No More Secrets: Segunda Temporada. escrita por CoelhoBoyShiper


Capítulo 13
Triângulo de duas faces




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/722230/chapter/13

— Dip, nós precisamos conversar.

Definitivamente, aquilo não seria tudo.

 

Um grito de desespero queima dentro do garoto, implorando para ser liberado. No entanto, Dipper sequer abre a boca. Ele apenas permanece parado, inerte, seu olhar angustiado indo de Bill a Ford cadenciadamente.

O silêncio era angustioso demais para ele aguentar, então ele o interrompe dissimulado:

— O que é isso?

— Eu tenho alguém que você precisa conhecer. — continuou Ford, inclinando a cabeça na direção de Evum.

— Apresentações não serão necessárias, Stanford. — disse Bill, destilando o seu veneno e, finalmente, virando o rosto inteiro na direção do menino. Desfazendo o seu olhar de soslaio que dava quando estava no seu perfil perverso. — Eu conheço o seu sobrinho há muito, muito tempo... não é mesmo, Dipper?

As mãos de Dipper se fecham com força, formando punhos.

— Não quer contar para o seu tio de onde nos conhecemos?

O olhar de Ford foi até o menino de uma vez. Surpresa e curiosidade escorriam por detrás das suas irises.

Dipper engoliu em seco:

— Ele é o meu professor de literatura desde o meu ensino fundamental. A. Evum.

O tio-avô olhou para Cipher novamente, e o demônio disfarçado retribuiu-o com um olhar de “não te disse?”.

— O que está acontecendo aqui? — continuou Dipper, sabia que Bill estava a jogar com ele, testando a sua paciência e seus limites emocionais ao extremo, como sempre. Por isso, não entregaria nada dos seus segredos até que entendesse exatamente sobre o que Bill e Ford conversavam.

— Dipper, eu acho que seu professor de literatura pode ser mais útil do que nós imaginamos. — revelou. — Ele sabe de tudo.

— Tudo o quê?

— Tudo. Gravity Falls, os monstros, Bill Cipher, weirdmageddon …

— Hm… — Dipper cruzou os braços sobre o peito e começou a tamborilar no piso com um único pé, pensando no que exatamente impedia ele de liberar os seus poderes na cara de Bill naquele exato momento. Seus olhos claramente transmitiam o que ele queria dizer para o demônio: “isso não estava no nosso combinado” — que interessante, né? Como ele sabe?

— Ele faz parte da Polícia do Tempo. Ele faz parte do esquadrão do ano 3012.

Dipper ergue uma sobrancelha, insolúvel àquela informação.

— Ah, é? — ironizou.

Bill deu um sorriso debochado que apenas o garoto pôde ver, e enfiou a mão no bolso do paletó, tirando de dentro dela algo que quase fez o queixo de Dipper despencar.

Era uma fita métrica do tempo.

“Ele roubou isso do meu quarto?! Ele sabia que eu guardava isso nas minhas coisas?!”

— De onde você tirou isso?

Antes que Dipper pudesse se indignar mais um pouco, Evum apertou um pequeno botão no dispositivo e uma pequena luz, quase um laser, acendeu de uma das extremidades da pequena caixa. O facho de luz esverdeado projetou-se retilíneo até uma das paredes da sala. Dipper o seguiu com os olhos, o laser exibiu uma imagem na parede, abrindo um holograma futurístico, como um retroprojetor abrindo um datashow na tela branca da sua sala de aula. Na imagem, tinha uma foto do seu professor com inúmeras informações pessoais listadas, acompanhada de uma insígnia oficial do Esquadrão Temporal no formato do contorno de uma ampulheta verde brilhante, o mesmo que Blendin Blendin trabalhava.

— Sargento Aevum, ao seu dispor. Eu trabalho infiltrado nessa cidade há muito tempo.

Mason ficou boquiaberto, aproximando-se do projetor. “Tá de brincadeira, né?”, limpou a garganta, disfarçando. “Bill Cipher possuiu o corpo de um oficial do Mindscape?”

— E o que você está procurando conosco?

— O mesmo que vocês: Bill Cipher. — desligou o monitor portátil e virou-se para Ford. — Quando seu sobrinho alterou a linha temporal, muitas coisas foram desajustadas, por isso a Polícia Temporal se envolveu no caso, pois ela vê que a volta de Bill Cipher dessa vez como uma verdadeira ameaça. Nós achamos que o garoto seja a nossa chave para achá-lo antes que ele termine de se regenerar no mundo humano.

“Fingido do caralho...”, abominou Dipper. — Como eu por um caso seria capaz de “encontrá-lo”? — Pines estava disposto a iniciar um interrogatório, queria pegar Cipher na mentira. Era óbvio que aquilo era só mais uma historinha que Bill tinha inventado para poder instigá-lo a encontrar os seus poderes.

— Dois motivos. Primeiro: você é um Índigo como o seu tio-avô, você é profundamente ligado às criaturas como Bill Cipher e os poderes que ele carrega, por causa disso, seria mais fácil para você identificar com a sua intuição sobrenatural, característica das crianças Índigo, o local de maior concentração de onde os poderes de Bill estão emanando, e, assim, chegar até lá antes que ele volte a surgir. Segundo: você foi quem alterou o tempo e trouxe os objetos da dimensão anterior para essa, você próprio, Mason, está integralmente ligado com o tempo passado. Você é o elo entre os dois, e, se é o Bill Cipher que ficou naquela dimensão retornando, portanto a sua intuição é mais propensa a encontrá-lo do que de qualquer outro Índigo, até mesmo o seu tio.

— Você está dizendo que, por eu ser um ser humano criado por Cipher, posso ser capaz de localizá-lo com o meu “chute de Índigo”? — interrompeu Dipper.

Foi quando Ford soltou uma exclamação de espanto e se dirigiu ao sobrinho com os olhos arregalados.

— Dipper, você sabe sobre os Índigos?!

O coração do menino quase parou. Dipper havia se esquecido completamente que Stanford havia contado pra ele sobre ser um Índigo apenas na linha temporal passada. No tempo atual, Stanford não deveria fazer ideia do quanto ele sabia.

“Droga!”

— Er... — as palavras foram absorvidas pelo seu gaguejar nervoso, ele sentiu sua vertebral se arrepiar ao ver os dentes pontiagudos de Bill se sobressaírem num sorriso maligno. Bill estava atingindo o seu objetivo, ele estava fazendo, de propósito, a máscara de Dippper cair aos poucos diante de Stanford. Exatamente do jeito que ele prometeu fazer caso Mason não colaborasse com o seu plano. Pura tortura psicológica, pior do que qualquer fim do mundo que ele pudesse causar. Cipher tinha a absurda habilidade de ser perigoso mesmo sem poder nenhum. —... você me contou, tivô. Na realidade alternativa passada... a realidade que eu alterei.

Ford soltou um grunhido que soou genuinamente ofendido.

— D-Dipper! — ele esbravejou conturbado, caminhando firme na direção dele. — Por que você não me contou isso antes?! Se eu cheguei a ponto de te contar uma coisa dessas na realidade passada, algo sério com certeza deve ter acontecido! Por que você não me explicou nada disso desde o princípio?! Faz quanto tempo desde quando você alterou o tempo?

Pines estava em choque afastando um passo atrás a cada um que Ford dava a caminho dele. Evum observava tudo pelas costas de Ford, se deliciando com a cena.

— Não faz muito tempo assim. — mentiu Dipper na defensiva.

— Na verdade, faz alguns anos. — soprou um Aevum ousado do fundo, abrindo uma tela holográfica por cima da fita métrica, olhando uma lista de arquivos digitais. — De acordo com os arquivos do Congresso do Mindscape, o histórico do nome em que está registrado a fita métrica usada por Dipper data a última utilização há, precisamente, quatro anos.

— Quatro anos?! — Ford ficou pálido, e fitou Dipper na parte mais funda do seu âmago, podendo ser capaz, de lá, fisgar uma sobra de culpa e arrastá-la até a superfície dos olhos dele. — Dipper, o que aconteceu de tão sério pra você se ver no direito de poder esconder algo assim de todo mundo por todo esse tempo?!

— Nada que seja necessário mencionar! — ele estava ficando sem alternativas de contornar a situação daquela vez. — Eu não pensei que causaria todo esse trabalho agora.

Ao mesmo tempo em que a catástrofe ocorria diante dele, Bill Cipher ficava por trás de Stanford, provocando Dipper ao tirar a esfera dourada de dentro do bolso do paletó (a cápsula que guardava as memórias do seu tio-avô, Mabel e os outros da antiga linha temporal) e girá-la ente os dedos ostensivamente: um lembrete silencioso do que mais ele faria se Dipper não fizesse o que ele ordenava.

— Bem, causou. E agora nada mais justo do que você me explicar detalhe por detalhe do que aconteceu lá!

— Eu não posso! — Dipper estremeceu, os seus sentimentos erguendo-se no seu interior. Ele sentiu a magia fluindo por debaixo da sua pele, instalando-se na sua vontade de acabar com aquele transtorno todo. “Com um estalar de dedos eu posso explodir essa merda dessa casa inteira e fim de pa–”, estava pensando, convicto, quando se deteve abruptamente. Ele se assustou por estar pensando naquilo tão seriamente. “No que eu estou pensando? Isso seria desumano!” A verdade era que Dipper nunca tivera a oportunidade de cessar com os seus problemas tão facilmente. Ele sempre teve de se sacrificar para poder se livrar dos seus demônios interiores. Agora, tendo, literalmente, na palma das mãos o poder necessário para poder fazer, simplesmente, um problema sumir, era sedutor demais... irresistível demais.

Felizmente, o olhar irado de Stanford estava por cima dele para conduzi-lo de volta à realidade. E Dipper se conteve, mantendo o poder de Cipher quietinho sob sua pele ao respirar fundo.

— Por que não pode?! — insistia o tio-avô.

— Eu não... posso. — diminuiu o tom de voz ao se lembrar que estava em casa, com metade da sua família possivelmente dormindo logo no andar de cima.

Os ombros de Ford relaxaram depois de um tempo perdurando na sua postura impulsiva, e o homem suspirou, afastando-se. — Quanto tempo nós temos? — perguntou na direção de Aevum, pressionando o espaço entre as sobrancelhas com o indicador e o polegar para relaxar o cenho e reduzir o estresse.

— Cerca de dois dias. Três no máximo.

— O quê?! — Ford quase gritou.

— Sobre o que estão falando?

— O tempo que Bill Cipher vai levar para terminar de se regenerar. — explicou Ford, começando a andar de um lado para o outro nervoso. — O esquadrão do tempo conseguiu ratificar uma estimativa do tempo que ele levaria para voltar com base das frequências dos poderes dele que vêm surgindo esparsos de tempo em tempo. Será depois de amanhã.

— Espera — inquiriu Dipper, navalhando Cipher com o olhar. —, Aevum te disse isso? Como você pode garantir que isso esteja certo mesmo?

— Porque eu já suspeitava.

A voz o penetra; as palavras confusas para Dipper.

— Eu venho analisando o poder de Bill com aquele dispositivo que te mostrei ontem à noite. Pelos cálculos eu também previ que eles estivessem completamente desenvolvidos dali a alguns dias.

“Isso não faz sentido nenhum!”, exclamou Dipper para si mesmo. “Bill Cipher já está de volta, e sem poderes. Como Ford pode continuar a captar algo voltando ou muito menos se regenerando?”. De qualquer maneira, o menino percebia que não adiantaria tentar convencer o tio sem levantar mais perguntas e suspeitas. Ele teria que entrar no jogo e se odiaria por causa daquilo. Era o único jeito de ganhar tempo até pensar no que fazer.

— O que eu tenho que fazer então? — perguntou com atrevimento, sem parar de fuzilar o professor com os olhos em nenhum momento.

Um sorriso deblaterado de satisfação estampou-se no rosto emprestado de Evum. Por um segundo, Dipper sentiu preocupação pela alma daquele agente/professor. Pensou no quanto deveria ser confuso para ele estar por aí, vagando em uma alma desirmanada feito uma sacola de plástico derivando pelos ares. E, ao mesmo tempo, sentiu dó pelo corpo dele estar sendo usado por um ser e um propósito tão abominável como aquele.

— Você precisa pegar a mesma fita métrica do tempo que usou para sair daquela linha alternativa. E usar a sua habilidade e intuição para se conectar com o registro mágico dela, assim você talvez seja capaz de adquirir uma visão clara de onde procurar.

“Então a fita métrica que ele tem não é a minha. Meu professor realmente era um policial do tempo.”

— Dipper, depressa! Onde você guardou isso? — apressou Ford.

— Calma! Tá lá em cima, no meu quarto, nas minhas coisas. — virou as costas, avançando para a escadaria. Os outros dois o acompanharam.

Ao abrir a porta, a luz diáfana do exterior varre as sombras e Dipper caminha em direção da sua escrivaninha. Começa a revirar o restante dos papéis por elas espalhados, mas nenhum sinal da fita métrica. Frustrado e apressado pelos olhares ferozes de Bill e Ford que pesam nas suas costas, ele se agacha e começa a tatear o chão. Talvez ele tenha deixado por ali, já que o antigo esconderijo dela costumava ser por debaixo do piso falso. Porém não encontra nada além de mais papéis, seu par de AllStars puído, e uma coleção grotesca de meias que tinham que ser lavadas.

“Onde caralhos eu coloquei aquilo?”, colocou-se a relembrar de tudo que tinha feito com os objetos após tê-los retirados para serem destruídos. Ele só havia queimado o livro e as alianças, a fita métrica não era necessária (sendo que ela era um dispositivo planejada especificamente para viajar no tempo). Então, qual foi o lugar que ele havia deixado aquilo?

— Algum problema? — Ford instou.

— Eu não estou encontrando.

— Como assim “não está encontrando”?

— Falo sério. — levantou-se. — Eu tirei os objetos da dimensão passada debaixo da cama para destruí-los. A fita métrica estava entre eles. Eu me aproximei da janela e deixei eles no parapeito antes de descer. Eu não levei o dispositivo do Blendin comigo, ele ficou aqui no quarto.

— Então ele só pode estar num lugar próximo ao parapeito.

Dipper arrastou o olhar até o final do quarto e, como um gatilho que disparava a sua memória, uma folha seca arranhou o vidro da claraboia como naquela noite, despertando uma lembrança. Ele havia deixado a fita métrica junto com os seus livros escolares, em cima da escrivaninha, antes de descer.

Correu até a mesa novamente. Porém nem os seus livros estavam mais lá.

— Merda... — soprou entre os dentes. — Eu tinha deixado junto com meu material didático. Mas eu não tô vendo mais ele aqui.

— Talvez você tenha deixado na escola. — sugeriu ele.

O estômago de Dipper dá um nó intenso, como se ele tivesse engolido uma pedra imensa. E ele fica sem ar.

— Eu coloquei ele na mochila por acidente! Hoje de manhã quando eu tive que pegar Lolita pra ler, eu coloquei tudo de qualquer jeito na pressa.

— Ótimo, agora só vai pegar a sua mochila. — Ford cruzou os braços, batendo o pé em impaciência.

— Aí que está o problema, Tivô Ford. — ao sussurrar, Dipper se afunda mais ainda. — Eu não voltei com ela pra casa agora à noite. Eu saí com ela da escola e fui direto para casa do Wirt antes de ir pro parque. Eu deixei ela na casa do meu namorado.

 

*

 

Dipper saiu da casa, respirando fundo e com passos firmes. Ele não acreditava que estava mesmo fazendo aquilo. Voltando na casa de Wirt àquela hora da noite, e, ainda por cima, acompanhado das duas pessoas nas quais ele menos queria estar naquele momento. Também não acreditava que estava caindo de propósito nos joguinhos mentais de Cipher, tendo que fingir que acreditava na história dele e tendo que fingir que não sabia o paradeiro do seu poder.

As cigarras da floresta temperada, que circundava toda planície do seu condomínio residencial, cantam em uníssono. Um zumbido que persistia nos ouvidos dele, como se todos os insetos escondidos em todas as árvores gritassem ao mesmo tempo, preocupados com alguma coisa. A sensação enche a cabeça dele e abafa os sons enquanto ele caminha pela calçada deserta pincelada com as demãos incandescentes dos postes de luz.

Ele topa com Bill, parado, e quando ele vê Dipper, ajeita o paletó e um sorriso maroto se abre em seu rosto emprestado. O demônio indica, com o dedo, a picape vermelha atrás dele. Como havia apenas dois lugares disponíveis, Ford iria com a sua moto e Dipper dirigiria a picape... levando Evum em sua companhia.

O garoto se deteve a cerca de um metro do homem. Para mostrar que não estava sob a influência de cordas de um títere, Dipper teria que assumir o controle. Favoravelmente, ele conhecia Charlie muito bem e sabia que ele florescia com atenção, fosse ela positiva ou negativa: esse era o grande motivo por trás dos jogos e provações de Cipher. O que ele não suportava era a indiferença. Ela o deixava vulnerável. Por isso, a partir daquele momento, Dipper demonstraria total e completo desinteresse a ele.

— Está tão calado, amor. O que houve? — torturou, dissimulado, Cipher assim que sentou ao lado dele no banco do passageiro. Dipper bateu a porta com força, arrebatando um maço de cigarros que estava jogado por cima do painel, pronto para acendê-lo.

Continuou com a expressão fechada, sem dizer uma palavra.

— Queria só que você pudesse entender que estou fazendo isso para o nosso bem... — o jeito perfeito em que o demônio havia soado tão inocente e sincero só alimentou a irritação de Pines, o que fez o estratagema dele se dissolver de um segundo para outro.

— Ah, claro! Vou me certificar de lembrar disso quando o próximo monstro vier tentar me matar no meu colégio! Sinto-me muito melhor com isso agora!

E lá se foi o seu plano.

— Eu já falei que eu não tive participação em nada disso. — assegurou o outro, ainda mantendo aquela suposta fachada de cautela e compaixão. Cipher estendeu a mão, colocando-a sobre a coxa de Mason. Mesmo através do jeans e do frio reinante, Dipper é capaz de sentir o calor da mão invadindo seu corpo.

Girou a chave atrás do volante com pressa, o motor ronca grosseiramente feito um urro feroz, uma cacofonia que combinava exatamente com o humor de Dip naquele momento. Toda a carcaça metálica do carro vibra junto com as suas coxas e canelas sobre os assentos.

Dipper meteu o dedo no rádio, esperando que uma música bem alta evitasse que ele escutasse os próprios pensamentos e as investidas de Bill. Um rock alternativo, “Going To Hell” do artista Titanic Sinclair, começou a tocar.

 

Esse lugar estar indo para o inferno,

Eu gosto do fogo

Eu conheço esse sentimento muito bem, yeah

Eu estou morrendo

 

Terminou de acender o cigarro e, imediatamente, sentiu a vontade de descer a mão na cara de Cipher diminuir. Dipper deu a partida, colocando o automóvel em pista aberta. Pisou no acelerador, acelerando o resto do mundo ao redor dele que se tornou um borrão.

— Você poderia ir mais devagar, Carneirinho.

— Você poderia me deixar em paz, Charlie. — e esfregou a mão livre sobre a perna para apagar o eco do toque de Bill ainda resistente sobre a coxa. O professor se ajeita, cravando o seu olhar negro no pupilo.

— Se você fosse um pouco mais cooperativo, as coisas não precisariam ter sido assim.

“Ah! A culpa é minha agora?”

— Bem, se você fosse um pouco menos ganancioso, psicótico, perverso, manipulador, dissimulado, trambiqueiro, ameaçador, mentiroso, possessivo, teimoso, interesseiro, libidinoso e etc, etc, etc... nada, literalmente nada, disso precisaria ter sido assim pra começo de conversa. Então acho que suportar um pouco da minha falta de cooperatividade seja o mínimo que você deva aturar em retorno, não é?

Mesmo sem olhar, Dipper sente a postura do homem ao lado dele contrair e o ar da presença dele ficar mais denso. Se Bill não fosse Bill, Pines juraria ter machucado os sentimentos dele.

— Você ainda não entendeu, não é? — Bill sussurrou.

— Não entendi o quê? — virou-se para ele sustentando a habilidade de segurar o cigarro com os lábios e falar com mesmo tempo sem as mãos, o carro já cheirava a fumaça de nicotina.

Cipher estagnou por um momento e lançou um olhar suavemente vazio na direção do motorista.

— Nada — suspirou. —, já te fiz passar por muita coisa hoje. Deixa isso pra você se preocupar mais tarde.

Dipper riu alto, jocoso.

— Nossa, que simpático da sua parte...

Nesse momento, o carro deu um impacto tão forte que, se não fosse pelos cintos de segurança, os dois bateriam com a cabeça no painel. Dipper tinha ultrapassado um quebra-molas sem diminuir a velocidade do veículo.

Bill soltou um gemido.

— Eu já falei. Você ainda vai conseguir chegar na casa do seu namoradinho se você andar mais devagar, Pinheirinho.

— Owwn... o demoniozinho com complexo de deus está com medo de um carro humano? Patético.

— E-Eu não... estou com medo. — conteve-se. Por mais que a sua desenvoltura para mentir fosse impressionante, Bill estava num recipiente humano agora, e o corpo não mentia; Dipper via as mãos dele se fecharem sobre o seu colo, apertando o tecido da calça social.

E foi assim que uma ideia sádica, porém sedutora invadiu o garoto.

Ele iria dar um gostinho a Bill de todas as coisas horríveis que vinha fazendo a ele durante toda a sua vida.

Em qualquer outra ocasião, aquilo seria arriscado, uma loucura que não deveria sequer ser reproduzida. Mas era tarde da noite, aquelas estradas eram longas e estavam desertas. Aliás, Dipper já se cansara de dirigir por ali durante o inverno – quando tudo era uma escorregadia cama de neve e gelo –, adquirindo habilidade suficiente para segurar o carro em qualquer manobra perigosa.

Mas, claro, Bill não sabia disso. E o garoto usaria esse trunfo ao seu favor.

— Sabe de uma coisa, “Charlie”... — começou num tom cruel. — você nunca parou para pensar o quão fácil seria para mim acabar com você agora que é um humano sem poderes. — apertou as mãos em torno do volante, afundando o pé no acelerador bem lentamente. — Nunca pensou em como o seu plano era falho desde o começo, como eu poderia simplesmente fazer alguma coisa antes que você tivesse a chance de me chantagear com as memórias de novo...

— E que coisa é essa, por um acaso? — mesmo tentando manter sua postura de superioridade, Dipper sentia em cada um dos seus seis sentidos a máscara frágil de Bill ruir pedacinho por pedacinho.

— Ah... sei lá, saca? O ser humano tem um corpo muito fraco, você deve saber o quanto qualquer coisinha poderia matar a gente... afinal, homens morrem das mais diversas maneiras, todos os dias, às vezes por coisas ridículas. Coisas essas que às vezes são criações que eles mesmos fizeram para melhorarem as suas vidas, irônico, não? — o vento, que entrava pela janela aberta para dissipar o fumo dele, irrompia violento para dentro do carro, sacudindo o cabelo dos dois, correndo como navalhas sobre as suas peles, e quase abafando as suas orelhas, inviabilizando suas audições. — Veja esse carro por exemplo, muita gente pensa que o método de transporte mais perigoso é o avião, ou navio, mas não, é o carro... algo tão pequeno e compacto que pode, de uma hora para outra, simplesmente atingir algo e puf!, lá se vai mais uma vida, assim, em segundos. Mas o mais interessante é quando demora. Ah, essas vezes são tristes! Quando o acidente é realmente feio. O carro capota, você escuta a voz de todas as pessoas que você ama gritando por misericórdia enquanto você já não pode fazer mais nada, rodam estupidamente dentro de um pequeno espaço, tão insignificantemente igual uma roupa girando dentro de uma máquina de lavar... até que tudo para, mas a morte não chega na hora, não... — outro quebra-molas, o carro quase flutuava sobre a pista. Dipper pensou ter escutado um gritinho abafado de Bill, o que alimentou a sua devassidão. — é um processo lento, imagina só: sentir todos os seus ossos se quebrando um por um, o vidro do painel rasgando por debaixo de cada pedacinho da pele do seu rosto, aquela sensação de tentar respirar cada vez mais e perceber que não há mais ar para você usar, como se alguém tivesse acendido um pequeno fósforo dentro dos seus pulmões estourados... dói, Bill, dói muito. Isso tudo por alguns minutos, imagine como devem ser, devem parecer horas! Horas de tentar se agarrar em algo em que você tenta se convencer, erroneamente, ser capaz de ainda obter... a própria vida de volta. Aquela mesma frágil, repugnante e estúpida vida humana!

— Você não faria...! — a voz de Bill era de pânico e ele não tinha mais vergonha de escondê-la. — V-você morreria também!!

— Ah, não?! — sorriu, virando-se para ele, tirando a atenção totalmente fora da estrada. — Então você não me conhece tão bem enquanto eu pensava. Metade da minha família e amigos já deve pensar que eu sou louco. E eles devem estar certos mesmo. Afinal, você me tirou tudo, Bill. Tirou minha família, tirou a minha normalidade, tirou as pessoas que eu amava... pelo o que eu ficaria vivo ainda, se você me tirou tudo que resumia a minha existência aqui? Eu, literalmente, não tenho mais nada a perder!

— D-Dipper!!

Apertando a embreagem e o freio ao mesmo tempo, Mason mudou a marcha com destreza. Todo o carro virou na estrada em menos de um segundo, o mundo balançou, os pneus cantaram no asfalto e poeira marrom e negra subir pelas janelas, escurecendo tudo. Dipper havia dado um cavalo de pau, os dois piruetando perigosamente num carrossel maldito.

— Me... desculpa!! Por favor!!

Dipper começou a rir. Rir alto. Ele nunca havia se sentido tão bem assim, ouvir Bill Cipher implorar a ele, perder a posse dentro de um medo que ele estava incutindo no demônio. Naquele que tanto o atormentou durante toda a sua vida. Agora o jogo havia virado. Virado a favor de Dipper, e ele estava ganhando numa mão cheia de ás. A vitória era doce.

Quando o carro finalmente parou, Evum estava pálido, claramente enjoado e Dipper estabilizara o movimento do trajeto o bastante para que admirasse aquela cena por mais tempo. Qualquer um seria capaz de sentir as batidas desenfreadas do coração do professor a metros de distância.

— Ufa! Essa foi por pouco, né? — gargalhava Dipper. Depois de se conter, e colocar o carro de volta no trajeto corretamente, percebeu que o outro só permanecia calado com o rosto enrugado numa carranca a olhar envergonhado para o exterior da janela. — Qual o problema, Chiper? Não era você que adorava fazer joguinhos com as pessoas? Foi divertido esse não foi? Deveríamos fazer mais vezes.

— Não! — gritou um Bill subitamente restituído no seu gênio irritado e indisciplinado.

— Ah, é? — fez uma pergunta retórica no que já parava na calçada próxima à casa de Wirt, os dois desativando os cintos. E, travando as portas, impedindo que o outro fugisse ao já colocar a mão trêmula na maçaneta, avançou na direção de Bill. Colocou o braço firme por debaixo do pescoço dele, pressionando ele contra a porta e o vidro. Olhou bem no fundo os olhos dele, fazendo a nuance violeta das suas pupilas serem diluídas até se tornarem uma cor insossa e enjoativamente comum. — Então é melhor você não continuar com gracinhas para cima de mim. Você não tem ideia do que eu sou capaz. Essa é a minha vida, uma que eu trabalhei muito para que ela voltasse a ser desse jeito, e eu não vou deixar você tirar isso de mim de novo. Estamos entendidos?

O lábio inferior de Bill começara a tremer, Dipper não conseguia entender se era de medo ou se ele estava suprimindo a vontade de soltar uma lista de insultos e sofrer as consequências. Talvez fosse uma mistura dos dois. Antes que o organismo abalado de Aevum começasse a produzir lágrimas, Dipper soltou-o, dando espaço para que Cipher e ele saíssem.

Ford vinha do final da rodovia sobre a sua moto, após descer dela e dar uma bronca no sobrinho por ter visto o incidente com o cavalo de pau no meio da rua – uma que Dipper tratou de terminar logo apenas concordando com tudo em silêncio e justificando a falha com a desculpa de “ter perdido o controle acidentalmente” e que “não aconteceria de novo” –, os três caminharam, aproximando-se da varanda da casa.

Ao se ver de frente para a mesma porta que havia visto há algumas horas, o espírito catártico  de bravura se esvaiu de Dipper e ele se sentiu mole. Estava na casa do namorado, àquela hora da noite, com duas presenças suspeitas. Como ele explicaria isso? Não sabia, porque antes de pensar numa alternativa a campainha já tinha sido apertada.

Demorou um tempo, lógico, todos naquela casa deveriam estar dormindo.

— Quem é? — perguntou um homem no que a luz laranja acima do portal se acendeu.

— Sou eu. — disse Dipper, quase contraindo a face pela vergonha, querendo enfiar o rosto num buraco.

— Você?! — o homem abriu a porta de supetão, nervoso, os olhos fundos no rosto e o cabelo desarrumado. O pai de Wirt. — O que veio fazer aqui a essa hora, garoto?

O constrangimento de Dipper assassinava-o.

— Desculpa chegar aqui desse jeito, mas é uma emergência. O seu filho está?

— O que quer com o Greg?

“Droga! Esqueci que o só é Wirt filho da mãe dele.”, se Pines pudesse dar-se um facepalm, daria agora.

— D-Desculpa, o Wirt. Por favor?

— Dipper? — a voz doce do namorado melindrou-se por detrás do padrasto. — O que está acontecendo aqui? — ele passou na frente do homem, ficando entre a porta. Assim que viu Stanford e Aevum, tomou um susto, abrindo mais os olhos cansados e quase recuando um passo. — Quem é essa gente?

— Meu tio e meu professor de literatura.

Wirt arqueou uma sobrancelha.

— O que o seu professor tá fazendo com você?

Dipper só via mais claramente o quanto a situação era estranha a cada pergunta.

— Eu não tenho tempo agora, depois te falo. A minha mochila ficou aqui, não ficou?

Wirt apenas assentiu, desconfiado.

— Posso pegar ela de volta?

— ... anham. Pode entrar, vem comigo.

Dipper subiu sozinho no escuro até o quarto do namorado, deixando as suas duas outras companhias lá embaixo com o pai adotivo dele. Um burburinho fraco de vozes do trio conversando se elevou, enquanto Dipper caminhava rápido pelo aposento, procurando o pertence. Foi quando uma voz, a de Stanford, se sobrepujou no meio dos balbucios inaudíveis, ficando clara para Dipper, que começou a se desesperar de novo quando ouviu-a:

— Sinto muito pelo meu sobrinho, ele ficou com uma coisa minha importante que eu preciso assim que viajar amanhã, não sou daqui da Califórnia, sabe? — era uma quase mentira, Stanford estava contornando a história da fita métrica. Porém, ele disse, em seguida uma coisa que era muito verdade. Uma verdade que, infelizmente, não deveria ter sido comentada. — Lamento pelo Dipper ter esquecido isso na casa do namorado dele.

— O “namorado” dele?! — o pai interpelou incrédulo, dessa vez até Wirt tinha escutado.

Automaticamente, Pines virou o olhar para o do menino. “Ah, não...! Isso não aconteceu!”, pensou no que viu a feição preocupada dele. Correu depressa até a base da escadaria, anunciando que estava pronto, no intuito de finalizar aquela discursão o mais rápido possível.

Mas não funcionou, o padrasto ignorou Dipper e se virou para o enteado com veemência; um olhar conturbado e irado.

— Wirt, que história é essa de namorado?!

“Desgraça! Inferno! Não, não, não...!” Não era para ter acontecido daquele jeito. Não daquela forma, não naquela hora. “Ah, meu deus!”, seu coração se encolheu e uma vontade arrebatadora caiu sobre Dipper, que teve vontade de correr e abraçar Wirt antes que a situação piorasse e assegurá-lo de que ficaria tudo bem, protegê-lo. Mas aquilo só confirmaria as dúvidas assustadoras do pai dele. Nada do que Dipper pensava que poderia fazer iria melhorar alguma coisa, já havia acontecido. Sua vulnerabilidade só piorou quando o tio-avô apressou-o:

— Ótimo! Anda, Dipper, vamos logo!

Estava sem coragem de olhar de novo para o namorado. Se ele estivesse com uma expressão de choro, Mason começaria a chorar também.

— Você agora deu pra ser gay, Wirt?! — o tom dele já está alto o suficiente para ser considerado de uma briga, o suficiente para acordar o restante dos moradores. O enteado nada respondia, estava sem palavras.

— Estou vendo que já perturbarmos essa família demais hoje. Vamos logo, Dipper! — continuou Ford preocupado e ansioso.

Ainda sem se virar, Dipper falou, mortificado e sem reação: — Nós falamos mais tarde, Wirt. — esperando que ele encontrasse o pedido de desculpas que estava nas entrelinhas daquela citação.

Percebendo que a sua presença só agravava ainda mais a vida de todos por minuto, retirou-se da residência com o tivô quase o arrastando pela alça da mochila, antes que o desastre culminasse. A porta se fechou por trás dele na mesma hora que um bulício agressivo começara a se iniciar dentro do hall.

Ver o estrago que tinha causado indiretamente, sem poder interferir para restaurá-lo, elevara a sensação de desalento de Dipper à décima potência. Ele sentia aquele martírio crescer dentro dele como se fosse uma esponja a absorver cada coisa boa que sobrara na sua vida, aumentando de volume e ocupando cada centímetro cúbico do seu corpo...

De repente, como se seus tímpanos parassem de funcionar, ele parara de escutar as falas de Ford no que era levado de volta ao carro.

Crescendo e crescendo...

“Não...!”

Crescendo...

“Não...!”

A cada metro afastado ele via mais nitidamente aquela esponja sugando Wirt para ser mais um dos seus sofrimentos.

— NÃO!

Uma rajada colossal de ar surgiu do nada, subindo pelo seu corpo e bagunçando as suas roupas, arrancando a porta da entrada principal da casa de Wirt das suas dobradiças com um estrondo. Não era um vento normal. Antes que ele percebesse o que fizera, os fios de alta tensão dos postes acima da cabeça do grupo tremeram e as luzes incandescentes se intensificaram até explodirem, deixando toda a rua do mesmo jeito que Dipper se sentia por dentro:

Escuridão.

O som zunido de energia implodindo por todos os lados soou como um raio até resplandecer um total silêncio. Dipper invocara a sua magia sem ao menos dar permissão para ela.

Mesmo assim, Stanford não parecera notar nada fora do normal. O mesmo não podia ser dito sobre Bill, que esticara o pescoço repentinamente, atento, erguendo a ponta do nariz como se cheirasse algo diferente do ar. Imediatamente ele se virou na direção onde estava a casa de Wirt, provavelmente achando que o Poder dele poderia estar escondido ou vindo de lá (era o que Pines cogitara), mas não desconfiou que a origem da energia diferente era do garoto que tanto perturbava.

Ficou olhando para lá por bastante tempo com vigor, parecia hipnotizado pelo vislumbre da construção... ou algo dentro dela. Dipper não via nada fora do comum a não ser pelo óbvio frisson violento que se iniciara. O encanto do professor só se quebrou quando Ford o chamou e ele saiu com uma postura hesitante, delicada.

— O que foi? — perguntou Mason novamente dentro do carro, fingido, atuando que achara estranha a reação do demônio diante o ocorrido. Queria mesmo era saber o que o outro desconfiava ou teorizava sobre, para que ele pudesse tomar cuidado em não revelar sem querer o seu segredo sobre ser o atual guardião da magia dele.

— Hm... — em vez de uma demonstração de orgulho, êxtase ou euforia, como Bill geralmente reagiria quando entrava em contato com algo relacionado aos seus poderes, tudo que Dipper podia identificar de volta era medo. Puro medo. O mesmo que ele havia visto mais cedo quando o ameaçara na estrada. — Nada.

“Esquisito...”

 

*

 

— O que você está sentindo, Dipper? — perguntou Ford, preocupado, a ele. Todos os três estavam, agora, reunidos do lado de fora da casa. No jardim dos fundos, sentados numa mesa de praia, a fita-métrica diante de Dipper que fingia sentir algo. Estavam tentando encontrar algum traço de Bill Cipher, como dizia o plano.

O garoto sentia-se num beco sem saída, as suas habilidades de Índigo, obviamente, não apontaram para nada. Teria que inventar alguma coisa, qualquer coisa, chutar... só não sabia o quê.

— Eu acho que talvez na escola. — sugeriu porque era o primeiro lugar que lhe vinha à mente, uma vez que era para lá onde ele teria que ir a algumas horas.

— Na escola? — Evum aproximou-se interessado, a ganância do hospedeiro dentro dele ficando em evidência.

— É provável — começou a elaborar a história melhor —, é lá onde estão aparecendo os monstros de Gravity Falls para me atacar. Talvez, por causa de ser o lugar onde o poder de Bill esteja se acumulando, eles se sintam mais propensos a ir pra lá. Afinal, a magia do Cipher é regente da cidade do Oregon, não é?

— Então está decidido. — ratificou Stanford de uma só vez, definindo o destino final de todos por todos. — Amanhã nós acabamos com isso de uma vez por todas.

Mas o que eles não sabiam é que estava longe de terminar.

Eles nem imaginavam o que aconteceria no dia seguinte.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "No More Secrets: Segunda Temporada." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.