Olhava para o mar de forma frustrada, se lhe contassem um tempo atrás que ela conseguiria virar humana, entrar em um navio cheio de humanos e conviver com esses, inclusive lutar e vencer um humano praticamente sem poder nenhum, ela não acreditaria. Tudo isso havia acontecido em pouco tempo, mas para ela já fazia décadas desde que estivera no mar e ela ainda não tinha ideia de como voltar para casa. Suspirou, sem saber o que fazer além de ser o Grumete do Kurama.

— Grumete! – ouviu lhe chamarem e viu o Contramestre vir até si com um sorriso de lado que a deixou em alerta. Podia conhecer Sasuke há pouco tempo, mas já era o suficiente para saber que ela não gostaria do que ele estava tramando – Pare de fazer corpo mole, largue esse esfregão e venha aqui! – ordenou e ela ficou confusa.

                Olhou em volta e viu Neji logo atrás junto do Capitão, ambos sorridentes, até demais para o seu gosto. Ela iria ter problemas, com certeza.

— Antes de mais nada, aqui está o seu pagamento – Sasuke disse e entregou-lhe um saquinho com algumas moedas de ouros dentro.

“Pagamento pelo o quê?” indagou e Naruto riu ao se aproximar.

— Ora, você está servindo ao Kurama, faz parte da tripulação, merece uma parte do pagamento pelo trabalho, assim como todos – e apontou para os outros humanos que comemoravam o fato de terem conseguido um pouco de dinheiro.

— Claro que a sua parte é menor, visto que entrou há pouco tempo – Sasuke complementou e ela aquiesceu até se dar conta de algo, ela não sabia no que aqueles homens trabalhavam.

“E o que exatamente nós fizemos?”      

Sasuke revirou os olhos com a pergunta, assim como Neji, só mesmo Haru para entrar em uma tripulação sem ao menos ter noção do que faziam.

— Nós apenas ajudamos no comércio marítimo, fazemos trocas de mercadorias com pessoas mais desfavorecidas – Naruto colocou o braço sobre os ombros do menor que fez uma careta pois ainda estava machucado.

                Haru aquiesceu em seguida, mas não compreendeu o motivo de Neji rir ou de Sasuke bufar ao seu lado. O que era tão engraçado?

— Não sabia que éramos tão chegados à filantropia, Naruto – Sasuke comentou e o Capitão deu de ombros.

— Acho esse termo mais apropriado, não vamos discutir isso na frente dos menores – comentou apontando para o Grumete que ouvia a conversa meio perdido.

“Qual o problema?” questionou, puxando a manga da blusa do Naruto para ter sua atenção, mas foi Sasuke quem o respondeu.

— Somos piratas, Grumete. Saqueamos, contrabandeamos mercadorias e vendemos a outros piratas. – foi sincero, não achava certo iludir o rapaz quando a realidade que os cercava iria fazer parte da vida do menor.

                Sakura apenas arqueou uma sobrancelha e novamente meneou a cabeça e os três humanos ficaram descrentes com a reação apática do garoto, esperavam que ele ficasse surpreso, que quisesse desistir e sair da embarcação no primeiro porto, que ficasse irritado por ter sido enganado, pois era óbvio que a pirataria não era o seu sonho, qualquer coisa menos aquela apatia e aceitação. Porém, para Sakura que desconhecia quase tudo desse lugar, estar entre piratas ou não, era o de menos, somente se importava em conseguir voltar para casa.

                Sorriu ao pensar que a conversa se encerrava ali e poderia voltar aos seus afazeres, mas foi barrada ao sentir Neji segurar a sua camisa, puxando-o para perto novamente.

— Ainda não acabamos Grumete – Sasuke tornou a falar e viu o menino suspirar chateado. Arqueou uma sobrancelha, o garoto estava ficando mal acostumado ali e Sasuke faria questão de mudar isso – O Capitão e eu percebemos que você não tem o costume de usar espadas. – disse e ficou esperando que Haru o contrariasse como fez quando disse que conhecia o mar. Porém não foi isso que aconteceu.

“Eu nunca usei uma espada” Haru disse sorrindo como se fosse a melhor resposta a ser dada, mas percebeu que estava errado ao ver o rosto incrédulo dos três. “O que foi?”

— Bom, isso explica muita coisa – Naruto disse nervoso ainda sem acreditar completamente naquilo.

                Era muito difícil conhecer um homem que nunca tivera uma mínima experiência com armas, geralmente as crianças eram ensinadas por seus pais ou irmãos mais velhos e quando eram órfãos eram entregues ao Exército ou à Marinha Real logo cedo para que tivessem um propósito na vida e não virassem piratas. Mas um rapaz da idade que Haru aparentava não ter conhecimento nenhum de lutas... era no mínimo estranho, até mesmo nobres tinham o conhecimento de batalhas. E foi pensando nisso que Naruto recordou das próprias brincadeiras quando garoto e que tentava imitar o pai.

— Na verdade só explica que, provavelmente, você não é um homem – disse Neji de forma triunfante e Haru arregalou os olhos com o que foi dito, chamando a atenção de todos para si.

Imediatamente Sakura recuou um passo para trás, seu corpo começava a tremer e ela se forçava para não chorar. Eles haviam a descoberto? Fora tão boba a ponto de cometer um erro desse? Medo atravessou a sua espinha, o que fariam agora que sabiam quem era?

Sasuke estranhou o comportamento do menor, ele parecia petrificado de medo, estava prestes a chorar por causa do que Neji havia dito. Aquilo havia o afetado tanto assim?

— Calma garoto, isso não é o fim do mundo – Naruto tratou de tranquilizar o Grumete que, apesar de receoso, tentou se controlar ao suspirar, a fala do Capitão a fez refletir que, talvez, o seu segredo não tivesse sido descoberto afinal.

— Decidimos que o que aconteceu em Flishburry não pode voltar a acontecer – Sasuke disse com o cenho franzido – Por isso você irá aprender a esgrimir – mostrou a arma e sorriu ao ver a cara de espanto do Grumete.

“Mas... eu tenho que...” começou a inventar desculpas para não ter que pegar em outra espada novamente.

Ela tinha um mau pressentimento quando viu os três humanos virem na sua direção e agora ela tinha certeza que estava com problemas ao ver o sorriso sádico no rosto de Sasuke e Neji. Apenas Naruto mantinha o seu bom humor e aquilo também era perigoso para si, ainda lembrava-se do loiro comemorando enquanto brigava no bar.

— Suas funções serão temporariamente adiadas e passadas para o senhor Inuzuka – Sasuke se manifestou outra vez com um sorriso ao ver a tentativa do Grumete de escapar do treinamento.

Ele estava mesmo propenso a dar outro castigo ao Inuzuka, mas, devido às fatalidades, faria questão de fazer da vida de Kiba um inferno enquanto estivesse nas funções do garoto por não ter cumprido a sua parte do trato. Ao ver a forma como o Contramestre sorria, Sakura olhou para Kiba, em uma parte mais afastada no convés, que bufava revoltado por tal troca de função e no fundo, bem no fundo, sentiu pena dele. E ao pensar na sua situação só pode perceber que, pelo jeito, ela não tinha como escapar disso. Suspirou, mas ao menos não tinha como piorar, não é mesmo?

— Prepare-se, pois eu vou ser o seu professor e não vou pegar leve – ouviu a voz de Neji e soube que estava errada.

—*-

                Tropeçara nos pés ao desviar da espada e caíra no chão, sendo alvo de risadas pelos outros marujos que agora observavam a cena patética que era ela tentando lutar contra Neji. Levantou-se rapidamente ao ouvir o brado de Sasuke, que lhe dava dicas de como defender e atacar. É claro que seria muito mais fácil entender se ela pudesse primeiro ouvir as dicas e depois praticar, mas o Hyuuga não parecia disposto a lhe dar essa chance. Ofegou ao ver a espada na frente dos olhos e em seguida encarou o seu adversário que tinha um sorriso presunçoso.

                Ela sabia o porquê de Neji estar sendo mais desagradável do que o normal com ela: Tenten. Depois do beijo que ela recebera no cais e o fato de Neji ter ficado furioso consigo, Gaara lhe disse que o Hyuuga gostava da garçonete já fazia um tempo, mas ela nunca permitiu que ele se aproximasse ou qualquer outra pessoa até ele, Haru, aparecer. E pelo jeito ele não estava disposto a deixar esse pequeno acontecimento para trás.

— De novo! – Neji disse ao recuar e permitir que ela pegasse a espada e se posicionasse e em seguida avançou novamente. O tilintar do metal se iniciou e ela até conseguiu durar mais do que dois minutos dessa vez, antes de ter a espada jogada para longe.

                A verdade era que Neji estava mais do que disposto em fazê-la sofrer o quanto podia durante aquele treinamento e ela começou a sentir falta do seu esfregão e balde.

— Pelo amor dos deuses, mexa esses pés, Grumete! – Sasuke bradou ao ver o rapaz errar novamente na luta e perder a arma para Neji que parecia se divertir com a humilhação do outro. – Como pode alguém ser tão desajeitado? – falou mais baixo enquanto massageava as têmporas e Naruto riu ao seu lado.

— O garoto nunca pegou em uma arma antes? – Shikamaru indagou ao ver o massacre que era aquele treinamento. Neji realmente estava empenhado em fazer o garoto cair o máximo que podia e assustá-lo.

— Não, fiquei bem surpreso ao ouvir isso também, não consigo entender que garoto nunca treinara com uma arma antes – Naruto falou – Eu mesmo comecei o meu treinamento aos sete anos e antes já brincava com espadas de madeira – e novamente ficou nostálgico ao relembrar essa época.

                Sasuke apenas ignorou o falatório do loiro ao seu lado e suspirou ao ver Haru recuar sem ao menos ver para onde estava indo, aquilo não acabaria bem, com certeza. E um minuto depois o Grumete enfiou o pé no balde usado por Kiba e se desequilibrou, caindo e se molhando todo. Gargalhadas explodiram no deck e revirou os olhos com a incompetência do rapaz, mas internamente ficou contente pois o Inuzuka teria mais trabalho.

                Shikamaru por outro lado ficou intrigado com a forma quase desesperada do rapaz de verificar se tudo estava em ordem com o chapéu e refletiu que nunca havia visto o menino sem o acessório.

— Vocês já viram como é o cabelo do Grumete? – questionou de repente enquanto via Kiba gritar com o garoto junto com Neji que o forçava a continuar treinando.

— O quê? Que tipo de pergunta é essa Shikamaru? – Naruto retrucou e Sasuke arqueou a sobrancelha também estranhando a pergunta.

— Apenas curiosidade – e deu de ombros, tentando parecer desinteressado e o Capitão refletiu por um momento antes de responder:

— Bom, agora que você falou... ele não larga aquele chapéu para nada, nem para dormir – comentou e teve a anuência de Sasuke, que também nunca vira os cabelos do Grumete.

— Talvez tenha alguma cicatriz – disse Sasuke não dando muita importância e Naruto complementou:

— Ou seja careca – e riu com a possibilidade, estava começando a ficar empolgado em descobrir o que o Grumete tanto escondia.

                Shikamaru vendo a situação que começava a se formar decidiu mudar os rumos da conversa. Não queria causar problemas ao menor, mas ficaria de olho em Haru a partir de agora, algo lhe dizia que havia algum problema ali.

—*-

                Estava toda dolorida, seus braços ardiam, sua costa reclamava, assim como as pernas e a bunda de tanto que fora jogada no chão durante o “treinamento”. Bufou, aquilo não podia ser chamado de treino, ela não aprendia quase nada, a não ser uma nova forma de passar vergonha na frente de todos os companheiros. Mas agora era hora do almoço e ela poderia desfrutar de alguns minutos de descanso, ou pelo menos assim esperava.

— Cansou de cair Haru? – Gaara comentou risonho ao lado de Neji que também abriu um sorriso arrogante e Sakura forçou um sorriso, ignorando o ruivo e voltando a comer.

                Gaara não era uma má pessoa, apenas gostava de implicar com todos a sua volta e parecia que ela se tornara a sua diversão preferida do momento. E, para evitar mais problemas para si, preferia se distanciar, principalmente se ele estivesse acompanhado de Neji que também esperava somente uma oportunidade para lhe perturbar. E ela que pensou que as coisas fossem melhorar depois da luta e do beijo com Tenten, mas pelo visto foi apenas algo passageiro.

                Olhou para o outro lado ao ouvir alguém sentando ao seu lado, geralmente ela fazia as refeições sozinha e ficou surpresa ao ver o Timoneiro, Nara Shikamaru, ali. O humano meneou a cabeça cumprimentando-a e voltou a comer em silêncio e em seguida viu o silencioso Shino sentando do seu outro lado.

— Shikamaru, me diga, o que achou da refeição de hoje? – Chouji surgiu ansioso por uma resposta do companheiro.

— Deliciosa como sempre Chouji – e sorriu brevemente antes de colocar um pouco mais de sopa na boca, mas ele viu quando Haru arqueou uma sobrancelha descrente de suas palavras.

                A sopa estava sem sabor e o que tinha como recheio não parecia ser muito aprazível ou comestível na sua opinião, por isso ela pegava o pão e melava na sopa para tentar fazer surgir algum sabor que a fizesse continuar comendo além da fome.

— E você Grumete? Gostou da sopa? – o Cozinheiro a questionou e Sakura abriu a boca para responder quando sentiu uma cotovelada na sua barriga e apenas tossiu e franziu o cenho para Shikamaru, sem entender o motivo da agressão.

— É claro que ele gostou! Quem seria louco de não gostar, Chouji?! – exclamou e o Cozinheiro ficou exultante antes de voltar para a cozinha dizendo que traria mais. – Nunca, nunca mesmo, ofenda a comida de Chouji, ou você não viverá até amanhã – explicou para o mais novo ao ver que o Cozinheiro se retirara.

                Arregalou os olhos com medo e balançou a cabeça freneticamente e Shikamaru sorriu ao ver o rosto assustado do rapaz.

— Não leve a mal, Chouji é uma boa pessoa, mas muito sensível quanto às habilidades culinárias e ao peso. E ele até cozinha bem – disse mexendo na sopa rala – menos quando faz sopa. – e franziu o cenho e foi a vez de Haru sorrir até sentir alguém empurrar sua cabeça para dentro do prato.

— Isso é por você ter feito o Contramestre me dar as suas obrigações – Kiba disse bufando enquanto saia do compartimento e indo em direção à escada, ainda tinha que terminar de limpar o convés.

                Ouviu Neji e Gaara rirem de si enquanto tossia e tentava limpar o rosto. Kiba se aproveitara da sua distração para fazer aquilo e estava pronta para retrucar quando viu Shikamaru lhe estender um lenço, estranhou a cortesia, mas aceitou.

— Tem que ser mais forte, os rapazes vão te respeitar, basta eles te conhecerem melhor, mas você precisa se impor também, mostrar que não é um fracote – Shikamaru disse apontando para Neji e Gaara que conversavam algo enquanto riam – Você já tem um pouco de respeito pelo o que aconteceu no cais e pela luta, mas ainda precisa crescer mais para viver entre piratas – Sakura apenas encarou o Nara sem saber o que falar, mas aquiesceu, agradecendo o conselho e em seguida o Timoneiro se retirou, deixando-a ao lado de Shino que somente observava tudo em silêncio.

—*-

                No outro dia Sakura estava disposta a seguir o conselho de Shikamaru. Iria conseguir o respeito daqueles humanos e não iria mais ser humilhada por Neji que já se colocava em guarda para iniciar outro treinamento e foi pensando nos golpes que sofrera no dia anterior que resolveu fazer a mesma estratégia que usara com Hoshiaki, iria atacar primeiro, quem sabe não tivesse sorte novamente? Ou algo mais?

                Neji realmente ficara surpreso ao ver o menor vir ao seu encontro com a espada em mãos, ele lhe atacava sem técnica nenhuma, mas ele pelo menos não parecia tão apático quanto no dia anterior. Desviava dos golpes e usava a espada para bloquear ataques, Haru não tinha a mínima noção do que fazia e era até engraçado vê-lo daquela forma, porém já estava na hora de terminar a brincadeira. Contra-atacou e Haru começou a dar passos trêmulos para trás, sorriu ao ver que ele estava resistindo um pouco mais, no entanto aquilo ainda não era o suficiente.

— Precisa melhorar mais do que isso – disse e ouviu o menor bufar antes de se preparar novamente para atacá-lo – Pense no que está fazendo, distribuir golpes aleatórios não trará nenhum resultado comigo, eu não estou bêbado – explicou ao jogá-lo no chão e o Grumete arregalou os olhos – O que foi? – indagou ao ver a cara de descrença do outro.

“É a primeira vez que você me dá um conselho na luta!” mexeu os lábios ainda surpresa e Neji arqueou a sobrancelha, ele não havia feito isso no dia anterior? Franziu o cenho ao ver que era verdade. Estava tão irritado por causa de Tenten que somente quis descontar a sua raiva no garoto.        Suspirou e ficou sério novamente.

— Não acontecerá novamente, agora levante-se – mandou, sendo prontamente obedecido pelo menor.

                Sasuke observava de longe o treinamento do Grumete e Neji e tinha que admitir que ele parecia um pouco melhor. Era óbvio que o Hyuuga não pretendia ajudar, mas ele conseguia ver os sermões dados ao mais novo como forma de incentivá-lo a melhorar, mesmo que mais parecessem uma discussão.

— É impressão minha ou Neji parece estar realmente treinando o Haru? – Naruto perguntou ao seu lado.

— Ele apenas precisava de um empurrãozinho – ouviu Shikamaru murmurar do seu outro lado e arqueou uma sobrancelha, seria isso obra do Nara de alguma forma?

—*-

                Três dias se passaram, enquanto ainda navegavam em alto mar, e Sakura estava esgotada de treinar com o Hyuuga. Ela havia melhorado consideravelmente, não a ponto de vencê-lo, mas pelo menos não era derrubada com facilidade. Suas lutas duravam um pouco mais do que oito minutos. Seu relacionamento com Neji também estava mais tranquilo, ele continuava a ser distante e frio com ela, mas pelo menos a raiva que ele sentia de si parecia ter se anuviado e ela agradecia mentalmente por isso, ou então não sobreviveria ao treinamento.

— Hey, Neji! – Gaara interrompeu o treinamento dos dois – Que tal ensinar um pouco de luta corporal ao Grumete? Quem sabe ele desenvolve algum músculo nesse corpo franzino? – e sorriu ao ver a careta do mais novo para si.

                Havia virado um dos passatempos de Gaara observar as lutas entre os dois companheiros e ele tinha que admitir que seu sangue quente desejava poder participar dos treinos também. Neji arqueou uma sobrancelha e olhou do ruivo para o menor que ofegava, e sorriu, iria ser divertido.

— Venha aqui, preciso descansar um pouco mesmo – disse e Haru arregalou os olhos. Ele estava falando sério?

                Gaara saltou da amurada onde estava sentado e começou a movimentar os braços para se alongar antes da ação. Sakura engoliu em seco, ela já conhecia um pouco mais de cada um e sabia que Gaara era conhecido por ter uma “defesa absoluta” quando se tratava de luta corpo a corpo. Ele não perdia, o que significava que suas chances eram menores que zero de vencê-lo. Ele ficou na sua frente e colocou os braços em riste, um na frente do outro e esperou que o Grumete imitasse o seu gesto de forma hesitante.

— Preste atenção, pois eu não vou nem suar – disse prepotente e em seguida desferiu dois golpes em Haru, que imediatamente colocou os braços no rosto para se proteger, mas acabou sendo acertado de qualquer jeito e depois foi derrubado por mais um soco no estômago por ter deixado a guarda baixa.

                Puxou o ar com força e colocou a mão onde fora acertado, céus, as mãos dele eram como pedras. Levantou-se e Gaara apenas ria, falando algo com Neji sobre ser muito divertido esse treinamento e como o Hyuuga era egoísta por nunca ter deixado que ele participasse antes. Sakura franziu o cenho e decidiu que aquela era a oportunidade que teria para conseguir atacá-lo, então lançou-se sobre o ruivo, pronto para golpeá-lo, mas ele desviara com imensa facilidade. Continuou a tentar socá-lo, mas nada fazia efeito, Gaara realmente nem parecia fazer o menor esforço.

— Muito lento, Grumete – disse e em seguida o chutou, mandando o garoto para longe que grunhiu em dor – Levante-se, eu só estou me aquecendo – disse e Sakura amaldiçoou o humano em pensamentos, quando esse treinamento iria terminar?

—*-

                Sasuke somente vigiava o treino de Haru de longe, mesmo que a ideia não fosse treiná-lo no combate corpo a corpo, concordava que ele também precisava disso, principalmente, ao ver a forma desajeitada com que enfrentava Gaara. Suspirou, o moleque seria trucidado pelo ruivo.

— Não acha melhor interromper? – Shikamaru se manifestou ao seu lado no timão.

— Por que faria isso? – voltou a ver Haru cair no chão e segurar o rosto, provavelmente ganhara um hematoma.

— Porque é cruel – foi a resposta do Timoneiro e o Uchiha arqueou uma sobrancelha.

— Cruel é deixá-lo no navio sem saber se proteger – foi duro ao encarar o Nara que suspirou – Está na hora do Grumete crescer.

— Sasuke! – ouviu Naruto lhe chamar e voltou-se ao Capitão que se aproximava, sério – Precisamos conversar – e em seguida deu meia volta para entrar novamente no interior do navio. Por mais que quisesse, não podia mais adiar essa conversa.

                O Uchiha seguiu o amigo, estranhando o seu comportamento e ao entrar na cabine pessoal do Capitão, fechou a porta e esperou que ele lhe falasse.

— Temos que ir até Thorn – Naruto disse após um momento de hesitação.

— O que está falando? Não temos que ir até lá – retrucou ao se encostar em uma das paredes da sala enquanto o Uzumaki sentava na cadeira atrás da mesa onde tinha uma pilha de moedas e mais alguns papeis espalhados.

— Eu não sabia como te contar isso antes, até porque você ficaria furioso comigo, mas... – tentou se explicar, porém o amigo o cortou:

— Naruto, seremos mortos se formos até lá – Sasuke foi direto. Aquela era uma má ideia e Naruto sabia disso, só não compreendia o motivo do loiro querer tanto procurar a morte.

— Eu sei que corremos esse risco, mas quando estava em Flishburry eu aceitei uma missão e um dos itens está em Thorn, mais precisamente com um pirata de lá – falou encarando o Imediato que franziu o cenho.

— Qual pirata? – indagou já temendo pela resposta.

— Zabuza.

— Você só pode ter ficado louco! – Sasuke bradou ao se aproximar da mesa de Naruto – Zabuza? Você quer roubar Momocchi Zabuza que jurou nos estripar e beber o nosso sangue depois de matarmos o Imediato dele, Haku?  

— Sim, o preço vale o risco – as feições de Naruto eram sérias e em seguida ele apontou para o contrato com o montante de dinheiro prometido – Se conseguirmos fazer esse serviço poderemos melhorar o Kurama, contratar mais piratas e ir atrás dele, finalmente.

                Sasuke fechou os olhos e cerrou os punhos com força, batendo-os na mesa. Zabuza iria fazer de tudo para matá-los, mas se eles conseguissem... se eles se livrassem de Zabuza e conseguissem aquele dinheiro, céus, finalmente a tão sonhada vingança deles iria se concretizar. E aquilo era mais do que poderia sonhar, se tivesse que dar a sua vida aos deuses ele faria, contanto que tivesse uma única chance.

— Você é o Capitão e eu vou segui-lo aonde for – disse para o Uzumaki que sorriu erguendo a mão que foi prontamente aceita por Sasuke. Mais do que companheiros de pirataria, eles tinham um passado em comum e um objetivo a alcançar. E fariam de tudo para conseguir completá-lo.