Baile de los Pobres escrita por Miss Addams


Capítulo 3
Terceiro Passo




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Christopher

 

:- Qual é? Você está indo uma hora dessas? À noite só começou a ficar boa agora... – Paco reclamou por que sabia que eu estava me aproximando para me despedir.

:- Cara, eu realmente preciso ir, amanhã eu começo mais cedo! – Eu lamentei ao olhar para um grupo de meninas que passaram do nosso lado. Troquei o olhar com Paco e ele sorriu malicioso. Poderia adivinhar o que ele diria, então tinha que me adiantar a isso também. – Eu preciso ir! – Fiz careta. Se eu não dormisse ficaria um caco para trabalhar, não quero que me chamem a atenção por eu estar sonolento. Eu fico mais lerdo! Não posso perder meu trabalho (de novo, confesso) por dormir.

:- Se não tem remédio, eu vou te dar logo o seu pagamento, assim ficamos quites. – Paco pegou a sua carteira no bolso de trás da sua calça, para pegar as notas que estavam novas pareciam ter saído da boca do caixa eletrônico. – Obrigado por ter quebrado esse galho por mim. – Demos nosso toque de mãos e ele me abraçou.

:- Você sabe que quando precisar é só me chamar! Ainda mais quando tiver um belo pagamento como esse. – Eu disse sorrindo mostrando as notas antes de guardá-las na minha carteira. – Me deixa ir antes que eu durma aqui mesmo.

:- Agora que a festa está liberada para nós curtimos você tem que ir, vai entender você, mas não tem problema que vou aproveitar por você! – Ele fez uma cara de sabichão e eu ri, Paco e eu éramos amigos há muitos anos.

:- Duvido que alguma dessas meninas grã-finas vão querer um cara como você! – Esnobei dele mesmo sabendo que eu estava mentindo.

:- Você que pensa! – Ele riu se afastando e se enturmando na festa. Dei os ombros e segui o meu caminho, já eram três e meia da manhã. Apesar de estar cedo para sair de uma festa, eu esperava chegar em casa e ainda dormir um pouco antes de voltar novamente ao batente. Eu tenho diversos trabalhos, realmente não me importo quanto à função e sim se vou ganhar uma boa grana em troca, o meu único trabalho registrado é a lanchonete “Princesinha de Miami”, fui aceito ali porque é um local mais liberal.

Apesar dos tempos complicados para imigrantes, eu diria que Miami tem desconto nessa história toda, apesar de ser um estado americano aqui existem muitos latinos e entre brigar para saber quem é ilegal ou não, os “nativos” querem o dinheiro dos turistas. Então, se você não pisa no meu calo e sabe trabalhar duro, não me importo com você, basicamente é uma regra por aqui.

Eu dei meia-volta no lugar da festa e já estava sonhando com a minha cama quando trombaram em mim. Eu virei para ver quem foi o engraçadinho e ao fazer isso reconheci o grupo imediatamente. Já o tinha visto entrar na festa, mas tomei todo o cuidado para não estar no mesmo ambiente que eles. Ao que parece não tem jeito, parece que é o meu destino esbarrar com a Anahí e sua turma.

Quem exatamente esbarrou em mim? Acho que foi o Logan, mas eu acho que estava tão cansado e feliz por ter meu pagamento guardado que eu não me rebaixaria a brigar aqui.  Porém, eu confesso que fiquei curioso, o trio passou tão rápido que nem está vendo quem está na sua frente ou não. O que está acontecendo? Por casualidade o caminho que eles estavam fazendo era o mesmo que o meu, então os segui a uma distância segura.

Nathan foi o primeiro a parar, já estávamos fora da festa na calçada, se ouvia a música e o barulho das pessoas de longe. Ele parou tão bruscamente que quase caiu ao olhar para os dois amigos riu. Eu olhei então para Logan que tentava segurar Anahí pela cintura. Só tentando mesmo por que ele não se manter em pé, olhando para ela dava para ver de longe que era a que estava no pior estado de embriaguez. Eu não deveria me importar, mas a cena me chamava muita à atenção, eu estava longe o suficiente para não conseguir escutar o que eles falavam, tudo isso somando o fato de estar muito curioso.

Não demorou alguns segundos e eles a deixaram encostada perto da parede de uma loja que fica vizinha a festa. Eu só vi Anahí assenti para eles que se afastaram e entraram novamente no local. Uma voz na minha cabeça me dizia que eu não deveria me importar, mas eu simplesmente não conseguia ir embora. Dava para ver claramente que ela estava passando muito mal, mantinha os olhos fechados e por vezes espremia suas pálpebras. Comecei a conferir o horário se passaram dez, vinte, trinta minutos e nada dos amigos da Baker voltarem.

Teve um momento que ela não aguentava mais ficar em pé e já estava cambaleando, eu sabia o que estaria por vir. Então não sei explicar como, porém eu simplesmente corri a distancia entre eu e ela e em questão de segundos já segurava o seu cabelo e sua cintura para que ela vomitasse sem sujar nenhum de nós dois. Sei lá quanto tempo ficamos ali, mas eu acho que essa menina bebeu o bar inteiro. Deduzi fazendo careta! Essa é uma das piores partes de beber.

:- Eu estou muito tonta! – Foi à primeira frase que ela disse ao voltar a abrir os olhos e me encarar. Achei que fosse dar um ataque por ver que era eu quem a estava amparando, mas ela simplesmente olhou nos meus olhos como se eu estivesse sempre ali cuidando dela.

:- Consegue se apoiar em mim? – Eu perguntei vendo que ela não vomitaria mais e deixando de dar ouvidos a voz que atormentava minha cabeça para que eu não a ajudasse. Anahí apenas assentiu e passou um dos braços em volta do meu pescoço, assim eu fiquei com o braço livre para pegar no meu bolso um lenço, lhe entreguei usou para limpar sua boca. Peguei meu celular para olhar a hora e já tinha se passado uma hora desde que me despedir de Paco, eu tinha que ir para casa. – Eu acho que seus amigos deixaram você aqui na pior e estão curtindo a festa.

Por alguma razão invés dela ficar brava com o que eu disse, ela sorriu, e eu tive que engolir saliva nessa situação constrangedora. Ela estava péssima só que não esperava que fosse eu o cara a cuidar dela. A voz chata voltou a soar em minha mente. Vivia um dilema moral: Deixa-la aí ou levar ela para algum lugar.

:- Você está com o seu celular ou algo assim? Podemos chamar um Uber ou um táxi para que você volte para sua casa. – Eu sugeri e ela fez uma careta para então ficar séria.

:- Eu não vou voltar para a minha casa! Eu não quero ir para lá é melhor que eu fique aqui. – Ela tombou um pouco para trás e eu tive que apertar o meu abraço em sua cintura. Ela só estava com a roupa do corpo e realmente nenhum sinal de pertence à vista. Nada. Nem uma carteira, bolsa, celular.

:- Eu preciso ir embora, mas não posso te deixar aqui. – Eu lamentei em voz alta, olhando para a entrada da festa e pensando chamar algum dos babacas que a deixaram passando mal sozinha.  Foi então que fiquei mais surpreso com a reação que ela teve. Anahí protestou contra o que eu disse, esmagou com seus dedos o meu rosto e me fez olhar na altura dos seus olhos. Não me disse nada, mas o seu corpo se agarra no meu, não de um jeito “sexy” longe disso, aliás. Parecia que ela precisava de proteção.

:- Não me deixe aqui sozinha, por favor! – Pediu me encarando e depois me abraçou ficando com cabeça apoiada no meu ombro e respirando no meu pescoço. Merda! Pestanejei olhando para o céu escuro. Nem Logan e nem Nathan voltaria tão cedo, disso eu tinha certeza, se eu a deixasse ali ela ficaria a mercê de passar mal sozinha ou algum ladrão ou tarado a encontraria. Ela poderia ser atropelada ao atravessar sem olhar. Poderiam acontecer as maiores barbaridades, a cidade a noite não era uma boa opção para uma mulher sozinha e bêbada.

:- Eu nem sei a razão pela qual, eu vou fazer isso, mas vou te ajudar. Só preciso que venha comigo nós precisamos encontrar alguma farmácia aberta. – Eu disse para ela que me encarava com aqueles olhos azuis e grandes, fiquei pensando se ela estava me entendendo mesmo ou tinha muito álcool na cabeça. Certeza que era uma mistura dos dois, afinal, quando que Anahí Baker aceitaria alguma ajuda minha? Só no passado mesmo quando éramos desconhecidos. Mas, este tipo de lembrança eu não me permitia voltar a ter.

Ainda bem que andamos pouco, três quarteirões e encontramos uma farmácia aberta, eu comprei remédio e água para ela. Quanto mais rápido ela se hidratasse menos sintomas de ressaca sentiria amanhã, ainda bem que o atendente não reclamou quando eu a sentei no chão da farmácia. Além da cena ser engraçada por que normalmente ela teria nojo de fazer isso, eu não conseguiria comprar nada com ela grudada no meu pescoço. Ainda bem que já tinha recebido o meu pagamento, senão ficaríamos em uma enrascada.

Eu precisei pedir pelo meu celular um carro para nos buscar. Por conta do endereço de destino, recebi algumas recusas. Mas, logo um carro aceitou minha corrida , quando ele chegou, busquei Anahí que já estava sonolenta e a acomodei no carro e entrei.

:- Sua namorada está bem? – O motorista do Uber falou me olhando pelo retrovisor e eu fiz uma careta antes de contradizê-lo.

:- Ela não é minha namorada! Deus me livre, somos colegas e eu só estou a ajudando, não fique preocupado. Tenho muitas sacolas para o caso dela vomitar. – Mostrei para ele que deu um sorriso amarelo ao imaginar o carro sujo. Eu voltei a olhar Anahí que estava com os olhos fechados. Depois dessa pequena conversa fomos todos em silêncio para a minha casa. Eu tive vontade de rir. Eu estava levando a pessoa que eu mais detesto nesse mundo para o bairro mais violento de Miami. Só poderia ser uma peça pregada pela vida!

Como era madrugada chegamos rapidamente na minha casa, o motorista tinha pressa em sair dali, eu o entendo, então tirei Anahí do veículo mais rápido possível assim que ele finalizou a corrida pelo celular. Em nenhum momento ele me destratou, na verdade, estava aliviado de que Anahí não vomitou em seu carro.  Eu a guiei até dentro da minha casa e ali fiz ela tomar remédio e muita água, por sorte lhe entreguei uma camisa velha com uma calça moletom e ela conseguiu colocar sem minha ajuda. Prefiro não comentar o fato de que ela se trocou na minha frente, eu tive que desviar o olhar para não ver demais. A acomodei no meu sofá em poucos minutos ela estava dormindo.

Sentia o cansaço me dominar completamente, se eu não tomasse cuidado dormiria em pé ali mesmo na sala, olhei para minha casa que estava em completo silêncio tentando entender o que não se encaixava ali. Olhei Anahí deitada dormindo tranquilamente e ela era a resposta. Eu sabia que o que veria a seguir quando o dia amanhecesse não seria nada fácil, mas o que eu poderia fazer?

Minha casa era simples. Ás vezes faltava água outras vezes faltava luz, a violência na vizinhança podia nos afetar de forma cruel. A garota que dormia no meu sofá não tinha ideia das dificuldades das quais eu passava, cada leão que eu tenho que matar por dia para dar o mínimo de conforto a minha família.

Suspirei indo para o meu quarto, ao ver a hora quase tive vontade de chorar, já era para que eu estivesse dormindo há muito tempo. Tirei minha roupa e fui direto para o banheiro tomar um banho rápido antes de ir dormir, enquanto colocava o meu pijama, quis ir a sala ver se era real a presença dela ali ou estava sonhando. Talvez eu tivesse me precipitado. E se os meus amigos descobrissem que ela veio na minha casa? Se os amigos delas soubessem, seria briga na certa. Se o pai dela saber disso eu seria um cara demitido ou morto. Quando ela acordar... Espremi meus olhos tentando fazer minha mente parar. Mas, era impossível.

Talvez deitar e finalmente ceder ao sono fosse a melhor solução. Mesmo no escuro, não conseguia dormir rolei de um lado para outro e olhei para porta do meu quarto. Não, eu não deveria ir na sala. Foi por me preocupar com ela no passado que nos tornamos o que somos.

Estava encostado na parede esperando ela pegar a bebida dela, não era comum ver uma menina como ela por esses lados. Eu assim como a maioria dos caras que estavam presentes a queriam aquela noite. Estava disposto a me aproximar dessa vez, fui caminhando na sua direção estava perto o suficiente. Só que Lance foi mais rápido que eu.

:- Quer dançar comigo? - Escutei ele perguntando para ela. Lance já tinha abraçado ela pela cintura e a puxava contra ele. Quando ela tentou desviar dele, trombou em mim. Ela virou para trás e eu percebi o seu incomodo.

Mas, sua expressão suavizou, mal eu saberia que ela me usaria a partir dali. Ainda que eu não tenha reclamado disso naquela época.

:- Não posso dançar com você, já tenho companhia. – Ela de desvencilhou dos braços de Lance e se jogou contra mim. Apesar de surpreso eu abri um sorriso largo ao ver a cara de tacho dele.

:- Não precisa mentir para mim. Vocês não estão juntos. – Ele disse olhando desconfiado para nós dois. Antes que eu abrisse minha boca, Anahí foi mais esperta.

:- Estamos sim. – Disse isso e me beijou para provar sua palavra. O beijo foi rápido, mas serviu para que Lance saísse dali furioso. Uma das condutas dos homens dali era competir para ver quantas meninas eles pegavam mais. Alguém como Anahí nessa competição valia muito. Eu queria ser visto como o tal por aí, era novo na área, queria impressionar aqueles caras porque achava quer queria ser como eles. Quem é que tem como ídolos traficantes de drogas? Eu. Coisa de moleque babaca!

Por tudo isso e por querer muito ficar com ela, eu a beijei dessa vez. Aquela noite foi nossa, estávamos com uma sintonia e por isso quando a clima esquentou tanto que tivemos que sair da festa e ir para a praia para ter mais privacidade. Os beijos estavam muito quentes não saciavam mais o nosso desejo, era isso ela me queria tanto quanto eu, dava para ver em seus olhos. Acabamos transando aquela noite na areia, em um lugar deserto, eu fui dormir realizado com ela deitada sobre meu peito. Me sentindo o cara mesmo. Só não sabia o que me aguardava quando acordasse...”

:- Chega! – Disse alto e em bom tom para eu mesmo ouvisse parasse de tocar nas feridas do passado. Eu tinha me prometido não reviver mais isso. Tinha que viver o presente, tinha que dormir. Amanhã eu lidaria com o fato que ter minha maior rival dormindo no meu sofá.

 

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