Momentos da Vida (Wolverine e Ohana) escrita por lslauri


Capítulo 43
O fim de um imortal...




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texto em itálico são pensamentos

palavras em negrito são enfáticas na entonação

os nomes de quem fala estão antes de cada fala, em negrito apenas para que saibamos quem são

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O FIM DE UM IMORTAL...

Yukio e Amiko faziam uma pequena fogueira na lateral do Templo localizado no Monte Fuji, uma carcaça de algum roedor estava disposta sobre uma churrasqueira improvisada e as duas estavam de cócoras, atentas a qualquer movimento na floresta. Não conversavam verbalmente, mas por sinais e olhares comunicavam muito.

Como Amiko tivesse ouvido algum rumor na estrada que dava para a frente do Templo, informou que averiguaria e que necessitaria do apoio da mãe adotiva. Esta acenou positivamente com a cabeça e as duas puseram-se em movimentos silenciosíssimos, não sem antes criar uma distração sonora onde estavam para atrair o possível intruso.

Foram checar pela lateral da construção, usando uma touceira de bambus como esconderijo. Ao chegarem lá, nada viram, pensaram em algum animalzinho e estavam começando a retornar quando sentiram outro som, como um “clic” num galho, próximo da entrada. Mas de onde estavam, não viam nada! Precisavam aproximar-se, mas não queriam denunciar sua posição…

Então, tudo aconteceu muito rápido. Elas sentiram um chacoalhar dos bambus e perderam o equilíbrio, caindo junto com alguns ramos que haviam sido cortados! Nem bem tocaram o solo e já estavam em pé novamente, prontas para lutar até o fim por suas vidas!

Ao invés disso, viram Logan parado na frente delas, vestido com roupas pretas ninjas e sorrindo com uma mochila na mão que parecia ter víveres para alguns dias:

Wolvie: /Nossa! ‘cês duas são muito boas juntas! Silenciosas e letais! Se não fossem meus sentidos superaguçados e a ajuda do vento, não teria encontrado vocês, parabéns! Alguém aí ‘tá com fome?/

As duas ignoraram o fato dele ser quem era e partiram pra cima, golpeando e sendo rechaçadas, enquanto tentavam acertar algum chute que fosse naquele canadense “convencido”! Elas pareciam dançarinas de ballet, letais, mas, ainda assim, graciosas… Até que Amiko conseguiu ver a guarda aberta após um ataque frontal de Yukio e conseguiu desferir um golpe bem no tórax de Logan. Foi o suficiente para que ele tivesse uma curta parada respiratória, devido ao seu fator de cura que ainda estava trabalhando para reparar o “gatotsu”. Ele colocou a mão no peito e puxou com força o ar, urrando de dor em seguida.

Amiko: /Papá! Desculpe! O que aconteceu? Meu golpe não pode ter sido tão forte assim!/ - a mulher se aproximou, preocupada.

Após tossir mais forte e cuspir sangue de novo, Wolverine explica às duas que havia vivenciado o famoso golpe de Hajime Saitō!

Yukio: /O “gatotsu”?! Isso é impossível! Hajime está morto há mais de 100 anos! E ele não ensinou seu golpe a mais ninguém… Deve ser um impostor, Rogan! Um impostor a altura, se conseguiu te atingir…/ - nesse momento, a ninja se questiona o quanto o antigo companheiro poderia estar fora de forma e se realmente seria capaz de defender Amiko! Mas, se ele não fosse, ela teria que suprir essa falta e dar seu melhor para defender sua “filha”…

Wolvie: /O cara é mutante, Yu! Tão imortal quanto eu pareço ser! E se não fosse pelo meu esterno de adamantium, estaria com uma katana espetada no coração agora, o que doeria muito mais… Mas nada que meu fator de cura não desse conta, né?/ - e dá uma piscadela para a ninja.

As duas emudecem… Agir com um mutante era uma vantagem, mas contra outro mutante, aparentemente com a mesma capacidade de se regenerar que Logan, isso não era mais vantajoso para ninguém!

Yukio: /Desculpe, Rogan… Mas se ele ainda for movido pelo “Aku Soku Zan” não vai parar até ter acabado com a Amiko!…/ - olhando para a moça com desespero – /Ele foi conhecido por não aceitar a mudança de atitude das pessoas! O que faremos?/

Wolvie: /Meu plano ainda é o mesmo, tentar chamá-lo à razão, explicando o que aconteceu. Eu acho que ele deve isso pra Amiko, né não? Do mesmo modo, ela precisa contar a história dela pra polícia! E aí já “matamos” esses dois coelhos. Eu e você ficamos por perto, se sentirmos qualquer sinal de recrudescimento por parte dele eu ajo criando uma distração e você foge com a Amiko pro nosso esconderijo, sacou?/

Amiko: /Você acha que ele vai querer me escutar?! A reputação dele o precede, Logan… Ele é muito parecido com você: agir primeiro, questionar depois…/ - ela parecia “entregue”… Tentaria conversar com o capitão da polícia, mas já havia aceitado uma possível punição na forma da morte. O que mais ela poderia fazer? Colocando-se no lugar dele, não podia tirar-lhe a razão: ela assassinou muitos inocentes… Seja por lavagem cerebral do Tentáculo ou não, foram suas mãos as sujas de sangue! E com isso, completou: /Eu já me reconciliei com meus deuses… Não temo a morte, do mesmo modo que não a buscarei. Se tivermos uma chance que seja, vamos tentar!/

Wolvie: /É assim que se fala, guria! Eu vou trabalhar o psicológico dele pra ele te ouvir, ok? Eu tive uns “insights” interessantes sobre o que move este homem atualmente e, pode ser que ao se perceber tão mudado assim, ele perceba o quanto as outras pessoas também podem mudar, saca? Agora vão pro lado oposto da entrada principal e se camuflem! Vou avisar quando a Amiko poderá aparecer e você, Yukio, só se mostre se não houver mesmo jeito! Tu é nosso maior trunfo./

Distribuindo água e barras energéticas para as duas e deixando uma garrafa para si, bem como duas barrinhas e um conjunto de tacinhas com um saquê Logan vai se postar diante do pátio do Templo, num local bem exposto e por onde, com certeza, Hajime passaria. Ele senta-se em posição de meditação e fica assim, com os olhos fechados e com os sentidos alertas. Depois de algumas horas nessa posição o vento traz um leve odor de sangue seco, mesclado com linho que é impossível de ignorar. Os olhos de Logan abrem, sem que ele se mova. Suas orelhas percebem os menores movimentos dissonantes nas redondezas e seus quimiorreceptores mutantes continuam captando alterações nos odores locais, criando um mapa mental da direção que o convidado está vindo, bem como sua velocidade e, desse modo, antecipando sua chegada. Mas a intenção não era combater de primeira. A intenção era conversar e expor os fatos, apelando ao fato da lavagem cerebral e de que Amiko não era responsável por seus atos anteriores…

Não demora muito para que os olhos treinados de Logan vejam uma sombra na escuridão e divisem uma silhueta de quimono antes de Hajime Saitō aparecer na clareira que era o pátio do Templo. Ele para ao encontrar o canadense sentado e afila os olhos, tentando compreender a cena. Pressente, pela expansão de seu “ki” que não há outras pessoas por perto e, portanto, volta a caminhar até onde o mutante está.

O que Logan viu foi um outro homem, ele não poderia ser chamado de Capitão de Polícia naquele momento. Vestia-se como samurai da Era Edo e, caso tivesse os cabelos compridos, estaria o próprio Saitō das fotos de época! No seu olhar dançava uma insanidade muito conhecida pelo canadense, especialmente quando ele deixava sua fera interior “brincar”; ele não gostou do que viu, normalmente não há conversa com feras interiores… Mas ele não seria culpado por não tentar!

Estendendo a mão convidando Saitō a sentar-se também, Wolverine movimenta devagar sua mão para a lateral do corpo e tira os dois copinhos para saquê, postando um diante de cada. O samurai afila ainda mais os olhos, não acreditando naquela cena e, após olhar pro céu como quem pede paciência à Deusa e, voltando o olhar um pouco alterado para Logan ele finalmente senta-se diante do copo com uma etiqueta invejável e encara-o, disparando:

Capitão: /Rogan… Esse teatrinho não adiantará nada… O inevitável ocorrerá hoje, só um de nós sairá vivo e, se for eu, levarei Amiko à justiça que não falha! Pode ficar tranquilo, pois será um só golpe, sem dor…/ - pegando o saquê que ele ofereceu e jogando por trás do ombro, após isso, pegou a cumbuquinha com a bebida e serviu-se, tomando de um só gole.

Wolverine respirou fundo, observou todos os trejeitos e usou de todo seu foco para não cair nas provocações dele.

Wolvie: /Num tem teatro nenhum aqui, Saitō… Tem alguém querendo explicar pra um juiz, pois eu te considero isso, cara; se te considerasse um mero carrasco já tinha partido com as garras pra cima de tu, saca? - e ficou observando o efeito de suas palavras no oponente, seus ombros moveram-se milímetros, como se ele tivesse ficado mais relaxado. Foi o suficiente para Logan continuar: Continuando com a apresentação de um lado dos fatos, pois é só isso que eu posso fazer, serei como o advogado de defesa da Amiko aqui, ok? Há 20 anos tive uma treta com Akatora-san, tu deve ter alguma recordação disso na época, não? - Saitō acena positivamente - Destruí todo o complexo onde ele encenava seus filmes de quinta categoria e também recuperei Amiko, a quem eu já considerava minha filha adotiva e que tinha sido raptada por eles… Sem saber o que ela sofreu, a trouxe pra nossa vida, minha e da Yukio e seguimos em frente. Acontece, Saitō, que eles tinham feito lavagem cerebral nela!/ - o samurai volta a estreitar os olhos, seu cérebro estava maquinando algo, mas ele não demonstrou intenção de falar, então Wolverine continuou: /A lavagem foi pra que ela me matasse, pra que treinasse sempre suas habilidades e, quando me achasse vulnerável, me matasse, me culpando pela morte da mãe dela! Coisa que não aconteceu! Na verdade, as duas eram o alvo e eu não consegui chegar a tempo de salvar a mãe… Quando finalmente eu a cacei, atrás da assassina que você me mandou, bom, eu apanhei um bocado e quando vi que era ela, falei pra ela me matar mesmo! Só que ela não conseguiu, naquele momento de total estresse ela teve a força pra se livrar da lavagem cerebral e lembrar do sequestro e das mentiras do Akatora! Ela ia praticar o seppuku(1) e, claro, eu não deixei! Sei o que é matar, sei que tu também sabe, ainda mais no caso dela que as mortes foram realizadas de modo maquinal e, do nada, ela recebe toda a carga emocional disso… Entende que eu precisava te dizer? ‘Cê tinha que ‘tá a par de todos os fatos pr’aí vermos se ainda vamos nos matar ou se podemos chegar num acordo… O que me diz, Saitō?/

Ele não responde de pronto. Pega outra dose de saquê e fica com o líquido um tempo na boca, antes de engolir. Deposita calmamente a tacinha no chão e confronta, verbalmente, sem nenhum tom alterado:

Capitão: /Sr. Howlett, devia tê-la deixado praticar o seppuku!… Ela estaria em paz agora, com seus antepassados, sem a necessidade de que alguém como eu trouxesse justiça às vítimas!/ - batendo com a mão direita espalmada no chão, ele grita: o senhor se esqueceu das vítimas?!

Quem estreita agora os olhos é Logan, sem mover um músculo, mas extremamente alerta, ele não se movimenta e nem responde.

Capitão: /Esse é o “problema” com o choque de culturas… Gaijins não compreendem certas atitudes e acham mais nobre/ – palavra dita entre os dentes, quase como um esputo – /interferir e manter as pessoas sofrendo, desde que estejam vivas… Estar respirando não significa paz interior, Rogan!… Ela pode não ter força psicológica suficiente para lidar com as mortes que causou e isso vai consumi-la por dentro, lentamente… Não é o que ocorre a nós dois? Que matamos conscientemente e que criamos tantos subterfúgios mentais para justificar nossos atos? O senhor “só” mata vilões, eu “só” executo a justiça, cortando o mal pela raiz. Nos salvaguardamos atrás de nossas cômodas posições e, mesmo nós, com certeza, temos aquela vítima que não queríamos ter matado/ – e Logan pensa em Rosie, fechando os olhos… - /e, mesmo contando nos dedos de uma mão, a culpa nos consome! Imagine ela, Rogan?! Parou para imaginar Amiko?/ - e fez uma pausa maior, obrigando o canadense a retrucar.

Wolvie: /Cada um sabe das barras que enfrenta matando, Saitō… Não ‘tô aqui pra falar de mim e, muito menos, pra discutir a capacidade psicológica da Amiko! ‘Cê tem que entender que entre estar morta e enfrentar a vida, a segunda opção é sempre a que vou preferir. Seja pra mim, seja pr’aqueles que eu amo! E quem ficar no caminho sempre vai sofrer as consequências, sacou?…/ - cerrando os dentes pra tentar manter o controle.

Capitão: /Não esperava nada além vindo de você… Mas entenda que minhas ambições políticas vão de encontro também com este caso… A opinião pública quer respostas, Rogan! E não posso, sabendo de tudo que sei, simplesmente ignorar os fatos e agir com condescendência porque você me contou uma história que coloca a Amiko como não responsável por seus atos precedentes… Claro que essa informação poderia servir para um júri convencional, mas eu represento as vítimas, Rogan…/

Ao perceber que existia um cansaço na voz de Hajime, Logan aproveita para contatar o Prof. X e pedir que ele coloque Ohana na conversa também, enquanto ele surgia com outra solução; algo que ele preferia fazer somente em último caso, mas parecia ser necessário abordar ali:

Wolvie: /A opinião pública não sabe de nada… Podemos “inventar” a história que quisermos e, mesmo assim, entregar um culpado a eles, Saitō…/ - e ele estica a mão, pedindo um tempo: /antes de criticar, me ouve, vai?! ‘Cê sabe que o Japão é meu segundo lar… Eu tenho mais histórias aqui que no Canadá, se bobear! E eu faria de tudo pra manter esse lugar como um que eu pudesse visitar sempre!/ - um sorriso de agradecimento parece brincar em seus lábios, mas ele aparece tão rápido que o samurai pensou ser um espasmo - /Acontece que, entre ver uma luta tua com minha filha e, sabendo que ela divide uma culpa tão grande que pode fazer ela ter o desejo de ser morta mesmo eu apelo pro teu lado samurai, pro teu lado honrado, Saitō… Você aceitaria meu sacrifício no lugar da Amiko? Dando aos burocratas e ao público o que eles querem e permitindo que a tua escalada política aconteça?/ - e nisso ele apoia as duas palmas das mãos no chão e faz uma reverência total àquele que poderia decidir o futuro de Amiko e, de certo modo, o futuro do canadense também, dessa vez, sem derramar nenhuma gota de sangue!

A proposta era muito interessante! Toda vez que Logan ia ao Japão acabava trazendo algum problema às autoridades, se não era por ele era por algum vilão que o queria morto e, nesses momentos, vários patrimônios públicos eram depredados e as pessoas tinham aumentado seu grau de insegurança… Mas daí a acusá-lo por todas aquelas mortes? Com requintes de crueldade? Seria isso uma espécie de justiça? Deixar Amiko vivendo como se nada tivesse acontecido? Vendo outro levar a culpa por seus atos? Seria isso justo?

Capitão: /Eu quero ver Amiko, Rogan! Quero conversar com ela, entender seus sentimentos, sentir seu “ki”… Você entende, não é? Deve haver algum ressarcimento por parte dela de tudo que ocorreu. Ela não pode, simplesmente, sair ilesa…/

Wolvie: /‘Cê quer ver o que ela pensa disso também, né? Eu não conversei com elas sobre essa possibilidade, apesar de já ter pensado algumas vezes nisso. Tentei adiar ao máximo, mas não vejo saída…/ - e sua voz transformou-se num pesar. - /Mas eu faço isso pela guria, Saitō! ‘Cê vai sentir o quanto ela ‘tá quebrada por dentro. Acho que isso já é uma paga e tanto!… Mas tu tem que prometer que não vai matá-la! Mesmo que sentir algo suspeito, a gente conversa sobre isso antes ou resolve entre nós, na porrada que seja!/ - e estendeu a mão pra o samurai, que em vez de apertar de volta, remove a katana da cintura e deposita o precioso objeto na não estendida.

Logan dá um assobio ritmado que já era conhecido de Yukio e, com isso, menos de três minutos, as duas estão junto com eles no pátio do Templo. Saitō observava a leveza de movimentos e sentia o “ki” das duas mulheres com redobrada atenção. Ele estava em desvantagem agora, caso os três decidissem atacar por algum motivo e, pensando nisso, sua mente já havia desenhado uma distração e uma rota de fuga. O canadense mostra a espada para as duas e isso as faz relaxar um pouco. Yukio acena com a cabeça para Hajime e Amiko abaixa os olhos, sem coragem de enfrentar aquele que poderia ser seu executor. Nenhuma das duas sabia o que haviam conversado, mas ao notar ausência de sinais de luta, Yukio olha ameaçadoramente para Logan, pedindo explicações sobre aquele encontro.

Wolvie: /Peço que fiquem calmas, Saitō quer conversar com Amiko e checar o quanto da história que contei é real. Ah! Sei que já deve ter ouvido falar do Professor Charles Xavier, né? Então, ele checou a mente de Amiko e disse que ela conseguiu mesmo se libertar de toda a lavagem cerebral, mas que estava tendo dificuldades em lidar com suas vítimas…/ - e com essa frase, Amiko levanta finalmente os olhos e encara o samurai, que encontra várias lágrimas represadas e um semblante de pura vergonha, seu “ki” precipitava-se em ondas, ora de força, ora de vácuo, demonstrando a batalha interna em manter-se de pé, respirando…

Saitō sabia o quanto essa atitude podia ser perigosa, fosse para ela, fosse para aqueles ao seu redor e, com cuidado, ele convidou todos a sentarem em roda.

Capitão: /Nem preciso ouvir nada de você, Amiko. Seu “ki” já me disse tudo que preciso saber… Você é uma bomba-relógio, garota! E não sei até quando vai conseguir se manter sem explodir…/ - voltando-se para Yukio, ele sentencia: /Preciso ter controle sobre a rotina de vocês. Precisarei estar presente, mais do que gostariam, eu imagino. Pois se ela parar de fazer tic-tac, eu terei que impedir a explosão, você me entende?/

Yukio: /Então você não vai matá-la? Não ainda?… Que tipo de conversa tiveram? Rogan disse que nada poderia desviar o senhor de seus desejos políticos. Se não apresentar um responsável por esses crimes, isso seria um belo desvio!/ - a ninja não conseguia olhar diretamente para Saitō! Havia uma força nele que a impelia a baixar a cabeça, de modo submisso, um tipo de energia que ela nunca tinha sentido antes…

Capitão: /Mas eu terei um responsável!/ - e virou-se para Logan – /Que entregarei com muito prazer às autoridades para ser julgado e condenado à pena de morte e, desse modo, nunca mais porá os pés no Japão./ - seu olhar faiscava de prazer, anunciando o acordo feito do modo mais direto possível e arrematando: /Eu devo estar velho para preferir um acordo assim a uma bela batalha, mas chamem como quiserem, o que importa é que todos sairemos contentes e, Logan, não espere que eu dê a notícia a sua esposa, hein?/

Wolvie: /Não se preocupe com a Ohana, ela já ‘tá sabendo de tudo… Desde que eu apresentei a minha proposta pra você, Saitō. Ela “adorou” a parte onde você explicita seus anseios políticos… Mas não vamos voltar atrás com nada, eu mantenho minha palavra! Só que exijo que a lei se cumpra, saca? Não quero ficar anos ou décadas na cadeia, esperando pela minha execução! Eu quero que ‘cê prometa que em seis meses eu já estarei livre pra voltar… E tu que vá atrás de uma identidade falsa pra mim e de um médico que aceite mentir no atestado de morte, detalhes burocráticos são contigo, ‘tô certo?/

Capitão: /E você entende que parte dessa burocracia é chegar no distrito com alguém que tentou resistir à prisão, não? Senão, podemos não passar pelo crivo da opinião pública, meu “amigo”…/ - fazendo movimento para que ele entregasse a katana e se preparasse.

Amiko: /Rogan! Eu não quero isso! Eu não pedi pra você sacrificar tudo que ama por mim! Eu deveria ser presa e, com certeza, sentenciada à morte! Já tive minha cota de heroísmo da sua parte, quando me salvou da morte e me resgatou de Akatora!…/ - ela não conseguia falar sem gritar e chorar e antes de cair no chão, sem sentidos, ela sentenciou: /Eu vou te odiar pra sempre!!/

Yukio estava lá para segurá-la e lançar um olhar de compreensão para Logan. Ela sabia o quanto tudo aquilo era difícil e o quanto ele amava Amiko, o quanto ele amou Yukio também e, acima de tudo, o quanto ele amava o Japão. Arrastando o corpo de Amiko até a parte coberta do Templo, a ninja ficou de cócoras ao lado dela, apenas esperando a luta começar.

Logan entrega a katana, não sem antes dizer: “Eu também vou ser convincente, Saitō!” e ouvindo-se o característico *SNIKT* de suas garras ejetando. Um ricto de desgosto passa pelo rosto do samurai, mas uma parte dele sabia que não seria tão fácil assim… Hajime bate com a ponta do tabi direito no chão e inicia a corrida em direção ao canadense que, facilmente, se esquiva rolando e ficando em pé em seguida. Ambos dão mais alguns passos de reconhecimento e, assim, com os músculos aquecidos, Saitō apoia a ponta da espada na mão esquerda, estreitando o olhar e mirando na coxa de Logan que ao perceber a vinda do “gatotsu” retrai as garras e faz a pose de alguém segurando um copo ou xícara, um das poses do kung fu Zui Quan (2), ele lutaria como um “bêbado”, para tentar amortecer os golpes de Saitō e, assim, também, ser capaz de acertá-lo quando baixasse a guarda.

O Capitão de Polícia não acreditou quando o viu assumir essa posição e sorriu de lado, achando-se totalmente vitorioso! Acontece que o “gatotsu”, por ser um golpe unilateral e retilíneo pode ser, se lido com antecipação, adivinhado e, ao ver Hajime apontando para sua coxa com a ponta da espada, Logan intuiu que para essa região iria o golpe, com uma velocidade fenomenal, claro! Mas, ainda assim, possível de ser defendido. Quando sentiu que Saitō parou de respirar, o canadense realizou uma queda frontal que parecia suicida e, no meio do movimento, deslocou a perna como quem pende para o lado oposto, quase caindo! Com isso, o golpe acertou somente de raspão sua coxa, nem sendo sentido por Logan, pela adrenalina do momento. Continuando na posição, o samurai já havia conseguido brecar e, voltando-se para Logan aproximou-se um pouco mais, a fim de aplicar uma técnica com menor possibilidade de leitura. Wolverine continuava se mexendo, não ficava quieto, como um bêbado real e isso passou a irritar Saitō que passou a ficar mais desleixado nos golpes. A velocidade era a mesma, mas o foco do ataque acabava não recebendo toda a força. Sem contar que Logan resolveu não usar as garras e, com isso, dava poderosos socos no Capitão que só o irritavam mais. Os dois já estavam exaustos desse “jogo” quando Hajime conseguiu focar novamente e acertou um golpe no tórax direito de Logan, sem contudo conseguir tirar a katana, que ficou espetada lá; o canadense urrava de ódio ao remover a katana e atirá-la na direção de Saitō. Apoiando a mão no joelho, Wolverine lança um olhar de fúria na direção do oponente e lança-se, quase não dando tempo a este de pegar a katana que estava espetada na terra próxima. *SNIKT* e *tchin* as garras foram bloqueadas pela katana a alguns centímetros do tórax do policial que, aproveitando a velocidade do ataque de Logan, joga-o de costas e espeta a katana na palma da mão cravando-a no solo:

Capitão:/ CHEGA! Vamos parar com essa simulação antes que realmente nos machuquemos!…/ - arfando e agradecendo por ter conseguido alcançar a katana a tempo.

Arrancando a katana com a outra mão e lançando outro olhar mal-educado para Saitō, Wolverine solta: /Achei que tu estivesse se divertindo!… Achou que ia dar uma sova em mim e ia ficar de boa, Saitō?! Não sei quanto tempo tu demora pra se curar, mas se não nos apressarmos, só vai ter sangue seco na minha roupa quando chegarmos à delegacia… Eu não preciso dessa katana aí pra fazer o serviço que tu queria desde o primeiro golpe…/ - e agindo pela pura adrenalina do momento, ele ejeta uma das garras e corta com tudo sua coxa, até chegar no fêmur, separando bem os pedaços de carne pra dificultar a cicatrização. Enquanto também cortava seu característico cabelo bem curtinho, sabendo que teria de dar um jeito nele dentro de algumas horas de novo...

Yukio fica abismada com tudo que vê. Desde a maestria da luta de Saitō até a técnica kung fu de Logan e sua posterior animalidade. Ela tudo vê como quem quer deixar para sempre esse momento gravado, pois jamais poderá ver seu amante e amigo lutar novamente, ao menos, não em solo japonês… Uma lágrima escorre e então ela se dá conta de que Amiko estava já sentada ao seu lado, chorando também, secando as lágrimas na manga da camisa e dizendo baixinho que o odiava… Era o fim de uma história, o fim da presença de um imortal na terra do Sol nascente...

Legenda:

(1) Seppuku: literalmente, cortar o ventre; faz parte de um ritual suicida japonês, reservado aos guerreiros e, especialmente, aos samurais.

(2) popularmente chamado de Estilo do Punho Bêbado ou Boxe do Bêbado, é um dos estilos de wushu tradicional (Kung-Fu) em que imita os movimentos de um bêbado.


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