Baile de los Pobres escrita por Miss Addams


Capítulo 5
Quinto Passo




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Christopher

“Eu tentei ligar a moto duas vezes até ela fazer aquele ronco maravilhoso! Sério, ouvir isso era como música para os meus ouvidos. Escutei uma notificação vinda do meu celular e o peguei antes que eu pegasse a ‘pista’. Era Day me mandando vários emojis, eu abri um sorriso por isso, aliviado por ter resolvido toda a situação. Minha filha geralmente se comunica comigo pelo contato de Dona Ale, uma das regras que eu estipulei.

E havia outra mensagem, mas era do trabalho, assim que eu cliquei para ver o grupo no Whatsapp senti como se fosse tirado peso das minhas costas, houve um problema na entrega dos fornecedores para a lanchonete eles abririam mais tarde. Isso não significa menos trabalho e sim que não teremos um horário de saída em específico, mas isso acontecer justamente hoje, foi sorte. Ao contrário do que Baker imaginava, eu estava muito atrasado! Por isso ir de moto hoje era a melhor solução, geralmente não tenho dinheiro para ir à lanchonete de moto todos os dias. Mas, ás vezes eu me permito essa regalia. Antes de baixar o visor do capacete e depois de guardar meu celular, eu olhei para o caminho que Anahí fez assim que me agradeceu pelo o que eu fiz.

Não queria pensar nela, mas devido os últimos acontecimentos, isso seria impossível! Por que será que ela veio para cá invés de ir para sua casa? Quem faz o que ela fez ontem e por acaso, sei que é frequentemente, deve estar querendo fugir de algo... Pensei a respeito! Algumas vezes em que eu fui limpar a piscina daquela mansão senti um clima bem tenso. Neguei com a cabeça fechando o visor do meu capacete! Não tinha que ficar pensando nela, eu tinha os meus problemas para resolver.

Por fim, sairia com a minha moto, eu só precisava fazer a curva e sair da universidade. Se eu pegasse a avenida principal nesse horário chegaria em 10 minutos no meu trabalho. Entretanto, foi só eu pensar no meu trajeto que de repente eu fui fechado por um carro no meio do estacionamento. Não satisfeito, o motorista do veículo estava descontrolado e bateu na moto enquanto eu tentava desviar de seu caminho.  Em questões de segundos, eu me levantei e ergui a moto, amassada e arranhada! A raiva súbita fez meu sangue ferver da cabeça aos pés, então me virei para ver quem foi o maldito! Eu juro por Deus que assim que eu reconheci o carro parado e o olhar de Logan me encarando pelo retrovisor, a minha vontade era encontrar qualquer objeto e destruir o carro desse babaca mesmo que eu pagasse muito caro por isso depois. Mas, seria um prazer inenarrável.

Ele me olhou por mais alguns segundos e então deu um sorriso antes de acelerar o carro, sabe lá indo para onde, eu ainda escutei gritos e comemorações que me fizeram ficar ainda mais enlouquecido. Com meu punho direito fechado eu dei três murros em minha outra mão, imaginando ser Logan. Sábado de manhã, havia poucos funcionários, olhei para ao meu redor e praticamente não tinha ninguém presente. Alguns curiosos ao longe, mas todos universitários. Coloquei minhas mãos na nuca ao ver o estrago na motocicleta e pensei no duro que eu teria que trabalhar por meses para bancar o conserto dessa moto! Mas, os amigos de Baker iriam me pagar! Espera aí... Amigos da Baker? Como eu era um OTÁRIO! Com muito ódio, não esperei que ninguém da universidade aparecesse, era sábado ninguém queria resolver problema nesse dia. Estacionei a moto. Fui na direção da universidade, foda-se que eu estava atrasado, foda-se que eu tinha acabado de ser atropelado, eu mataria a Baker!

Eu a procurei por vários lugares por quase trinta minutos, péssima hora para essa universidade ser tão grande! Eu já tinha até acalmado meus ânimos quando a vi. Sozinha em uma das salas de dança, eu entrei no lugar de supetão! Ela tomou um susto quando me viu, de alguma forma tinha trocado de roupa tive que observar enquanto tranquei a porta da sala de chave, não queria testemunhas.

:- O que aconteceu com você? – Ela me perguntou com os olhos arregalados que só poderia ser parte do seu teatro interpretando um papel de cínica, continuei andando em sua direção. – Você está sangrando? – Ela questionou de repente ao olhar para minha perna. Só por isso eu parei!

Estava tão transtornado de raiva que nem senti dor. Depois do atropelamento só me preocupei com a moto, pensando na minha perna e só nesse momento senti o machucado, uma dor aguda, mas suportável. Minha raiva aumentou, mas me convenci que seria apenas um 'arranhado'. Olhei para a minha perna e tinha uma pequena mancha escura formada pelo meu sangue.

:- Sabe o que foi isso? – Eu gritei, voltando a assustar ela e continuando a caminhar na sua direção. – Eu acabei de sofrer um acidente, quer dizer, foi uma batida proposital! – Disse entre os dentes, Anahí andou para trás e acabou encurralada entre eu e a parede. – Logan avançou o carro dele contra a moto em que eu estava. O seu namoradinho estava dirigindo bêbado e sabe o que é pior nessa história toda? Os seus amigos comemoraram no final das contas!

:- Eu... – Ela tentou formular alguma frase e não conseguiu.

:- A culpa é sua! – Eu disse fazendo ela me olhar como se eu fosse um louco, mas eu estava mesmo louco de ódio.  – Você me trouxe para essa armadilha não foi Baker? – Eu dei murro na parede ao lado da cabeça dela, isso a fez se revoltar e me empurrar.

:- Está louco!? Eu não tenho nada a ver com isso! – Se defendeu gritando também.

:- Por que me trouxe até aqui em pleno sábado? Não acha isso suspeito?

:- Isso não interessa a você! – Ela devolveu ficando irritada também, já dava para ver a raiva no seu olhar.

:- Você me enganou! – Eu concluí sentindo vontade de esganá-la!

:- Você é burro ou o quê? Não! Com certeza você peca na inteligência mais do que esse pobre bichinho. Na verdade, você é o verdadeiro animal. Irracional! Não sei o porquê Logan fez isso, eu não estava lá, eu não falo com ele desde ontem. Você esteve comigo o tempo inteiro sabe que estou sem meu celular. Como é que eu planejaria algo dessa magnitude? Pensa, Christopher! – Ela desatou a falar com raiva, dessa vez apontando o dedo na minha cara. – Como é que eu iria fazer tudo isso bêbada? Planejei ir até sua casa também? Nem nos meus piores desejos iria querer alguém machucado, eu não arquitetaria um atropelamento, isso é baixo, sujo! Provocar o ferimento de um bailarino é desumano, eu jamais faria isso, você me ofende dessa maneira! – Ela encarou os meus olhos de uma forma tão segura que tudo fez sentido, eu já estava envergonhado pela cena que eu protagonizei.

Bufei mais uma vez tendo que reconhecer que eu errei. Pensei em Day e agora que Baker sabe dela, ela tinha o maior trunfo contra mim. Se ela ficasse irritada comigo poderia descontar em minha filha.

:- Olha eu... – Comecei tentar me desculpar, mas Anahí me cortou!

:- O quê? Deixa-me completar a frase por você... Sou um idiota irresponsável! – Ela deduziu, me olhando da cabeça aos pés com um olhar de superioridade, aquele que mais me irritava por que com esse olhar, ela nos separava como se eu não fosse digno de estar no mesmo ambiente que ela. Resultado disso? Esqueci meu constrangimento e voltei a ficar com raiva.

:- Não fale assim comigo! Você nem sabe como tudo aconteceu, o estado no qual ficou a motocicleta, você tem noção de quanto tempo eu vou levar para pagar esse prejuízo? Por que seu amigo babaca vai se livrar dessa e nós sabemos disso. – Eu tentei me justificar, mas cada vez mais o olhar dela me julgava.

:- Você tem que pensar nisso depois, é só um bem material, não é seu? Ok! Mas, isso se resolve depois!

:- Para você é fácil falar, já que se estalar os dedos seu pai compra um loja de motos se você quiser.  – Eu soltei um riso irônico. Ela não tinha noção da minha vida mesmo após ver o lugar onde eu moro. O que eu falei a incomodou!

:- Você é mesmo um idiota! – Ela me empurrou outra vez. – Eu tento te ajudar, mas é esse tratamento que eu ganho em troca! Você acabou de sofrer um acidente está com a perna sangrando e invés de pedir ajuda ou ir ao hospital saber qual é o seu verdadeiro diagnóstico está preocupado em me acusar! Você deveria descontar a sua raiva em outro lugar ou outro alguém e não em mim. Não hoje, sinceramente estou farta de ver você, vá embora! – Ela falou o que quis e ainda me expulsou. Anahí sairia e me daria às costas, mas não deixei e a peguei pelos braços puxando contra mim.

:- Eu já lhe disse para não me chamar de idiota. – Eu adverti encarando seus olhos e sentia a respiração dela bater no meu rosto, desviei o olhar para sua boca e o hálito dela tinha frescor de menta. Ao olhar para o canto da sala vi uma mochila jogada, ela tinha um kit com produtos de higiene?

:- É isso o que você é. – Ela me chamou a atenção novamente e eu voltei a olhar para sua boca e para os seus olhos. Ela tinha razão, eu era mesmo um idiota.

:- Eu vou seguir o seu conselho e vou descontar minha raiva, mas vai ser em você! – Eu adverti mordendo o lábio como uma última tentativa de me conter, mas não teve jeito. Anahí pensou que eu a machucaria, a bateria ou algo assim, por isso não esperava que eu a beijasse. Isso um beijo!”

:- Christopher você está me ouvindo? – Paul falou me encarando tanto curioso como irritado, eu devo ter o ignorado por bastante tempo.

:- Desculpe, minha cabeça estava longe. – Eu encarei o professor substituto da nossa primeira aula obrigatória do projeto. Vi a forma como ele estava sentado na mesa da sala de dança, justamente ali o objeto que despertou minhas lembranças. Bem ali, eu sentei a Baker enquanto eu beijava seu pescoço e ela arranhava minha nuca. De repente ela cruzou as pernas em minha cintura e eu reclamei de dor em minha perna e foi assim que Anahí me afastou e Paul voltou a falar comigo afugentando mais uma lembrança.

:- Quero que você seja o primeiro a dançar. – Paul me arrancou das minhas lembranças e isso fez com que até os mais distraídos da aula prestassem atenção.

:- Eu? Claro! – Assenti me levantando.

:- Sua perna está melhor? – Paul me perguntou se levantando e indo sentar para começar fazer anotações.

:- Novinha em folha. Só estou usando um grande band-aid! – Eu comentei indo até a frente da sala. Olhei para todos, meus amigos estavam me encarando despreocupados e alguns até entediados. Do outro lado estava o pessoal do balé, todo mundo agindo como se fosse um porre estar aqui e era. Como Paul era apenas um substituto de Brian, não seria ele que nos avaliaria outra pessoa seria designada e ficar a frente desse projeto.

:- Ótimo! Quero que dance reggaeton e depois hip hop! – A escolha dele me surpreendeu, achei que fosse me pedir que dançasse balé, ainda bem eu era péssimo. Até os que estavam fingindo desinteresse, pararam de falar, dos colegas da minha turma recebi até alguns sorrisos. Claro, aquela era nossa praia! Voltei a olhar para o outro lado da sala esperando ver a reação dela. Anahí parecia tão distraída como eu, ela estava com um olhar vago, sentada no chão, diferente dos outros não estava destratando ninguém. De repente, ela parecia perceber que eu estava a vigiando e desviou o olhar do chão para a mesa de Paul. Depois ela me encarou e eu fiquei surpreso! Ela estava pensando no mesmo que eu.

:- Agora a aula ficará boa! Já deu no saco todo mundo dançando balé, eu posso escolher as músicas professor? - Diego levantou e me encarou contente. Me lembrei do tratado que fiz com Anahí, nós estávamos seguindo com ele por enquanto, isso foi como um verdadeiro choque para todos. Até nos tratávamos com educação algo que antes não acontecia. Mas, nossa rixa era grande e nossa batalha seria na dança. Modéstia a parte, ela teria muito trabalho.

Quando a música começou a soar pelo ambiente, fechei meus olhos e senti cada vibração e transformei em passos. Eu pisava, voltava, descia a cada movimento que eu fazia começava a incendiar aquela aula. Paul estava surpreso e empolgado, meus amigos estavam eufóricos e os playboys e mimadas estavam silenciados. Sabe o prazer que você tem de deixar seus inimigos sem palavras? Pois é, acontecia ali e graças a mim. Comecei a dançar para provocar, mas especialmente para provar que eu sou tão talentoso quanto qualquer um ali que use collant. Um fato inusitado daquela sala era que havia uma rivalidade muito grande, mas nenhum grupo já viu o grupo rival dançar realmente, existia um preconceito grande. Aquela era minha chance de me mostrar! Então depois de girar no chão, ergui meu corpo e dei um mortal para trás e ao voltar ajeitei meu boné encarando todos. Paul me aplaudia, minha turma estava aos berros e os outros... Bem estavam me engolindo a seco.

Justamente nesse instante acabou a aula, meus amigos Diego, Tina e JP se aproximarão para me elogiar eu sorri ao ver como eles estavam empolgados descrevendo e zombando dos riquinhos esnobes. Eu ri antes de ver que Anahí passava perto de nós para sair da sala. Eu esperei que ela fizesse qualquer coisa, algum comentário me reprovando ou fingindo ter gostado da minha dança, qualquer reação dela. Menos que ela simplesmente me ignorasse. Ela saiu da sala e sequer me olhou. O que deu naquela garota?

O papo estava bom, eu estava contente, mas tinha que correr. Se ficasse mais um pouco ali me atrasaria para o meu expediente extra na lanchonete, estava entrando mais cedo para conseguir ganhar a mais. Todos os dias era uma correria danada, mas ultimamente eu acho que só vivo para trabalhar e pior ganho uma merreca! Enfim, de qualquer forma era aquele ditado: Pobre não tem escolha ou trabalha ou passa fome.

Então, assim que me troquei na lanchonete foi um alívio ver que o movimento estava baixo. Praticamente quem estava ali eram os clientes fieis e meus amigos, meu turno seria tranquilo, mas repentinamente eu tomei um grande susto. Cocei meus olhos duas vezes, mas parecia que a cena era real. Anahí entrou na lanchonete e sentou em frente a uma mesa. Se eu não estivesse no trabalho e me contassem eu certamente diria que era uma baita mentira. O que essa patricinha queria justamente aqui?

 

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