail poderia ter criado essa confusão toda. Constatou.

— Não se pode dizer isso com clareza, naquela manhã, quando os vi pela janela pareciam muito próximos. Íntimos eu diria. – a garota insistiria nessa versão e todos acreditariam nela, especialmente se um duelo estivesse sendo travado entre os primos.

Mabel fechou os olhos brevemente pensando no que poderia ser feito para dar fim a essa loucura que acabara de ouvir. Mas nenhuma ideia lhe surgiu. Entretanto pulou da cama e vestiu um casaco, o bosque era longe, mas talvez conseguisse chegar lá antes do pior acontecer.

— Por que você não me contou isso ontem? Por que permitiu que seguissem com o plano? Deveria ter falado com a marquesa ou com a mãe de sir Chowes.

Mabel sabia a resposta, Abigail queria ver o circo pegar fogo. Queria confusão. Queria criar problemas. Mas, quando falou a outra se mostrou totalmente inocente:

— Fui terminantemente proibida de mencionar o fato a quem quer que fosse. – foi a conclusão, em tom de desolação.

Enquanto calçava os sapatos Mabel retrucou acusadora:

— Mesmo assim veio me contar agora. Quando talvez nada mais possa ser feito.

— Mal consegui dormir pensando no assunto e logo conclui que se alguém poderia resolver a questão, esse alguém é você, o objeto principal desta disputa. Por isso vim...

Mentira, mentira, mentira! Abigail deixara para o último momento anunciar o que estava acontecendo, para que ninguém, inclusive ela pudesse intervir naquela insanidade. Desesperada saiu do quarto para um corredor vazio, precisava correr se quisesse chegar a tempo.

****************

O som do disparo ecoou entre as árvores e lentamente foi se dissipando. Algumas aves, assustadas com o barulho, alçaram vôo. Dominic permanecia parado na mesma posição a encarar o primo com a pistola a fumegar na mão. direita Elliot nunca tivera boa mira, e ele contava que isso não tivesse mudado ao longo dos anos. Pelo jeito, estava certo.

Entretanto, ele ainda deveria atirar, era a sua vez. Com calma ergueu a mão, moveu o cano na direção desejada, Elliot baixou o braço a espera do tiro que escapou segundos depois e o obrigou a se envergar de dor. Lá estava o sangue, o primeiro ferimento com sangue que dava o bendito duelo por encerrado.

Lentamente Dominic caminhou em direção ao seu criado pessoal para entregar a pistola enquanto seu primo era atendido pelo próprio criado e pelo advogado. Sentado no chão, segurando o braço direito quase na altura do ombro, Elliot urrava, mas não de dor, de raiva. O ferimento era pouco mais do que um arranhão, mas sangrava e com certeza evitaria que Chowes pudesse erguer uma pistola nos próximos dias.

— Como ele está? – perguntou a sir Hall enquanto se aproximava em passos longos.

— Está bem, mas está sangrando, o que dá o duelo por encerrado. – o velho advogado respondeu satisfeito pelo desfecho tranquilo daquele que poderia ser um dos piores momentos de sua vida.

— Não está encerrado! – Elliot falou alto encarando Dominic de frente – Foi um golpe baixo o seu!

— Não houve golpe algum. – o marquês retrucou se acocando diante do primo – Você teve a chance do disparo, mas errou, isso nada tem a ver comigo. E como nosso duelo não possuía como regra final a morte de um dos oponentes, está sim, encerrado com justiça. Agora vá cuidar desse braço.

O advogado ficou em pé sugerindo:

— Volte para casa sir Deeping, eu cuidarei de seu primo e de algum falatório se houver.

— Obrigado sir Hall.

Estava cansado, com a cabeça ardendo e o corpo tenso depois de todas as emoções das últimas horas. Seu cavalo o esperava selado próximo ao criado. Ele montou e a galope retornou para casa imaginando que desculpas daria a sua mãe para a brincadeira daquela manhã de sol.

Quando Frances soubesse, coisa que ele esperava que não acontecesse, seria uma confusão sem precedentes. E essa confusão respingaria em Mabel. Afinal, teoricamente ela era a responsável por tudo.

Pensando bem o marquês chegou a conclusão que a primeira coisa a fazer, assim que colocasse os pés dentro de casa seria conversar com a mãe. Contar-lhe tudo, desde o primeiro acontecimento no jardim até aquele momento. E com isso tirar dos ombros estreitos de Mabel qualquer responsabilidade sobre aqueles acontecimentos fatídicos.

Mas, antes que tivesse entrado em casa, viu a própria Mabel sair esbaforida pela avenida principal. A garota vestia um casaco fino, os cabelos estavam soltos e claramente parecia apreensiva. Seus olhos estavam fixos no bosque e ele soube que ela sabia o que aconteceria lá.

Quem contara?

Óbvio.

A senhorita Strang.

— Mabel! – ele chamou alto quando percebeu que a jovem não o veria. Imediatamente ela se voltou, quando finalmente o enxergou, arregalou os olhos nervosamente e correu em direção a ele falando:

— Sir Deeping! Graças a Deus o encontrei! O senhor não pode ir ao bosque... não pode cometer essa loucura!

Ela acreditava que ele ainda não fora. Mas de fato, como supôs ao vê-la, sabia o que lá aconteceria.

— Não se preocupe senhorita Nagle... está tudo bem, o duelo terminou em um arranhão sem gravidade.

Ela cobriu a boca com as mãos. Chegara tarde demais! Dominic voltou a falar em tom tranquilo e cadenciado:

— Felizmente Elliot é péssimo de mira. E eu nunca tive a intenção de machuca-lo, mas sabia que era preciso ao menos um ferimento para pôr fim ao embate, então, acertei seu braço de raspão. Em uma semana ele estará curado.

Mabel não conseguia acreditar no que ouvia. Eles haviam duelado? Por causa dela? Como algo assim acontecera? As lágrimas voltaram a escorrer, e ela não sabia se de raiva, de dor, de tristeza ou qualquer outro motivo, fato era que vieram com tanta força que fizeram seu corpo se sacudir.

Imediatamente a jovem sentiu as mãos protetoras do marquês a enlaçarem seus ombros para logo depois a apoiar num peito quente e firme. Aquele, definitivamente não era um contato usual, mas a garota sabia que precisava de qualquer tipo de apoio. Há meses guardava o segredo do noivado, há dias guardava o segredo do encontro no jardim. Fora chantageada, acusada de espalhar uma  mentira, rompera o noivado e discutira com o marquês.

Tudo, todos aqueles sentimentos, sensações, frustrações e dores escaparam de uma única vez de dentro dela em forma de lágrimas.

O corpo da jovem se encaixava entre seus braços, o rosto dela apoiado em seu peito balançava suavemente movido pelas lágrimas. Ele afagou suavemente os longos cabelos soltos e Mabel voltou a falar entre soluços:

— Eu... sinto tanto... nunca quis... nunca... que algo assim... acontecesse.

— Não é culpa sua. – ele repetiu em voz alta o que pensava sobre o assunto – E tratarei de esclarecer com qualquer um que se atrever a considerar de forma diferente.

Afastando o rosto da camisa branca Mabel o encarou notando pela primeira vez que o homem diante dela parecia cansado, a barba estava por fazer, o cabelo desalinhado. Pelo jeito a noite dele também não fora nada boa. E mesmo assim ainda tinha ânimo para se preocupar com ela.

— Não estou preocupada com o... que pensam ou pensarão de mim... – lentamente começava a controlar o choro – Estava preocupada com o que poderia ter acontecido nesse duelo... oh! Meu Deus! – um soluço lhe cortou a voz novamente.

As mãos de Dominic seguraram o rosto dela com delicada gentileza.

— Está tudo bem. – o timbre profundo salientou a verdade.

Encarando de frente os olhos castanhos assustados, vermelhos e molhados pelas lágrimas Dominic tentou sorrir, tranquiliza-la em suas palavras. Mas, aquela proximidade também o conduzia para outro desejo, um desejo mais carnal e pulsante. Os lábios rubros, a pele branca, o cheiro dela quase o impulsionavam a romper à distância tão curta que os separava e roubar um beijo.  

Mabel de repente silenciou presa ao modo como Deeping a observava. Aos olhos azuis cansados e tão chateados quanto os dela. Outras sensações de repente brotaram e a garota passou a perceber o toque suave das mãos masculinas sobre seu rosto. O calor do corpo dele de encontro ao seu. A respiração pesada que escapava pelos lábios masculinos.

Por breves instantes quase esqueceu do motivo que a trouxera até ali. Do motivo de ter pulado da cama e saído de casa apenas com roupas leves, sem o espartilho, sem as meias, sem... um toque suave sobre seus lábios, era tudo o que conseguia distinguir.

Em que momentos seus olhos se fecharam? Mabel não sabia dizer, mas era uma realidade que o marquês a beijava e que ela aceitava o beijo.


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Notas finais do capítulo

Então? O que acham? Ele mereceu o que aconteceu? Ser humilhado kkkkkkkkk
E o final? Será q alguém vai ver os dois? OU não?

BJO meninas muito obrigada pelos reveiws, sem vcs eu não teria pq escrever. Atéeeeeeeeeeeeeeeee