Conte Nossa História escrita por LilyMPHyuuga


Capítulo 16
William e Elizabeth


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! *-*
(Por favor, não me matem)
Ai, que saudade que eu tava disso aqui, rsrs. ^^" Mil perdões pela demora, gente, de verdade! Consegui entregar a songfic do desafio que estava participando, mas fiquei esgotada um tempão! Mas peguei essa fic já na metade do mês passado e estava trabalhando nela até ontem à noite. A ideia era postar ontem mesmo, mas a revisão demorou mais que o esperado e a net não colaborou. Então sobrou pra hoje mesmo. xD
Peço desculpas desde já pelo tamanho do capítulo. ^^" Eu tinha prometido que o maior segredo não passava desse capítulo, mas eu tinha muita história para contar antes. Finjam que estão lendo dois capítulos seguidos, para compensar a demora pela postagem, rsrs. xD
Agradecimentos especiais a Aly, Fremioneforever, Thayna Black Snape, Srta Potechi, Kiaend e sakurita1544 pelos comentários no último capítulo! Vocês são uns lindos! =* ♥ Obrigada também aos 99 que estão acompanhando e os 16 favoritos! Obrigadão! *-*

Lembrando que o texto de fonte normal retrata o presente e o texto em itálico são lembranças do Harry. Frases em fonte normal no meio das lembranças são os pensamentos deles e o trecho de uma música.
Boa leitura! ♥



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Harry aconchegou a esposa em seus braços, respirando fundo antes de contar, evitando os olhos castanhos por precaução.

— Quero que me prometa que esperará eu terminar de contar...

— Nós já não passamos por isso? – teimou a mulher.

— Sim, mas você já está me interrompendo.

Hermione bufou, voltando a deitar a cabeça no peitoral do marido.

— É sério, Mione. Eu não aceitei bem a nossa história, no início... e tenho medo de que você reaja do mesmo modo.

Um vislumbre do diário passou pela mente da morena. Harry engoliu em seco.

“O homem que eu vi hoje é frio e insensível. Me disse coisas horríveis... disse que me apaixonei por uma história, e não por ele, e que estava amargamente arrependido de ter terminado o namoro com a garota que realmente amava.”

— Eu não fui a pessoa mais paciente do mundo contigo... e me arrependo até hoje, Mione. Por isso quero que tenha certeza de que tudo de ruim que vivemos está no passado. No presente, você é tudo para mim...

 

~*~

 

O Salão Comunal estava mais agitado que o costume. Um quintanista lhe contou sobre um casal que se declarara em público há poucos minutos, fazendo Harry sorrir e lembrar-se de quando fizera o mesmo com Gina, quase dois anos atrás.

Um calafrio o surpreendeu. Não havia fantasmas por perto, constatou, e nenhuma janela parecia aberta. Então o que...?

O aperto no peito o alertou. Olhou para os lados e não a encontrou. Aproveitou a distração das dezenas de pessoas amontoadas e entrou de fininho no quarto da monitora-chefe.

— Mione?

Ela estava escondida debaixo dos lençóis, e apenas os cabelos espalhados sobre os travesseiros lhe indicavam que a moça estava ali.

— Mione? – chamou outra vez.

Atravessou o quarto e sentou na cama, pretendendo acordá-la com o movimento – sabia que a amiga tinha sono leve. Ficou surpreso ao ver que ela nem se mexera.

— Hermione! – falou mais alto. Nada. – Hermione, está tudo...?

O contato de leve com a pele feminina o assustou. A jovem bruxa parecia em brasas.

— Mione, por Merlin! – Ele afastou os lençóis, finalmente a acordando e notando que ela tremia. Levantou depressa, em busca de um casaco, ou sobretudo... qualquer coisa que pudesse cobri-la e aquecê-la. Encontrou uma jaqueta ao revirar o guarda-roupa, sem cerimônia. – Levante, Mione. Vou levá-la até a ala hospitalar.

Hermione mal se moveu. Apenas o olhou quando ele mesmo resolvera vesti-la.

— Will?

Franziu o cenho, desconfiado. Quem diabos era Will?

— Will? – ela repetiu, parecendo zonza.

— Não. É o Harry.

— Harry?

Estranhou o semblante da morena que, por um instante, pareceu não o reconhecer. Passou a jaqueta sobre os ombros dela, cobrindo a delicada camisola, e a pegou no colo. Hermione passou os braços sobre seu pescoço e apoiou a cabeça no ombro dele.

— Estou com frio – gaguejou.

— Não se preocupe, já vai passar.

Deu um beijo na testa dela e a arrumou melhor em seu colo, respirando fundo antes de voltar a ser o assunto da escola...

Tentou atravessar o salão rapidamente, ignorando as perguntas curiosas e gritando nervosamente para que saíssem do caminho.

— É Hermione Granger no colo de Harry Potter?

— É a monitora no colo do Potter! Será que ela está bem?

Não ouviu mais nada. Praticamente voou até a ala hospitalar – e teria voado mesmo se tivesse lembrado de sua vassoura. A temperatura da moça parecia subir mais depressa que o normal.

— Will?

— Não, Mione. – Ele tentou não se mostrar tão enciumado como estava. – É o Harry.

— Harry...

Ela parecia ir e voltar do mundo dos sonhos.

— Peter... – Ela tossiu. – Jonathan... Will...

Quando ele enfim chegou na enfermaria, Hermione já estava adormecida de novo.

— O que ela tem? – Madame Pomfrey perguntou antes que ele a colocasse numa cama.

— Febre altíssima. Está delirando.

A enfermeira pediu para que ele se afastasse enquanto fazia os exames na garota e lhe administrava as devidas poções. Harry pensou que uma eternidade tinha passado quando a senhora o liberou para se aproximar. Hermione estava acordando.

— Não sei o que houve – respondeu para a senhora. – Estava na biblioteca quando senti a cabeça doer. Tudo começou a rodar, então resolvi terminar o dia mais cedo. Deitei na cama e apaguei.

— Não se lembra do Sr. Potter trazendo a senhorita até aqui?

— Não.

O rapaz chegou mais perto, tranquilo ao ver que ela não mentia e parecia realmente melhor.

— Você estava delirando – comentou quando Madame Pomfrey voltou para sua sala. – Ficou me confundindo com outros caras.

— O quê? – Ela riu de seu ciúme indisfarçável.

— Quem é Will? – perguntou de uma vez. Hermione arregalou os olhos. – Você chamava por ele. É seu namorado? Eu o conheço?

— Não. – Ela não hesitou. – Não conheço nenhum Will. Portanto, ele não pode ser meu namorado.

— E por que ficou chamando por um desconhecido?

— Não faço ideia, Harry! – Impacientou-se. – Podia ser um pesadelo, não sei. Não lembro nem de vir parar aqui!

Ela respirou fundo, controlando o nervosismo.

— Obrigada por me trazer até aqui. Mesmo. – A voz fria o intimidou. – Mas já estou melhor. Pode ir se quiser.

Hermione se deitou e virou para o outro lado, dispensando-o. As mãos dele tremeram.

— C-Certo. Boa noite, Mione.

Harry deu um beijo na cabeça dela antes de sair.

 

 
Saiu da ala hospitalar na ponta dos pés. Não devia ser seis da manhã, mas não tinha como ter certeza. Seu relógio ficara em seu quarto e Madame Pomfrey mandara recolher todos os relógios de parede da enfermaria, deixando apenas um em seu escritório, alegando que os alunos ficavam aflitos demais com o lento passar das horas.

Era pura verdade. Com ou sem relógio.

Por isso decidira não esperar para ser liberada depois do início das aulas. Já estava se sentindo melhor, mesmo tendo dormido pouco.

Harry sorriu pequeno ao assimilar tudo isso enquanto a via fechar as portas da enfermaria o mais silenciosamente possível. Ela se virou devagar, ainda olhando para o chão e medindo o peso dos próprios pés para não fazer barulho. Quando tomou uma distância segura que resolveu levantar o rosto.

Hermione parou de súbito.

Deixou-se ser invadido pelos sentimentos dela. Surpresa, chateação por vê-lo de pé tão cedo, alívio, carinho, gratidão...

— O que está fazendo aqui?

— Vim te ajudar a fugir. – A moça abriu um pequeno sorriso. – Mas vejo que não preciso ensinar mais nada... – Ele pôs um toque de emocionado orgulho na frase. – Você está pronta, Mione! Pronta para ser uma rebelde ao meu lado!

Hermione tampou a boca para cobrir a risada, puxando-o para longe dali.

— Você é mesmo uma péssima influência!

— A sua melhor péssima influência.

Ela o olhou docemente.

“Sim, a melhor...”.

Harry parou de andar, segurando a mão dela e a trazendo para perto de si em um apertado abraço.

 


Nunca fora o aluno mais organizado de Hogwarts, mas dessa vez ele não podia negar sua bagunça... em apenas duas semanas no castelo. Aulas mais do que cansativas e reuniões para o futuro time de quadribol (em que foi escolhido como Capitão novamente) sempre tomaram muito de seu tempo, mas agora com uma namorada e dois melhores amigos que mal se falavam... Harry não teve como abrir mão de algumas coisas.

E odiou o fato de não ter mais a companhia de Hermione. Contra sua própria vontade.

Não era cego. Percebeu logo no primeiro dia de namoro que a amiga se afastava quando encontrava o casal, inventando todo tipo de desculpa para manter-se longe. Até quando ele precisava de ajuda com os deveres, a morena se esquivava e sumia do mapa... literalmente.

Chegara a confrontá-la certa vez, mas a aparição repentina de Gina a deixou nervosa e a ajudou a escapar, gritando um simples e triste “tenho muito o que ler na biblioteca” antes de fugir novamente.

— Ela está chateada comigo, não é? – a ruiva comentara naquele mesmo dia, entristecida. – Eu tomei dela o tempo que passava com você. E agora está usando nosso namoro como desculpa para essa distância.

Até quis negar e consolar a namorada, mas pensou melhor: por que faria isso? Se parecia a pura verdade? Nem mesmo Rony se afastou deles quando anunciaram novamente o relacionamento...

No entanto, o aviso espalhado pela escola – do primeiro passeio à Hogsmeade coincidindo com o aniversário de Hermione – motivou um rapaz de rebeldes cabelos negros.

— Eu não vou deixar você passar o dia enfurnada nesse castelo, Hermione Granger! – ele brigou logo cedo, invadindo o quarto de monitora da moça e a obrigando a aceitar o “convite”. – Você irá a Hogsmeade conosco, para aproveitarmos seu aniversário!

— Não quero, obrigada – falou a garota, de braços cruzados, ainda emburrada na cama por ter sido acordada cedo num final de semana. – Estou cansada. Queria aproveitar o dia para não fazer nada.

“Nem pense nisso” ela alertou assim que os olhos verdes se estreitaram em sua direção. “Posso recitar um capítulo inteiro do livro de Poções” ameaçou.

— Você está mais estranha do que o normal, sabia? Passa mais tempo na biblioteca do que a gente... e agora não quer aproveitar seu aniversário? O dia em que passamos mais horas na cozinha do que todo o ano letivo? Não está com febre de novo, está?

Ele se aproximou da cama dela, no intuito de verificar sua temperatura. Hermione não permitiu que ele a tocasse, fugindo de seu contato a tempo e andando apressadamente até o outro lado do quarto, numa distância segura.

— Estou ótima! – Bufou. – Será que não posso escolher como passo meu aniversário agora?

— Não é isso, eu...

— Harry, saia, por favor. Eu não vou sair – era sua palavra final. Harry respirou fundo antes de concordar e deixar o aposento, levemente possesso.

Nem mesmo as brincadeiras de Rony ou os beijinhos de Gina conseguiram distraí-lo. Ciente do estresse do namorado (porque era o seu também), a Weasley sugerira, um pouco depois do almoço, algo que chamara sua atenção:

— Que tal comprarmos um presente para Mione? – Harry a olhou, confuso. – Sei que está chateado porque ela não está aqui. Eu também estou. Mas não vamos arruinar nosso dia por causa disso, por favor. Que tal comprarmos presentes, para animá-la quando retornarmos?

Ele concordou, com um ponta de esperança surgindo em seu peito.

— Sinto falta dela – soltou sem pensar. A mágoa era clara.

— Eu também. Mas somos amigos de Hermione, não somos? Que tal descobrirmos hoje mesmo o porquê de ela estar tão... indiferente?

Harry concordou no mesmo instante.

— Então proponho uma brincadeira: temos uma hora, a contar de agora, para comprar o presente perfeito para nossa monitora-chefe! O melhor nos dará o direito de... – A ruiva parou um pouco para pensar. – Falar com ela primeiro.

— Ou de sermos azarados primeiro – corrigiu, sorrindo pela primeira vez naquele dia.

— Eu estava evitando o termo, mas é isso mesmo. O melhor presente dará direito à primeira palavra, à primeira azaração, mas também ao primeiro abraço apertado de Hermione... – Gina falou convencida. – O que me diz?

Harry deu um selinho na namorada antes de dar as costas e correr pela rua, afoito. Entrou em lojas infantis, na Dedosdemel e até topara com Gina e Luna numa loja de roupas femininas... mas nada parecia ser o suficiente.

Faltando quase quinze minutos para o fim do tempo e já pensando em desistir e recrutar a ajuda de Rony – que sumira há horas –, acabou parando em frente a uma joalheria. Dando de ombros e sem nada a perder, o moreno passara pela porta, soando o aviso de novo cliente.

— Senhor Potter... – falou a, aparentemente, dona. – Que honra tê-lo aqui. Em que posso ajudá-lo?

— Hã... estou procurando um presente. Para uma amiga.

— Tem alguma coisa em mente?

Negou. A senhora mostrou-se compreensiva. Não deveria ser o primeiro cliente indeciso que aparecia por ali, afinal. Ela o chamou para perto de um balcão, apontando, quase empolgada, para uma coleção de brincos e pulseiras de esmeraldas.

— Nada muito chamativo, eu acho. – Ele se assustou com o discreto preço fixado numa das pulseiras. – Minha amiga é uma pessoa simples.

— Oh, entendo. Então deixe-me mostrar outra coisa...

Em outro balcão ela mostrou uma série de delicados colares e anéis, com pedras pequenas e poucos adornos, prometendo tranquilidade e sabedoria para quem usasse. Os preços já eram mais acessíveis, mas Harry ainda não tinha encontrado O presente...

Até que, quase desistindo novamente, ele levantou o olhar para uma das prateleiras...

O anjo praticamente o chamava.

Uma sensação acolhedora o tomou, como se aquela peça lhe fosse importante, especial... assim como Hermione o era.

— Aquele colar... – Apontou. – Eu o quero.

A senhora o olhou encantada.

— É uma peça exclusiva. Única! E linda também – elogiou enquanto se esforçava para alcançar a prateleira. – Excelente escolha, Sr. Potter.

Saiu da loja com o embrulho em mãos, tentando adivinhar, com um sorriso bobo no rosto, como o presente ficaria na futura dona.

“Ela é linda... com certeza ficará ainda mais” pensou sorridente, o olhar fixo na embalagem colorida.

Não teve muito tempo para ficar contente, no entanto. Uma forte dor no peito o acometeu, fazendo-o olhar para os lados no mesmo instante.

“Onde você está?” perguntou imediatamente, sem resposta. “Você disse que não viria, Mione... onde você está?”. Nada. Seria possível que estivesse sentindo Hermione, com a moça em Hogwarts? Os poderes deles teriam evoluído? Deu um rápido sorriso antes de aparatar o mais próximo possível do castelo, correndo o mais rápido que podia e ignorando os olhares curiosos. Arfou no meio da escadaria, praguejando várias vezes quando elas mudavam de lugar e ele tinha que esperar o caminho se refazer. Usou o máximo de atalhos que podia, parando ofegante em frente ao quadro da Grifinória.

— Pudim de rins!

O grito despertou a sonolenta Mulher Gorda. Ela reclamou por quase meio minuto antes de abrir a passagem e deixá-lo entrar. Harry correu mais um pouco antes de se dar conta que ainda estava longe dela – sentia sua tristeza com tanta certeza quanto a que tinha que ela não estava ali.

“Ela quer ficar sozinha... sabia que eu poderia encontrá-la”.

Correu para fora do Salão Comunal, ainda ouvindo os protestos da Mulher Gorda:

— Só queria me acordar mesmo?!

Passou pelos corredores depressa, encontrando uma parede específica. Foi e voltou com o mesmo pensamento – encontrar Hermione – e uma porta apareceu. Harry nem se deu ao trabalho de bater: a tristeza era sentida com maior intensidade ali. Encontrou-a no chão, no canto mais afastado da porta, chorando silenciosamente e abraçando os joelhos com força. O moreno sentou ao seu lado, puxando-a para seu colo. A garota o abraçou rapidamente, chorando ainda mais em seu peito. A tristeza o assolou, e ele notou que era a sua própria.

— Mione... O que houve?

“Como ele ainda pode...? Por que ele...?”. Pensamentos incompletos de Hermione o deixaram ainda mais confuso, e a moça se negava a dizer o que estava acontecendo.

— Deixe-me ajudá-la – suplicou.

“Por favor... Não tens ideia de como me deixa triste assim!”.

Hermione arregalou os olhos e se afastou dele, nervosa.

— Saia daqui! A última coisa que preciso agora é de alguém lendo meus pensamentos.

Ela levantou, andando até uma cama que aparecera no minuto anterior. A morena se jogou nela, abraçando um travesseiro e voltando a chorar silenciosamente.

“Não mesmo, Granger!”.

O moreno caminhou decidido até ela, vendo a surpresa nos olhos castanhos. Ele a puxou agilmente pela mão, enlaçando sua cintura e selando seus lábios nos dela.

Apenas por alguns segundos, Hermione se entregou. Correspondeu ao beijo e deixou que Harry o aprofundasse, trazendo-a para ainda mais perto e sentindo o coração acelerar. A sensação de pertencer àqueles braços sempre o tomava quando estava com ela... as mãos delicadas em seus cabelos pareciam confirmar sua teoria.

Mas durou apenas alguns segundos.

A jovem se distanciou logo depois, assustada, dando um tapa na cara do rapaz.

— Você! – acusou, irada e magoada. – Você não presta! Como ousa me beijar?! Você tem uma namorada! Você...

Ele se aproximou novamente, resistindo aos tapas e socos que recebia ao tentar abraçá-la. Encostou sua testa na dela, respirando fundo antes de responder simplesmente:

— Agora não posso ouvi-la... Não era esse o problema?

O semblante de Hermione foi aliviando aos poucos, passando de irritado para melancólico novamente. A moça se entregou às lágrimas outra vez, deixando Harry apertá-la em um abraço sufocante e desesperado.

— Estou aqui, Mione... sempre estarei aqui por você.

Ela confirmou com a cabeça, chorando no peito do garoto até quase perder as forças. Harry a puxou para a cama, só então notando que era a sua... Hermione projetara seu quarto da Mansão Black/Potter ali, como seu refúgio.

— Você também é meu porto seguro... – ninou baixinho. – Sabia?

 


Ela finalmente abrira um sorriso verdadeiro, e a gargalhada que se seguiu contagiou o moreno.

“O que eu faria sem você?” pensou com carinho.

— Estou te ouvindo novamente – falou sorridente. Para sua surpresa, Hermione sorriu também.

— O tempo está diminuindo, não é? – observou a jovem. – Da última vez durou vinte e quatro horas até que eu pudesse ouvi-lo novamente.

— É mesmo? Há quanto tempo estamos aqui?

A moça olhou para o relógio no pulso.

— Cinco horas! – Assustou-se. – Gina deve estar preocupada com seu sumiço.

O olhar de Harry foi o suficiente para que ela notasse o completo esquecimento da namorada. Ele sorriu, envergonhado, confirmando os pensamentos da moça.

— Você notou também – ele falou timidamente – que não importa quantas vezes a gente se beije? Os pensamentos sempre voltam. E com mais intensidade, mais sentimento. Eu a senti de Hogsmeade! Imagine agora...

“Não sentiu, não”.

— Como assim? – ele perguntou confuso.

Ela soltou um suspiro antes de confessar:

— Eu estava em Hogsmeade também. Fui atrás de vocês e... – Hesitou. – Bom, vi algo que não queria ver.

“Não é importante” ela logo acrescentou.

Era uma mentira óbvia, mas Harry não quis brigar. As últimas horas reviveram sua saudade da morena, e uma discussão era tudo o que não queria no momento. Não quando Hermione parecia tão bem!

— Quase me esqueço! – Tirou de dentro do casaco o embrulho colorido e estendeu para a jovem ao seu lado na cama.

— O que é isso?

— Seu presente de aniversário, oras.

Os olhos castanhos brilharam e as mãos pequenas agarraram a caixa sem cerimônias. O sorriso empolgado dela mal o deixava desviar o olhar.

— Um... Um anjo? – Olhava quase pasma para o pingente.

— Não sei explicar. – Ele deu de ombros. – Quando o vi, sabia que devia ser seu. Combina com você...

— N-Não sou um anjo – gaguejou.

— Eu sei. Mas é bobo demais dizer que lembra um?

A garota o olhou, trêmula.

“Você parece um anjo, meu amor!” uma voz desconhecida ecoou na mente dela. Harry arregalou os olhos. O controle de sua curiosidade foi para o espaço.

— Quem disse isso? – falou no mesmo instante. Ela desviou o rosto, envergonhada. – Foi para você? Foi o tal do Will?

— O quê?

— Will, o cara que você ficou chamando quando estava doente! Era ele, não era? É por causa dele que você está se afastando da gente?

— Harry... – Ele se arrumou na cama, para que ficasse de frente para ela.

— Diga-me, Mione, pelo amor de Deus! Não suporto mais fingir que estou feliz com essa distância! Eu não quero perder você...

— Você não está me perdendo.

— Então por que...?

“Porque eu o amo”.

Harry calou-se. O queixo caiu e Hermione, ao notar seu espanto, tomou ciência de seu erro. Forçou uma música na cabeça, tentando fugir do assunto. Porém, era tarde: o moreno juntou as peças do quebra-cabeça.

— Você está apaixonada...

Sua voz saiu num sussurro rouco, surpreso. Hermione o mirou com os olhos marejados. Ele não precisou ler seus pensamentos para saber que o semblante dela demonstrava todo o sofrimento que guardara para si durante semanas.

— É o Will, não é?

— O quê?

— O garoto, Hermione – falou sério. – É ele, certo? Preciso ter certeza para acabar com a raça do infeliz agora mesmo!

— Não! – ela falou desesperada, agarrando seu braço. – Por favor, pare com isso, eu... eu estou bem. Eu vou ficar bem!

— Quem está tentando convencer, Mione? Há semanas que eu a vejo sofrer pelos cantos, fugindo da gente, sem saber o porquê! Tem noção do quanto isso estava acabando comigo? Vendo a minha melhor amiga, a pessoa que eu mais amo nesse mundo, definhar desse jeito sem fazer nada? – Ela escondeu o rosto em seu peito, envergonhada. – Não mesmo, Mione. Agora que eu sei o porquê, vou atrás do maldito e torturá-lo até que me conte o motivo para te fazer sofrer tanto!

Fez menção de se afastar, mas Hermione o segurou.

“Por favor, pare”, ela suplicou. “Você não pode fazer isso”.

— Por que não? – protestou quase furioso – Ele pode deixá-la desse jeito, mas eu não posso fazer nada para impedir?!

“Você não pode, Harry. É impossível... Ele ama outra. Não posso acabar com a felicidade dele”.

A imagem de Gina veio à sua mente, e o moreno explodiu:

— Ele gosta de Gina? – “Agora a coisa virou mais do que pessoal”. – Por isso que está sofrendo? Por que ele também ama Gina?!

“Também...” ela pensou vagamente, sofrendo ainda mais com aquela única palavra. Finalmente afastou-se dele, largando o presente na cama e tratando de sair da Sala Precisa.

— Pelo amor de Deus, apenas diga quem ele é! – gritou antes que ela saísse.

Hermione bateu a porta sem responder, e passados cinco minutos com vontade de destruir aquela sala a fim de aliviar sua raiva, ouviu um sofrido:

“É você, Harry...”.

Os olhos verdes arregalaram-se.

 


Sabia que, em parte, era tolice procurá-lo. Mas estava desesperado por conselhos! Então só hesitou uma vez antes de perguntar à diretora se poderia conversar com o quadro de Dumbledore.

— Eu não preciso lembrá-lo de que não é o professor que você conhecia, não é? É apenas uma lembrança dele.

— Eu sei, mas... – Hesitou. – Há algo que me incomoda. E talvez ele possa me ajudar.

— É algo sério, Potter? Devo me preocupar?

— Não – falou com firmeza. – Não é nada relacionado aos estudos ou ao mundo correndo perigo – garantiu.

— Bom, se é assim...

McGonagall se levantou e enfim saiu de seu atual escritório. Harry agradeceu mentalmente pelos outros diretores estarem dormindo. Saiu de sua cadeira sem fazer barulho, contornando a mesa e mexendo, um pouco amedrontado, no quadro do velho diretor.

— Professor? – chamou baixinho. – Professor Dumbledore?

Alvo despertou lentamente do sono, sorrindo ao reconhecer o garoto que o chamava.

— Olá, Harry. – A voz serena quase o acalmou. – Em que posso ajudá-lo?

Respirou fundo antes de colocar tudo para fora. Não esqueceu de nenhum detalhe, contando desde seu sumiço depois da guerra, o tempo a mais com a melhor amiga, a confusão de sentimentos depois do primeiro beijo com Hermione, os pensamentos e emoções compartilhados, até o beijo trocado com a moça há três dias, a última vez que conseguira falar com ela. Omitiu a conversa que teve com a garota, mas ressaltou que a conexão entre eles ficava mais forte sempre que se beijavam.

— Beijam-se com frequência? – Foi a primeira vez que o ex-diretor o interrompeu.

Harry corou, explicando rapidamente que só o fizeram quando Hermione tentava desesperadamente esconder o que pensava, indignada por ainda não saber Oclumência. Dumbledore o encarou por longos segundos, deixando o moreno com vontade de ler os pensamentos do professor também.

— Curioso... Muito curioso.

A última vez que ouvira aquilo ficara sabendo da varinha, gêmea da sua, que matara seus pais e lhe dera uma fina cicatriz na testa. Hesitou, mas fez a pergunta que lhe queimava a garganta:

— O que é curioso?

Dumbledore lhe lançou aquele típico olhar que parecia atravessar a alma. Depois sorriu levemente.

— Surpreendente como a senhorita Granger ainda não tenha pensado no porquê de vocês dois terem essa ligação. Ou se pensou, não compartilhou com você.

Harry ficou surpreso.

— É verdade! Não há nada que Hermione não saiba! Lembro que ela passou as primeiras semanas de aula enfiada na biblioteca, e quando protestávamos dizendo que não tínhamos tantos deveres, ela só respondia que não era coisa da escola...

Dumbledore sorriu, cúmplice, e apenas um pensamento o invadiu:

— Ela já sabe...

— Talvez apenas esteja se preparando para contar.

O garoto meneou a cabeça numa afirmação, mas ainda não se sentia confiante.

Hermione tinha segredos demais!

— O senhor sabe o porquê de eu ter essa ligação com a Mione, professor?

Dumbledore o encarou profundamente, abrindo um pequeno sorriso.

— Tenho um palpite.

Harry esperou que ele dissesse mais.

— Qual palpite?

— Por enquanto é só um palpite, Harry. Como vê – ele apontou para si mesmo –, não tenho como confirmar minhas suspeitas. – O rapaz abriu um pequeno sorriso com a brincadeira. – Mas esperarei você descobrir e vir me contar.

Era uma despedida discreta. Ele entendeu e então acenou outra vez antes de desejar um boa-noite para o senhor, se encaminhando para a saída. Porém, enquanto fechava a porta, ouviu vozes do lado de dentro. Odiando a própria curiosidade, Harry parou na soleira, deixando apenas uma fresta para que pudesse escutar:

— Não é um palpite, não é? – Foi fácil reconhecer a voz do outro ex-diretor, Severo Snape. O moreno quase voltou para o aposento, desejando falar – não sabia bem o quê – com o homem que ajudara a salvar sua vida. Mas não o fez. Ficou ali, ouvindo a breve conversa entre os quadros.

— Não, não é. – Alvo soltou um suspiro. – Minha memória piorou nos últimos anos... Eu havia me esquecido deles.

— Eu também. – Snape bufou. – A garota era amiga de Lílian. O cabelo era diferente, mas definitivamente era ela! E ele... – O homem estalou a língua, claramente chateado. – Foi professor de Defesa Contra As Artes Das Trevas no meu último ano aqui. Ele não era tão parecido com Potter... as diferenças da reencarnação enganaram meus olhos!

“Do que diabos eles estavam falando?” Harry se perguntou, franzindo o cenho. Amiga de sua mãe? Professor de Snape? Reencarnações? Alguém parecido com seu pai?

Eles ainda estavam falando dele e de Hermione? Ou mudaram de assunto sem que o rapaz percebesse?

— Há muitos anos não vejo um caso de reencarnação tão próxima... Ou melhor, quatro.

— Quatro?

— Sim, para você ver como minha memória está ruim: ela é a quarta que vejo nessa vida. Ele, não. Dele eu vi apenas três... mas foi por causa de uma fatalidade: a namorada de seu professor faleceu aos dezessete anos. Foi uma coincidência ele aceitar o cargo de professor e encontrá-la aqui novamente, como uma estudante.

Harry desistiu de tentar entender, descendo as escadas de uma vez e rumando para o Salão Comunal, perdido em pensamentos.

Pensamentos que envolviam a dona dos olhos cor-de-mel que ele tanto gostava de admirar....

 


Depois de Hermione, Gina era a pessoa que Harry mais detestava ver chorar. A ruiva sempre fora um sinônimo de força, de coragem e de autoconfiança. Ver tudo aquilo desmoronar lhe partia o coração, mas ele sentia que precisava fazê-lo. Não seria certo prendê-la daquela forma, quando ele estava tão confuso com os próprios sentimentos.

— Você tem certeza? – ela perguntou uma última vez, enxugando uma lágrima teimosa.

— Tenho. Sinto muito, mas... não acho justo com você.

Ela forçou um sorriso.

— Você está apaixonado por outra, não é?

— O quê? Não, eu...

— Não precisa tentar esconder – ela falou firme ao encarar seus olhos. – Eu sei que não me vê mais como antigamente. Agora finalmente entendo o porquê... Entendo porque demorou tanto para reatar nosso namoro.

— Gina...

— Não estou chateada – falou rapidamente. – Eu só... – A moça respirou fundo, apreciando a paisagem ao seu redor. Os jardins estavam desertos e Harry sabia que ela agradecia mentalmente por ele ter escolhido um lugar discreto para conversarem. Gina odiava demonstrar sentimentos em público. – Só não entendo porque demorou tanto para me contar.

— Mas eu não...

— Se você não tem certeza sobre seus sentimentos por mim, Harry, é porque alguém mexeu com seu coração. Não é algo difícil de deduzir, sabe? Eu só lamento não ter conseguido lutar a tempo por nós dois. – Ela limpou o rosto novamente e se levantou, limpando as vestes antes de olhá-lo uma última vez. – Eu devia ter desconfiado, afinal. Você é um bobão quando está apaixonado, Harry Potter – ela brincou, mas o rapaz não riu. – Há tempos você não é um bobão comigo – concluiu, enfim, andando lentamente até o castelo.

 


— Você terminou com Gina?! – O grito o espantou no meio do corredor vazio. Ele fizera questão de contar em primeira mão, no mesmo dia, para a amiga.

— Sim, foi o que eu disse.

— Você é um cretino! – ela gritou, furiosa. – Confessa para mim, você adora ter Gina aos seus pés, não é? É por isso que termina e reata com ela de tempos em tempos? Por causa do seu ego?

— O quê? – Não era bem a reação que ele esperava. – Claro que não! Eu amo aquela garota!

— Você não presta! Parece que adora vê-la sofrendo por você, isso sim! Como ainda ousa me dizer que a ama?!

— Mione...

— Cale a boca! Nunca mais dirija a palavra a mim! Gina não merece sofrer por um canalha como você... – Ela lhe deu as costas, partindo na direção das escadas.

“E você merece?”.

Hermione estancou.

“Do que está falando?”.

— Exatamente isso que você ouviu. – Ela se virou, olhando-o nervosa. – Você merece sofrer por um canalha como eu?

A garota engoliu em seco.

— Eu repito: do que está falando?

Harry andou tranquilamente até ela, o semblante sério.

— Eu não podia ficar com Gina – confessou. – Eu não posso fazer sofrer a pessoa mais importante para mim.

— Ela já está sofrendo!

— Estou falando de você.

O olhar de Hermione vacilou, e ela fez de tudo para não deixar de encará-lo. Mas Harry notou.

— Está me fazendo sofrer mesmo! Gina é minha amiga e...

— Pare, Mione – ele interrompeu, chegando mais perto dela. – Suas mentiras não me enganam mais.

A garota desviou o olhar, e Harry se aproximou mais, puxando-a para um abraço.

— Eu sei que sou o cara que te fez sofrer – murmurou no ouvido dela. – Eu consigo ouvi-la com uma maior distância agora e pude escutá-la naquele dia, depois que você saiu da Sala Precisa. – Ele hesitou um instante. – Você pensou “é você, Harry”, não foi?

Ela não respondeu. Afastou-se um pouco e Hermione se surpreendeu ao ver as írises verdes marejadas. Os olhos da moça ficaram ainda mais surpresos quando Harry desfez o contato, ajoelhou-se à sua frente e, segurando suas mãos, falou tristemente, sem nunca desviar o olhar do dela:

— Perdoe-me...


“I’m sorry that I hurt you (Sinto muito por ter te machucado)
It’s something I must live with everyday (É algo com que tenho de viver diariamente)
And all the pain I put you through (E toda a dor que eu te causei)
I wish that I could take it all away (Eu gostaria de poder levá-la embora)
And be the one who catches all your tears (E ser aquele que segura todas as suas lágrimas)
That’s why I need you to hear (É por isso que eu preciso que você ouça)
The Reason – Hoobastank

 

Hermione demorou um pouco para reagir. Mesmo emocionada, agarrou os ombros do rapaz e chamou, aflita:

— Por Merlin, Potter, levante-se! Estamos no meio do corredor!

— Como se eu ligasse.

— Levante, por favor! – implorou. – Você não precisa pedir desculpas por nada, ok? Mas levante!

Harry obedeceu, meio a contragosto. Deixou que a moça o arrastasse para a sala vazia mais próxima, para que pudessem ter mais privacidade.

— Escute – ele pediu assim que entraram. – Eu realmente não queria que as coisas chegassem nesse ponto, mas podemos procurar uma solução. Eu sinto sua falta, Mione, e não quero mais fingir que mal nos conhecemos quando nos encontramos por aí! Sinto falta daqueles dias que passávamos juntos, fazendo praticamente nada... apenas conversando. – Seu tom beirava a ansiedade e aflição. – Podemos voltar a ser daquele jeito, não podemos? Conversar sobre tudo e nada ao mesmo tempo, sem terceiros nos atrapalhando...

— Harry...

— Assim você lembrará que sou só o Harry idiota que você conheceu há sete anos! Você esquecerá que está apaixonada e então poderemos ser amigos normalmente, como sempre fomos...

O garoto se calou com o simples pensamento dela:

“Como sempre fomos?”.

— Sempre contamos tudo um ao outro, Mione... não finja que não. Eu posso ter tido um milhão de problemas nos últimos anos, sei que dei trabalho... mas eu nunca deixei de ouvi-la quando precisou. – Hesitou. – Nem mesmo quando se apaixonava.

Hermione abaixou o rosto, envergonhada. Uma confusão de pensamentos a tomava, deixando ambos confusos. Ela queria ceder, Harry sentia, mas tinha medo de estragar a amizade dos dois. A distância fora uma tentativa tola de esquecer tudo o que lera e lembrara...

— Esquecer? – o rapaz insistiu. – Esquecer nossa amizade?

— Não! – respondeu rapidamente. – Claro que não.

— Então o quê?

“A nossa conexão” ela deixou escapar.

— Nossos poderes? O que eles têm a ver com tudo isso?

A imagem de livros empoeirados na biblioteca invadiu a cabeça do rapaz, mas sumiu rapidamente.

— É complicado...

Harry então recordou-se da conversa com o ex-diretor, em que o senhor também achava que Hermione sabia sobre os poderes deles mais do que contava.

— Você falou com Dumbledore?! – indagou chocada.

— Eu estava sem opções, ok? Eu nem sabia que você tinha ido atrás de mais informações sobre... tudo isso!

— Como não?! Eu sempre disse que estava apenas esperando as aulas começarem para começar uma pesquisa mais intensa!

Harry arregalou os olhos.

— Então você descobriu.

A jovem desviou o olhar novamente.

— Sim.

Um minuto de silêncio antes de Harry praticamente gritar, desesperado:

— E então? O que é? Por que temos isso?

— É complicado – ela repetiu. – Não é fácil se acostumar com a ideia. Esquecer seria mais fácil.

— Não vai me contar? – deduziu, surpreso.

Os lábios dela tremeram em hesitação.

— Você prefere que eu descubra sozinho? – decretou seriamente. – Você sabe muito bem que eu consigo.

— Por favor... – Ainda sem olhá-lo, ela pediu, com a voz fraca. – Se ainda tenho alguma importância para você, não procure nada a respeito. Vamos melhorar em Oclumência e continuar com nossas vidas.

— Mas, Mione...

— Estou falando sério. – Hermione enfim levantou o rosto em sua direção, olhando-o firmemente. Nenhum vestígio de dor ou lágrimas estava presente em seu semblante. – Esqueça nossos poderes. Finja que eles nunca existiram. Só assim poderemos ser amigos como antes.

A morena lhe deu as costas, pronta para encerrar a conversa. No entanto, parou com a mão na maçaneta da porta, resolvendo dar um último conselho:

— Retome seu namoro com Gina. Ela é a mulher que você ama e que corresponde seus sentimentos. – Ela respirou fundo antes de finalizar. – Foi muito injusto com nós três você ter terminado por minha causa.

 

~*~

 

Harry engoliu em seco. Há alguns minutos Hermione saíra dos braços dele e sentara na cama, de costas para o marido, perdida em pensamentos. Ele tentou não os ler, mas a mulher assimilava sua história mais rápido do que gostaria.

O moreno temia continuar e enfim contar o maior de seus segredos.

— Não pare agora – ela pediu com a voz baixa, indecifrável.

— Tem certeza? Já está tarde.

— Absoluta. Continue.

Ele soltou um suspiro, cansado. Pegou um copo com água no criado-mudo e tomou um gole antes de chegar na pior parte de sua história.

 

~*~

 

Harry tinha uma ideia. Achou-a infalível na primeira vez que pensara sobre ela, mas agora que estava a menos de cinco passos de colocá-la em prática... tremeu por um instante. E se Hermione estivesse certa? E se realmente não precisasse saber daquilo? E se mal conseguisse aceitar também, assim como sua amiga? “Poderes loucos!” pensou frustrado.

— Concordo plenamente.

Hermione sentara ao seu lado no Salão Comunal, um livro enorme de transfiguração no colo.

— Já ia lá com você.

— Eu sei, eu ouvi. Mas demorou muito. Preciso de ajuda.

— A grande Hermione Granger precisa de ajuda num dever? – brincou.

— Não fique se gabando, eu... – Hesitou, envergonhada. – Eu precisei fazer outras coisas.

A biblioteca surgiu na mente dela outra vez, mas sumiu logo, dando lugar a feitiços complexos.

Já fazia duas semanas desde o decreto da moça de ignorarem seus poderes e tentarem ser amigos normalmente, mas nenhum dos dois estava cumprindo bem o trato.

E ambos sabiam disso.

Hermione ainda passava horas na biblioteca, evitando os amigos a maior parte do tempo e, agora Harry sabia, dispensando tempo em algo que não se relacionava aos estudos. Para ele, era óbvio que a amiga ainda martelava na mente sobre os poderes deles, sem conseguir – ou querer – esquecer.

Por outro lado, o moreno também não reatara o namoro com Gina. Ele mal a vira nos três primeiros dias após o rompimento, mas no quarto a Weasley já estava brincando consigo, falando bobagens como se nada tivesse acontecido. Harry não sabia se a ruiva já tinha superado ou se ainda estava tentando, mas definitivamente não queria atrapalhar aquela alegria que somente Gina era capaz de espalhar... Não, ele ficaria em seu canto, decidiu. Não faria a amiga chorar novamente por causa de sua própria confusão.

O moreno acompanhou Hermione até uma das mesas, debatendo com ela os feitiços passados pelo novo professor de Transfiguração nas últimas semanas. A garota estava tão atrasada quanto ele, mas entendia o assunto mais depressa, às vezes repassando o assunto na própria mente e o ajudando a entender também. Rony se juntou a eles ao final, rendendo algumas reclamações por parte do ruivo – “Esse professor é muito exigente! Quase sinto falta de McGonagall!” – e risadas dos outros dois, mais adiantados no dever. Harry conseguiu vislumbrar um pequeno sorriso da amiga ao se dar conta que estavam cada vez mais parecidos como antes...

“As mais famosas lendas bruxas” era o título do livro.

Ela se distraíra por alguns minutos, olhando fixamente para a paisagem através da janela.

Sua descoberta passaria despercebida se tivesse escondido melhor o choque. Os olhos arregalados chamaram até a atenção de Rony, que perguntou, meio preocupado, se o amigo estava bem. Hermione voltara o olhar para os dois, lendo seu pensamento facilmente.

“Não faça isso” ela implorou.

 


Aproveitou a tarde de sábado em que os amigos combinaram de aproveitar os jardins para dar uma escapulida. Correu para a biblioteca, recebendo um olhar surpreso de Madame Pince.

— Potter. Há quanto tempo!

O sarcasmo era notável. Ele apenas forçou um sorriso em sua direção, indo para o fundo do aposento.

— Milhões de livros. Como não pensei nisso antes?!

Após passar mais de uma hora procurando, Harry engoliu o orgulho e rendeu-se, chamando Madame Pince e perguntando sobre o livro que procurava. Ela voltou em dois minutos com um livro grosso e empoeirado nas mãos. Devia ter uns cem anos, e a bibliotecária pediu extremo cuidado com o volume. O garoto concordou, indo até a mesa mais próxima e passando as páginas devagar, sob o olhar enciumado da mulher.

“O que estou procurando?”.

Revisou os pensamentos mais uma vez, mas logo se deu conta que apenas visualizara aquele mesmo livro aberto na mente de Hermione. Não captara nenhuma página ou palavra além do título. Absolutamente nada.

— E agora?

Voltou ao índice. Como Hermione poderia ter encontrado o motivo para terem aqueles poderes num livro de lendas? Olhou todas as histórias, mas um nome em especial saltou aos seus olhos: O conto do amor amaldiçoado. “Só posso estar ficando louco!” pensou insatisfeito, mas logo abriu na página da tal lenda. Leu-a três vezes.

“Inacreditável” concluiu, em choque. “Somos nós, Mione? Não... não pode ser. Seria loucura demais!”.

Uma nota ao fim da última página esclarecia que a lenda advinha de uma profecia antiga, com apenas um trecho destacado mais abaixo:

“Duas almas gêmeas, destinadas a sempre se encontrarem, mas jamais a ficarem juntas”.

— Outra profecia? – reclamou baixo, escondendo o rosto nas mãos, descrente. – Você está brincando comigo, Hermione?

Madame Pince apareceu alguns minutos depois, avisando que estava fechando a biblioteca e que queria todos os livros de volta aos seus lugares. Harry olhou para o relógio: dezoito e trinta. Guardou tudo depressa, correndo para o Salão Principal. Jantaria cedo e não encontraria com ninguém, resolveu. Só precisaria torcer para que Hermione não lesse seus pensamentos à distância.

“Não agora, pelo menos. Preciso digerir essa história...”.

Porém, falhou miseravelmente ao retornar para o Salão Comunal. Parecia uma conspiração divina Hermione ser a única estudante em frente à lareira naquele momento.

Ela o ouviu entrar e levantou os olhos do livro que lia. Provavelmente nem iria falar nada se não pudesse ler seus pensamentos também – estava impossível pensar em outra coisa, principalmente em não sentir nada para bloquear sua mente. Os olhos castanhos se arregalaram no instante que pousaram no rapaz, e ela deu um pulo, praticamente correndo em sua direção, preocupada.

— Você descobriu – falou dividida entre a surpresa e o receio. – Descobriu sobre a profecia.

Ele concordou de leve com a cabeça. Evitava olhá-la.

— Harry... – Ela fez menção de tocar seu braço, mas o moreno a afastou.

— Não! – Moveu-se bruscamente, evitando o contato e indo até a janela. – Eu... eu preciso pensar.

— Por que nunca me escuta? Eu falei que não era uma boa ideia!

— Você teve um milhão de chances de me contar tudo – respondeu amargo. – Mas preferiu esconder a verdade. Eu precisava saber!

— Precisava por quê? – falou indignada, forçando-o a encará-la. – O que isso vai mudar para você?

— Muda muita coisa... – Harry virou o rosto, ainda evitando seus olhos. – Eu poderia ter ficado com Gina.

Hermione sentiu uma pontada no coração, mas tentou disfarçar, respirando fundo em seguida.

Ele sentiu também.

— É o que eu venho tentando lhe dizer há dias...

— Sua paixão faz muito mais sentido agora – interrompeu. A mágoa era clara em sua voz, e mesmo sabendo o que ela sentia, não se importou com as palavras duras. – Você se encantou com uma lenda idiota, com uma história de amor eterno... Viu em mim o príncipe encantado daquele conto e se apaixonou.

Chocada com suas ofensas, Hermione deu um tapa no rosto do rapaz. Os olhos marejaram, tanto de raiva quanto de tristeza.

— Eu nunca o fiz terminar com Gina – falou ameaçadoramente baixo. – Nunca lhe pedi para largar a garota que ama para ficar comigo. Assuma os próprios erros, em vez de jogá-los na pessoa mais próxima.

Ela já ia se afastar de vez, mas Harry a segurou pelo braço. Seus sentimentos ruins a confundiam e a magoavam.

— Isso, no entanto, muda tudo... – Os olhos verdes se estreitaram furiosos. O rosto dele ficara marcado. – Fique longe de mim. Faça isso por nós dois.

— Com prazer – cuspiu.

 

~*~

 

— Eu já li sobre essa lenda – a voz baixa o calara instantaneamente. – Li sobre a profecia também. Eu as conheço há tempos... – Ela deu uma risadinha amarga. – Nunca levei a sério, é claro. Aquele livro é como uma coletânea de contos de fadas trouxa: encanta as crianças com a leitura de histórias com final feliz.

— Mas aquele conto não tinha um final feliz – falou receoso.

— O único do livro, se não me engano. Eu lembro da história me chamar a atenção por isso.

Harry se remexeu na cama, incomodado com o tom quase natural da voz da esposa. Estava prestes a sentar ao seu lado quando ela soltou:

— Que brincadeira sem graça, Harry... Se não queria contar algo ruim, seria melhor que não contasse nada.

— Não estou brincando.

— Reencarnações? – Ela se virou parcialmente, os olhos vermelhos e um sorriso quase debochado na face. – Está me dizendo que somos o casal daquela lenda antiga? Que provavelmente foi ideia de algum escritor e que nunca aconteceu de verdade? – Ela riu. – Poupe-me, Harry! Aquela história não justifica os poderes que temos!

— Não... mas a minha memória sim.

Ele se levantou, meio trêmulo. Remexeu na caixinha de joias da mulher, guardada a sete chaves no guarda-roupa. Assim que encontrou o que procurava, voltou até a esposa, sentando atrás dela e colocando delicadamente um colar em torno de seu pescoço.

O colar com um pequeno anjo como pingente, presente de aniversário há muitos anos.

— Sabe por que eu senti que o anjo combinava com você? – falou enquanto encaixava o fecho. Hermione negou, séria. Harry sentou à sua frente, olhando-a firmemente. – Porque William apelidou Elizabeth de anjinho no instante que a viu pela primeira vez, em Hogwarts. Ela teimava em dizer que não tinha nada de angelical, mas ele nunca a levou a sério sobre isso. Lizzie simplesmente se parecia com um anjo e pronto. Desde então, em todas as vidas, eu a presenteio com algo relacionado a anjos... é mais forte do que eu.

— Você... – ela gaguejou, ainda em negação. – William?

— Sim.

— E eu... Elizabeth?

— Sim...

Hermione negou com a cabeça e fechou os olhos, descrente. Harry colocou as mãos no rosto dela, obrigando-a a olhá-lo.

— Sim... Somos a décima segunda geração depois de William e Elizabeth, amaldiçoados a nunca ficarem juntos.

— E como estamos agora?

— Eu não faço ideia. – Ele deu de ombros, abrindo um pequeno sorriso. – E nem quero descobrir... só quero estar com você. Minha Lizzie... – Harry deu um beijo rápido nos lábios dela, olhando-a apaixonado. – Minha rainha...

Leu os pensamentos dela, rápidos como nunca. Quase riu de seu choque.

Hermione fizera as contas, arregalando os olhos cor-de-mel.

— Rainha?

 


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Notas finais do capítulo

Então... é isso. xD
Muitos já tinham adivinhado sobre William e Elizabeth, e eu confesso que fiquei empolgada demais com as ideias e teorias de vocês! A participação de vocês me incentivou um bocado! Obrigada por isso! ♥ Falando nisso... Algum palpite para esse final? xD
Desculpem ter segurado o mistério por tanto tempo, aliás. ^^" No próximos capítulos as explicações virão mais detalhadas, porque... né? O capítulo já tava bem grandinho, com informações demais. ^^" Já fiquei com medo dele ficar muito cansativo, então peço desculpas se tenha ficado mesmo. O próximo será menor, dentro da média dos últimos capítulos. =D

Ah, e antes que eu me esqueça: esse é o último capítulo desse ano, gente. ='( Vou me dedicar agora a outras fics nesse mês de dezembro. E em janeiro já voltarei a estudar. Meu tempo vai ficar apertado mês que vem, então também não prometo trazer capítulo novo até lá. Estou sem previsões, então prefiro não fazer promessas... Só posso dizer que farei o possível para não demorar tanto, tudo bem? =)

Desde já um Feliz Natal e Feliz Ano-Novo para todos vocês, leitores do meu coração! Tia Lily ama vocês! *-*
Até o próximo capítulo, gente! =* ♥