More than the stars escrita por Heart Eyes


Capítulo 2
A Familiar Voice


Notas iniciais do capítulo

Hey, pessoal!
Nesse capítulo ainda não tem interação Bellarke. Mas prometo que está vindo. Há uma informação importante sobre o relacionamento de Clarke e Lexa. E também flashbacks de quando Clarke se mudou pra Polis.
Espero que gostem!



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3 anos atrás


O toque de seu celular a acorda com um pulo e ela precisa de alguns segundos para se recuperar até começar a apalpar toda e qualquer superfície perto dela à procura do aparelho. Clarke acha, finalmente, e com os olhos semicerrados de sono e da luz forte vinda do smartphone, vê o nome de Raven na tela. O nome a faz lembrar de casa, como tudo ultimamente. Não faz nem um minuto está acordada, mas pode sentir a dor fazendo seu caminho até seu peito lentamente. E como sempre, Clarke tenta ignorá-la.

— Clarke? - A voz de sua amiga enche seus ouvidos segundos após pressionar a tela para atender a ligação.

— Oi - Clarke responde, com a voz rouca do sono e da falta de uso.

— Você soa como se estivesse dormindo. Eu te acordei?

— São 3 da manhã aqui Raven.

— Fuso-horário. Droga! Eu me esqueci completamente.

— Não tem problema. O que foi?

— Eu estava assistindo Como Eu Era Antes de Você e o sobrenome daquela personagem engraçada é Clark, então eu lembrei de você imediatamente e me dei conta de que você não me ligou desde que foi embora, quer dizer, foi pro Canadá, deixou Arkadia. Não que você simplesmente tenha ido embo....

— Raven - Clarke interrompe-a.

— Certo. Eu resolvi ligar pra saber como estão indo as coisas.

— Entendi.

— E então...?

Há um silêncio na linha. E Clarke está desejando que Raven não faça a pergunta.

— Clarke, você está bem?

Aí está. A frase que tem ouvido de sua mãe várias vezes desde que se mudou, há 8 dias. O mesmo tom de preocupação estampado na pergunta. Não que ela possa culpá-las por se preocupar, ela não ligou pra ninguém desde que chegou. Sua mãe ligou 11 vezes, mas Clarke só atendeu 6 ligações. Não que ela estivesse ocupada, porque ela não tem feito absolutamente nada além de desempacotar, guardar roupas e arrumar seu apartamento durante esses dias. Ela foi ao supermercado no dia seguinte à sua mudança e a um café ontem de manhã. E só. E sua mãe foi a única pessoa com quem trocou mais do que um "obrigada" e "tenha um bom dia" desde que deixou Arkadia.

Clarke só começa em seu novo emprego daqui há 7 dias, então ela poderia explorar a cidade, conhecer destinos turísticos, ir a lugares badalados, mas não. Ela não consegue pensar nisso. É demais pra ela. Ela não está bem pra isso. Ela não está bem pra nada. Mas ela não vai dizer isso à Raven. Então ela mente.

— Sim.

— Você sabe que pode me falar se não estiver.

— Eu sei.

— Não há nada de errado em falar sobre o que está sentindo.

— Eu sei, Raven.

— Clarke - Raven insiste

— O que você quer que eu diga? Que eu não estou bem? Que eu choro toda noite antes de dormir? Que às vezes eu não atendo minha mãe porque eu não consigo falar uma palavra sem desabar?

— Clarke!

— Eu fui embora, Raven. Eu escolhi isso. Eu o deixei.

A última frase é pouco mais que um sussurro. E Clarke não tem certeza se Raven escutou até ela dizer:

— Eu sei, Clarke. Eu sei.

Raven fica em silêncio, enquanto Clarke chora do outro lado da linha.

 

:::::::::

 

 

O dia amanheceu ensolarado e frio. Clarke trocou seu pijama fino pelas roupas de frio e se preparou para sair de casa, vestindo um casaco preto pesado que tinha pendurado ao lado da porta dois dias antes, ao voltar de seu jantar de aniversário. Ao acordar, Lexa sugeriu que tomassem café da manhã no aeroporto e ela apenas concordou em silêncio, sentindo como se todas as palavras que tentava dizer ficavam presas em sua garganta.

No momento em que saiu pela porta de entrada do edifício que moravam, Clarke sentiu o ar frio em contato com seu rosto, que era a única parte de seu corpo que não estava coberta por camadas de roupas. O frio de novembro não era agradável, mas pelo menos não era cortante como o de janeiro e fevereiro, bem na época em que ela se mudou pra Polis. O clima de lá era bem diferente das temperaturas da Califórnia. Ela sentia falta do calor, do verão de verdade, da temporada dos biquínis. Ela sentia falta da praia, das noites quentes de verão e de sentir a brisa suave em seu rosto pela manhã. Mas, ela tinha que admitir, ela não sentiria falta alguma do frio, mas sim da neve. Ela amou a neve desde a primeira vez que a viu, há três anos, uma semana depois de se mudar para o Canadá. Ainda não tinha nevado nesse inverno, e ela realmente queria ter visto a neve uma última vez antes de ir embora.

 

::::::::::

 

Ela acorda com a claridade entrando pelas janelas do seu apartamento. Não é o sol, apenas a luz natural do dia. Clarke olha para o relógio de seu criado-mudo e se surpreende ao encontrar os números 12:19 piscando. Ela se levanta e vai ao banheiro, e antes de lavar o rosto, olha no espelho e pode ver o caminho que as lágrimas fizeram em suas bochechas na madrugada, durante o telefonema de Raven. Depois do que ela acredita que foram horas, ela acabou adormecendo. Seu coração dói, novamente, ao pensar em sua casa, e em Bellamy. Mas ela não tem direito de sofrer, foi escolha dela. Ela deveria estar feliz. E então ela quer chorar, ao pensar em quão feliz ela era. E o pior de tudo, é que ela sabia e foi embora mesmo assim.

Clarke pode sentir seu estômago roncar, e pensa se vai tentar cozinhar ou só ligar pra um restaurante que entregue.

Logo após escovar os dentes, Clarke pega os panfletos dos restaurantes que conhecia e escolhe o do restaurante chinês, enquanto caminha até a janela. É quando ela vê. Os pequenos flocos brancos caindo do céu e parando na rua que já está cheia deles. O topo dos carros cobertos por uma camada fina e clara de neve. Neve. Clarke está vendo a neve.

Sem pensar duas vezes, tira a roupa de dormir e veste apenas uma calça jeans e uma blusa de lã, deixando o panfleto que segurava caído no chão. E então desvia das caixas restantes de sua mudança para chegar na porta de seu apartamento e vestir o casaco pesado e as botas. Clarke desce correndo as escadas, muito ansiosa para esperar pelo elevador, e anda rapidamente pelo hall, dando apenas um aceno e dizendo boa tarde ao porteiro, que abre a porta pra ela.

O vento gelado e cortante a atinge e ela treme a cada rajada. Ela quase se arrepende por não ter colocado mais roupas. Mas assim que o primeiro floco de neve pousa em sua mão estendida, ela simplesmente não se importa. Não se importa de estar parecendo uma criança com as duas mãos estendidas no meio da calçada. Não se importa de estar com o cabelo preso em um coque bagunçado. Não se importa de não estar usando luvas, um cachecol, ou uma touca por baixo do capuz do casaco. Ou com a dor que se instala em seu peito cada vez que pensa em Bellamy. A única coisa com que se importa são os pequenos flocos de neve que pousam em suas mãos, seus cabelos e em todos os outros lugares perto e longe dela.

Clarke tem um sorriso no rosto até que o pensamento a atinge como um soco no estômago.

A neve seria ainda mais bonita se ele estivesse aqui com ela.

 

::::::::::

 

Depois de despachar as malas com Lexa, Clarke pede um doughnuts e um café no Starbucks do aereoporto. Ela estava tão nervosa, que chegou a duvidar que conseguiria comer a rosquinha inteira, mas acabou conseguindo.

— Você tem certeza de que não quer mais nada? - Lexa pergunta, uma última vez antes de se levantar da cadeira.

— Sim - Clarke responde, e toma o último gole de seu café.

Ela coloca as luvas de volta e levanta, pegando sua bolsa. Seu casaco agora está aberto, porque a temperatura dentro do aeroporto é maior que lá fora. Ela já tirou sua touca e afrouxou o cachecol no pescoço, mas suas mãos estão sempre frias, então as luvas são indispensáveis no frio.
Clarke está esperando Lexa do lado de fora do banheiro público quando a primeira chamada para seu voo é anunciada. Antes, ela teria ido chamá-la e dizer pra se apressar, mas desde que começou a namorar Lexa, Clarke passou a conhecer bem aeroportos. Ela já esteve neles tantas vezes, indo para diversos lugares do mundo com sua namorada, que acabou aprendendo várias coisas. Como, por exemplo, quanto tempo elas tem antes da próxima chamada.

— Foi nosso voo que chamaram? - Clarke escuta Lexa perguntar ao sair do banheiro.

— Sim. Você está pronta?

— Estou. Acho que só vou comprar um Skittles na lojinha do portão de embarque.

— Que novidade, Lexa. Você comprando balinhas - Clarke revira os olhos, sorrindo, enquanto começa a andar.

— Primeiro: Skittles não são balinhas. Segundo: você nem pode reclamar, vive comendo as "balinhas" que eu compro - Lexa retruca, fazendo sinal de aspas com os dedos e com um sorriso divertido no rosto.

— Que injustiça. Eu só como as de morango - Clarke vira pra encará-la, levantando as sobrancelhas, fingindo indignação.

— Ok, Clarke. Você só come as de morango - a morena olha pra Clarke, que tem um sorriso vitorioso nos lábios.

Elas caminham até o portão de embarque em silêncio, param para comprar as balinhas e quando chegam, a terceira chamada já está sendo feita. Ela entrega a passagem e o documento de identidade e entra no avião, seguida por Lexa. O avião está mais quente que o aeroporto e Clarke sente as mãos suando dentro das luvas. Ao chegar na poltrona, ela tira o casaco, as luvas e o cachecol e os coloca dentro de sua mala de mão, deixando apenas o casaco de fora e observa Lexa colocar suas bolsas no bagageiro e fechá-lo, com um baque seco.

— Vou ficar na janela - Clarke diz, entuasiasmada.

— Que novidade, Clarke. Você sentando na janela - Lexa imita o gesto de Clarke e sorri, esperando sua reação enquanto senta na poltrona.

Clarke ri levemente, e então morde o lábio inferior e inclina-se para beijá-la.

— Primeiro: sentar na janela é muito mais legal. Segundo: você não pode nem reclamar, aposto que queria sentar aqui também - diz, logo após se afastar.

Clarke pode ouvir o salto da comissária de bordo em contato com o chão a cada passo que dá. Ela escuta as pessoas chegando e acomodando-se em seus lugares. E o que mais a chama atenção, Clarke pode sentir os olhos de Lexa nela.

— Eu te amo, Clarke - Lexa diz, de repente, e sorri, enquanto coloca uma mecha de cabelo loiro pra trás da orelha de sua namorada.

Clarke é pega de surpresa pelas palavras, mesmo tendo ouvido a frases várias vezes durante seu relacionamento, ela ainda se surpreende, mas ela não hesita nem um segundo ao falar:

— Eu também te amo, Lexa.

::::::::::

O voo é bem tranquilo. Ela joga conversa fora com Lexa e come os Skittles vermelhos, o que a faz relaxar um pouco. Ela gosta de viagens de avião, talvez seja porque ela sempre voa de executiva, ou porque ela sempre fica na janela. Mas ela gosta. Gosta das poltronas confortáveis e dos snacks oferecidos. Gosta dos sucos naturais que ela pode pedir e das diversas refeições que ela pode escolher. E dos cobertores fofinhos e dos travesseiros macios. E gosta de tirar uma soneca e acordar ouvindo o barulho do avião. Mas nesse voo, ela não dorme. Porque Lexa acabou adormecendo e ela ficou muito nervosa sem falar com ela. Clarke não consegue parar de pensar no que as pessoas vão falar, ou em como seus amigos vão reagir. No que Bellamy vai falar, em como ele vai reagir. Ela tenta afastar o pensamento no momento em que ele veio. Falhando miseravelmente. Seu coração pula em seu peito ao pensar em vê-lo.
Ela está agradecendo a comissária de bordo mentalmente quando ela dá o aviso para pouso, despertando Lexa.
Ela consegue ver o aeroporto cada vez mais perto. Da última vez que esteve nele, sua mãe a abraçou tão forte que Clarke achou que ela nunca mais iria soltar. Ela esconde a memória, e pode sentir o avião se inclinando para pousar.

— Não vai estar tão frio aqui. Acho que pode tirar umas camadas de roupa - Clarke aconselha, assim que pousam, enquanto tira sua blusa de lã. Ficando apenas com uma segunda pele de manga longa por baixo de uma blusa simples de algodão.

— Você não precisa usar o clima como desculpa para me fazer tirar a roupa, Clarke - Lexa brinca e encara a loira enquanto tira uma de suas blusas.

Clarke apenas revira os olhos e sorri.

— Que horas são aqui mesmo? - Lexa fala novamente.

— 11:30. Eu acho - Clarke responde.

— Nós vamos ter que ligar pra sua mãe quando pousarmos ou você disse a ela o horário?

— Eu disse que chegaríamos por volta das 11:30 e ela disse que vai estar no hospital até às 12:00. Então Octavia vem nos buscar.

— Nós poderíamos só pegar um táxi.

— Você realmente acha que elas iriam deixar?

— É verdade.

Quando Clarke percebe, todos já estão levantando-se para sair do avião. E então ela faz o mesmo. Você vai ficar bem. Ela pode sentir seu coração bater mais rápido a cada passo que dá. Está tudo bem. Ao desembarcar, ela sente o ar frio do outono da California e veste o casaco. Clarke pega suas malas na esteira enquanto Lexa faz o mesmo. Vamos lá. Ela as coloca no carrinho e se encaminha ao portão de desembarque. Um pé atrás do outro.

Por um momento, tudo o que ela pode ouvir são as batidas rítmicas e constantes de seu coração. Até que ela ouve alguém chamar seu nome. Uma voz familiar. Uma voz que ela não escuta há anos. A voz que ela reconheceria através do barulho de qualquer multidão. A voz que sussurrava coisas suaves em seu ouvido. Que dizia o quanto a amava da forma mais doce possível. Ela pode sentir uma pontada de dor que começa em seu peito e se espalha por todo o corpo. Eu senti falta da voz dele. Uma voz cujo dono ela só via em seus sonhos durante 3 anos.

— Bellamy.


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