Segredos do Destino escrita por Bia Oliveira


Capítulo 6
Capítulo 6




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Christian moveu-se com impaciência. A dor irradiou-se pela parte superior direita de seu corpo. Então ficou imóvel. Nesse momento, o agradável som da voz de Anastasia ecoou. Ela estava lá! Aquela voz suave, o seu anjo voltara...

— Como está se sentindo agora?

— Meu ombro dói — Christian respondeu, chocado com o som fraco e trêmulo de sua voz.

— Ficará assim por alguns dias. — O sorriso dela era gentil e compassivo.

— Vou examiná-lo agora...

— Me examinar! O que quer dizer? — Ele estreitou o olhar quando ela ergueu as mãos e tocou um aparelho tubular no pescoço.

— O que é isso?

— Isso? — O suposto anjo franziu a testa, enquanto instalava as pontas do aparelho nos ouvidos.

— É um estetoscópio. Com certeza já viu um antes, não? — Ela arqueou as sobrancelhas, com uma expressão admirada.

— Não. O que se faz com isso?

— Permite que eu acompanhe seus batimentos cardíacos — ela explicou, demonstrando ao apoiar um disco de metal da outra ponta dos tubos no peito dele. Christian estremeceu.

— Está frio. O que você ouve? — indagou curioso.

— Batidas fartas e saudáveis — ela respondeu, deslizando o disco para outra parte do peito. — E seus pulmões estão limpos. — Ela sorriu, enquanto tirava o aparelho dos ouvidos. — Aliás, você está melhor do que se esperava. Christian teve uma surpreendente sensação de vazio que o confundia. Talvez não estivesse morto, afinal. Um homem não tinha necessidades físicas depois da morte... tinha? Tudo sobre sua situação era estranho, ele refletiu.

— Estou com sede e fome.

— Excelente sinal. Vou lhe dar um pouco de água, mas pela comida terá de esperar um pouco. Vão mudá-lo daqui a pouco.

— Mudar para onde? Onde estou?

— Numa UTI. A resposta rápida apenas aumentou a confusão de Christian. Ele sentiu a própria expressão vazia.

— O que é UTI?

— Unidade de Terapia Intensiva. Você está num hospital... onde foi submetido a uma cirurgia para remover uma bala de seu peito, há cinco horas. A menção da palavra "bala" trouxe de volta a lembrança de um forte impacto. O eco de uma voz áspera chamando seu nome reverberou em sua mente.

Christian lembrou-se, de repente, de que havia sido numa véspera de Natal. Nevava. Ele caminhava em direção à igrejinha, levando uma promessa de esperança, quando o som de seu nome rompera o silêncio da noite e um disparo ecoou. Uma emboscada! Revivendo o incidente, Christian deslizou a mão direita até a coxa, encolhendo-se quando a dor percorreu seu braço até o ombro. Ignorou a dor quando percebeu que sua coxa estava nua.

O revólver desaparecera! Alguém retirara sua arma, e sem ela ficava vulnerável, incapaz de defender-se. Estreitando os olhos com um ar frio e ameaçador, fitou a mulher.

— Onde está? — Sua voz ganhara força, e estava tão fria e ameaçadora quanto o olhar. A mulher ficou perplexa.

— Onde está... o quê?

— Minha arma.

— Ah... sim! — Ela moveu os ombros num gesto delicado. — Está com suas coisas que, garanto, lhe serão devolvidas. Sua mente clareava, tornava-se mais aguda, e os efeitos do sedativo passavam. Assim ele começava a tomar consciência do ambiente e de si mesmo.

— Que diabo é isto? — Ele moveu a mão, da coxa para o tubo preso às costas da mão esquerda.

— Não toque! — A mulher segurou-lhe a mão. — E não force o braço direito. Pode abrir o ferimento outra vez, Christian estreitou os olhos ainda mais.

— O que é isto? — ele quis saber, num tom impaciente.

— É o tubo intravenoso, é claro. — O tom dela também revelava uma paciência prestes a esgotar-se. Ele não entendeu, mas não era nenhuma novidade. Não entendia quase nada do que ouvira desde o momento em que acordara. E, enquanto sua mente clareava, a suspeita de não estar morto se fortalecia. Comprimindo os lábios na determinação de obter esclarecimento, respirou fundo.

— Você é um anjo ou enfermeira? — Anjo ou enfermeira? Por um momento ela pareceu espantada. Então riu, produzindo um som suave e encantador.

— Não sou enfermeira nem anjo.

— Então... não estou morto... nem no céu! Ela parou de rir e sorriu com compaixão.

— Não, você não está morto. Christian experimentou sensações conflitantes de alegria e de vaga decepção. Balançou a cabeça para tentar livrar-se da confusão mental, suspirando.

— Então... onde estou? Quem é você?

— Como já lhe disse, está na sala de recuperação de um hospital — ela explicou num tom afetuoso, provocando arrepios ao longo da espinha de Christian.

— Sou a Dra. Anastasia Steele... a cirurgiã que retirou a bala de seu peito. Os arrepios na espinha dele se intensificaram, mas por uma razão bem diferente.

— Você é médica... cirurgiã?

— Sim. Sou médica... — ela imitou o tom incrédulo dele com um sorriso — cirurgiã. Agora, não me diga que nunca tinha visto uma médica! Era exatamente o que Christian estava pensando, mas as duas mulheres e o homem próximos a sua cama o distraíram.

— Hora de mudar, vaqueiro — o homem anunciou, sorrindo. Sem saber do que o homem estava falando, Christian lançou um olhar desamparado para seu "anjo", que alegava ser, quem diria, uma médica!

— Vão transferi-lo para um outro quarto — ela explicou.

— Por quê? O que há de errado neste quarto?

— Nada — ela respondeu, fuzilando com o olhar os outros que riam.

— Este quarto é para os pacientes operados necessitando de cuidados constantes. — Ela sorriu. — E acabo de rebaixar sua condição de crítica para grave.

— O que isso quer dizer? — Christian indagou, sentindo-se estúpido e detestando a situação.

— Quer dizer que você vai mudar de quarto. — Ela fez um sinal afirmativo com a cabeça para o trio.

— Não quero... — Se cooperar, providenciarei comida para você tão logo esteja instalado. Christian decidiu cooperar, mas não antes de conseguir uma concessão da parte dela.

— Irá comigo?

— Sim — ela respondeu num tom indulgente. A atividade a seguir atordoou Christian. Ele foi transferido com cuidado para algo parecido com uma cama estreita, cujas laterais de metal levantavam-se como as de uma cama de criança. Então, foi levado, com aquele tubo preso à mão, ao longo de um corredor largo e bem iluminado.

Todos os músculos de Christian retesaram-se quando o levaram para dentro de uma salinha com portas que corriam. Sentiu um frio no estômago quando a "salinha" começou a descida lenta e suave. Desconcertado com o espantoso quarto móvel, Christian ficou fascinado demais com tudo para fazer qualquer coisa senão olhar ao redor, tentando observar todos os aspectos. Embora a viagem de um andar a outro não fosse longa, para Christian representou um salto gigante no tempo e no espaço.

Acomodado então no conforto do novo quarto, ele se sentia esgotado.

— É agradável — ele admitiu quando o pessoal saiu.

— Eu sei — Anastasia comentou num tom divertido.

— É bem claro aqui...

— Sim. Notando o discreto ar divertido na voz dela, Christian estreitou os olhos e a encarou.

— Acha isso engraçado, doutora? Ela balançou a cabeça e mordeu o lábio inferior.

— Desculpe.

— Lembra-se de que me prometeu uma refeição?

— E sempre cumpro minhas promessas. — Virando-se, ela foi para a porta. — Voltarei logo. Ele abriu a boca para protestar contra a saída dela, mas já era tarde; ela partira.

Desapontado, Christian olhou ao redor, admirando-se com a aparência alegre e limpa do quarto. Nunca entrara num hospital antes, mas ouvira falar a respeito, embora nenhuma descrição se comparasse ao que via. E o detalhe mais surpreendente de todos: aquele prédio, obviamente grande e novo, localizava-se nos contrafortes das montanhas Anaconda, em Montana.

Diante de tantos pensamentos confusos, Christian desviou o olhar, parando numa pequena caixa com uma janela sobre uma prateleira na parede. "Que será?", perguntou-se, soltando um suspiro cansado. Que utilidade teria? Esforçou a mente em busca de uma função possível para a caixa, mas não conseguiu explicação para o estranho objeto.

De repente, sua cabeça ficou pesada, e o ombro doeu. Esfregando o curativo sobre o ferimento no peito, com ar distraído, Christian apoiou a cabeça no travesseiro macio o continuou fitando a estranha caixa. "Lugar estranho...", pensou, sonolento. Fechando os olhos, decidiu que faria pelo menos uma dúzia de perguntas a sua "médica" quando ela voltasse com a comida. Mas, em alguns segundos, Christian dormia profundamente.


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