Segredos do Destino escrita por Bia Oliveira


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Mais capítulo para vcs meninas! Comentem sobre pra qual direção vcs querem q estória vá!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/722133/chapter/9

Anastasia sorria olhando para as duas bandejas. As travessas e pratos de Christian estavam limpos, sem nenhum sinal do que havia antes.

— Sente-se melhor, Christian?

— Claro... — Ele assentiu com a cabeça. Segurando a caneca de café, recostou-se no travesseiro. — O café é ótimo!

— Quer mais um pouco?

— Sim. — Ele bebeu tudo e entregou a caneca. — Por favor. — Seus olhos brilhavam enquanto a fitava. Anastasia sorriu e deixou o quarto. Momentos depois, retornou com um bule de vidro pela metade.

— Não é bom para você... você sabe! — ela anunciou, enchendo as duas canecas com o líquido escuro.

— Por quê?

— Por causa da cafeína, é claro. Afeta os nervos.

— Não tenho nervos — ele declarou. — E está com um cheiro muito bom... Anastasia sorriu, concordando.

— As enfermeiras fazem um café gostoso.

— Eu não falava do café — ele comentou, sorrindo ao tomar um gole. — Embora também esteja bom. Anastasia sentiu um leve arrepio percorrendo-lhe a espinha.

— A que se referia, então? — ela perguntou, apesar de suspeitar da resposta. Os olhos de Christian adquiriram um brilho sensual.

— A você... esse seu perfume é delicioso! — A voz dele se tornou baixa e rouca. — Me faz pensar em noites suaves... cheias de luar. Eu gosto... do cheiro, e da sensação que me dá. A emoção de Anastasia intensificou-se.

Determinada a não pensar em noites de luar, temendo uma reação proporcional ao elogio, ela avançou para sentar-se na cadeira ao lado da cama, mas não conseguiu conter um suspiro espantado quando ele a segurou pelo pulso.

— Você também está emocionada, não é? — A voz dele estava mais baixa e rouca que antes.

— Não! — ela exclamou, enfatizando a negação balançando a cabeça. — Não sei o que você quer insinuar. Excitada, ela tentou libertar o pulso. Christian apertou os dedos, sem causar dor, mas de um modo estranhamente seguro e sensual.

— Negue outra vez, se for capaz. — Christian sorriu, tomando dois longos goles do café e deixando a caneca ao lado da outra na bandeja. — Fique mais um pouco aqui comigo — ele suplicou, segurando-a pelo braço. O coração de Anastasia disparou. Aquele homem, perigosamente atraente, aniquilava o bom senso dela. Mas logo Anastasia controlou a emoção, usando de toda sua força de vontade, e lançou-lhe um olhar de reprovação.

— Pode largar meu braço, por favor? Christian, então, soltou-lhe o pulso. — Você fala tanto que provavelmente o ferimento abrirá de novo... — ela interrompeu, afastando-se da tentação.

— Não vai acontecer isso. Estar ferido nunca atrapalhou minha vida! Anastasia o encarou boquiaberta.

— Já foi baleado antes? Ele concordou com um gesto de cabeça.

— Duas vezes. Uma na perna e a outra no ombro.

— É incrível!

— Não muito. Sou um homem da lei, afinal. As palavras impressionaram Anastasia. Homem da lei? Ouvira pela última vez a expressão "homem da lei" num filme de cowboy na televisão.

— Ah... sei! Isso explica tudo!

— Claro. — Ele sorriu.

— Além disso, estou me sentindo cada vez melhor. A refeição resolveu o problema.

— Então gostou da comida?

— Foi o melhor jantar de Natal desde que saí da casa de meus pais. Anastasia espantou-se.

— Natal? Que Natal maravilhoso foi esse?

— Quando eu tinha dezessete anos, no verão de setenta e um. — Ele sorriu desafiador. — Em 1871. Tudo aquilo, ouvido de repente, provocou um tremor em Anastasia. Embora tensa, resolveu enfrentar os olhos de Christian e fazer um apelo:

— Por favor, não comece com isso outra vez.

— Começar o quê?

— Essa bobagem de datas malucas!

— Mas não há bobagem nisso. Sei em que ano nasci. Sei em que ano deixei minha casa. E também sei quando e onde aconteceu a emboscada. Fui baleado à noite, na véspera do Natal de 1889, ou seja, ontem à noite. Como Anastasia era cirurgiã, e não psiquiatra, não sabia ao certo como lidar com a aparente ilusão dele, mas sentia que devia abrir os olhos de Christian, no mínimo porque, em todos os outros sentidos, ele parecia equilibrado. Agindo intuitivamente, ela se virou em direção à porta.

— Aonde você vai agora? — ele quis saber.

— Buscar provas de que você não está nada correto nas datas. Voltarei num minuto. Anastasia foi até a sala das enfermeiras e, como esperava, encontrou um jornal. Momentos depois voltava para o quarto. — Pronto — anunciou com vigor, batendo o jornal, com a primeira página para cima, sobre a cama. — Esta é a edição especial de Natal — continuou, apontando o cabeçalho. — Por favor, leia a data. Depois de lhe lançar um olhar duro, Christian olhou para o jornal. Um tremor, visível e intenso, percorreu-lhe o corpo. Quando ergueu a cabeça outra vez, estava pálido, e os olhos azuis brilhantes demonstravam a enorme confusão interior.

— Não... entendo! É impossível...

— Eu também não entendo esse mistério! Não imagino de onde tirou a ideia de que estamos em 1889, nas montanhas de Montana! — Mais uma vez ela apontou o jornal. — Como pode ver, este jornal tem data e local de publicação também. Christian, a polícia o encontrou totalmente estirado no meio da rua. Agora você está num hospital de Conifer, na Pensilvânia. Christian não olhou mais para o jornal, mas continuou encarando-a enquanto balançava a cabeça devagar.

— Na rua... no Estado da Pensilvânia?

— Exatamente. Ele ficou curvado por um instante antes de recostar-se no travesseiro. Permaneceu calado por vários segundos, como se tentasse assimilar aquelas informações. Quando ergueu a cabeça outra vez, seu olhar tornara-se frio.

— Você acha que sou louco e preciso de um médico de loucos, não é?

— Absolutamente — Anastasia negou, com uma rapidez que esperava ser tranquilizadora. — Acredito que sua mente provavelmente ainda está em choque devido à combinação do ferimento e da exposição ao frio e à umidade.

— Mas, doutora, não estou confuso sobre o que aconteceu, nem onde ou quando. As únicas coisas que me confundem são as que têm acontecido desde que acordei.

— Mas você sabe que hoje é dia de Natal? Christian a encarou com uma expressão impaciente.

— Sim, sei que hoje é Natal. — Sua voz estava forte e as feições tensas, eliminando a expressão de incerteza e derrota. Sentando-se ereto, endireitou os ombros. — Também sei que fui baleado na noite passada, véspera de Natal, e que estamos no ano de 1889. Só não sei como vim de Montana para cá... ou por que não estou morto. O suspiro de Anastasia revelava o quanto se sentia frustrada; a maneira como passou a mão no cabelo comprovava. Por alguma razão, Christian tinha certeza de ser de outro lugar e século.

E a menos que conseguisse convencê-lo a encarar a realidade, e logo, ela sabia que não teria muita escolha senão apelar para a ajuda de um psiquiatra. Ela sempre tivera a maior estima pela psiquiatria e pelos colegas daquele ramo científico; em qualquer outra ocasião, com qualquer outro paciente, não hesitaria em pedir auxílio a um especialista. Contudo, parava para refletir. Notara o temor de Christian e interpretara corretamente sua linguagem corporal e expressão facial quando ele lhe perguntara se ela acreditava que era louco. Na opinião profissional de Anastasia, Christian Gray reagiria à presença de um psiquiatra da mesma forma que uma cascavel pronta para o bote.

Anastasia então decidiu que, pelo menos por algum tempo, improvisaria. Mas como e por onde começaria? Fitando-lhe a expressão desconfiada, concluiu que o caminho mais suave não surtiria resultados com ele. Christian era durão e, em sua opinião, requeria uma forma atenuada de tratamento de choque. Testando sua teoria, ela apanhou o controle remoto da televisão e apertou o botão de ligar. Quando a tela se iluminou e as vozes de um coro ressoaram nos alto-falantes, Anastasia ficou espantada e fascinada com a reação de Christian. Arregalando os olhos com inconfundível choque, fazendo uma careta, Christian arrastou-se para trás, como se tentasse fugir do perigo passando pela cabeceira da cama, encostando-se à parede, com a respiração ofegante e rápida.

— Que diabo está acontecendo! — ele exclamou, fitando a tela com uma expressão de pura descrença. — Como esse pessoal consegue aparecer dentro dessa caixa? Sob outras circunstâncias, aquela reação talvez fosse engraçada. Mas o medo visível oferecia pouca margem ao humor. O medo e assombro em seu rosto de traços fortes não davam chance a riso. Anastasia sentia intuitivamente que ele não fingia. Estava convencida de que aquela reação era um reflexo genuíno dos sentimentos dele. Ao mesmo tempo, no fundo, Anastasia suspeitava de que tudo que ele lhe dissera sobre sua origem era verdade.

— Não há ninguém dentro dessa caixa, Chris. Ele lhe lançou um olhar confuso.

— Então como aparecem aí? — Ele parou, olhando para a televisão.

— Como posso vê-las? Como funciona?

— Não sei como funciona — ela admitiu, impaciente com a própria ignorância. — Mas isso não é importante agora. Christian parecia vidrado no programa de Natal.

— Hein? — Christian virou o rosto e piscou. — Oh, sim, você também não sabe como funciona. Eu também não sei como os automóveis a vapor funcionam, mas vi um. — Ele ergueu as sobrancelhas.

— Você já viu algum?

— Se vi um automóvel? Christian assentiu com a cabeça.

— Eu tenho um carro. Christian franziu a testa.

— Não imagino como alguém pode querer um automóvel. Eles fazem um barulho infernal. Anastasia sentiu um arrepio estranho por todo o corpo ao notar outra vez que ele não fingia nem fazia brincadeira de mau gosto. Christian falava sério. "Talvez", ela ponderou, sentindo-se derrotada, "seja melhor pedir auxílio psiquiátrico."

— Por que me olha assim? — ele quis saber, tirando-a do devaneio. — O que planeja dentro dessa cabeça linda? Diante dessas palavras, o primeiro pensamento que cruzou a mente de Anastasia foi: "Ele me acha mesmo atraente?" Em seguida ela se recriminou. Que diferença fazia se ele a achava ou não atraente? Sua aparência tinha pouco a ver com o assunto. Ainda assim, um arrepio de prazer a invadiu.

— Não estou planejando nada. Tento apenas descobrir o que você espera ganhar alegando ter sido baleado em Montana em 1889. Christian sentou-se ereto para lançar-lhe um olhar duro.

— Pretendo — ele anunciou num tom duro e ameaçador — descobrir algum sentido nesta história maluca. Anastasia sentiu a fúria do olhar dele. Com medo de estar lidando com um lunático, ela ergueu as mãos num gesto pacífico.

— Está bem, acalme-se.

— Não sou criança que precisa de papinha na boca e de canções de ninar — ele rosnou, lançando-lhe um olhar fulminante.

— Traga minhas coisas!

— O quê? — ela indagou, surpresa.

— Por quê?

— Quero minhas coisas agora! Anastasia sequer tentou recusar o pedido. Levantou num pulo e foi até o armário, onde estavam as roupas, o chapéu e as botas num saco plástico grande na primeira gaveta. Sem parar para examiná-los, apanhou tudo e franziu a testa diante do peso do saco plástico, depositando tudo sobre a cama.

— Obrigado — Christian murmurou com sarcasmo.

— Disponha. — Anastasia imitou o tom dele.

— Posso saber o que pretende fazer com isso?

— Vou lhe dizer. Pretendo sumir daqui.

— Mas não pode! — ela gritou em protesto.

— Não? — Ele sorriu com ironia. — Então espere... Anastasia não duvidou dele, mas também sabia que precisava detê-lo.

— Não esqueça do ferimento — ela murmurou, infundindo autoridade no tom de voz.

— Não está em condições de deixar o hospital. Christian moveu o ombro e fez uma careta de dor.

— Já viajei com ferimentos piores. — Ele a encarou com um olhar quente e brilhante.

— É uma pena, mas preciso ir embora. Você é tentadora e eu gostaria muito de conhecê-la melhor... — E suspirou. — Mas prefiro perder a chance porque não suporto ficar aqui ouvindo você me chamar de mentiroso.

— Mas isso não aconteceu! — Anastasia negou com determinação.

— Talvez não tenha dito diretamente, mas não sou estúpido. Às vezes meia palavra basta. Você acha que sou mentiroso ou louco, não é verdade? Ela balançou a cabeça:

— Não! Acho que você ainda está sob efeito do... — De repente se calou, pois ele ergueu a mão, num gesto furioso.

— Não estou em estado de choque. Estou lúcido e com as idéias em ordem. E vou embora daqui. — Christian pegou as roupas que estavam sobre a cama.

— Mas você vai para onde, Christian? Ele, segurando as roupas, ergueu o olhar preocupado.

— Diga-me com sinceridade, estamos mesmo na Pensilvânia? — O tom de incerteza dele lhe partia o coração. Anastasia suspirou. Ela não tinha mais certeza sobre quem estava mais desequilibrado. Sentia que não conseguiria mais suportar a incerteza da voz dele. A situação inteira era uma loucura. Contudo, o desejo de tranqülizá-lo a invadia, no mínimo para devolver-lhe o brilho nos olhos.

— Sou tão mentirosa quanto você, Christian — ela murmurou suavemente. A expressão dos olhos dele a arrasava.

— Por que fez isso, Ana? Diante do tom de súplica, Anastasia ergueu as mãos, depois as abaixou num gesto impotente.

— Como posso explicar? — Christian abriu a boca para falar, mas ela o silenciou com um movimento de cabeça.

— Não estou dizendo que você está mentindo. — Ela sorriu, enquanto suspirava. — Por que você não me conta exatamente o que aconteceu, com todos os detalhes? Quem sabe assim conseguimos entender o que está havendo?

— Está bem, concordo. — Christian suspirou. A história durou quase duas horas. Christian começou, num tom cansado e sem inflexão, a narrativa, falando do dia de seu nascimento, em junho de 1854. Evitando interrompê-lo, Anastasia ouvia tudo assombrada enquanto Christian relatava as condições frequentemente perigosas da expansão e desenvolvimento do Oeste na segunda metade do século XIX.

Mesmo contra sua vontade, Anastasia ficou envolvida com a história. Enternecia-se, sentindo o desespero e a impotência de Christian enquanto ele narrava a morte do pai sob as patas de um cavalo enfurecido. Chorou com a história do garoto de sete anos tentando reduzir a sobrecarga da mãe enquanto ela envelhecia rápido, esforçando-se para conseguir manter a família e administrar um rancho pequeno e improdutivo.

E Anastasia sentia-se ao lado dele, sob o sol de verão, enquanto Christian, com a expressão rígida e fechada escondia a agonia interior, acompanhava o sepultamento da mãe. Anastasia sabia que ele se aproximava do fim da história, pois ele falou da missão de capturar um assassino perigosíssimo nas montanhas Anaconda, em Montana. A descrição daquela véspera de Natal era tão intensa, o desespero e revolta pela necessidade de prender o criminoso tão fortes, que Anastasia arrepiou-se de frio e sentiu angústia. Christian a fitou com um olhar triste.

— Eu estava... tão cansado de viver seguindo rastros e sempre preocupado com as costas, sempre olhando para trás. Havia decidido deixar aquele tipo de trabalho, me afastar daquilo tudo, recomeçar. — Ele sorriu com ironia. — Eu caminhava para a igreja no alto da colina na véspera de Natal. Ia suplicar ao Senhor por um recomeço, por uma vida decente. Em vez disso, levei uma bala no peito. Quem sabe, era o cartão de visita do Senhor.

— Não! Você está aqui, vivo!

— Sim, estou aqui e vivo, mas como vim parar nesta cidade? — Ele não a deixou responder. — Por que estou vivo? Anastasia lembrou-se de tê-lo ouvido fazer a mesma pergunta antes, e voltou-lhe à mente a primeira vez que o vira na rua, com o olhar parado na direção do céu. Lembrou-se também da resposta de um dos policiais ao comentário do parceiro sobre os olhos da vítima. "É claro que os olhos estão frios. Ele está morto." Ela própria acreditara que Christian estivesse morto, Anastasia recordou-se... e ela era médica! Aquilo tudo não tinha sentido. Nada fazia sentido.

Ali estava ele, muito vivo, e contudo um tanto fora de sincronismo... fora do tempo. Anastasia apostaria sua reputação profissional como Christian não mentia nem se iludia. Anastasia precisava solucionar o enigma de Christian Gray, mas ao mesmo tempo receava conhecer a inacreditável resposta. "Um homem fora do tempo", pensava Anastasia.

A frase ecoava em sua mente, enquanto ela fitava os olhos de Christian, o estranho, sentado rígido, expressando expectativa incontida. Seria possível?, perguntou-se, enquanto a certeza daquela possibilidade crescia dentro dela. Mas como? Ele fez uma viagem no tempo? Enquanto buscava explicações, as palavras de Christian voltaram-lhe à mente: "Ia suplicar ao Senhor por um recomeço, uma vida decente". Anastasia sentiu um nó na garganta e engoliu em seco. O Senhor teria atendido àquele pedido?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não se esqueçam de comentar, beijos! ;)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Segredos do Destino" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.