A Bela e a Fera escrita por Lilissantana1


Capítulo 14
Capítulo 14 - O Duelo


Notas iniciais do capítulo

E vamos a ele. Será q vai acontecer?



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Mabel saiu do escritório e imediatamente cruzou com Elliot no corredor. O ex noivo se mostrava apreensivo, mas logo ela descobriu que a apreensão dele nada tinha a ver com a irritação dela ou com o fim do noivado, e sim com a possibilidade de Dominic voltar atrás na proposta de ajuda.

— Você não o irritou não é? – foi a primeira coisa que o rapaz lhe disse assim que se aproximou o suficiente, segurando firmemente o braço da ex noiva. Mabel nada ofereceu em resposta e Elliot insistiu:

— Porque conhecendo bem Dominic, sei que é capaz de desistir de nos ajudar.

— Ajudar em quê? – ela se decidiu a perguntar vendo o rapaz olhar cada vez mais apreensivo para a porta do escritório.

— Ora Mabel! Com o dote e o título para seu pai...

Será que Elliot não compreendera o que ela lhe dissera? Mabel se perguntou encarando diretamente o rosto bonito do rapaz. E como, depois de tantos anos, ela ainda não percebera que o ex noivo era um total e completo egoísta egocêntrico? que via apenas o que queria ver.

Que bela dupla formavam os primos!

— Não preciso de dote, nem meu pai de um título. Nós sempre vivemos bem sem eles, e vai continuar sendo assim.

— Mas nosso sonho de um dia nos casarmos será adiado indefinidamente se não obtivermos a ajuda de Dominic.

Chowes não compreendia mesmo que o noivado terminara. Que ela jamais aceitaria aquele tipo de “ajuda”, mesmo que, apesar de viver as turras com o marquês, ele aceitasse. Elliot queria manter aquela ideia estúpida de que tudo permanecia da mesma forma.

— Me largue Elliot. – ordenou finalmente e assim que sentiu os dedos masculinos afrouxarem de sua pele começou a se afastar, mas ainda ouviu o rapaz falar atrás de si.

— Vou conversar com ele, tentar amenizar o que quer que você tenha dito...

Mabel revirou os olhos e puxou o ar com força. Para ela não havia mais o que falar sobre aquele assunto, entretanto, Elliot que fizesse o que quisesse. E enquanto a figura pequena e delicada da garota se afastava pelo corredor, Chowes se achegou a porta do escritório que não estava completamente fechada, lá dentro Dominic conversava com Abigail. E parecia muito irritado. Mabel devia ter dito muitas asneiras e dado o temperamento azedo de seu primo, tudo poderia ter azedado de vez. Mas, enquanto ficava em completo silencio na tentativa de elaborar algo que fizesse o marquês desculpar a descortesia e falta de gratidão de sua noiva, ouviu algo que não queria ou imaginava ouvir.

Furioso com o tom e o teor da conversa, Elliot ingressou no cômodo pronto a bater no primo. Dominic agiu como sempre, daquele jeito, como se estivesse acima da lei, da honra e da justiça. Como se as palavras do primo não representassem a verdade. Porém, Abigail foi muito clara em sua contribuição, ela sabia de tudo, e talvez muitas outras pessoas soubessem que Deeping e Mabel se entendiam. Enquanto ele estava ali na esperança de reverter qualquer burrada que sua noiva... não, sua ex noiva, afinal Mabel rompera o noivado, tivesse cometido. Mas, a situação não seria fácil para ela ou para Dominic, eles só conseguiriam estar juntos por cima do cadáver dele.

*************

O desafio fora lançado Dominic pensou enquanto se acomodava na cadeira, logo depois que uma calada senhorita Strang saíra do escritório. Elliot estava furioso e com certeza falara a sério sobre o duelo. Ele o esperaria no bosque para que se enfrentassem como fazia anos antes. Mas, será que seu primo não percebera que estavam crescidos? Que não eram mais crianças para resolver suas pendências de forma tão irracional? Que agora os problemas deveriam ser resolvidos racionalmente? Com uma boa conversa.

Com calma ele abriu a gaveta diante dele, retirou alguns papéis e no fundo encontrou um pequeno baú de madeira, a trava da caixa foi aberta, havia três chaves diferentes ali dentro. Os dedos longos pegaram uma, o baú voltou ao local de origem e a chave abriu a quarta gaveta da mesa, a direita. Outra caixa foi retirada de dentro da gaveta, era bem maior que a primeira e não estava trancada, ele girou o ferrolho e a tampa se ergueu. Ali havia uma pistola e seis balas descansando sobre um veludo vermelho.

Há anos não usava aquele brinquedo, mas tudo indicava que na manhã do dia seguinte ela seria necessária. Com calma retirou a pistola do veludo, encarou o cano, aquilo ali precisava de uma boa limpeza. Mesmo que o duelo não viesse a acontecer como ele esperava que fosse, pois buscaria o primo mais tarde na tentativa de uma conversa, limpar aquele utensilio o ajudaria a colocar os pensamentos no lugar e relaxar.

Cadenciadamente começou o trabalho, organizando a mesa para o processo de limpeza, depois, chaveou a porta do escritório, não queria que sua mãe o visse a manusear aquela arma novamente.

Frances! Ele lembrou assim que se acomodou para limpar a pistola.

Como ela reagiria se soubesse o que estava acontecendo? Ele precisava ter uma longa e séria conversa com a mãe depois de solucionar a questão com o primo, pois, se a situação não se resolvesse como esperava, e o duelo fosse confirmado, Mabel acabaria por se tornar a principal responsável por tudo. O pivô de todo aquele problema, quando na verdade a moça era totalmente inocente.

*************

Mabel ingressou no quarto e se jogou sobre a cama, estava triste, magoada, se sentindo enganada. Por Elliot, por Dominic e até por si mesma. Pois, em momento algum notara os defeitos do noivo. A falta de interesse dele em resolver a questão de forma direta, enfrentando a mãe. Isso indicava que o amor que ele dizia sentir por ela era menos importante do que a possibilidade de um dia se tornar barão. De herdar as terras e todos os bens da família Chowes. Ela pensara nele, acreditando que ajudaria se esperasse silenciosa e pacientemente o tempo que fosse necessário. Agora percebia que apenas perdera esse mesmo tempo com quem não merecia.

Uma pontada na fronte e uma leve dor de cabeça a obrigaram a se deitar, não era nada sério, mas a garota usou essa desculpa para evitar a ida ao piquenique. Sophie se prontificou a ficar com ela. Afinal, nada havia no passeio que lhe interessasse. Mabel recusou diretamente o oferecimento sabendo que a amiga faria perguntas sobre o motivo daquele mal estar, e tudo o que a senhorita Nagle não queria era ter de responder qualquer questão, pois se sentia tão perdida e magoada que era capaz de contar tudo.

A tarde passou rápido depois que ela pediu um chá e sob o efeito calmante do líquido, terminou por adormecer. Só acordou quando sua colega de quarto entrou esbaforida se abanando com a aba do chapéu.

— Você perdeu um passeio maravilhoso! – a garota falou animada e logo emendou: - Mas espero que tenha se recuperado pois a marquesa está preparando uma nova atividade para a noite. Um baile de máscaras! – a outra arregalou os olhos quase em êxtase: - O que acha? Eu não tenho máscara, mas ela garantiu que poderemos fazer algumas depois do banho. Estou tão animada Mabel!

Mabel não estava nada animada. Um baile era tudo o que ela não queria para aquela noite. Usar máscara. Ficar perto das pessoas. Ouvir as falações desagradáveis. As bajulações. Os olhares atravessados da baronesa. A insistência pedante de Elliot... rever Dominic... involuntariamente sentiu uma vibração estranha no peito. Ainda incomodava pensar no tanto que o marquês se intrometera em sua vida. Mas, agora, enquanto pensava, enquanto relembrava a conversa mantida no escritório, percebeu que em momento algum o rapaz demonstrou qualquer tipo de arrogância ou presunção. O interesse dele era apenas ajudar, retribuir um favor da única maneira que deveria saber fazer isso, usando do poder e da influência que seu título lhe conferia.

Talvez, precisasse realmente pedir desculpas pela forma como o tratara. Acabara descontando nele toda a frustração e decepção sentidas pelo comportamento de Elliot. Não que o marquês estivesse correto, porém... porém... porém... ela queria pedir desculpas, não sabia exatamente porque, mas queria.

***************

Dominic saia do escritório quando sua mãe o interpelou informando que havia três homens querendo vê-lo. Ela conhecia apenas um, era o antigo advogado da família.

— Eu os chamei. – o marquês informou passando as mãos pelos cabelos curtos – Vou recebê-los no escritório. – concluiu retornando ao cômodo onde passara trancado boa parte do dia. E estranhamente aquela era a primeira vez que via sua mãe. Por que Frances não viera insistir para que ele acompanhasse alguma moça no piquenique?

— Porque Mabel estava com dor de cabeça e ficou no quarto. – Frances respondeu rapidamente ao questionamento do filho – E era ela a sua acompanhante. – batendo com a mão no braço do filho concluiu o comentário – Mas já soube que ela está melhor, então, esta noite, você a acompanhará durante o baile de máscaras.

Fechando os olhos; pela primeira vez naquele dia ele sorriu verdadeiramente. O modo como Frances se portava era mais engraçado do que qualquer irritação que pudesse sentir por ser obrigado a ir num baile. Nunca imaginara que a mãe assumiria tão abertamente a função casamenteira. A matriarca sequer preocupava-se em ser discreta. Porém, ele precisava informar que Mabel provavelmente não aceitaria a companhia dele, assim como nunca aceitaria ser a nova marquesa de Deeping.

A garota não se interessava por títulos, e também não se interessava pelo dono do título, ou seja ele.

— Mamãe. Preciso conversar com os advogados, você me dá licença? – desconversou percebendo que os homens já vinham em sua direção. O primeiro ele conhecia bem, era um antigo amigo de seu pai e servia como advogado da família muito antes de Dominic herdar o título. O segundo era filho dele, uns quinze anos mais velho do que o marquês. O terceiro era um jovem que ingressara a pouco no escritório e de quem Dominic ouvira falar muito bem.

Mesmo diante do pedido do filho, a marquesa permaneceu em pé, esperando que o grupo se aproximasse, e logo Dominic descobriu o motivo. A marquesa pretendia convidar o rapaz, o mais jovem do grupo para participar do baile. Levemente encabulado o jovem articulou um pedido de desculpas que seria seguido de uma recusa educada. Porém, Frances não lhe deu tempo para tanto e logo o intimou diretamente o que queria dizer que naquela noite haveria um cavalheiro a mais entre as jovens mascaradas.

A conversa do marquês com os advogados no fim girou em torno de outros assuntos, alheios a dotes e títulos, assuntos que diziam respeito aos negócios da família. Como um bom e preocupado líder cabia a ele resolver qualquer questão que estivesse pendente, porém, naquele momento nada havia em especial que merecesse sua atenção especial. Então, Dominic aproveitou para ter uma conversa solitária com o antigo amigo de seu pai, para informar sobre os acontecimentos daqueles últimos dias. Experiente, o homem lhe alertou sobre todas as implicações referentes ao que os primos pretendiam fazer, mas Deeping sabia que havia apenas uma chance de reverter aquela situação e evitar o duelo. Convencer Chowes de que nada acontecera entre Mabel e ele. Caso isso não viesse a acontecer, o embate se concretizaria na manhã seguinte. Retirando um papel selado de dentro da gaveta principal, Dominic o passou para o advogado.

— O que é isto? – o homem perguntou desconfiado.

— Uma pequena explicação para os fatos, escrita de próprio punho, assinada e datada, se algo mais sério acontecer, fica sob sua responsabilidade fazer uso deste material.

O homem o encarou detrás das pesadas pálpebras enrugadas. Com ar severo e determinado.

— Vai mesmo levar esta história ao limite sir Deeping?

— Se não houver outro jeito, sim.

— Seu pai não ficaria satisfeito com seu comportamento.

Ele sabia disso.

— Como já lhe falei Doutor Hall, vou tentar resolver a questão de forma amigável, mas se não for possível, amanhã pela manhã terei de enfrentar Elliot.

— Isso é um completo absurdo! – o velho ainda falou azedo.

— Já planejei tudo, não se preocupe, de qualquer forma o resultado dessa situação ficará a contento.

O advogado manteve os olhos embaçados sobre o rosto jovem de seu patrão. O que aquele menino estava penando em fazer? Será que não lembrava que se algo lhe acontecesse, tudo o que a família dele possuía, além da mãe, e das irmãs, acabariam sob a tutela do irmão mais novo de seu pai?

— Espero que saiba realmente o que faz, pois detestaria preparar o seu funeral amanhã pela manhã.

Um breve sorriso se desenhou nos lábios estreitos do jovem marquês. Ele esperava que não fosse necessário. Mas, a vida é cheia de surpresas.

****************

À noite, o baile estava montado, com uma rapidez assustadora até para a própria marquesa. Flores foram dispersas no jardim, um tablado improvisado colocado sobre o gramado, junto a fonte principal. Pequenas lamparinas balançavam penduradas em longos fios, sobre as cabeças dos convidados. As roupas eram simples, apenas se destacavam pelas máscaras também improvisadas por cada um.

Mabel decidiu que não iria ao baile. Não tinha ânimo para tanto. Não queria ver Elliot. Na verdade sentia seu coração apertado e um estranho sufocamento a lhe perturbar o peito. As lágrimas já haviam escorrido, mas naquele momento ela estava sossegada, envolta em um xale, olhando a rua. Havia decidido buscar por Dominic na manhã seguinte para lhe pedir desculpas. Acabara exagerando e esse não era um comportamento do qual se sentisse orgulhosa.

Sophie aparecera mais cedo, estava linda, ainda mais linda do que antes. Seu rosto já não irradiava a mesma dor dos dias anteriores. Lentamente a garota deixava de lado os sentimentos que nutrira por sir Duff durante meses ao perceber o comportamento dele com outras jovens. Nada como a decepção para acabar com o amor. Mabel pensou suspirando. Elliot era o único responsável pelo fim de tudo o que ela um dia sentira por ele.

Do quarto ela podia ver as luzes ao longe, de vez em quando, pela fresta da janela também conseguia ouvir o som da música simples. O barulho das risadas e novamente as lágrimas inundavam seus olhos. Só esperava ter uma boa noite de sono para no dia seguinte recomeçar. Esquecer de vez todas as mazelas e tocar sua vida de forma digna.

Dominic empinou a segunda dose de brande e largou o copo sobre a mesa. Fora avisado formalmente de que Mabel não compareceria ao baile, o mal estar voltara e a garota permaneceria no quarto. O que queria dizer que ele poderia se abster do contato social naquela noite. Afinal, como bem dizia Frances, ainda teriam muitos dias para que eles pudessem conversar e fazer companhia um ao outro. Se ela soubesse que o mal estar que acometia a senhorita Nagle era apenas o desejo de não estar com ele?

Ficou em pé e caminhou até a mesinha, colocou outra dose no copo e desta vez nem se preocupou em voltar para a cadeira, bebeu tudo ali mesmo. A conversa esperada com Elliot não acontecera, o que confirmava o duelo da manhã seguinte. Chowes evitara um contato pessoal com o primo o que sobrara do dia. E sequer atendera aos pedidos do advogado de Dominic.  

Com olhos esfumaçados pelo brande ele observou a pistola largada sobre o pano verde de feltro e teve certeza de que ela seria realmente usada na manhã seguinte.

************

A noite estava se encerrando quando Dominic saiu do escritório vestindo a mesma roupa do dia anterior e com uma irritante dor de cabeça. Seu criado pessoal o esperava na saída carregando sob o braço a caixa com a pistola. Elliot já seguira para o local marcado juntamente com o criado pessoal, o rapaz lhe informou. Mesmo assim, eles precisavam de alguém neutro para coordenar e determinar o momento em que o embate se concluiria. Esse alguém acabou sendo, a contragosto, o advogado.

Contrariado e desconcertado com a situação o homem acompanhou o marquês até o local determinado. Lá as armas foram revisadas e as regras estipuladas. Elliot estava mais sério do que nunca. E ouviu cada palavra informativa sem retirar os olhos do oponente. Mas, antes que eles tomassem posição Dominic fez uma última tentativa de trazer o outro para a razão, uma tentativa vã pois Chowes estava completamente determinado a encerrar aquele problema com sangue.

Eles se colocaram de costas, com as pistolas erguidas na altura dos rostos. Cada um daria dez passos em direções opostas, quando se voltassem deveriam atirar, o duelo teria seu fim com o primeiro machucado que sangrasse. E Elliot esperava que além de sangrar também acabasse com a vida de um deles.

A voz maçante e firme do juiz começou a contagem, um, dois, três, quatro... dez. A dupla de oponentes se virou e apenas o estampido de um tiro foi ouvido.   


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Notas finais do capítulo

E então? Nada tenho a dizer. Digam-me vcs.
BJO a todas q estão aqui comentando, deixando sua opinião e me ajudando a escrever a fic. E bjs a todas vcs leitoras fantasmas, espero q os dois grupos gostem do capítulo. Até