Baile de los Pobres escrita por Miss Addams


Capítulo 4
Quarto Passo


Notas iniciais do capítulo

Quem é vivo sempre aparece! Até mesmo a autora que vos escreve! :D



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Anahí

:- Acorda. – Escutei o que parecia ser apenas um pedido sussurrado. Por isso apenas estiquei minhas pernas.

:- Acorda! – Dessa vez escutei mais forte como uma ordem e por isso fiz uma careta. Só poderia ser um sonho! – Anahí, você precisa acordar! – senti meu coração acelerar e minha respiração ficar mais rápida. Se eu estava tendo um pesadelo, com certeza era com o Christopher. Resmunguei sem saber se estava acordada ou não.

:- Você está fingindo? Acorda! Estou atrasado! – O tom de voz dele me fez arregalar o olho e senti meu coração bater mais rapidamente contra meu peito. Aquilo era pior que um pesadelo, era minha realidade. Que lugar era aquele? E o que eu estava fazendo com Christopher? Não! De novo não. Pensei ao sentir a primeira fisgada de dor de cabeça. Aquilo só tinha um nome: Ressaca! Por eu estar em um estado inebriado, aquilo causou a irritação de Christopher que foi até onde eu estava para me cutucar e falar em um tom bem severo.  - Está surda? Anda logo!

:- Deixa de ser estúpido! - eu me exaltei o empurrando com o pé e logo em seguida me sentei, me movendo rápido demais. Isso não é bom. Esmaguei minhas pálpebras e coloquei meus dedos indicadores e médios de cada lado da minha cabeça e pressionei, como se a dor fosse passar com uma simples massagem. Sem que eu visse, senti Christopher se afastar não sem antes ouvir ele bufar bem alto demonstrando toda sua paciência comigo. Será que ele não via que eu estava desnorteada?

:- Toma isso, vai se sentir melhor! – Abri meus olhos e me deparei com um copo grande de água e comprimidos. Olhei para a mão dele estendida e depois para sua expressão fechada, eu só queria me livrar daquele estado e tirar a secura da minha boca, se ele estivesse me oferecendo veneno, eu cairia direto na armadilha. Tomei os comprimidos e engoli o copo de água com desespero. Depois de alguns segundos, suspirei com pesar pensando em como aquele dia seria longo para mim.

Só após sentir o alívio momentâneo em minha cabeça que me permiti olhar ao meu redor, estava acomodada em um sofá, deveria estar tão cansada que não me movi durante o sono e isso só resultaria em dores pelo meu corpo, especialmente em minhas costas. Ao perceber o que eu estava vestindo, não consegui deixar de arregalar os olhos ao pensar como havia parado ali. Deus! Que merda... Pensei conforme fui me lembrando da noite passada. Eu estava na casa de Christopher, usando as ROUPAS dele, sendo CUIDADA por ele. Realmente, nem em meus piores pesadelos eu poderia esperar por isso. Talvez fosse melhor sair o quanto antes daqui e fingir uma grande amnésia.

:- Onde estão minhas roupas? – Eu perguntei hesitante já constrangida pela situação. Ele que estava parado me encarando apenas apontou para o braço do sofá onde estavam meus pertences. Me levantei e olhei de canto até ele perceber que eu gostaria de um pouco de privacidade. Christopher tomou um ligeiro susto antes de se virar de lado, ele tirou o celular do bolso para começar a mexer nele como um disfarce pela sua vergonha. Se fosse outra situação, se fosse outra pessoa eu até poderia rir do que estava vivenciando.

Mas, eu tinha que ser rápida, agora era eu que queria que sair dali o quanto antes. Se alguém descobrisse o que aconteceu? Minha reputação certamente estaria arruinada. Ao tirar as roupas masculinas do meu corpo e colocar meu vestido parte do meu cabelo ficou preso entre a peça de roupa e minha nuca. Assim que tirei as mechas presas com um simples movimento notei um quadro pendurado na parede. Era chamativo demais. Na fotografia, eu vi uma versão de Christopher mais nova, uma senhora e uma pequena criança, todos sorridentes. Por estar tão concentrada, tomei um susto quando Christopher voltou a falar cortando o silêncio no ambiente.

:- Temos que ir agora! – Ele anunciou me apressando depois de se abaixar para pegar uma mochila preta de couro. Eu dei um pequeno pulo de susto por quase ter sido flagrada, mas ele nem pareceu notar.

:- Onde está o resto? – O questionei, voltando para a constrangedora realidade.

:- Que resto? – Ele fez uma expressão confusa e só então reparei como ele estava vestido. Formalmente, pele do rosto sem barba, discreto. Não parecia nem a sombra do cara que frenquentava a faculdade como todo seu estilo... HM, como poderia classificar? Urbano!

:- Meu celular, meus documentos, carteira, bolsa... – Eu voltei a falar começando a ficar preocupada ao ver a expressão que Christopher fazia.

:- Quando eu te encontrei você estava só com a roupa do corpo e passando muito mal. – Eu só suspirei e passei a mão no rosto, tentando me lembrar onde diabos eu tinha enfiado minhas coisas. Eu só espero ter deixado tudo guardado no guarda volumes da balada de ontem. A minha situação não poderia piorar, eu não tenho nenhum dólar para voltar para minha casa e nem fazia ideia da onde eu estava. – Se você for mais rápida, eu te deixo em algum lugar, mas tem que ser agora, eu preciso ir trabalhar. Sabe como é ter que ganhar a vida com meu próprio suor?

Ele soltou a sua ironia e ainda me brindou com um sorriso descarado. Eu respirei profundamente para relevar essa provocação, eu estava por baixo. Na verdade, eu já estava perdendo aquele jogo por dois a zero. Tinha que reverter essa partida o quanto antes, mas por enquanto eu estava nas mãos dele. Coloquei os meus sapatos e esperei enquanto ele trancava portas e janelas, estranhei, mas o melhor que poderia fazer era ficar calada. De repente, ele passou a ter mais pressa para fazer suas tarefas, tinha ânsia de sair dali. Quando ele me chamou para irmos, apenas o acompanhei e esperei ele abrir a porta. BOOM! Com a porta aberta demos de cara com rostos familiares.

Quer dizer, estavam paradas diante da entrada casa à senhora e a criança da foto que eu vi na sala. A mulher mais velha, agora a vendo de perto não me deixava duvidas, só poderia ser a mãe de Christopher, agora a menina mais nova só poderia ser sua...

:- PAI!!! – A criança soltou um grito feliz e pulou no colo de Christopher. Eu fiquei paralisada, piscando atônita. Pai? Eu tinha ouvido direito? – Eu pensei que já tivesse ido embora. – falou a pequena com a voz de anjo.

Pela forma na qual Christopher ficou pálido repentinamente e como ele me olhou com os olhos tão arregalados quanto os meus, eu só poderia constatar que tudo era verdade. Christopher tinha uma filha e isso explicava sua pressa em sair de casa. Não era para ir trabalhar e sim porque ele queria me tirar daqui o quanto antes. Antes que eu descobrisse que ele tinha uma filha. Mas, por que será que isso era um segredo?

:- Achei que já tivesse ido trabalhar meu filho! – A senhora deu um passo para entrar na casa e o cumprimentou só então me viu. – Oh! Ah... Oi! – Disse a senhora tão surpresa quanto eu. – Bom dia.

:- Oi, bom dia, sou Annie. – Respondi no automático imediatamente o meu apelido, a forma pela qual eu sou conhecida pelos meus amigos e por minha família.

:- Sou Alejandra, a mãe de Christopher. – Ela sorriu falando um inglês perfeito. – E essa pequena é a Daiana. – A menina me encarou sorridente por ter sido apresentada e eu retribui o sorriso. Isso fez com que Christopher saísse do seu estado de transe e voltasse para si. Ele deu um beijo na testa da garotinha antes de abraçá-la e só então colocá-la no chão.

:- Eu preciso ir agora, estou muito atrasado, mãe! Day se comporte nós nos vemos mais tarde! – Ele deu outro abraço apertado na filha e eu não sei explicar o que senti vendo essa cena.

Logo em seguida, ele me puxou pelo braço e fechou a porta sem mais delongas e nem explicações. Christopher saiu em disparada até a calçada e eu fui atrás dele caminhando devagar pela minha condição e pelo salto alto, em certa altura, ao olhar para trás vi a menina me encarando de uma das janelas. Ela deu um sorriso fechado e me deu tchau com a mão pequena.  Eu acenei de volta e esbocei um sorriso de lado. Christopher tinha uma filha! Minha ficha caiu.

Só então voltei a olhar para frente, Christopher tinha sumido, continuei andando incerta até onde eu achava ser o caminho feito por ele que tinha saído tão rápido que foi difícil de acompanhar. Ao ver as casas da rua mal asfaltada dava para ver que era um bairro carente e periférico. O dia ainda estava amanhecendo e as poucas pessoas que estavam na rua me encaravam feio. Era fácil perceber que eu era uma forasteira por ali. De repente eu parei de andar depois que dois meninos ficaram me encarando com segundas intenções. Nenhum sinal de Christopher, eu já estava assustada quando senti alguém me puxando pelo braço e me colocando contra uma parede.

Parecia que meu coração sairia pela boca de tão desesperada que eu fiquei. Mas, era Christopher que estava escondido numa viela. Maldito, queria me matar de susto!

:- Você não sabe o quanto estou arrependido de ter cruzado o seu caminho ontem! – Ele disse na lata com um olhar raivoso.

:- Porque as pessoas da faculdade não sabem que você tem uma filha? – Eu disparei em troca. Isso fez com que ele engolisse a seco, não esperava que eu também fosse tão direta. Mas, eu seria sim. Estou muito curiosa!

:- Não se meta aonde não foi chamada Baker! – Ele me advertiu praticamente me ameaçando, só comprovando minhas suspeitas. Tinha que descobrir o que Christopher escondia, ele me olhava acuado ao mesmo tempo raivoso por ter sido exposto, não me rebaixaria para ele. Não agora!

:- Você me levou até a sua casa. – Eu disse me justificando, afinal não forcei nada daquela situação.

:- Você estava bêbada! – Ele me disse exaltado e foi a minha vez de engolir a seco sentindo os sintomas da ressaca. Ficamos tensos segundos calados só encarando um ao outro. Olhar com olhar. Mais uma de nossas batalhas. Eu comecei a ter flashes de memória do que aconteceu de madrugada e franzi a testa quando me lembrei de ter pedido para ele não me deixar sozinha. Eu o agarrei pelo pescoço e implorei que me ajudasse. Naquele momento meu coração estava machucado.

Não sei se ele estava se lembrando o mesmo que eu, mas a forma como ele me encarava ficou mais leve.

:- Essa situação é desfavorável para nós dois então poderíamos passar uma borracha e esquecer tudo isso. Se você não abrir a boca prometo não contar a ninguém que eu cuidei de você.  – Não foi à escolha de palavras que ele usou que me irritou. E sim, o seu tom de voz que mais parecia uma ameaça.

:- Não pedi para você cuidar de mim. – Eu rebati.

:- Não seja uma má agradecida. – Ele comentou sorrindo maldosamente.

:- Esta não é a questão. Até porque você pode ter feito isso para ter mais um motivo para me humilhar novamente. Para quem entrou no meu quarto encenou uma situação e gravou tudo para que eu virasse motivo de chacota, eu não duvido de nada. Quem me garante que não fará o mesmo agora? Você só não contava que eu descobrisse o seu segredo. Você só poderia estar jogar ao seu favor.

:- Você está enganada. Eu não te ajudei pelo o que esta me julgando, eu vi como, os que você diz ser seus amigos, te abandonaram na rua. Você estava num estado péssimo, Anahí. – Ele relembrou. Eu pensei no que ele disse e era difícil admitir que nesse sentido ele estivesse certo. Os meninos estavam tão bêbados que não se aguentavam em pé. – Ele soltou um suspiro e se aproximou me prensando na parede dizendo algo inaudível.

:- O quê? – Eu perguntei incomodada com o corpo dele tão próximo.

:- Me desculpe pelo o que eu fiz. – Christopher falou em alto e bom som, não sem deixar de fazer uma careta. Esse menino só poderia estar em um puro estado de desespero. – Vamos esquecer essa história toda!

Christopher insiste em manter em sigilo que ele tem uma filha, isso não é intrigante? Pensei ao me lembrar da pequena. Ela me encantou logo de cara e isso me deixava mais intrigada, por que esconder do mundo um ser tão precioso? Pelo pouco que presenciei, deu para perceber que ele ama sua filha. Agora ele passar por cima do próprio orgulho e se desculpar justamente ali sendo que eu insistir para que isso acontecesse inúmeras vezes, era no mínimo estranho.

O incomodo que eu senti por ele estar tão próximo passou e deu lugar a curiosidade, passei a encarar seus olhos tentando descobrir uma explicação. Ele tinha receio estampado no olhar. Então vi oportunidade surgir na minha frente, agora seria o momento ideal para reverter à partida ao meu favor.

:- Posso até esquecer tudo isso se nós dois fizemos um trato. – Disse ao pensar que eu também estava nas mãos dele. Se Christopher não queria que soubesse que ele tinha uma filha, eu não quero que saibam que eu tenho uma história com ele.

:- Qual? – Ele perguntou desconfiado.

:- Vamos levantar a bandeira branca! Nossa rivalidade é muito grande e graças a ela estamos pagando um preço muito alto. Eu não posso arriscar ter uma nota ruim porque não nos entendemos nas aulas ou porque os outros estão nos culpando pelo o que aconteceu. Nós iniciamos uma guerra Christopher e só nós dois podemos apagar esse incêndio. Pelo menos até esse trabalho acadêmico acabar, vamos dar um tempo dessas provocações e jogos. Eu estou muito cansada disso tudo.

:- Você está falando sério? Ou faz parte do seu jogo para sua revanche. – Ele me questionou desconfiado.

:- Faz parte do meu jogo! Deixa de ser idiota, ao contrário de você que teve que invadir meu quarto e ser baixo, eu estou jogando as cartas na mesa. Minha vida na faculdade está um inferno e não estou mais suportando, vamos dar um tempo dessa história pelo menos até esse trabalho acabar. – Eu disse. Ele pensou por alguns segundos e então me estendeu a mão.

:- Aceito a sua proposta. – Ele esperou que eu pegasse sua mão e assim que eu fiz isso, ele a puxou junto ao seu peito me fazendo grudar nele. – Esqueça tudo o que viu hoje aqui Baker. Se você abrir a boca eu esqueço esse trato e prometo que você me pedirá misericórdia.

:- Não vou contar a ninguém que você tem uma filha, Christopher, apesar do excesso de zelo que você tem. – Eu disse o encarando e abusando da minha habilidade da mentira. Claro que eu estava arquitetando algo.

Meu plano era bem simples! Eu realmente vou erguer as bandeira branca, mas não desistira de vencer aquele jogo, eu só tinha que tirar meu time de campo por hora. Sabia que minha rivalidade com Christopher não acabaria com simples aperto de mãos. Eu só queria redirecionar essa rivalidade para a melhor arena de combate para nossa batalha. O palco.

:- Para onde você quer ir? – Christopher disse por fim soltando minha mão e se afastando drasticamente. Pensei rapidamente, minha casa era o último lugar para o qual eu queria ir naquele momento.

:- Me deixa na universidade. – Respondi dando os ombros.

Apesar de Christopher ficar surpreso com a minha resposta, ele não questionou nada, fiquei até aliviada por isso, não queria falar sobre minha vida para ele. Por mais que ele tenha sido gentil. Ele passou a caminhar para o fim da viela, numa direção oposta nós estávamos seguindo, fomos caminhando em silêncio até uma casa com garagem. Christopher tirou um chaveiro de seu bolso e abriu o portão de ferro, estava estacionada ali uma moto, ele só me encarou de lado e eu entendi tudo.

:- Ela é sua? – Eu perguntei enquanto o via tirar a moto da garagem e deixa-la na rua.

:- Não, é de um amigo meu. Mas, um dia eu vou ter a minha. – Ele disse vagamente, deveria ter esquecido que estava falando comigo para revelar algo dessa natureza. Christopher fechou o portão da garagem e foi abrir o bagageiro da moto de lá tirou dois capacetes. – Você não tem medo não é?

:- Você sabe que não. – Disse tomando um dos capacetes dele, logo me arrependi do que eu falei, Christopher ficou desconcertado ao mencionar indiretamente o nosso passado. Para não dar chance de mais nada eu só coloquei o item de segurança e fiquei esperando. Para a minha sorte ele não falou mais nada.  Guardou sua mochila e colocou o seu capacete, ele montou na moto e esperou que eu subisse também, tive que ficar de lado afinal estava de vestido.

Pode até ser constrangedor, mas eu só me senti segura mesmo quando coloquei minhas mãos na cintura dele e fomos numa velocidade razoável até a universidade. Eu só não esperava a bomba que explodiria assim que eu descesse daquela moto.

 

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