Conte Nossa História escrita por LilyMPHyuuga


Capítulo 18
Victoria, Peter e Olivia


Notas iniciais do capítulo

Bu! ^^
Atrasadíssima com a postagem (de novo)! Desculpem, leitores de meu coração! Eu tinha planos de postar o capítulo no final do mês passado ou no máximo no início desse mês, mas eu e todo mundo aqui em casa ficamos doentes (e ainda tem gente doente)... eu tava sem condições nenhuma de terminar o capítulo. =/ Mas cá estou eu, ansiosa para mostrar (mais uma ideia maluca da minha cabeça) uma vida passada desse casal divoso! ♥ Espero que gostem! ♥
Agradecimentos especiais a Kiaend, Kylie, Aly, sakurita1544 e bruhpotterlupin por terem comentado no último capítulo! Quero agradecer também à callidora, que comentou lá no primeiro capítulo! ♥ E por fim, mas não menos importante, muito obrigada pelos 116 que estão acompanhando e aos 21 que favoritaram a fic! Muito obrigada mesmo, de coração! *-*

Boa leitura! ♥

P.S.: leiam as notas finais, por favor.



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— Eu posso provar. — Leu os pensamentos dela. — Posso lhe mostrar algumas memórias... lembranças de outras vidas. Verá que estou falando a verdade... e então posso terminar de contar nossa história.

 

Harry a trouxe para perto definitivamente, encostando suas testas e fechando os olhos.

— No meu aniversário... você fez o mesmo, não é? — perguntou receosa. — Mostrou-me uma lembrança sem precisar de uma Penseira.

Ele voltou a mirar os olhos verdes sobre os castanhos chorosos.

— Você ainda não acredita que temos poder para isso?

— Não é sobre acreditar em poderes... é em acreditar no que eles podem fazer. Tem uma diferença.

— Você sempre se acostumou rápido, não se preocupe. Até o amanhecer você vai perceber que pode fazer o que quiser.

Era uma brincadeira, mas que não a confortou.

Ainda parecia irreal demais.

— Deixe-me mostrar um pouco de nossa última encarnação. Você verá que não estou inventando nada. Que eu não teria imaginação para criar algo assim.

Hermione acenou com a cabeça timidamente, fechando os olhos. Harry ainda a olhou por alguns segundos antes de fechar os seus também e mergulhar nas lembranças de Peter.

 

~*~

 

“Eu tenho câncer”.

Peter achava incrível como três pequenas palavras podem mudar a vida de uma pessoa. Particularmente, ele preferia as clássicas “eu te amo”, “está tudo bem”, “cuidarei de você”... mas quando ouviu as três mais trágicas de sua vida, achou veementemente que nada mais poderia afetá-lo tanto quanto as que Victoria lhe disse.

Foram meses especiais. Ela sofria com a doença, cada dia mais. No entanto, sempre tinha um sorriso no rosto quando o via. Peter poderia jurar que nunca fora tão amado em toda sua vida.

Até que Victoria, inteligente e esperta como sempre, descobriu sobre a profecia e todo o passado que os envolvia.

Não estava de todo errado, afinal. Duvidava que alguém tivesse o amado mais do que Victoria. Sua Elizabeth...

Apertou mais forte o medalhão que sempre levava ao pescoço. Achou que Dumbledore poderia ajudá-lo, mas agora pensava que fora um erro contar alguns detalhes ao professor... poderia ter passado como um louco. O diretor poderia vê-lo com maus olhos depois de confessar que estava, de certa forma, atraído por uma de suas alunas.

“Relacionamento entre professores e alunos é extremamente proibido” ele ressaltou.

Respirou fundo, tentando se acalmar, pela milésima vez naquela noite. Nunca tivera o coração fraco, mas desconfiava que o órgão começara a falhar quando ele avistou Victoria novamente.

“Olivia!” corrigiu-se. “O nome dela agora é Olivia”.

Era a segunda vez que algo assim acontecia: um reencontro com tantos anos de diferença entre eles, pela segunda vez na mesma geração...

A batida na porta o despertou. Pediu para que entrasse. Sete alunos, incluindo ela, passaram pelo arco de madeira e atravessaram a sala, receosos.

— Boa noite, professor — ela o cumprimentou timidamente. Peter não poderia julgá-la. Olivia devia ser outra que o considerava um louco. — Chamei os representantes de cada ano, assim como me pediu.

— Obrigado, Srta. Bishop. — Mostrou formalidade, porém. Precisava desfazer sua péssima primeira impressão. — Boa noite — cumprimentou o restante.

Conheceu os outros seis e evitou fazer qualquer pergunta diretamente à Olivia. Avisou sobre as aulas extras de Defesa Contra as Artes das Trevas que aconteceriam aos sábados, deixando bem claro que ele gostaria de preparar todo e qualquer aluno que estivesse disposto a aprender a se defender. Voldemort se tornava um nome cada vez mais famoso, ao mesmo tempo que causava medo na comunidade bruxa...

— E onde nos encontraríamos, professor? — Olivia questionou curiosa, forçando-se a não demonstrar toda a animação que sentia. Peter não evitou o sorriso.

— Conheço um bom lugar. Espaçoso. E que se adapta conforme nossas necessidades.

Ela sorriu junto com os outros colegas, engatando numa conversa animada e ansiosa, já planejando como poderiam ser suas aulas.

Peter a admirou por alguns segundos. Ela não era tão parecida com Victoria quanto imaginava... Victoria tinha os cabelos lisos e negros. Olivia, quando a encontrara, estava com os cabelos presos, mas agora ele via os cachos soltos, castanhos com mechas loiras, sobre os ombros. Victoria tinha olhos verde-acinzentados, desafiadores... Olivia possuía calmas írises verdes.

Mas a boca e o nariz eram iguais.

— Se me permitem perguntar... — Ele interrompeu a conversa. Os sete voltaram o olhar em sua direção. — De que Casa são?

O calouro era da Corvinal. O segundanista da Lufa-Lufa. A menina do terceiro ano era da Grifinória, assim como a garota empolgada do quarto. O garoto do quinto era da casa azul e bronze, enquanto o sextanista era um orgulho texugo. Olivia respondeu orgulhosa:

— Grifinória.

“Como da última vez”.

— Nenhum sonserino?

— Os sonserinos não são confiáveis — o mais novo falou sem pensar. Houve um momento de constrangimento até os outros alunos assentirem.

— Minhas aulas não proíbem sonserinos. — O professor resolveu deixar claro. — No entanto, no clima em que estamos, eu peço que divulguem nossas aulas apenas às pessoas que confiam. Não quero lidar com espiões mirins. Não estou formando nenhuma sociedade secreta, mas lamentaria cancelar as aulas por causa de fofocas ou boatos de que estou formando um exército.

Os sete concordaram com cada palavra.

— Podemos marcar para esse fim de semana? Ou preferem que comecemos no próximo?

— Nesse está ótimo! — o rapaz mais velho falou, empolgado. — Quanto antes, melhor! — Os outros aceitaram.

— Excelente. Eu passo os detalhes no decorrer da semana.

Ele os dispensou. Seguiram em fila indiana até a porta, cada um seguindo para um lado. Olivia deixou-se ficar para trás de propósito.

— Algum problema, Srta. Bishop?

— Sim, eu... — Ela remexeu as mãos, nervosa. — Desculpe, professor, mas eu não consegui esquecer a cena de mais cedo.

Suspirou. Fechou a porta, trazendo-a para dentro novamente. Apontou para que ela sentasse em uma das carteiras e sentou em outra, de frente para ela.

— Sou eu que preciso pedir desculpas. Fui eu que me comportei como um louco. — Ele sorriu, tentando tranquilizá-la. — Perdoe-me pelo escândalo de hoje, Srta. Bishop. Você é assustadoramente parecida com alguém que conheci há muitos anos.

— Era alguém importante, não é? — Olivia não segurou a própria língua. — Sua irmã?

— Não... — Ele avaliou o semblante dela, se perguntando o quanto poderia falar sem assustá-la. Olivia parecia facilmente impressionável. — Uma mulher que amei.

Os olhos verdes se arregalaram, como esperado. Peter sorriu com sua reação, principalmente depois que a notou corar.

— Ela morreu?

— Sim. Há dezessete anos.

Olivia era inteligente. Facilmente fez as contas e compreendeu: o fato dela possuir a mesma idade e aparência da mulher que Peter amou devia realmente deixá-lo abalado.

— O senhor... — Hesitou. — O senhor prefere que eu me afaste? Quero dizer... não sei se é bom para o senhor...

— Não fale bobagens, Srta. Bishop. Como poderia se afastar? Deixando de frequentar minhas aulas?

— Mas eu...

— Não se preocupe com isso. Eu ficarei bem.

E sorriu para confirmar. Olivia desviou o olhar, nervosa. Concordou com a cabeça e se levantou depressa, desejando boa-noite antes de sair quase correndo.

 

 
As semanas passaram tranquilas, em sua maioria. Uma manchete ou outra de um atentado contra algum vilarejo bruxo era o máximo de que ouviam falar. Dumbledore cogitava cancelar as entregas do Profeta Matutino, alegando que as notícias pela manhã deixavam os alunos inquietos durante todo o dia.

Peter resolveu deixar de lado as preocupações acadêmicas naquele último sábado de setembro. Avisara aos representantes de cada ano que tiraria o dia de folga, assim como eles – era o primeiro passeio do ano à Hogsmeade.

— Bom dia, Rosmerta. — Os olhos azuis da mulher se arregalaram, como se estivessem vendo um fantasma. Recuperado o susto, ela abriu um enorme sorriso.

— Peter!

A dona do Três Vassouras deu a volta no balcão, fazendo questão de abraçar o novo professor de Hogwarts.

— Você está tão bonito! Cresceu muito desde a última vez que o vi! — Ele sorriu, envergonhado. — Como você está?

— Ótimo... — A mulher mais velha estreitou os olhos em sua direção. — Um pouco cansado, mas bem. Não imaginava que ia ter tanto trabalho.

— Você sempre subestimou a maioria de seus professores, não é?

Ela riu, voltando para trás do balcão e começando a preparar o prato favorito dele, sem precisar perguntar mais nada. Peter ficou agradecido por ela não mencionar Victoria.

— Aqui está, querido. — Ela serviu-lhe um copo de suco. Peter imaginou que a bruxa ainda o via como o aluno rebelde que precisava se comportar.

Passou a comer, distraído. Não reparou quando uma turma de garotas entrou, cochichando entre si. Duas delas vieram até o balcão, fazendo o pedido à Madame Rosmerta. Se apenas uma tivesse falado, a conversa ao seu lado passaria despercebida.

— Não quero cerveja amanteigada, Lílian. Ainda é manhã!

— E o que tem?

— Você anda muito rebelde, sabia? Aposto que é por causa do Potter. Ele está deixando você desse jeito.

— Tiago não tem nada a ver com isso, ok?

Tiago? Agora é Tiago?!

— Você está com ciúmes, Olive. Não vou abandoná-la por causa de Tiago.

Peter viu, pelo canto do olho, Olivia bufar e cancelar o pedido.

— Olivia! — Lílian ainda tentou chamá-la, mas a outra a ignorou facilmente, saindo do bar sem se despedir das outras colegas.

— Ela está com ciúmes.

Lílian quase pulou com o susto, arregalando os olhos ao perceber que o professor estava praticamente ao seu lado ouvindo tudo.

— B-Bom dia, professor Morgan. Desculpe, eu não o vi aí.

Ele acenou, voltando tranquilamente para seu prato.

— O senhor estava falando sério? — Lílian pegou as garrafas que Rosmerta lhe entregava. — Sobre minha amiga? Eu estava “jogando verde” para cima dela.

— Ela está mesmo — reafirmou. — A Srta. Bishop me contou um dia. Achou que estava perdendo sua amizade por causa do Sr. Potter.

— Mas eu nunca faria isso! Eu a conheço há anos! Jamais a abandonaria por causa de um garoto!

— Conte isso para sua amiga, Srta. Evans, não para mim.

A ruiva concordou, sorrindo agradecida. Foi até sua mesa, deixou as cervejas para as amigas e saiu apressada. Peter sorriu com a própria mentira, nem um pouco arrependido.

Sua Elizabeth continuava orgulhosa, afinal.

 


Olhou no relógio de pulso mais uma vez antes de se anunciar. Era mais de duas da manhã... O que ela estava fazendo?

— Boa noite, Srta. Bishop. — A garota tomou um susto violento, levantando-se do chão e enxugando o rosto antes de olhá-lo, temerosa. — Gostaria de compartilhar o motivo para não estar na cama a essa hora?

— D-Desculpe, p-professor. E-Eu não consegui dormir.

— E por que não ficou no seu Salão Comunal?

Ela engoliu em seco, abaixando o rosto, envergonhada. Não respondeu.

— Volte para a sua Casa, Srta. Bishop. Vamos fingir que este encontro nunca aconteceu.

Olivia o olhou, surpresa. Rapidamente concordou, passando a andar em direção à porta.

Em sua direção...

Peter não refreou a vontade em seu coração: segurou a mão dela, impedindo-a de sair.

— Se estiver com problemas, há sempre um professor para lhe dar conselhos, Srta. Bishop.

A morena olhou para as mãos unidas, sem coragem de olhá-lo.

— O senhor, por exemplo?

— Sim. Se não me considerar mais um louco, é claro.

A brincadeira arrancou um sorriso da moça. Ela retribuiu rapidamente o aperto na mão, logo o soltando e se encaminhando para as escadas da torre de Astronomia.

— Obrigada, professor — ela proferiu antes de correr.

Peter respirou fundo.

— Olive... — repetiu o apelido, gostando de como soava.   

 


Para sua surpresa, Olivia realmente o procurou. Ela o encontrou no jardim, escondido na grama alta, numa tarde de domingo. Peter aproveitava a relva antes que ela fosse coberta pela neve, abrindo os olhos e se deparando com uma jovem corada, surpresa por ter sido pega admirando-o.

— Boa tarde, Srta. Bishop.

Ele não se deu ao trabalho de levantar, voltando a fechar os olhos. Ventava bastante, e ele sentiu o novo perfume de sua amada. Não soube identificar a fragrância, mas era leve e doce, combinando com sua nova personalidade. Victoria adorava perfumes fortes...

— Boa tarde, professor — ela respondeu, tímida. — Podemos falar? Ou eu o procuro em outro momento?

— Aqui está bom.

Sua resposta a deixou confusa. Abriu os olhos novamente, e ela ainda estava parada no mesmo lugar, indecisa sobre o que fazer.

— Sente-se, Srta. Bishop. Não vou mordê-la.

Olivia soltou um sorrisinho antes de sentar bem próximo a ele.

— Queria agradecer ao senhor, se não se incomodar. — Ele estranhou o pedido. — Obrigada por não tirar pontos quando me encontrou naquela madrugada. E... obrigada por ter mentido para minha amiga. Eu realmente estou enciumada com o novo relacionamento dela, apesar de nunca ter comentado com o senhor a respeito.

Peter sorriu de volta.

— É verdade o que ela falou, sabe? Ela não vai abandoná-la por causa de um namorado.

— Eu sei que não! Mas eu... — Suspirou. — Ela é a minha única amiga. As outras pessoas me acham estranha.

— Estranha?

— É. A sabe-tudo irritante, a garota que só vive estudando... o senhor já deve ter ouvido falar.

Não negou ou confirmou. Qualquer resposta a deixaria magoada, aliás. Peter voltou seu olhar para o céu.

— E por que a opinião dos outros lhe importa?

— Não importa. Só estou explicando porque fiquei chateada com o namoro de Lílian. — Hesitou. — Por isso estava chorando naquela noite: eu tive uma briga feia com ela. Por causa do Potter, é claro.

Peter a sentiu inquieta ao seu lado, como se esperasse uma resposta sábia para seu “problema”. Suspirou. Às vezes ele se esquecia de como era ser um adolescente.

— Acha que estou sendo boba, professor?

— Não — falou simplesmente. — Acho que nunca se apaixonou. É diferente.

Controlou a vontade de rir da garota com o rosto da cor dos cabelos de sua melhor amiga.

— É verdade, não é? Nunca gostou de nenhum rapaz, não é, Srta. Bishop? Nunca sentiu o coração bater mais forte quando aquela pessoa especial se aproxima.

Ela abaixou o rosto, incapaz de encarar seu sorriso leve.

— Um dia a senhorita irá se apaixonar. E então entenderá sua amiga. A paixão nos deixa bobos, românticos... e idiotas.

Olivia voltou seus brilhantes olhos verdes em sua direção. Parecia curiosa.

— Quando estamos apaixonados, Srta. Bishop, nossa atenção se volta quase que exclusivamente para aquela pessoa dona de nosso afeto. Mas isso não quer dizer que esquecemos de nossos amigos. Apenas criamos uma espécie de bolha invisível, que cerca somente os apaixonados... Não se preocupe, aliás. Ela não dura muito.

— Não dura? Por quê?

— Porque aí chega o amor, Srta. Bishop. O amor não é uma bolha – ele não cerca ou prende. Ele liberta. Ele se expande. Quando uma pessoa ama outra de verdade, ela parece brilhar! — Foi impossível não comparar o doce sorriso de Olivia com o de Victoria. — Amor atrai mais amor.

Desviou o rosto, fechando os olhos novamente. Temia não se controlar com aquele semblante tão delicado perto de si.

— A Srta. Evans está apaixonada, mas isso não quer dizer que irá deixar os amigos de lado. Ela deve estar apenas encantada com esse novo sentimento que a invade. Deixe-a curtir a nova paixão, Srta. Bishop. Mostre que está ao lado de sua amiga, e a apoie em qualquer decisão. — Respirou fundo. — Ela se lembrará disso para sempre.

— Mesmo que esse novo relacionamento tende ao fracasso?

— Mesmo que esse novo relacionamento tende ao fracasso... fique ao lado dela — repetiu. — Se o namoro der certo, vocês terão ótimas histórias para compartilhar. Se não der, seja o ombro amigo quando ela precisar chorar. — Pensou duas vezes antes de voltar a mirar os olhos claros. Olivia parecia dividida. — A amizade é feita de altos e baixos, afinal. O importante é você não apontar o dedo na cara dela e julgá-la. Ou dizer coisas como “eu avisei”. Amigos não fazem isso, Srta. Bishop.

Os lábios dela tremeram.

— Não sei se sou uma boa amiga, então.

— Se falou algo do qual está arrependida, por que não pede desculpas?

— Eu pedi — falou imediatamente. — Mas não consigo esquecer das coisas que disse. Eu... eu a ofendi.

— E ela a desculpou?

— Sim... Lílian é um doce de pessoa. Muito especial. — Olivia lhe forçou um sorriso. — Eu que não sou.

Peter sentiu o coração ser esmagado. Sentou devagar, sem deixar de olhar o semblante entristecido de sua aluna.

— Srta. Bishop, eu posso lhe confessar uma coisa? — Ela balançou a cabeça numa afirmativa. — Eu sou um excelente Legilimens. Você sabe o que é isso?

Olivia se impressionou, erguendo as sobrancelhas. Confirmou novamente, receosa.

— Não se preocupe, não estou lendo sua mente. — Sua frase descontraída pareceu acalmá-la um pouco. — Sou muito bom em ler as pessoas, Srta. Bishop. Seus gestos, o tom de sua voz... Não preciso ler os pensamentos de alguém para saber se essa pessoa é boa ou má.

— O senhor aprendeu isso no Curso de Aurores?

— Não, mas eles ensinam um pouco disso lá também. — Foi a vez dele se impressionar com ela. Nunca contara aos alunos que se formou Auror. Olivia era boa em conseguir informações, seja sobre estudos ou qualquer outra coisa que lhe interessasse. — Aprendi com a vida.

Ela pareceu duvidar de sua resposta, mas a aceitou.

— Srta. Bishop, a senhorita não é uma pessoa ruim. Bastou-me vê-la uma vez para que tivesse certeza.

Olivia voltou a ficar com os lábios trêmulos e os olhos marejados.

— Mas eu...

— Todo mundo comente erros. Você seria ruim se não tivesse se arrependido das palavras duras que disse para sua amiga, ou se não tivesse lhe pedido desculpas. Só o fato de a procurar para acertarem sua amizade prova que a Srta. Evans viu a mesma menina doce e especial que eu vi no primeiro dia de aula... Mas, diferente dela, eu não sou muito bom em controlar as minhas emoções.

Olivia deixou escapar uma risada. Uma lágrima teimosa caiu em seu rosto, e Peter nunca usou tanto de seu autocontrole como naquele instante, lutando para não enxugá-la. A moça limpou o rosto e respirou fundo. O homem ainda notou suas mãos trêmulas.

— Desculpe por incomodá-lo com meus problemas, professor Morgan.

— Não há problema algum. Pode me procurar sempre que quiser, tudo bem? — Ele ofereceu uma mão a ela, que nem vacilou. Aceitou o carinho, apertando forte a mão dele. — Sempre!

Olivia concordou. Peter deixou-se perder na mão delicada por alguns segundos, tentando imaginar quando teria a chance de tocá-la outra vez.

“Será que ele enlouquece de vez se eu abraçá-lo?”.

Peter ficou com os olhos esbugalhados.

— Professor?

Ele puxou a mão de volta, pondo-se de pé rapidamente. Olivia o acompanhou.

— Viu como não sou bom em esconder minhas emoções? Acabei de lembrar que não preparei a aula de amanhã para sua turma.

Olivia tampou a boca, escondendo uma risada.

— Desculpe, professor, eu não vou mais atrasá-lo — falou sorridente. — Obrigada pelos conselhos!

— Por nada — respondeu já se distanciando. — Não esqueça de me procurar quando precisar!

A morena assentiu uma última vez antes de caminhar no sentido oposto.

 


— O senhor preparou uma aula enorme para quem tinha pouco tempo.

Peter arrumou os trabalhos dos alunos, escondendo um sorriso.

— Você acha? Pensei ter sido bem simples.

— Preparar um resumo ao mesmo tempo em que prestamos atenção nas suas explicações... não parece simples para mim. Ainda estou com o pulso doendo.

— Olive! — Sua amiga Lílian a repreendeu, puxando-a para irem embora. — Desculpe, professor. Minha amiga não está no juízo perfeito hoje.

Peter olhou de Lílian para Olivia, sorrindo para a última. A ruiva puxou a outra pelo braço, a mais nova ainda acenando antes de sumir porta afora. Peter fez um enorme esforço para correr sem fazer barulho, correndo na direção das garotas e agradecendo mentalmente pela sala já vazia.

— O que está acontecendo com você, Olivia? Está tentando criar intimidade com um professor?!

— Não exagere, Lílian. Ele é um cara legal depois que conhecemos melhor.

— Ele é um louco! Ele te abraçou e te chamou de Victoria no primeiro dia de aula!

— Ele me esclareceu isso: disse que sou muito parecida com uma garota que ele amou, mas que morreu com a nossa idade, dezessete anos atrás. Não é uma incrível coincidência?

— E você acha isso normal?!

Foi o máximo que o professor ouviu até as duas dobrarem em um corredor cheio de alunos. A partir dali, seria impossível segui-las sem chamar atenção.

 


— Já ouviram falar no feitiço do Patrono?

Vários murmúrios percorreram a classe, a maioria dos alunos confirmando, ansiosa.

— Para os que não sabem, o feitiço funciona como um escudo, uma forte proteção contra dementadores. E quando executado com perfeição, toma a forma de um animal, que poderá guiá-los nas horas sombrias...

Explicou a teoria com calma, ressaltando várias vezes que o feitiço precisava de uma emoção forte para ter êxito.

Parou um momento, olhando para a turma. Viu um par de olhos verdes curiosos antes de fechar os seus.

O sorriso dela era igual ao de Victoria...

Seria possível que estivesse se apaixonando de novo? Pela mesma pessoa? Sendo que ela, ao mesmo tempo, era outra?

— Expecto Patronum.

Um lobo prateado tomou forma, arrancando exclamações dos alunos. O animal correu pela sala, olhando para os jovens e parando ao lado da mesa de Lílian e Olivia. A ruiva ainda tentou tocá-lo, mas o feitiço se desfez ao não encontrar nenhum sinal de perigo.

— Quando podemos praticar?

— Na próxima aula, Sr. Potter. Hoje ficaremos na teoria.

As reclamações aconteceram, como esperado. Peter apenas deu de ombros e voltou a falar sobre o feitiço, calando-os imediatamente e passando a ouvir penas ansiosas percorrerem pergaminhos enquanto frisava, mais uma vez, que apenas uma emoção forte assegurava um encantamento perfeito.

Não deixou seus alunos favoritos – que eles nunca soubessem disso – esperando por muito tempo, no entanto. Pouco antes do Halloween ele os presenteou com uma aula prática, para que finalmente treinassem o feitiço. Como estava fora de cogitação levar um dementador para dentro do castelo, Peter teve que contar com a sorte.

Os estudantes precisavam sentir emoções fortes do nada, no meio da aula e na frente de todos.

E para a sua surpresa, um deles conseguiu. Remo Lupin produziu um escudo breve, porém útil, e Peter ficou mais do que orgulhoso. Não lhe passou despercebido a frustração de certa aluna, mas o professor nada podia fazer... era um encantamento que exigia esforço emocional do próprio aluno, afinal. Os alunos restantes ficaram avisados que precisavam se concentrar – e praticar – mais até a aula seguinte.

— Ninguém vai chegar nos NIEM’s sem aprender o Patrono — prometeu à turma.

Peter, porém, não poderia imaginar que Olivia não produzia o feitiço por motivos que estavam lhe tirando o sono. Literalmente.

A garota não apareceu na aula seguinte e, disfarçando bem, o professor perguntou à Lílian, a melhor amiga da moça, o motivo da ausência.

— Acho que ela se atrasou com o dever de Poções — comentou a ruiva. — É para mais tarde e ela passou o final de semana inteiro na biblioteca.

Ficou despreocupado, então, seguindo sua aula e ficando contente por, além de Lupin, Lílian Evans e Tiago Potter também conseguirem produzir um escudo razoável. Sirius Black também estava se esforçando, e Peter achava que com um pouco mais de prática, o moreno também avançaria sem problemas.

A turma foi dispensada duas horas depois e, enquanto Peter pensava se valia a pena dar um pulo na cozinha naquela hora vaga ou se esperava o almoço, a porta de sua sala abriu sem uma batida antes sequer.

— Senhorita Bishop?

Seria sua obrigação repreendê-la pela falta de educação, mas ela nem lhe deu ouvidos, jogando dois livros velhos sobre sua mesa. O homem arregalou os olhos ao ver os dela vermelhos.

— Mas o que...?

— Pode me dizer o que significa isso? — Ela apontou para os tomos de capa preta. Ele os olhou e não reconheceu de primeira. — Pode me dizer o que estou fazendo nesses livros, professor?

A voz exaltada e a última palavra em tom irônico o fez pensar duas vezes antes de responder. Virou os livros e ficou surpreso ao abrir o primeiro.

Era o anuário de sua turma, de quando se formou em Hogwarts.

— Por que você...?

— Eu faço as perguntas aqui, ok? — Ela interrompeu. — Você me deve respostas! Você precisa me explicar quem é Victoria Prewett! O porquê de ela ser idêntica a mim! E o motivo para eu ter sonhos estranhos com o senhor!

Peter nunca tinha aberto aquele livro, mas foi fácil encontrar a imagem da única mulher que roubou seu coração.

Ela não chegara a se formar, mas mesmo assim ali estava ela, com menções honrosas e recados de vários amigos. Por um instante Peter se esqueceu da moça desesperada a sua frente, perdendo-se no sorriso contagiante e nos olhos que pareciam brilhar mesmo na foto em preto e branco.

— E por que eu e Victoria somos tão parecidas com Elizabeth Tudor?

O professor não precisou ver o outro livro. Aquele ele já tinha visto outras vezes.

Duas só naquela vida.

— Você descobriu tudo... — Ele não evitou o pequeno sorriso. — Sozinha. De novo.

Levantou o rosto para a garota que tinha os olhos marejados e os lábios trêmulos. Não precisava ler seus pensamentos, mas o fez mesmo assim, recebendo a confirmação de Olivia antes que ela acenasse com a cabeça.

— O que ainda precisa que eu lhe explique? O que você ainda não lembrou?

A morena soltou um soluço, escondendo o rosto e as lágrimas com as mãos.

— Peter...

Ele se levantou de sua mesa, passando por ela e fechando a porta de seu escritório.

— Como devo chamá-la agora? — ele perguntou timidamente, arriscando uma aproximação.

Olivia tomou um pequeno susto ao vê-lo mais perto.

— Quando você lembrou de tudo?

— Há duas semanas — gaguejou. — No dia da primeira aula prática do Patrono.

Ela deu dois passos para trás e puxou a própria varinha.

— Expecto Patronum!

Um cachorro prateado se formou e quase arrancou uma risada do professor. O animal chegou perto do homem, tentando cheirar a mão estendida em sua direção.

— Oi, garoto.

O cachorro pareceu animado – como se tivesse reencontrado um velho amigo – antes de sumir.

— Eu consegui fazer o feitiço horas depois da aula. E desmaiei quando o vi novamente. — Olivia limpou as lágrimas teimosas em seu rosto. — Eu já tinha achado seu lobo familiar... mas Silver foi meu gatilho.

— Silver! — Ele sorriu ainda mais. — Eu tinha me esquecido que você nomeou seu Patrono! Ele era...

— Era parecido com um cachorro que tive na infância. Sim, eu lembrei também.

O sorriso do mais velho sumiu aos poucos. Olivia estava séria demais.

— Não foi meu cachorro — corrigiu-se. — Nunca tive um cachorro. Sou alérgica a pelos de animais. O cachorro era de Victoria Prewett.

— Você também é ela... vocês duas são Elizabeth.

— Assim como você é William. William Campbell.

— Sim.

Peter engoliu em seco com os longos segundos em que Olivia não falava nada e não lhe permitia acessar seus pensamentos.

— Como devo chamá-la? — repetiu a pergunta.

— Eu não sei...

 

~*~

 

Harry se afastou devagar, permitindo que a esposa assimilasse a lembrança aos poucos. Hermione demorou a abrir os olhos, e antes disso o moreno já tinha reparado no esforço que ela fazia para não chorar.

— O que houve depois? — O homem reconheceu o medo na pergunta, forçando um sorriso.

— Você não me escolheu.

— Por quê?

— Porque você achou que atrapalharia minha vida mais uma vez. — Ele deu de ombros. Há muito não sentia mágoa daquela rejeição. — Você se lembrou dos meses que parei de estudar para ficar ao seu lado, enquanto esteve doente. Soube dos meus anos de luto. E então você voltou como minha estudante... — Soltou um suspiro. — Pareceu a você que sua simples presença me era um problema. Mas não era, sabe? — Acariciou o rosto dela, aparando uma lágrima teimosa. — Nunca foi. Meu problema é ficar longe de você, meu amor.

Ousou tocar os lábios dela levemente com os seus. Não houve resistência, mas Harry não achou de bom tom continuar.

— Vamos dormir, minha Mione. Você precisa descansar. — Ele se deitou e a puxou para que deitasse consigo. — Você não precisa saber tudo de uma vez...

— E nem no mesmo dia — ela completou.

— Sim... — Beijou a testa dela com carinho quando ela se acomodou sobre seu peito. — O cérebro não aguenta tanta informação de uma vez. Eu passei uma madrugada delirando e ardendo em febre. Já Olivia passou um dia inteiro desacordada na enfermaria e eu só soube disso meses depois. Lílian quem me contou.

— Lílian... — Hermione repetiu baixinho. — Sua mãe...

— Sim... ela era maravilhosa! Confesso que foi incrível ter lembranças dela, quando lembrei da vida de Peter. E saber o quanto vocês duas foram grandes amigas até o fim acalma meu coração ainda mais.

Hermione o olhou, dividida entre a curiosidade e a pena.

— Foi você quem escolheu meu nome, sabe? Você foi ao casamento de meus pais e lá mesmo falou que queria ser madrinha “do Harry”.

Um sorriso pequeno surgiu nos lábios da mulher, que voltou a se aconchegar nos braços do marido.

Mas o sorriso logo desapareceu ao se dar conta que Harry não possuía uma madrinha... que teve apenas um padrinho.

— Você é quase um ano mais velha que eu, lembra-se? — ele respondeu após ler seus pensamentos. — Nasceu em setembro, enquanto eu nasci em julho do ano seguinte.

— Eu não cheguei a ver Lílian grávida — concluiu. — Morri antes.

Harry soltou um suspiro.

— Exatamente.

Ele respirou fundo, aliviado. Hermione começava a acreditar em sua história. Pôde confirmar em seus pensamentos agitados e na forma como ela o abraçava com força, como se temesse que ele lhe escapasse durante o sono.

 


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Notas finais do capítulo

Bom... é isso. =)
É um capítulo simples, apesar de um pouco longo. Eu escrevi essa lembrança há meses e estava louca para mostrar para vocês! Espero que tenha compensado um pouquinho a demora. ^^"

Eu tenho uma pergunta para vocês, leitores! ^^"
Vocês querem ver mais dessa vida passada? Eu tenho na cabeça todo o resto das vidas de Olivia e Peter. Se vocês quiserem, eu posso colocar detalhes do porquê deles não ficarem juntos e até mais algumas cenas com Lílian e os Marotos no próximo capítulo. Só se vocês gostarem, é claro. Se não, se acharem a ideia meio repetitiva ou maçante, seguiremos em frente com a história do Harry. =) Eu vou fazer essa "enquete" aqui e no Spirit. A opção que tiver mais votos decidirá como será o próximo capítulo. xD

Agora sim, é só isso. ^^" Qualquer dúvida ou erro, podem me falar, tá? Farei o possível para responder sem spoilers. ^^" E editarei os erros assim que possível! (Eu revisei, mas sempre passa alguma coisa ^^")

Muito, muito, muito obrigada por tudo, leitores lindos!
Até o próximo capítulo! =*



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