Conte Nossa História escrita por LilyMPHyuuga


Capítulo 17
Amor Amaldiçoado - Apenas Um Conto?


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores lindos do meu coração! ♥
Desculpem a demora mais uma vez. É algo que não posso controlar, infelizmente. Tanto é que não era nem pra sair capítulo novo agora, e sim no final de semana, quando acaba meu curso de férias. Mas resolvi aproveitar essas horas livres para postar. Revisei o máximo que pude, mas vou logo pedindo desculpas pelos erros que passaram. ^^" No final de semana eu reviso direitinho. xD
Eu não sei se vocês souberam, mas nos últimos dias tava rolando ban a torto e a direito no Spirit (site em que eu também posto minhas fics) por causa de capas inapropriadas. Nada contra, os adm's estavam fazendo seu trabalho, mas rolou um exagero inacreditável, proibindo até imagens de homens sem camisa... #facepalm E como na minha capa tem/tinha o Harry sem camisa, acabei trocando a capa do Spirit. Aí queria abrir uma votação aqui: vocês preferem a capa atual ou a capa nova (vou deixar o link nas notas finais)? Por favor, votem e ajudem essa autora indecisa. ^^"
Agradecimentos especiais aos 112 que estão acompanhando, os 20 que favoritaram e a Aly, Kylie, Willian Black, Kiaend, sakurita1544, pahf, Dreamy Girl, Srta Potechi e Lerushe, pelos comentários do último capítulo! Muito obrigada pelo carinho e apoio, pessoas, de coração! ♥

Espero que gostem do capítulo! *-* Lembrando que o texto em fonte normal retrata o presente e a parte em itálico são as lembranças do Harry. E logo no começo há uma parte em itálico, o conto que Harry leu no último capítulo.
Boa leitura. =)



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“Era primavera quando dois jovens bruxos se apaixonaram. O sentimento foi avassalador ainda na escola, quando descobriram o desejo de passar o resto da vida juntos. Ambos eram muito inteligentes e aprimoraram seus poderes com maestria, ficando ainda mais fortes. Não demorou para chegarem à conclusão de que ficavam mais poderosos devido ao amor que os unia.

Saíram da escola com honras e méritos, sendo o orgulho de seus professores. Muitos chegaram a dizer que os dois eram capazes de ler os pensamentos um do outro, e de criar ilusões que deixariam o mais poderoso mago de queixo caído! Seus feitos alcançaram outros países!

Mas a felicidade durou poucos anos...

A jovem bruxa era também princesa herdeira de um reino distante, um reino não-mágico... e era seu dever assumir o trono, mesmo abrindo mão do mundo mágico e de seu amor.

Inconformada com a dor do filho, a mãe do jovem bruxo amaldiçoou a moça: a poderosa feiticeira jamais seria feliz novamente com outro homem, senão com aquele que realmente amasse. Condenou-a a vagar por esse mundo por toda a eternidade até que aprendesse que o amor sempre deve vir em primeiro lugar...”

 

~*~

 

— Rainha?

— Sim...

— Isso é loucura. — Levantou da cama e cobriu o rosto antes de andar de um lado para outro, incrédula.

— Não muito maior do que todas que já enfrentamos...

— Estou falando sério! — Olhou-o com dureza. — Perto de Voldemort, sua história é uma piada!

— Estou vagando por essa terra há quase quinhentos anos — devolveu, firme. — Se eu tivesse me lembrado disso antes, Voldemort não teria nos atormentado por tanto tempo.

— Você está soando pretencioso, Potter!

— É verdade — falou ainda sério. — Nós somos muito poderosos, Hermione. Voldemort não chegaria tão longe se estivéssemos juntos naquela época.

— E agora petulante... — Ela revirou os olhos, dando-lhe as costas e caminhando para a janela. — Se fôssemos tão poderosos assim, nada disso teria acontecido comigo — concluiu quase em um sussurro.

Harry se levantou também, abraçando-a por trás e ignorando a resistência dela.

— Você é a mulher mais forte que eu conheço, que já conheci... — Soltou um suspiro. — Foi uma emboscada. Eu fiz testes em sua varinha enquanto estava desacordada. — Ela o olhou, curiosa. — Você não estava jogando luzes por aí antes do seu acidente, Mione. Eram feitiços antigos, muito antigos. Apenas eu os reconheci, porque foram os mesmos que usei na última vida, antes de morrer.

Os lábios da morena tremeram por um instante antes dela esconder o próprio rosto no peito do marido.

— Isso é loucura — repetiu. — É apenas um conto bobo.

Harry decidiu não insistir nisso por enquanto. Ao invés, resolveu continuar sua história.

— Nós sempre nos entendemos bem mais fácil do que com outras pessoas. Temos uma conexão muito forte, você sente... não sente? — Ela confirmou levemente com a cabeça. — Desde o dia que a vi pela primeira vez, procurando por um sapo no vagão que eu ocupava, eu senti que ainda passaria mais tempo contigo. Você parecia brilhar! Te ver sorrindo perto de mim sempre foi uma alegria da qual nunca consegui abrir mão... — Respirou fundo, beijando longamente o topo da cabeça da esposa. — Por isso doeu tanto o tempo que ficamos separados... por minha culpa.

 

~*~

 

“Nada nesse mundo me afastaria de você” ele dissera antes de beijá-la pela segunda vez, ainda na Mansão Black. Que irônico! Agora estava mais distante dela do que nunca. E pior: fora o causador para que ela se afastasse...

Sentia falta de Hermione. Mais do que gostaria de admitir. O coração batia forte quando ela estava perto e desviava o olhar, ainda magoada com a última conversa. Não ouvia seus pensamentos ou sentia suas emoções, pois a moça sempre forçava uma música ou o trecho de algum livro na mente, claramente tentando evitá-lo. Harry suspirava sempre que isso acontecia, amargamente arrependido por ter pedido aquela separação. Na única vez que tentara se desculpar, ela o repelira sem meias-palavras:

— Suma daqui! Não temos nada para conversar.

E fechou a porta de seu quarto, orgulhosa.

Era verdade que queria um tempo para pensar depois de ter descoberto sobre a profecia e a lenda. Tivera o tempo, mas ganhara também a raiva e decepção de Hermione – algo que não estava nos planos.

Sem perceber aonde estava indo, suas pernas o levaram até a Sala Precisa. O que mais desejava? Respirou fundo e deu três voltas em frente à parede.

“Quero saber o que se passa dentro de mim”.

Uma porta em arco de madeira apareceu. Era igual à maioria das portas em Hogwarts, mas aquela lhe causava um pequeno dèjá-vu. Entrou meio incerto, reconhecendo no mesmo instante a sala que encontrara há quase sete anos, fugindo de Snape e Filch. Era escura e cheirava a mofo e poeira, faltando apenas a capa de invisibilidade para repetir a cena de seu primeiro ano.

Do outro lado da sala encontrava-se o Espelho de Ojesed. Não evitou a pequena risada – Dumbledore era mesmo cheio de surpresas.

Parou a alguns metros do objeto, receoso com o que ele lhe mostraria. Seus olhos marejaram sem que desse conta, o coração apertado. Sabia que veria seus pais novamente, mas não era por eles que estava ali. Queria ver o que seu coração desejava tão desesperadamente a ponto de deixá-lo sem saber o que fazer.

Hesitou. Respirou fundo. Deu dois passos. Hesitou novamente.

— Coragem, Harry! Não é hora para covardia!

Mais um suspiro. Decidiu fechar os olhos. Deu três passos na direção do espelho e parou, temeroso. Aquela distância seria o suficiente...

Abriu os olhos.

Três rostos lhe sorriam, encantados: os de seus pais e o dela. Sorriu de volta para os três, profundamente emocionado por vê-los juntos, tão perto de si. Seriam uma família muito feliz, tinha certeza!

— Oi, pai. Oi, mãe.

Tiago e Lílian Potter sorriram ainda mais, o semblante orgulhoso pelo filho já tão crescido. Harry, com dezoito anos, há muito já passara da mãe e tinha a altura do pai. Era incrível olhar para os rostos deles de novo!

Mas o sorriso dela era o que mais lhe chamava a atenção... era mágico! Estava alegre como há tempos não a via, mostrando um sorriso que não era dedicado somente a ele há semanas. Céus, como sentia a falta dela! Ergueu a mão para tocar seu rosto, esquecendo-se, por um momento, que era apenas uma imagem refletida num espelho enfeitiçado.

— Minha Mione...

Uma lágrima caiu no rosto dela ao mesmo tempo que caía no seu.

 


Perdeu as aulas da tarde, distraído demais para pensar em outra coisa senão no rosto emocionado de Hermione. Foi parar às margens do Lago Negro, atirando pedras que quicavam na superfície aquática e logo depois sumiam. A morena fazia aquele ritual também, quando se sentia inquieta ou nervosa demais... parecia acalmá-la. Harry, por outro lado, se sentia mais nervoso.

“Preciso vê-la, falar com ela... não aguento mais!”.

Pegou a mochila, largada no meio da folhagem, e caminhou em direção ao castelo. Poucos alunos já se encontravam no Salão Principal, a maioria dos primeiros anos. Soltou um suspiro e sentou-se logo no começo da mesa da Grifinória, a cabeça começando a latejar. Pareceu esperar uma eternidade até ouvir maiores burburinhos, de alunos que resolveram jantar logo após as aulas – os Weasley, inclusive.

— Harry? — Rony o avistou e sentou logo ao seu lado. — Onde esteve? Por que faltou Poções? Slughorn perguntou por você.

— Não estava me sentindo bem — mentiu rapidamente. — Você viu Hermione?

Os dois amigos ainda não se falavam normalmente, e o semblante derrotado do ruivo foi resposta suficiente.

— Ela estava na aula. Foi uma das primeiras a sair. Acho que foi para o Salão Comunal, tomar um banho antes de jantar, talvez.

O garoto não quis aguardar para confirmar. Levantou depressa e correu até o sétimo andar, deparando-se com a dona de seus pensamentos a alguns passos do retrato da Mulher Gorda.

— Hermione!

A moça estancou no lugar, respirando fundo antes de encará-lo:

— Pois não?

Parou a meio metro dela, sem conter a ansiedade.

— Podemos conversar? Eu...

— Sobre?

— Nós dois. — Ele estranhou a seriedade, sem imaginar o que viria.

— Então não.

Hermione simplesmente passou por ele e seguiu pelo corredor.

— Espera! Mione, eu...

— É Granger para você, Potter! — Ela se virou, séria demais para que ele pudesse contestar. — Fui chamada atenção por tê-lo ignorado na frente de um professor, sendo sua monitora! Saiba que é somente por isso que lhe dirijo a palavra agora. Não estou aberta a conversas ou qualquer coisa que não se relacione com a escola e suas regras. Fui clara?

Não esperou que ele respondesse, no entanto, logo lhe dando as costas e partindo.

— Harry...

A voz de Gina soou tristemente atrás de si. Ele se virou devagar, tentando controlar o corpo trêmulo.

— Desculpe, eu não pude deixar de ouvir... — A ruiva se aproximou timidamente, segurando sua mão. — Nunca vi a Mione desse jeito. O que houve com vocês dois?

— Eu...

As palavras ficaram entaladas na garganta. Os olhos ficaram vermelhos pela segunda vez naquele dia, e ele fez um esforço sobre-humano para não deixar as lágrimas aflorarem.

— Foi por nossa causa? — perguntou preocupada. — Ela está chateada porque terminamos?

— N-Não. Não é isso, não se preocupe. Foi algo entre mim e ela... não estou conseguindo me desculpar.

— Foi tão sério assim?

Apenas confirmou com a cabeça e forçou um sorriso na direção da jovem, afastando-se e decidindo terminar o dia mais cedo.

 


O dia da primeira partida de quadribol enfim chegara, causando nervosismo para um moreno que não voava por tanto tempo, por esporte, há mais de ano. Ficou até mais tranquilo quando viu Rony e Gina no mesmo estado – a garota contou que a competição foi proibida no ano anterior, tanto por causa das rígidas regras quanto pelos dementadores, guardas da escola durante o regime de Voldemort.

— Uma poção da sorte viria a calhar agora, não é? — brincou Ronald após perceber que não conseguiria comer nada antes da partida.

Ao contrário do que o amigo esperava, a brincadeira não lhe arrancou nem um sorriso. Lembrar-se de Hermione e da rejeição de três dias atrás lhe embrulhava o estômago.

— Ela vem? — perguntou à Gina, envergonhado. Soube que a Weasley falava normalmente com a morena.... ou quase, desde que o assunto não fosse nenhum dos rapazes. — Ela vai assistir ao jogo?

Gina ainda tentou conter a pena em seu olhar, mas fracassou miseravelmente. Harry desviou o seu, incapaz de esconder a mágoa.

— Ela nunca perdeu um jogo... — Tomou um gole de seu suco, tão amargo quanto seu dia começava. — E hoje não vai ver por minha causa.

Resolveu sair logo dali, para evitar os pensamentos melancólicos tão cedo, sendo seguido pelos amigos que também não quiseram comer. O percurso até o campo de quadribol foi silencioso, porém, ao chegarem na edificação, mal puderam ouvir os próprios pensamentos.

O esporte fez falta para todos os alunos de Hogwarts. E para os professores também, Harry notou, avistando Minerva e Flitwick adentrarem o estádio, animados como nunca!

— Potter! Ei, Potter!

Virou na direção da voz que o chamava, esperançoso. Não conseguiu esconder a decepção ao ver que uma estranha corria em sua direção, animada. Teve vontade de dar as costas e seguir os amigos, mas algo o deteve...

A garota era baixa, a pele clara e um sorriso contagiante. Harry reparou nos cabelos negros, lisos e compridos, presos num simples rabo-de-cavalo. E então observou seu rosto...

Uma pontada forte em sua cabeça o fez abaixá-la, seguida de uma tontura que o fez perder o equilíbrio, sendo amparado rapidamente pela desconhecida. O toque dela acelerou seus batimentos cardíacos.

— Potter! Por Merlin, você está bem? — Por pouco não a ouviu, ainda se recuperando da rápida dor de cabeça. Teve medo de levantar o rosto e encará-la, sem conseguir explicar a si mesmo o próprio nervosismo. — Quer que eu chame alguma enfermeira? Você não pode jogar desse jeito!

— Não! — falou rapidamente, desviando do quase abraço dela. — Não precisa, estou ótimo. Foi só uma tontura. Já passou.

Hesitou antes de olhar, quase levando outro choque. O coração descompassou ao reconhecer a boca que já beijara apaixonadamente, o formato redondo do rosto e até o nariz pequeno e levemente pontudo. Resistiu ao impulso de chamar pelo nome de Hermione quando mirou os olhos... eles o desenganavam: eram verdes, intensos e desafiadores. Se não fosse por eles, Harry poderia apostar que Hermione estava disfarçada na sua frente.

— Me desculpe — falou, receoso. — Nós nos conhecemos?

— Não. — Ela lhe sorriu, misteriosa. — Eu apenas o conheço de longe. Quis desejar boa sorte no jogo. — Apontou para o estádio. — Eu vi que você não comeu direito, então tomei a liberdade de trazer um pedaço de bolo. — Tirou de dentro da bolsinha que carregava um embrulho de guardanapo. — Espero que não se incomode.

— Eu, ah... — Aceitou o doce que a moça oferecia, envergonhado. — Obrigado.

Apertou os lábios quando percebeu que tremiam. Enfim conseguiu desviar o rosto, sentindo os olhos arderem e o coração bater desesperado. Acenou rapidamente com a mão e se afastou, caminhando para o campo de quadribol com as pernas bambas.

Ao perceber que não sabia o nome da moça que mexera consigo, Harry se virou, mas não a encontrou mais. Teve vontade de bater na própria testa por parecer um bobo na frente de uma garota tão bonita, simplesmente porque ela o lembrava da melhor amiga!

— Não é Hermione disfarçada, seu idiota! — falou baixinho, para si, tentando se convencer. — Hermione não vem, você sabe disso! Quando ela toma uma decisão, nada a faz mudar de ideia.

Com o coração apertado e o estômago novamente embrulhado por causa da mágoa, largou o pedaço de bolo na lixeira mais próxima.

 


Grifinória ganhou da Sonserina com quase trezentos pontos de diferença. O clima alegre e a gritaria preenchiam o salão comunal vermelho e dourado.

Menos para uma pessoa.

Menos para o capitão e apanhador do time, que quase perdeu o pomo por estar “ocupado” demais procurando uma garota de cabelos castanhos esvoaçantes.

Praticamente escondido em um canto do salão, Harry se posicionou estrategicamente para ver a porta do quarto da monitora-chefe.

Falaria com ela e não passaria daquele dia.

Alguém lhe chamou, oferecendo uma bebida. Negou rapidamente para a pessoa, passando os olhos de relance no resto do salão...

E então a viu novamente.

Não Hermione, mas a garota que lhe desejou boa-sorte antes do jogo e lhe causou uma arritmia.

Ela estava encostada numa das paredes próxima à saída, os braços cruzados, um sorriso convencido e os olhos verdes fixos nele. O coração do rapaz voltou a acelerar, e ele estava prestes a sorrir na direção da moça quando algo chamou sua atenção.

Aproximou-se dela a passos largos, o semblante fechado e a vontade de gritar quase saindo pela garganta. A bruxa não se intimidou, esperando-o com o mesmo sorriso.

— Parabéns pelo jogo, Potter.

Nem prestou atenção nas palavras. Ergueu a mão e falou, irritado:

— Devolva. Agora.

— Perdão?

— O colar — retrucou. — Não é seu. Devolva agora!

A garota pôs uma mão sobre o pequeno anjo banhado em prata e ouro, nervosa.

— N-Não! É meu! Eu ganhei.

— Não ganhou! É uma peça exclusiva que eu comprei para uma pessoa especial! Devolva agora ou vou fazer um escândalo, para que todos saibam que é uma ladra!

A jovem hesitou e, trêmula, acenou positivamente antes de mexer no fecho da joia. Harry nem esperou que ela o entregasse, puxando-o bruscamente do pescoço da morena.

— Nunca mais dirija a palavra a mim, ouviu? Ou eu não serei tão legal da próxima vez — ameaçou.

A desconhecida apenas desviou o olhar e saiu do salão comunal.

 

~*~

 

— Quem era essa garota? — perguntou Hermione. — Não me lembro dela.

— Porque você perdeu a memória — falou simplesmente, ainda a abraçando de olhos fechados. — O nome dela era Victoria.

— Eu a conhecia? Parece-me familiar.

— Do diário. Você a mencionou uma vez. Ela era prima de Molly.

— Era?

— Sim. Ela morreu há muitos anos...

A mulher se afastou um pouco para olhá-lo, estranhando o pesar na voz dele.

— Eu sinto muito... — disse meio incerta. — O que houve?

— Câncer — falou sem rodeios. — Eu fiquei devastado por perdê-la... eu a amava tanto!

Os olhos castanhos arregalaram-se, surpresos. Harry uniu sua testa à dela, sorrindo com sua reação.

— Ela era você, sua ciumenta.

 

~*~

 

Hermione não apareceu no Salão Comunal durante todo aquele dia. Procurou-a pela escola inteira, incluindo a biblioteca, e nada. Tinha quase certeza que a amiga (ainda poderia chamá-la assim?) se escondera na Sala Precisa, pois também não a encontrou pelo Mapa do Maroto. Porém, se estivesse certo e a moça estivesse mesmo no cômodo secreto, ele nada poderia fazer além de esperar.

E esperar nunca foi o seu forte.

Deixou todos os conhecidos alertados e cientes de que, se vissem Hermione, para dizerem que ele, Harry, precisava falar urgentemente com a jovem. Sem desculpas ou fugas. E que esperaria por ela a noite inteira se fosse preciso.

— Eu a encontrei.

A voz de Ronald atrás de si o assustaria se não estivesse aguardando por ela. O amigo arrumava o cachecol no pescoço, incomodado com o clima frio dos jardins.

— Ela está na biblioteca. E está mais séria que o usual. É bom ter cuidado com o que vai falar.

O ruivo mal o esperou e se virou para voltar ao castelo, parecendo chateado. Harry resolveria esse caso outra hora. Sua prioridade no momento era conversar com certa morena de olhos cor-de-mel.

A ansiedade tomou conta de todos os seus poros quando a viu sentada à mesa em seu ambiente favorito. Ela lia um livro antigo, facilmente reconhecido pelo rapaz – aquele com a lenda que os afastou.

Não pediu permissão para sentar na sua frente. Ela também não pareceu se incomodar, visto que sequer desviou a atenção das páginas. Não falaram nada até a moça se levantar e mergulhar no mar de estantes, voltando logo depois com um grande livro preto nas mãos, tão antigo quanto o primeiro.

— Você queria falar comigo. — Não era uma pergunta e Harry soube que era para ficar quieto. — Antes vai ouvir o que eu tenho a dizer. Vai saber a história completa e só então poderá pensar o que quiser. — A mágoa da última briga ainda era visível. — Aqui está o registro de formandos de 1550. — Ela lhe entregou o livro preto que buscara há pouco. — Procure por Elizabeth Tudor.

Quis argumentar, mas ela pareceu ler seus pensamentos, estreitando o olhar e lhe indicando novamente o livro. O rapaz o pegou, meio a contragosto, folheando o que parecia ser um anuário da escola, mostrando fotos dos alunos e uma breve descrição deles. Enquanto Harry procurava a letra T, Hermione tratou de começar:

— Imagino que você já tenha ouvido falar da primeira rainha do Reino Unido, Elizabeth I. Ela era filha de Henrique VIII e segunda na linha de sucessão ao trono, o qual assumiu quando seu irmão e legítimo herdeiro, Edward VI, morreu, aos quinze anos de idade... e ela não tinha vinte anos completos na época. — Hermione desviou o olhar por um instante, perdendo-se em memórias enquanto contava a história. — Não havia outro herdeiro... e Elizabeth não foi de fato a primeira rainha. Ainda demorou um pouco, mas aos 25 anos ela assumiu o trono de vez.

Harry encontrou a página certa no instante que ela parara de falar. Os olhos verdes se arregalaram como nunca antes, a boca abrindo sem consciência.

Apenas o cabelo ruivo diferenciava Elizabeth Tudor da Hermione Granger a sua frente. Se o livro não fosse claramente velho, o moreno apostaria que a amiga estava fazendo uma brincadeira de mau gosto.

Seu choque não a afetou, no entanto, e a jovem continuou sua narração:

— Ela era uma bruxa. Uma das melhores. Por isso conseguiu assumir um reinado com a segurança que quase nenhuma mulher na época tinha: a magia estava ao seu lado. Seu único arrependimento foi não ter se casado com o homem que amava pelo bem de seu povo: William.

Hermione tomou o livro de suas mãos por um momento, voltando as páginas e encontrando a que procurava, devolvendo-o para que pudesse ver a figura de um homem pálido, pequeno e loiro.

William T. Francis, dizia a legenda. “Aluno exemplar e bruxo excepcional”.

— William morreu aos 28 anos por causa de uma doença respiratória, por outro lado. — A garota soltou um suspiro, ainda perdida em pensamentos. Estes que deixavam Harry aflito, pois não era capaz de vê-los. Hermione havia aprendido Oclumência assim como ele: após uma grande decepção. — E sua mãe me culpou até o último segundo de vida, julgando-me culpada pelo sofrimento de Will... por ter escolhido meu povo ao invés dele.

Ela não percebera quando passou a se referir sobre Elizabeth em primeira pessoa. Harry passou algumas folhas, apenas para se certificar de que não estava sonhando.

Os olhos castanhos não o enganavam. Nem a boca, o nariz e o formato oval do rosto... não havia dúvidas sobre a identidade de Hermione.

— Por isso... — ele hesitou.

— Por isso sou a melhor aluna — completou, sem rodeios ou vergonha. — Por isso posso ler seus pensamentos. Por isso me chamam de “a melhor bruxa da minha geração”... porque eu já passei por tudo isso antes. Várias e várias vezes. Estou amaldiçoada a viver para sempre. Ou a sempre reencarnar, como dizem por aí.

Olhando da foto para Hermione, a vista ardeu sob os óculos. Ele os tirou e desviou o rosto, usando como desculpa a limpeza do objeto para não encarar o semblante entristecido da mulher que mexia com seu coração.

— O dia que você me encontrou febril e me levou para a enfermaria... — Ela chamou sua atenção. — Eu estava recordando de outras vidas. É muita informação para o cérebro absorver de uma vez, entende? Foi pura sorte ter apenas febre e desmaios. Em outras vidas eu já entrei em coma por causa dos muitos anos de lembranças.

— Os nomes que você disse naquela noite...

— São do mesmo homem: William. — Ela deixou transparecer um pequeno sorriso com a simples menção do nome. — Você lembra do conto? — Ela lhe entregou o livro que o rapaz já tinha encontrado antes, sobre as lendas bruxas. — A mãe de Will me amaldiçoou a nunca ser feliz com um homem que eu não amasse. Infelizmente, acabou amaldiçoando o próprio filho na história... — Harry engoliu em seco, temendo suas próximas palavras. — O único homem que eu verdadeiramente amo e que sempre irei amar é William. A maldição nunca irá acabar enquanto eu não o escolher para passar o resto da vida comigo.

Inconformado e com o coração acelerado sem entender bem o porquê, o rapaz voltou para a imagem de William Francis. Com a única certeza de que ela lia mesmo seus pensamentos, Hermione lhe respondeu:

— Você não é William — falou com uma simplicidade esmagadora. — Você tem parte dos meus poderes porque eu projetei Will em você sem me dar conta disso. Porque você me incentivou a procurar minha história depois dos primeiros beijos que trocamos e despertaram minha força... e porque eu acreditei estar apaixonada por você.

O garoto fechou os olhos com força, sentindo uma dor quase física em seu peito após aquela última revelação. Fechou as mãos com força e obrigou-se a controlar a respiração irregular. E então voltou a mirar os castanhos aparentemente tão inconsoláveis quanto os seus verdes.

— Você não é William — ela repetiu. — Eu me confundi.

Ao notar que ele não falaria nada, Hermione apenas respirou fundo e arrumou suas coisas, saindo da biblioteca sem se despedir.

Harry ainda ficou ali por várias horas, fitando as imagens de Elizabeth e William, até que Madame Pince veio avisar que fecharia a biblioteca. Ele ainda quis levar o anuário para o dormitório, mas a senhora não permitiu, alegando ser o único tomo dos alunos daquele ano – uma peça raríssima que não deixaria nas mãos de um estudante nem se estivesse no leito de morte, segundo a própria bibliotecária.

Horas mais tarde, deitado em sua cama e sem conseguir dormir, Harry estava quase desejando que o tal William não reencarnasse naquela vida, ao mesmo tempo em que se perguntava por que tinha tanta raiva do único homem que faria de Hermione – a pessoa mais importante de sua vida – a mulher mais feliz desse mundo.

           

~*~

 

Hermione se afastara enquanto ele contava sobre a conversa na biblioteca. Voltara para a cama e tirara o colar do pescoço, apenas mirando a joia e ouvindo a explicação do marido.

— Chega. Não quero mais ouvir. Sua história não faz o menor sentido.

— O quê?

— Primeiro me diz que você é a reencarnação de William... e agora me conta que eu lhe provei que você não era. — Soltou uma risadinha forçada. — Há furos em toda a sua história.

— Porque ainda não terminei! — explicou, exasperado. — Estou contando como descobri nosso passado. Para mim também havia pontos sem explicação. Mas o principal... — Ele sentou em frente a ela novamente, erguendo o queixo feminino para que o olhasse. — Foi que você mentiu para mim.

Hermione deu outra risada descrente, negando com a cabeça.

— Por que eu mentiria para você?

— Para se proteger... porque você acreditava que eu não a amava...

— E amava?

— Sim... — Sorriu-lhe, apaixonado, puxando-a de volta para seu colo. — Eu a vi no espelho, lembra-se? Você era o desejo mais profundo de meu coração.

O silêncio dela lhe foi suficiente para continuar. Respirou fundo antes de jogar a verdade resumida:

— Estamos amaldiçoados. Condenados a sempre reencarnar e não ficarmos juntos. Tudo porque, no começo, você escolheu o destino de sua família trouxa, e não a mim. Você, Mione, foi Elizabeth... Tudor. A primeira rainha da Inglaterra. A filha esquecida de Henrique VIII, que nunca soube que a filha rejeitada era uma bruxa... a filha que voltou para Londres depois que terminou os estudos em Hogwarts, determinada a assumir o trono de seu pai e, logo depois, o de seu irmão mais novo, que morreu cedo e não deixou nenhum herdeiro legítimo. Você é Elizabeth, a primeira... minha Lizzie... e eu sou o homem de quem você abdicou para poder reinar.

— William?

— Sim... Minha mãe a amaldiçoou porque nunca se conformou com a minha tristeza em ter perdido você. Só que ela não entendeu que era apenas tristeza, e não mágoa. Eu nunca a culpei por escolher seu povo, sua família, em vez de nós dois, do nosso amor. Eu sabia o peso das consequências se você tivesse me escolhido... e você também sabia. Era muita coisa em jogo na época... Você fez a escolha certa e eu aceitei isso, mesmo com o coração partido... mas minha mãe não. Ela lhe condenou a nunca ter uma família, a nunca ser feliz sem mim. Acho que ela não esperava me amaldiçoar no conjunto. — Riu levemente. — Mas eu não me arrependo, Mione. Estou disposto a me apaixonar mais mil vezes se for preciso... tudo para ficar ao seu lado.

Ela se afastou devagar, os olhos nublados pelas lágrimas.

— Eu posso provar. — Leu os pensamentos dela. — Posso lhe mostrar algumas memórias... lembranças de outras vidas. Verá que estou falando a verdade... e então posso terminar de contar nossa história.

 


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Notas finais do capítulo

Então... é isso. xD
Espero que tenham gostado. *-*
Lembrando que eu vou revisar o capítulo (totalmente) apenas no fim de semana, então desculpem pelos possíveis/prováveis erros grotescos que fugiram dos meus olhos, rsrs. ^^"
Ah, e não esqueçam de votar (por favorzinho) se preferem a capa nova ou a capa atual, tudo bem? ♥ O link da história no Spirit é: https://www.spiritfanfiction.com/historia/conte-nossa-historia-7724588

Acho que é só isso...
Muito obrigada por tudo, leitores lindos!
Um abração e até o próximo capítulo! =* ♥

Edit: capítulo revisado



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