Segredos do Destino escrita por Bia Oliveira


Capítulo 5
Capítulo 5




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O anjo estava de volta. Ainda atordoado pelo efeito da anestesia, Christian fitava o rosto, lindo e sereno, flutuando acima dele. Perguntas formavam-se em sua mente entorpecida.

Que lugar seria aquele? O céu ou o inferno? As pálpebras pesavam. Fechando os olhos, ele usou seu limitado poder de concentração para avaliar suas reais condições. Sentia-se... confortável. Não havia nenhuma sensação de dor. Nem muito frio nem muito quente.

A conclusão parecia óbvia. Um anjo, puro e simples. Um anjo da guarda? Christian esperava com fervor que fosse, pois não queria perdê-la de vista nunca.

— Como está se sentindo? Christian estremeceu diante do som suave da voz dela, da compaixão evidente em seu tom.

Ela falara em voz alta, ou ele apenas a ouvira na mente? Pensava jamais tê-la escutado, mas... Christian piscou. O que ela havia perguntado? Oh, sim, como ele se sentia.

— Estranho. — Christian mal reconheceu a própria voz. O sorriso de Anastasia demonstrava compreensão.

— É o anestésico. Logo passa. Anestésico? A confusão de Christian aumentou. O que seria?

— Imagino que esteja com sede — ela continuou. Christian percebeu naquele instante o quanto sua boca e garganta estavam secas, e questionou como podia sentir desconforto físico se estava morto.

— Sim, tenho sede... — Tome, isto ajudará. Um arrepio percorreu o corpo de Christian ao sentir a mão de Anastasia deslizar por baixo de sua cabeça. "Ela está me tocando!", pensou surpreso e maravilhado. E sua mão era macia, quente... e de uma força espantosa!

Então, uma consideração secundária lhe ocorreu. Seu corpo! Ele ainda tinha um corpo! Ainda sentia... Ela lhe colocava algo macio e sólido entre os lábios!

— Devagar agora, tome apenas um ou dois goles. Obedecendo, Christian bebeu a água fria. A sensação era celestial.

— Vá com calma — a voz suave advertiu. — É o bastante por enquanto. Poderá beber mais depois. Ainda com sede, Christian quis discutir, mas não tinha energia. A escuridão começava a envolvê-lo. Sentindo-se voltar à inconsciência, tateou até segurar uma das mãos de Anastasia. Vagamente lhe ocorreu que ela parecia real, sólida, física. Agarrando-se a seu último fio de consciência, ele suplicou:

— Não me deixe. — Claro que não o deixarei — a resposta dela o alcançou em meio à escuridão que aumentava. Por mais de duas horas Anastasia ficou pacientemente sentada na cadeira desconfortável ao lado da cama do estranho. Não tinha escolha. Ele lhe segurava a mão com tenacidade.

Anastasia ainda estava ali, num sono intermitente, quando Sally foi informá- la do fim de seu horário. Então ela despertou de imediato sob o toque leve no ombro, e seu primeiro pensamento foi para o paciente. Erguendo a cabeça, fitoulhe o rosto.

— Ele está muito bem. Anastasia suspirou diante da voz baixa de Sally e, virando o rosto, sorriu com ar cansado para a amiga. — Devo ter adormecido...

— É de admirar? — Sally observou, num tom compreensivo. — Há quanto tempo não chega perto de sua cama?

— Desde as cinco horas da manhã de ontem... acho.

— É. — o tom de Sally misturava preocupação e graça.

— Que horas são? — Anastasia indagou, bocejando.

— Exatamente sete horas, seis minutos e vinte segundos. Movendo-se com cuidado para não perturbar o paciente, Anastasia arqueou as costas para aliviar os músculos.

— Está indo embora? — ela indagou, erguendo a mão para abafar outro bocejo.

— Sim. — O sorriso de Sally demonstrava o calor da amizade.

— Então, vou lhe desejar um feliz Natal.

— Obrigada, Sally. Desejo o mesmo a você!

— Ah... agora não estou em condições de ser feliz. Fiquei esgotada! — Ela sorriu, e então fitou o rosto pálido de Anastasia com atenção.

— Parece que você está prestes a desmoronar. Precisa de doze horas de sono.

— Estou bem. Descansei uma hora depois da cirurgia na sala dos médicos.

— Maravilhoso! — Sally balançou a cabeça.

— De qualquer forma, o vaqueiro passava bem quando passei por aqui em minha ronda há quinze minutos. Anastasia percebeu que dormira enquanto Sally verificava os pacientes antes de sair

— Os sinais vitais dele estão bons, e ele dorme tranquilo — Sally continuou. — Por que não o deixa aos cuidados do pessoal do plantão e vai para casa dormir?

— Duas razões. Primeira: prometi a ele que não o deixaria. E segunda... quando ele segura minha mão, parece que teme a morte.

— Bem, pelo menos existe um consolo. Acho que ele vai acordar logo. Então não ficará presa por muito mais.

— Espero que tenha razão. Esta cadeira parece um aparelho de tortura.

— Oh, quase esqueci! — Sally exclamou. Virando-se, ela apanhou uma prancheta sobre a mesa ao lado da cama e a entregou para Anastasia. — Por falar em tortura, me pediram para entregar-lhe isso.

— Formulários para preencher... — ela resmungou, enquanto deixava a prancheta sobre a cama.

— Regulamentos, doutora.

— Estou cansada demais para essas bobagens.

— Entendo... — Sally murmurou, cedendo a um bocejo. — A noite foi longa... Vou para casa dormir. E, se você tivesse algum juízo, faria exatamente o mesmo.

— Pretendo fazê-lo. Assim que for possível.

— Oh, sim. Ouço as bandejas do café vibrando pelo corredor e, se eu a conheço, provavelmente ainda estará aqui quando trouxerem as bandejas do almoço, pairando perto do vaqueiro como um anjo da guarda. "Anjo."

Christian estivera ouvindo o murmúrio de vozes, como o zumbido irritante dos mosquitos no verão, durante vários segundos. Não entendera as palavras até ouvir aquela: "anjo". Ela ainda estava lá? A pergunta ao mesmo tempo o atormentava e aterrorizava.

Christian temia abrir os olhos e ver o lindo anjo loiro ainda ali com ele... Tentou erguer as pálpebras e, por um momento, sua visão ficou turva, enevoada. À medida que clareou, ele viu uma mulher de cabelo preto, vestida de branco, murmurando uma despedida, sorrindo ao virar-se e se afastar. Confuso, Christian manteve o olhar fixo nas costas da mulher até ela se aproximar de outra figura vestida de branco, que chamou a atenção dele.

Aquela, uma mulher muito mais alta e de cabelo grisalho, levava algo parecido com uma bandeja, e caminhava em sua direção. A mulher sorriu para ele com amabilidade ao passar. Christian tentava forçar os lábios duros e secos para retribuir quando ela falou, fazendo-o abandonar aqueles pensamentos:

— Seu paciente está acordado. Paciente! Acordado? Num instante, Christian notou que estava deitado numa cama... e não numa nuvem macia. Seriam anjos aquelas mulheres ou enfermeiras? Se estivesse morto, precisaria de uma enfermeira? Onde ele estava?


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