Momentos da Vida (Wolverine e Ohana) escrita por lslauri


Capítulo 33
Ohana conhece Matsuo




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texto em itálico são pensamentos

palavras em negrito são enfáticas na entonação

os nomes de quem fala estão antes de cada fala, em negrito apenas para que saibamos quem são

—-

OHANA CONHECE MATSUO

Enquanto todos esses fatos acontecem, a ruiva acordava com uma grande dor de cabeça, numa das coberturas mais caras de Tóquio. Tenta colocar a mão na cabeça e, nesse momento, sente que está com um colar um tanto pesado no pescoço. Abre os olhos devagar; a mínima diferença de iluminação fazia sua cabeça querer explodir! Aos poucos, foi conseguindo perceber vultos e via que a sala estava vazia, pois conseguia apenas perceber móveis. Estava deitada no que parecia um sofá, em sua frente, podia ver uma mesinha e mais outro sofá em frente. Aos poucos, conseguiu abrir os olhos sem problemas maiores. Por todas as obras de arte contidas naquela imensa sala ela pôde perceber que estava num lugar muito, mas muito, rico! Num dos cantos, havia uma linda armadura samurai, mais ali, um arranjo de flores (ikebana), quadros com motivos ocidentais contrastavam com biombos desenhados em papel arroz com motivos de cerejeiras e pássaros japoneses. A cor da parede era gelo e os outros objetos todos de cor muito viva. A própria armadura era de um vermelho vivo incrível! Ficando plena de sua consciência, Ohana respira fundo e se senta no sofá, percebendo que não estava mais com as roupas que tinha vindo. Estava vestida como uma japonesa de algumas décadas atrás, com um quimono característico das mulheres casadas, ao contrário dos tão vistosos quimonos com manga comprida, os quimonos das mulheres casadas (tomessodê) têm a manga curta comum. Mesmo assim, Ohana estava radiante naquela vestimenta. A seda em tons de azul dava o contraste necessário ao seu cabelo vermelho e pele pálida. Olhando-se sem se reconhecer, a ruiva vê a porta do recinto abrir e dois seguranças entrarem com armas em punho, seguidos de dois homens que pareciam ninjas e, em seguida, um homem numa cadeira de rodas, com respirador artificial e várias cicatrizes além de membros artificiais. Atrás dele entraram mais dois seguranças. Após os primeiros checarem que o local estava limpo, o homem na cadeira foi até bem perto de Ohana. Ele era oriental, pelas poucas partes que deixavam perceber como ele realmente foi um dia, seus olhos não tinham raiva ou dor, apenas uma calma que contrastava com o restante do quadro...

Matsuo: Desculpe não me levantar, Srª Rogan, mas estou impossibilitado disso... – curvando lentamente o rosto – Meu nome é Matsuo Tsurayaba e eu sou o chefe do Clã Tentáculo – falava com dificuldade, em um inglês arrastado.

O rosto de Ohana era uma imensa interrogação... Seria possível que ela devesse saber de todos esses nomes, deveria conhecer esse homem?!

Ohana: /O que querem de mim? O que estou fazendo aqui? E o que é isso?!/ – segurando o colar com as duas mãos.

Matsuo: /Ah! A senhora fala um japonês invejável! Isso é bom, já que meu inglês não é muito bom... São os problemas de pronúncia. Nunca consegui corrigi-los.../ – tomando fôlego ele se aproxima mais  – /Não quero nada com a senhora, está aqui apenas para que a justiça seja, finalmente, feita. Isso em seu pescoço é uma medida necessária para que seus poderes não sejam utilizados. Deve entender que estar diante de uma das maiores telecinéticas do mundo não é nada agradável para um mero mortal como eu, apesar de eu mesmo estar achando que não sou tão mero assim... Quanto um homem deve viver para pagar todos os pecados, Srª Rogan?/

Ohana não entendia nada. Ela resolve não dizer nada sobre não ser mais mutante, afinal, isso poderia ser útil em algum momento. Mas o que aquele homem queria dizer com justiça? Com não ser um mero mortal? Baixando a cabeça, ela apenas pensa onde estaria Logan e tem um estalo! Ele era conhecido no Japão, não era? Ele sempre ia para esse país! E lança:

Ohana: /Eu não sei quem é você, mas espero que saiba com quem está se metendo... Pelo que percebi, fez uma pesquisa e tanto sobre mim e meu marido, mas será que sabe realmente quem ele é?! Quando ele chegar, vai matá-lo!/ - com a voz cheia de superioridade, usando a única saída que alguém preso usaria: ameaça.

Não obtém uma resposta imediata, Matsuo ri a plenos pulmões, engasgando-se com seu próprio riso e falta de ar. Fica assim um bom tempo e começa a deixar Ohana altamente assustada. Passados alguns minutos, depois de longas respirações do japonês, ele finalmente fala:

Matsuo: /Mas é justamente para que ele venha até aqui que a raptei! Esse seria o único meio de colocar minhas exigências... Parece bem típico de alguém como ele não lhe contar nada, não é. O que me faz questionar o que uma mulher como você viu nele. Como consegue viver com ele sem saber nada de seu passado? Vamos ampliar sua cara de espanto! Pelo visto não sabe que ele me deixou assim!/  – mostrando um olhar de raiva pela primeira vez. Antes ela não o tivesse visto!

Fechando os olhos, Ohana nega-se a pensar que Logan tenha feito isso a alguém, nega-se a acreditar que por baixo de toda aquela calma, aquele homem possa ter tanto ódio por Logan. Nega-se até mesmo a crer que estava naquele lugar, apertando os olhos, bem forte, ainda assim, ouve Matsuo falar, com a voz novamente comedida:

Matsuo: /Já me consultei com os deuses, não devo mais nada, é minha hora de descansar e seu marido não me deixa ir. Não me mata, nem me permite morrer honradamente. Eu sou um guerreiro, Srª Rogan. Quero morrer como tal! Se errei em matar o antigo amor de Logan, pelos deuses! Já paguei por isso! Quero apenas morrer em paz. Seria pedir muito?/  – afastando novamente a cadeira.

Frente às palavras "antigo amor" Ohana reabre os olhos. Então era isso! Logan não estava sendo totalmente insensato, aquele homem tinha feito algo muito grave ao canadense e este o punia como achava adequado: mutilando-o. Mas, por quê?

Ohana: /Eu não entendo, sr. Tsurayaba, o que pode existir de honrado em matar... É verdade que Logan não me conta muito de sua vida, de seu passado, mas eu tenho certeza de que o senhor tem muito mais a esconder do que ele! Se meu marido... Se Logan fez realmente isso com o senhor/*

Matsuo: /Fez não. FAZ!/ – suas narinas até abrem-se e em seus olhos pode-se vislumbrar um pouco do terror que ele vive – /A cada ano, seu marido vem para o Japão e decide qual parte de mim não mais terei. Mutila-me metodicamente. Cada vez eu penso: quando será a última... Você não pode imaginar o que eu venho passando nesses anos./  – aproxima mais a cadeira e pede a um dos seguranças que peça para servir o chá. Comeria ali mesmo. /Espero que não se incomode de comer comigo, senhora Rogan... Aproveite e pergunte o que quiser, terei prazer em responder. Depois de anos vivendo sob o medo, começa-se a questionar a vida. No começo, a única coisa que se pensa é em vingança; depois, em proteger-se e, por fim, nada mais importa, a não ser morrer. Eu quero apenas isso: morrer.../  – engolindo com dificuldade.

Ohana: /Então porque não paga alguém para matá-lo! Acredito que dinheiro não seja problema.../ - sentando-se com mais compostura.

Matsuo: /Eu já tentei! No momento que somente pensava em vingança, ofereci uma recompensa para quem o matasse, sem sucesso; depois, ofereci uma recompensa para quem me protegesse dele, ao menos um ano. Também sem sucesso. Agora, a maior recompensa que dei foi para que me matassem. Mas assim que soube disso, Rogan avisou que mataria com requintes de crueldade quem me ferisse. Não tenho saída!.../  –  olhando assustado quando a porta abre e entra a empregada com o chá.

Ohana fica pensando no que levaria Logan a fazer algo assim. Ir todo ano para o Japão apenas para fazer sofrer quem matou seu antigo amor. Isso significa que ele ainda a amava, não? Baixando a cabeça enquanto a mulher lhe servia o chá, a ruiva pergunta, depois de pegar na cara xícara de porcelana negra:

Ohana: /Apesar de o senhor tentar pintar meu marido como um demônio, eu o conheço com autoridade para saber que somente faz o que acha justo. O que aconteceu entre ele e o senhor, se me permite perguntar.../  – bebendo um gole, apenas para que o ar no local não ficasse tão "insustentável".

Depois de pensar alguns minutos, entre um gole e outro de chá, o japonês inicia sua narração:

Matsuo: /Eu era jovem, tanto quanto você é agora, quem sabe um pouco mais. Tinha acabado de herdar de meu pai um dos maiores impérios do Japão. Assim como na América, os grandes proprietários do dinheiro são aqueles que mexem com o dito proibido. Sempre tive de meu pai a educação de que tudo é necessário e é dada ao homem a capacidade de escolher entre as coisas que deseja. Nunca vi, e não vejo, meu negócio como algo nocivo ao mundo, Srª Rogan, por mais que os outros digam ser... Conquistei com obstinação e suor todas as riquezas que tenho e nenhuma delas veio de graça, nem mesmo as que meu pai me deixou. Nesse ramo, quem não tem a capacidade de se atualizar, morre. Por isso, modernizei todas as instalações, trouxe conhecimentos de fora e existia apenas uma coisa que me impedia de ser o número um no Japão: o clã Yashida... O velho Shingen Yashida sempre cuidou com mãos de ferro para que seu império não ruísse e eu, assim como meu pai, nunca consegui tomar os negócios dele, nem através da compra das partes, nem pela ameaça. Ele jamais rendeu, nem mesmo um milímetro do que possuía, nunca! Até o momento em que recebi a notícia de sua morte! Tinha que agir rápido, comprar o que pudesse e tomar aquilo que não fosse possível comprar. É assim que as coisas funcionam no submundo/ – dando uma pausa para tomar um gole de chá e respirar livremente, Matsuo recomeça – /e foi assim que eu pensei que seria. Não contava com a tomada do Clã pela filha de Shingen: Mariko! E não suspeitava, naquela época que ela se apaixonaria por um gaijin! Como pode imaginar, ofereci muito dinheiro para que a imprudente abandonasse os negócios do pai e fosse tratar de sua vida, das coisas que uma mulher deve tratar. Sua recusa foi instigante, pois a princípio achei que queria aumentar os preços da negociação, mas a insistência dela em manter os negócios da família foi me deixando sem escolha. Comecei pelas pontas, tomando aquilo que ela não dava mais tanta atenção: escravos e armas./

Ohana: /Escravos?!/  – com o rosto em brasa pela narrativa um tanto machista.

Matsuo: /Sim... Ainda existem pessoas que compram pessoas, Srª Rogan. Só que ultimamente são as pessoas que se vendem, mesmo assim, intermediamos essa "negociação". Retomando, comecei pelas sobras dela, tentando sempre convencê-la de que esse tipo de negócio não era útil para as mulheres, até que o pai dela reaparece! Fazendo uma carnificina e consagrando que ela se casaria com um comerciante que era amigo de infância de Shingen. Fiquei aliviado, de certa forma, afinal, tudo voltaria ao normal e eu poderia ainda propor algum acordo interessante para ambos. Foi aí que conheci Rogan, nessa época, ele veio pra o Japão tentando entender por que Mariko não respondia mais suas cartas. Desafiou o próprio velho para provar-se digno da mulher. Não tendo nenhum êxito, foi deixado para morrer e, na época, lembro que fiquei muito espantado com a luta dos dois, pois nunca havia visto um mutante antes, ao menos, não que eu soubesse! Ver as garras brotando de suas mãos me deixou extremamente inseguro e mostrou minha vulnerabilidade diante do "novo mundo". Mas isso é uma outra história/ – o cansado japonês filosofa –, /provavelmente, eu nunca tenha como contá-la, Srª Rogan... Achei, com toda a minha inteligência, que Rogan tivesse morrido depois da luta com o chefe do Clã Yashida e o esqueci, ficando aliviado! O fato, para encurtar a história/ – completa, dando uma olhada no antigo relógio da sala, um tanto preocupado pela demora do canadense –,/é que novamente o clã ficou nas mãos de Mariko e eu, me vendo sem chance alguma de dissuadi-la, fingi ter uma dívida com o falecido pai dela./

Tomando uma pausa maior para tomar um gole de chá e sentir o gosto de frutas dele, Matsuo parece alguém que está saboreando o último gosto que sentirá na vida, sentindo cada gole. Enquanto bebe, dá uma olhada ao redor, respira fundo. Ohana pensa em como deve ter sido difícil viver todos esses anos dessa forma insegura e até mesmo sente pena por ele, imaginando que a morte de Mariko tenha sido um terrível acidente. Olhando novamente para a ruiva, ele reinicia a narrativa:

Matsuo: /Aqui, especialmente no submundo japonês, usa-se muito o código dos antigos samurais e, um deles, reza que se deve cortar o mindinho caso alguém de sua família tenha sido indigno de pagar uma dívida. Foi isso o que disse a ela, sabendo que teria a decência de prosseguir com a tradição e usasse uma de minhas adagas, ou melhor, a adaga de uma de minhas seguranças, especialista em venenos, mais propriamente o do baiacu./ – Ohana coloca a mão na boca e estala os olhos – /A chefe do clã não poderia ter sido mais previsível, não suspeitou de nada e cortou o dedinho, sentindo logo em seguida toda a dor do veneno. Sabe, Srª Rogan, o baiacu é um dos poucos peixes com um veneno tão forte capaz de matar um ser humano com apenas algumas gotas. Acho que é esse o fato que faz dele um dos mais procurados pelos japoneses, na cozinha oriental. Buscamos a morte em cada mordida, tentando nos livrar de nossas vidas vazias e nunca conseguimos, pois os chefes de cozinha sabem como deixar o veneno em seu estado mais fraco, dando-nos a sensação inversa: de que somos mais do que em realidade... Jamais pensei que seu marido não tivesse morrido e estava lá naquela tarde, vendo a mulher sofrer, pois a morte por envenenamento é uma das mais penosas, assim como era penosa minha vida sem ter o controle total do submundo. Quis dar a ela a sensação de tudo o que vivia dentro de mim e recebo a vingança de Rogan em troca!/  – batendo com uma prótese de braço sobre a mesinha de centro.

Ohana tinha os olhos rasos d'água, imaginando o quanto o canadense sofreu ao ver a mulher morrendo, tentando fazer uma pintura mental da cena, mas em toda a sua imaginação jamais conseguiria reproduzir o que é ver a pessoa que mais se ama sofrendo com convulsões horríveis, pálida, sendo chamada pela morte, mas com alguns laços que ainda a prendiam a vida, fazendo-a perder lentamente a noção de si, com a total noção da dor. Jamais conseguiria imaginar o fato de Mariko ter pedido para ser liberta dessa dor pelas garras da única pessoa que amou na vida. A única que teve a oportunidade, em seus poucos anos de vida...
Nesse momento, a porta tão bem fechada da sala quebra-se numa das metades pelo corpo de um ninja desfalecido:

Wolvie: Esse calhorda esqueceu de dizer que ela NUNCA fez nada a ele! – rosna, entrando na sala segurando um outro ninja desmaiado pela roupa. – Também esqueceu que EU tive que acabar com o sofrimento dela e isso EU nunca vou esquecer! – joga o ninja sobre os seguranças e ejeta as garras, olhando para todos com cara de poucos amigos.

Apenas Ohana conseguiu perceber um olhar rápido de satisfação ao vê-la e perceber que estava bem. Um olhar que ela sabia e entendia muito bem: o de preocupação disfarçada por inúmeras camadas de ódio.
O semblante de Matsuo se contorceu em um ricto, como se cada parte restante gritasse para permanecer ali, ou então, fizessem alguma aposta maluca de quem seria a vez. O caso é que ele foi com a cadeira de rodas para perto dos seguranças e gritou para que não fizessem nada a ele, ainda. Rapidamente, um dos ninjas voou sobre Ohana e a levou para perto de Matsuo, chamando totalmente a atenção do canadense.
Logan olhou com desdém para o japonês e estralou o pescoço, tentando entender o que ele pretendia com aquele showzinho, ainda mais quando levava sua esposa para perto dele... Mas todos perceberam que num segundo seguinte, essa expressão se dissipou e parecia que Wolverine não estava mais com vontade alguma de adivinhar charadas. Ele ouvia com nitidez os corações apavorados de todos os presentes, com exceção do coração da ruiva. Este estava um pouco mais tranquilo do que os outros, apesar de seus olhares de medo para o ninja ao seu lado, já que este portava uma kodachi (espada parecida com uma katana, exceto pelo seu tamanho que é metade da outra) desembainhada e pelo pouco que podia ver de seus olhos, tinha toda intenção de usá-la, se fosse necessário...
Olhando exatamente para esse ninja, Logan dá um passo à frente e quando Ohana pensa que o marido não ia fazer o que ela estava pensando, ele faz, dando tempo dela abaixar-se antes que um corpo desfalecido de ninja caísse sobre seu agressor. Dando uma rápida corrida para longe deles e indo até perto da armadura vermelha a ruiva se arma de uma espada, sem saber ao certo se era possível realmente usá-la. Vendo todas as suas chances de uma barganha irem por água abaixo, Matsuo entra em total desespero e pede para os seguranças e ninjas atacarem! Sem pestanejar, nem mesmo pensar, cada um inicia seu ataque, mas, assim que olham para o rosto do canadense, ficam um tanto receosos, ao menos os seguranças. Podia-se ver um prazer insano em seus olhos, juntamente com um sorriso que deixava à mostra seus brancos caninos, suas garras ejetam, contudo, antes de começar a destroçar todos eles, uma voz o chama à razão:

Ohana: Logan, não mate nenhum deles! Eles estão só obedecendo ordens! – segurando a katana com uma empunhadura perfeita.

Olhando rapidamente para ela, Logan aceita ouvir e guarda as garras. Ela jamais saberia da dor que um bom soco com punhos de adamantium poderia dar ao oponente, mas isso parecia o suficiente por hora. Não esperando os ninjas atacarem, o velho combatente avança por sobre três, dando socos e levando também. Um dos seguranças vai na direção de Ohana e lhe aponta uma arma, pedindo para que nem mesmo ouse mover um músculo. A ruiva fica parada, com os olhos fixos no de seu oponente e quando este dá uma piscada um pouco mais demorada, a ruiva percebe ser o momento exato de agir: sem sacar a espada, ela bate com a bainha num nervo exatamente acima do dedo indicador, fazendo com que o segurança perca o domínio da arma e faça uma expressão autêntica de dor; precipita-se sobre a mulher como se sua masculinidade dependesse disso. Ohana não precisa nem mesmo fazer muito esforço, ficando parada até alguns segundos antes dele alcançá-la, a X-Girl dá um rápido e gracioso passo para o lado, aplicando um golpe bem atrás da cabeça do brutamonte que amplia, em muito, sua velocidade. E é aí que o estrago começa. Ele cai de cara na armadura, amassando o tórax do antigo artefato e despedaçando a armação, sem dar mostras de que iria se levantar tão cedo, o segurança permanece caído ali, coberto por alguns pedaços da armadura.
Matsuo finalmente acorda de sua fúria com todo o barulho e isso somente o faz ter ainda mais ódio de Logan e, agora, de sua esposa. Aquela armadura estava em sua família há gerações! Havia sido usada em combate e agora estava avariada!...

Matsuo: /Não! Sua maldita! Veja o que fez!/ – pigarreando um pouco de sangue – /Isso é de um valor inestimável!/

Ohana: /Bom saber o quanto o senhor se importa com seus seguranças pessoais... Se eu tinha pensado em ocupar o lugar de seu segurança, agora desisti!/  – Ohana divertia-se com o rosto transfigurado de Matsuo por algo material e sem a mínima importância naquele momento...

Mesmo lutando, Logan conseguiu ouvir a conversa dos dois. Ele estava controlado, não estava vendo, como sempre que perdia o controle, somente suas vítimas a cores, ele via todos perfeitamente, cada objeto ao seu lado, cada obra de arte.
Quando Matsuo ia tentar algo contra Ohana, um som de garras foi ouvido e ambos olharam para aquela direção, temendo o pior. Mas o que viram foi Logan destruindo um Manet legítimo, seguido de um vaso Ming enquanto com os pés e a mão restante dava conta de dois ninjas...

Os olhos do japonês se arregalaram quando olhou ao redor e viu somente a desolação. Não havia sobrado nada em pé ou inteiro, todas as peças estavam esfareladas, rasgadas, quebradas, assemelhavam-se muito ao próprio Matsuo...

Wolvie: Chega aqui, gata. – dando um katá no ombro do último ninja e o colocando a nocaute – Deixa eu tirar essa coleira de você...

Olhando para a frente, Ohana apenas soltou um sorriso maroto, pensando em como tudo saiu diferente daquilo que Matsuo havia planejado. Logan estava com a roupa toda rasgada e algumas partes do corpo com sangue coagulado, já sem nenhuma ferida. Seus olhos mostravam uma felicidade velada por ver a mulher sem nenhum arranhão. Assim que chega mais perto dele, os dois ouvem:

Matsuo: /Se tentar tirar esse inibidor dela, Rogan, eu a mato antes!/ - apontando uma arma com a mão tremida, mas com mira bem feita.

Balançando a cabeça negativamente, Logan se cansa dele e pergunta na lata:

Wolvie: /O que tu quer, Matsuo? Morrer? Se for isso, pode deixar que eu não vou mais te perturbar. A menos que machuque minha mulher... Nesse caso, vou usar toda a tecnologia que conheço pra que tu nunca mais morra! E tu sabe que eu posso fazer isso, portanto, baixa essa maldita arma! Não tá em posição de ameaçar ninguém.../ - essa última frase foi dita com todo o cansaço possível.

Ohana: /Matsuo, eu não sou mais mutante... Seus informantes esqueceram desse pequeno detalhe. Perdi meus poderes na Lua, não posso mover nem mesmo um palito sem as mãos./ – seus olhos perscrutavam o de seu oponente, mostrando toda sua sinceridade.

Matsuo: /Não pode ser... Rogan não se arriscaria a perder outra mulher! Ele jamais casaria com uma pessoa normal! É muito perigoso!/ – bradava, sem tirar Ohana da mira.

Ohana: /Eu também pensei o mesmo, Matsuo. Pensei que não era mais digna de nada depois que perdi o que mais tinha orgulho! Mas a vida não termina por isso e, mesmo tentando me afastar dele, não consegui. Logan mudou, Matsuo. Pode não ter esquecido as dores do passado, mas o que elas são além de parte de nossa personalidade?/  – sua voz era sofrida, como a de quem perdeu algo muito querido, sem que Matsuo soubesse, a imagem de James também povoava seus pensamentos naquele instante. Conferindo um tom genuíno demais para alguém que estivesse mentindo.

Matsuo: /Rogan, o caso não é somente morrer. Quero morrer com dignidade! Morrer pela mesma arma que vem me acossando há anos! Sou um guerreiro! Mereço isso!/

Logan solta uma gargalhada:

Wolvie: /Merece?! Daqui a pouco tu vai dizer que eu te DEVO isso! Um verdadeiro guerreiro não aponta uma arma pra uma dama! Um verdadeiro guerreiro não é TRAIÇOEIRO! E, acima de tudo, um verdadeiro guerreiro não precisa ficar falando isso toda hora, sua fama o precede! Isso não acontece contigo, Matsuo... Você trapaceou sua vida toda, tentando se convencer de que esse era o caminho do guerreiro, mas ‘cê sabe que não passa de besteira!/  – indo para a frente de Ohana.

O chefe do clã Tentáculo assusta-se com aquelas acusações, pois elas continham uma verdade que ele sempre se recusara a ouvir. Aquela voz que todos temos em nós e nos diz o que é certo e errado. Ele nunca ouvira essa voz, desde a primeira vez, a primeira traição, ele a afundou dentro de seu cérebro, numa parte esquecida e continuou com a vida, "tentando se convencer" de que aquilo era o certo a se fazer. Mas, o que ele havia conquistado com isso? Apenas os objetos daquela sala e, assim como eles, sua alma estava quebrada. Mas isso, ela sempre esteve.

Wolvie: /’Cê não vai morrer pelas minhas mãos, porque foi por elas que Yashida Mariko morreu e eu jamais usaria a mesma arma para acabar com seu carrasco!/  – seu rosto se abaixa e, novamente a imagem de Mariko passa por sua mente, fazia tempo que não adquiria tamanha nitidez. Se o mutante se esforçasse, talvez sentisse o cheiro da toxina no ar, como daquela vez...

Matsuo: /NÃO! Eu EXIJO! Devo ser morto pelas suas garras!/  – com um olhar ensandecido.

A cena era patética de se ver, e mesmo para os presentes, era algo estranho. Para o casal estava claro o fato de Matsuo querer culpar a outrem por todos os seus fracassos e, mesmo, por sua morte. Virando as costas, Logan empurra Ohana levemente pelo ombro, para que caminhasse para a porta.
{BANG! BANG!} O canadense fecha os olhos e continua a caminhar, respirando profundamente. Seu corpo protegia totalmente a esposa e mais três tiros foram desferidos contra ele, todos no pulmão. Assim que a última bala o atinge, a primeira já estava sendo expelida pelo organismo e cai logo na porta da sala, sendo seguida pelas outras, com intervalos de pouco tempo. Matsuo estava preso pelos vários objetos que haviam sido quebrados e impediam sua cadeira de passar, gritava com veemência palavras sem sentido e chorava em voz alta. Assim que ficam fora da vista do japonês, Logan abraça Ohana pelas costas mesmo. Feliz por senti-la intacta, sem nenhum aranhão!

Wolvie: Eu quase perdi o controle no aeroporto! Quase deixo meu lado animal voltar, mas acho que ele não quis voltar por você... – sorri, colocando para trás da orelha uma pequena mecha de cabelo ruivo.

Ohana apenas retribui o sorriso, abraçando-o com toda a força que podia, tentando encontrar um jeito agradável mesmo com a coleira.

Wolvie: Vem, deixa eu tirar isso de você e destruir essa joça! - *snikt* ejetando somente uma pontinha da garra entre o indicador e o dedo médio, o suficiente para enfiar na pequena abertura da chave e quebrar, abrindo caminho para o restante da garra e a destruição do colar. – Parece uma velharia da época em que os X-Men eram tratados como lixo, como aberração... Chegaram a colocar um desses na Vampira. Ela sofreu pacas nas mãos dos verdadeiros lixos. Uns tais de "Amigos da Humanidade"! Amigos uma ova! Eram uns racistas e foram todos presos pelo governo, assim que ficou provado que nós éramos os mocinhos da história.

Ohana: /Vocês passaram por tanta coisa que eu sinto ter pego somente uma pequena parte, Logan! Sempre me surpreendo com as coisas que conta! Vocês foram incríveis! Numa época em que ser mutante não era nada fácil, vocês conseguiram sobreviver!/ - esquecendo-se de falar em inglês.

Wolvie: A gente sobreviveu, gata, mas muita gente morreu. Gente que não tinha nada a ver com o negócio e foi pega no fogo cruzado. Gente como Mariko... – sua voz se embarga quando pronuncia esse nome.

"Têm preços que não valem a pena serem pagos", o canadense pensa. Olhando para Ohana sem esperar, nem mesmo desejar que ela diga nada. Parecendo sentir o que o marido passava, a ruiva apenas perguntou, apontando com a cabeça para a sala ao lado:

Ohana: O que faremos com Matsuo, Logan? Vamos deixá-lo aí?

Wolvie: Não te preocupa, ruiva. Assim que souberem que eu não ‘tô mais incomodado com a morte dele, muitos assassinos vão vir clamar pelo que pertence a eles... As notícias se espalham mais rápido do que o vento. Muitos vão vir pelo que o próprio Matsuo disse que ia pagar por sua morte, outros, pelo próprio mal que ele plantou, instigando uma facção contra a outra, só pra aumentar seu próprio império. Se eu fosse ele, ia me preocupar ainda mais com o futuro. Porque agora, ele não vale mais nem um yene! – balança a cabeça, olhando com atenção, pela primeira vez, para a mulher. Apenas levantou uma sobrancelha, sorrindo de lado – ‘Cê consegue andar com esse tomessodê? Senão, eu não vejo problema em te levar no colo. Problema nenhum, gata!

Ohana ri, ainda segurando a katana e percebendo, com o canto dos olhos, como o restante do corredor era sóbrio. Um legítimo apartamento, confundível com qualquer apartamento do mundo, sem personalidade, sem decoração. Ficou claro que Matsuo passava muito tempo naquela sala onde, provavelmente, iria morrer. A ponto de transformá-la num templo das artes e do bom gosto, expondo tudo o que não tinha em si mesmo: beleza e caráter.

Ohana: Isso depende: quer sair daqui muito rápido? Ou apreciar a vista? – mostrando que era quase impossível correr com aqueles altos tamancos de madeira, tipicamente japoneses. Cada passo devia ser dado com a total atenção, treinando o equilíbrio e a sobriedade dos movimentos, como tudo na vida dos japoneses. A não ser que você estivesse sendo ameaçada por um ninja com uma kodachi….


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