Segredos do Destino escrita por Bia Oliveira


Capítulo 7
Capítulo 7




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Com a bandeja de comida nas mãos, Anastasia parou ao lado da cama fitando o paciente adormecido. Por mais que sua aparência fosse vigorosa, o estranho transmitia um ar indefeso, vulnerável, enquanto dormia.

Os cílios longos tocavam as cavidades sombreadas dos olhos, atenuando as linhas duras dos malares e do queixo rígido. A palidez da enfermidade era visível sob o bronzeado da pele. Anastasia sorriu com ternura ao deixar a bandeja de lado. O desconhecido tinha uma aparência dura.

Contudo, algo nele a tocara de um modo estranho e inexplicável. Ela não o conhecia, mas isso não importava. Desde o instante em que fitara pela primeira vez seus olhos azuis e cristalinos, desejara que ele vivesse, com todas as forças de seu ser, e com uma sensação de desespero maior do que tudo que já sentira por qualquer paciente. Anastasia sentiu-se esgotada diante do alívio que a invadiu.

Não entendia suas emoções e estava cansada demais para examiná-las. Era suficiente, no momento, saber que ele viveria, graças a sua perícia como cirurgiã... e talvez a suas secretas preces fervorosas. Somente então Anastasia descobriu que em seu íntimo rezara com empenho como nunca fizera na vida. Espantou-se, pois nem era uma pessoa religiosa.

Balançou a cabeça, sorrindo com ar zombeteiro. Ela... rezando? Incrível! Sim, era ela. Contudo, também não sabia, por experiência própria, de pacientes que se curaram desafiando a realidade? Sempre havia a possibilidade do imprevisto, ou, por falta de outra explicação lógica, um milagre ocasional. Agora, exausta, Anastasia deu de ombros.

Quem conhecia essas respostas? Apesar de não haver provas concretas que atestassem a existência de um Criador, como verdade absoluta, também não existiam provas que o negassem... "Puxa! Estou cansada!", Anastasia pensou, desviando o olhar do rosto cativante do estranho. Quando começava abstrair, era hora de descansar a mente e o corpo, decidiu.

Virou-se e foi para a porta. Levou menos de cinco minutos para tirar o uniforme verde e colocar o vestido que escolhera para o jantar da noite anterior. Vestindo o casaco, dirigiu-se para as portas de vidro e, quase na saída, alguém a chamou:

— Dra. Steele, espere, por favor! Era a recepcionista da entrada principal. A mulher parecia atarefada, respondendo perguntas de um grupo. Contendo um suspiro, Anastasia virou-se para a outra mulher.

— Sim? — Gostaria de obter informações sobre o homem que entrou pela Emergência ontem... "Malditos regulamentos, burocracia e papelada", Anastasia reclamou em pensamento. Cansada a ponto de mal conseguir manter-se ereta, controlou a irritação, lembrando-se de que a recepcionista apenas cumpria sua obrigação. Conseguiu forçar um sorriso para a moça constrangida.

— Eu sei. Mas ele ainda não ficou consciente o bastante para dar informações. Precisa logo disso? A recepcionista retribuiu o sorriso.

— É claro. Posso mandar alguém preencher os formulários, quando ele acordar?

— Não. Voltarei à tarde e conseguirei as informações para você. — Anastasia sorriu com um ar conspiratório.

— Pode aguardar até eu voltar?

— Está bem... vou alegar excesso de trabalho. — A mulher fingiu uma expressão indefesa. Rindo, Anastasia empurrou a porta de vidro, recebendo o vento frio contra o rosto.

— Feliz Natal, doutora — um funcionário despediu-se. Retribuindo os votos, ela saiu para a fria manhã de inverno. Após depositar uma camada de mais de trinta e cinco centímetros de neve no chão, a tempestade seguira seu caminho, e o reflexo do sol no manto branco ofuscava-lhe os olhos.

Anastasia apertou o casaco contra o corpo e foi para o estacionamento do hospital, esperando que alguém tivesse retirado seu carro de onde o deixara, diante da entrada de emergência. Não se enganara; encontrou o carro livre de neve, na primeira vaga da área reservada para os médicos.

— Feliz Natal, doutora — murmurou o velho na cabine do portão do estacionamento, enquanto ela esperava a abertura da cancela. A saudação ecoou na mente de Anastasia, fazendo-a lembrar-se de sua promessa para a ceia de Natal na casa dos pais de Richard.

Richard a apanharia em seu apartamento às seis horas daquela tarde. E, por outro lado, ela prometera voltar ao hospital ainda naquela tarde. O que fazer? Devia telefonar para Richard e pedir que ele a apanhasse no hospital? Ou cancelar o compromisso? A dúvida torturante a acompanhou até seu apartamento. Ao abrir a porta, uma visão inesperada do estranho deitado numa cama de hospital, sozinho e vulnerável, invadiu-lhe a mente.

Ao mesmo tempo, lembrou-se do tom possessivo e autoritário da voz de Richard durante o jantar. Deixando o casaco e a bolsa na cadeira mais próxima, ela começou a despirse enquanto caminhava para o quarto. Mantinha os ombros baixos de cansaço, seus olhos ardiam, e a mente parecia entorpecida. Precisava dormir, no mínimo doze horas.

Olhando o relógio de cabeceira descobriu que eram dez horas da manhã. Portanto, teria de se satisfazer com um cochilo de menos de cinco horas. Dando de ombros, apanhou o telefone. A primeira ligação foi para o serviço de despertador, pedindo para acordá-la às quatro horas.

A segunda foi para Richard, que não ficou nada contente com o cancelamento do encontro e tentou discutir enquanto ela se sentia inclinada a deixá-lo falando sozinho. Anastasia conteve o impulso, mas apressou o fim da conversa.

— Lamento, Richard — ela murmurou com sinceridade. — Mas, se você se lembra, eu sempre lhe disse que meus pacientes vêm em primeiro lugar... Minutos depois, Anastasia dormia profundamente.


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