— O que significa isso, Naruto? – Sasuke indagou entredentes ao encarar o Capitão ao lado do garoto mudo que conhecera no bar.

— Então... é que ele sabe ser bem convincente – disse com um sorriso sem graça e Sakura concordou acenando com a cabeça, mas logo se encolheu atrás do loiro ao ver o olhar raivoso do moreno sobre si.

— Você perdeu a cabeça? Ele vai entrar para a tripulação? Ele não serve nem como grumete! – bradou e Sakura, mesmo sem saber o que era um grumete, entendeu que aquilo não devia ser um elogio.

— Ele aprende rápido, além do mais estamos desesperados e precisamos de mais gente. Não podemos escolher – usou os mesmo argumentos que Sakura havia dito para si, mas ao ver que o amigo não estava convencido, suspirou antes de dizer de forma séria – Além do mais eu sou o Capitão aqui, então, mesmo que não goste Sasuke, essa é a minha decisão.

Sasuke estalou a boca em desagrado, mas não discordou com o loiro e em seguida voltou-se para Sakura que ainda observava a cena assustada.

— Ele ao menos tem um nome? – indagou para Naruto, mas seus olhos não saiam do rapaz que aquiesceu e moveu os lábios para dizer:

"Haru"

Sasuke mais uma vez ficou surpreso com a forma de comunicação do garoto, afinal quem apresentava uma deficiência geralmente não tinha uma desenvoltura como aquela.

— Certo, Haru... a partir de hoje você será o grumete do navio. Agora pegue o esfregão, pois vamos zarpar. – mandou, mas Sakura apenas o encarou confusa, sem compreender o que aquilo significava.

E Sasuke fuzilou Naruto com o olhar como se confirmasse que o garoto era inútil para em seguida apontar para dentro do navio e Sakura aquiescer, começando a ir até a escada que dava para o navio.

— Tem certeza disso? – Sasuke indagou para o loiro que deu de ombros antes de responder.

— Ele tem alguma coisa especial.

— Além do fato de ser mudo e nunca ter pisado em um navio? – debochou e Naruto franziu o cenho.

— Apenas tenha um pouco de paciência com ele, ninguém nasce sabendo tudo – e colocou a mão no ombro do moreno.

— O que você realmente viu nesse garoto, Naruto? – Sasuke começava a ficar curioso com o amigo, afinal sabia que Naruto podia ser muitas coisas, mas ele sempre sabia avaliar as pessoas e o seu caráter.

— Eu não sei... mas tenho certeza que vamos nos surpreender com ele – disse e em seguida foi em direção ao navio, sendo seguido por Sasuke.

—*-

Sakura não podia estar mais animada com a perspectiva de voltar ao mar mais uma vez, mesmo que fosse de uma forma diferente da qual estava habituada. Observava todo o convés do navio com os olhos brilhando em expectativa e quando alguém passava por si, seguia a pessoa para ver o que estava sendo feito, sem notar que acabava atrapalhando os fazeres dos outros.

— Grumete! – ouviu gritarem, mas pouco se importou e continuou a observar o ruivo que escalava uma rede até chegar ao topo de algo grande e pontudo – Grumete, estou falando com você, além de mudo é surdo? – ao sentir uma mão pesada no ombro, Sakura apenas se virou para ver os olhos negros do rapaz que quase a impedira de entrar no navio.

Ele estava falando com ela? Mas seu nome não era grumete, era Sakura! Bom, agora seria Haru, mas não importava no momento.

"Meu nome é Haru e o seu?" Indagou, tentando ser simpática.

— Pouco me importa se você é a rainha da Espanha, aqui você é um grumete e quando for chamado você deve fazer uma saudação para que eu saiba que você ouviu, entendeu? – Sakura meneou a cabeça concordando e, naquele momento, soube que seria difícil conviver com o moreno.

— Ótimo! Meu nome é Uchiha Sasuke e sou o segundo em comando, o primeiro Imediato do Capitão, por isso você irá se reportar a mim, entendido? – aquiesceu novamente – Aquele é Nara Shikamaru, o Timoneiro – apontou para um rapaz de cabelos compridos que parecia sonolento – E aqueles são Sabakuu no Gaara, Hyuuga Neji, Inuzuka Kiba, Aburame Shino, nossa tripulação. – foi indicando cada um – Ainda temos Chouji, nosso cozinheiro, esse você conhecerá depois.

Sakura apenas absorvia tudo com atenção.

— Agora, você é o grumete da equipe – disse e Sakura se perguntou o que era isso – Seus deveres são a limpeza do navio e realizar qualquer outra ordem que eu mandar, entendeu?

Ela franziu o cenho em desgosto, não queria ter que fazer aquele tipo de serviço. Sasuke arqueou uma sobrancelha como se a desafiasse a contradizê-lo e Sakura se viu sem alternativas a não ser acatar as ordens e, logo em seguida, empurraram para si dois objetos, um balde e o que deveria ser o esfregão.

— Bom, aqui estão os seus instrumentos de trabalho e como pode ver – disse mostrando todo o convés – você tem muito trabalho pela frente – e em seguida deu as costas para o garoto, que parecia ainda mais perdido, enquanto dava ordens ao resto da tripulação para zarparem.

Sakura nem ao menos se mexeu, segurava o balde e o esfregão e observava com assombro enquanto todos corriam de um lado para o outro com coisas na mão de acordo com o que o Uchiha gritava. Eles pareciam estranhamente sincronizados, todos pareciam saber o que fazer com perfeição e quando algo não estava do agrado do Uchiha, o moreno voltava a bradar mais ordens. Viu um moreno de cabelos compridos e olhos claros, passar perto de si e franziu o cenho ao reparar melhor nele, ele lembrava-lhe alguém, mais precisamente uma humana muito querida por si.

— Tudo pronto, Capitão – Neji informou a Naruto que aquiesceu e voltou a dar as coordenadas a Shikamaru.

— Vamos partir! – decretou a todos que urraram em comemoração, ou pelo menos Sakura entendeu que era uma comemoração.

Foi incrível a sensação de sentir o navio se mover e por um momento desequilibrou-se, mas logo correu até uma das pontas do convés. Queria poder observar tudo, aprender o que pudesse e, principalmente, queria ver o mar mais de perto. Sorriu para si, estava indo para casa e nada a impediria de conseguir isso.

—*-

Ela só não contava com uma coisa: estava enjoada. Pouco tempo depois de partirem, começou a sentir-se mal e parecia que essa sensação não passava por nada. Ela, justamente ela, quem havia crescido no mar, estava enjoada por estar navegando nele. As ondas que antes eram suas companheiras, agora faziam o seu estômago embrulhar. A maresia que sempre esteve presente, agora a deixava cada vez mais mareada. Sentia que a qualquer momento colocaria tudo o que comeu mais cedo para fora, mas tentava ser forte, tinha que ser! Afinal, ela era uma filha do mar e...

— Grumete, jogue fora essas cabeças de peixe! – ordenou o gorducho que deveria ser Chouji, o cozinheiro, ao colocar o balde com os restos de comida bem na altura do rosto de Sakura – Elas não servem para mais nada.

Arregalou os olhos com a visão. Por Netuno, não conseguiria aguentar mais tempo, pensou ao ver o balde com o peixe morto.

— O que foi grumete, está com enjoo? – ouviu outra pessoa indagar, mas não soube dizer quem era, ela estava mais ocupada em fazer seu estômago parar de ficar revoltoso como as ondas do mar.

“Oh droga, pensar nisso não está ajudando!” disse para si ao colocar as mãos na boca para evitar regurgitar algo.

— Qual o problema aqui? – ouviu a voz do primeiro Imediato, Sasuke, se manifestar.

 - Parece que o grumete está enjoado – foi então que reconheceu que quem estava ali junto com Chouji, era Neji.

— Enjoado? Bom, eu tenho um remédio excelente para isso – disse Sasuke com um sorriso de canto e Sakura imediatamente soube que não iria gostar desse remédio.

“Está tudo...” tentou responder, mas antes que tivesse tempo de terminar sentiu seu corpo ser jogado contra o batente no navio e virar, indo em direção ao mar.

Seu coração se acelerou, uma descarga de adrenalina percorreu seu corpo e ela apenas ficou pendurada, sabe-se lá como, de cabeça para baixo, enquanto via o mar lhe encarando de uma forma um pouco perversa na concepção dela que, provavelmente, se afogaria naquelas atuais circunstâncias.

Também pensou que se pudesse gritar teria entregado o seu disfarce como homem e que se não tivesse pensado rápido, mais um ato reflexo, e segurado o chapéu com força seu cabelo rosa teria sido visto por todos. E ela não soube dizer o que seria pior: morrer no mar ou ter seu disfarce descoberto. Antes que pudesse chegar a uma conclusão, foi puxada para cima pelos outros tripulantes que riam ao ver a sua cara pálida e seu corpo trêmulo.

— Acho que agora resolvemos o seu problema de enjoo, grumete – Sasuke disse debochado para o garoto que continuava tremendo, tentando absorver que aquele era o “remédio” do Uchiha.

— Bem-vindo a bordo! – Neji exclamou, dando leves tapas nas costas do rapaz que o encarou brevemente, antes de virar-se para o batente do navio e por para fora todo o seu café da manhã, enquanto todos voltavam a rir de si.

 -*-

Após o pequeno incidente no convés do navio, Sakura foi motivo de piada e de riso por todos. Ela agora era o divertimento da tripulação que parecia gostar de relembrar a todo o momento como ela ficara pálida e pensara que fosse cair do navio. Enquanto ela apenas bufava baixinho e forçava-se a sorrir para não retrucar algo, até porque não tinha voz para isso e, provavelmente, se meteria em mais problemas caso algum deles resolvesse brigar consigo. Olhou para as mãos que ardiam devido ao esforço do trabalho. Logo depois de melhorar do enjoo, fora forçada pelo Imediato a voltar para sua função, e foi quando descobriu o que tinha que fazer: lavar todo o piso do convés.

Suspirou cansada e ao mesmo tempo aliviada por ter terminado tudo antes do jantar e, agora, podia desfrutar de um pouco de comida ao lado daqueles humanos estranhos. Observou o compartimento do navio em que estavam, ali era onde todos fariam as refeições, menos o Capitão Uzumaki e o Contramestre Sasuke, já que estes podiam usar os aposentos do Capitão, mesmo assim ambos estavam ali, dividindo uma bebida com os outros marujos. Realmente não entendia os humanos, pensou ao ver o lugar sujo, mal iluminado e barulhento em que estavam. Ela preferiria comer sozinha em um canto a ter que ficar ali e ouvir aquelas piadas sem graças sobre ela, mas tinha que aguentar calada.

— O que foi grumete? Sente-se enjoado ainda? Ah não! Será que você vai... – Inuzuka Kiba chamou sua atenção e em seguida começou a encenar, de forma deplorável, como se estivesse passando mal. E todos voltaram a rir de si.

Revirou os olhos, voltando-se a para o seu prato de comida. Era melhor comer a ter que escutar aqueles idiotas.

— Cuidado para não comer muito! – avisou Sabaku no Gaara de forma séria e ela o olhou confusa, sem entender o que ele queria dizer com isso, e o rapaz ao ver o rosto do grumete, continuou a explicação com um sorriso zombeteiro – Desse jeito vai desperdiçar muita comida quando por tudo pra fora – outra explosão de risos se seguiram e ela bufou irritada.

— Chega, deixem o garoto comer em paz – Hyuuga Neji se pronunciou a seu favor e mais uma vez foi impossível não se lembrar de Hinata.

Será que eles eram de alguma forma parentes? Balançou a cabeça, negando essa possibilidade, afinal a Hyuuga que conheceu era uma nobre e aquele rapaz, bom, com certeza não tinha a mesma posição, ou então não estaria naquele navio. Mesmo assim, era bom saber que poderia contar com ele, assim como Hinata, e sorriu com o pensamento.

— É melhor ele comer depois de ter vomitado tudo aquilo, nunca vi alguém tão pequeno, fazendo uma sujeira tão grande! – debochou, sendo acompanhado pelos companheiros, e Sakura mudou de ideia rapidamente sobre poder contar com ele.

Levantou-se já sem fome e irritada demais para ficar ali e subiu para o convés, onde ficou encostada no batente, observando o mar calmo sob a luz da lua. O mar era lindo à noite e sob a luz da lua ficava ainda mais. Ela não podia ver isso quando estava dentro d’água, mas... sentia falta de casa mesmo assim.

— Grumete! – ouviu lhe chamarem e bufou descontente. Não teria um minuto de paz? Virou-se e viu o Uchiha parado perto de si e parecia bem irritado enquanto olhava ao redor – Você não disse que tinha limpado todo o deck?

Sem entender sobre o que ele falava, apenas meneou a cabeça em concordância, esperando ele continuar.

— Então, por que eu só vejo água jogada por aqui? – e apontou para diversas poças de água que estavam formadas e ela só deu de ombros, sem saber o que responder. Mas aquilo parecia ter irritado ainda mais o Contramestre - Você jogou água em todo o convés? – falou entredentes e ao ver a confirmação do garoto, Sasuke teve que respirar fundo para se controlar.

Ele sabia desde o início que aquele garoto iria dar trabalho, por não saber nada sobre velejar em alto mar, mas pensou ao menos que ele soubesse como fazer uma simples tarefa de esfregar o chão. Por isso nem havia se preocupado em checar o que ele fizera antes de jantarem. Somente quando o viu sair do jantar foi que se atinou para essa falha e o seguiu.

— Você usou o esfregão? – tentou mais uma vez, mas o garoto negou com a cabeça e leu os lábios que sinalizavam a resposta que não queria saber:

“Pensei que podia escolher entre qualquer um dos dois.”

Quis muito bater em Naruto ao ouvir aquilo e em seguida virou de costa para o garoto, que parecia amedrontado ao ver a carranca que o moreno fizera, voltando minutos depois com o balde e o esfregão para entregar-lhe.

 - Refaça! – ordenou e Sakura abriu a boca incrédula por ter que refazer todo o serviço – Não ouse retrucar, você fez errado o trabalho, por isso irá refazer. – disse e em seguida sorriu de canto – E como punição terá que retirar todas as cracas presas ao navio.

“Isso não é justo! Eu não sabia o que fazer e...”  começou a mexer os lábios de forma frenética, sem deixar o Uchiha ter a chance de acompanhar o que falava.

— Chega! – bradou ao ver que o menino parecia descontrolar-se, batendo o pé e movimentando os braços rapidamente – Essas são as ordens e não fará outra refeição enquanto o trabalho não estiver pronto, então sugiro que comece logo – disse de forma intimidante e Sakura bufou irritada.

“Humanos idiotas!” Pensou ao pegar o esfregão e o balde e ir até o meio do convés, mas parou ao ouvir a voz do Uchiha novamente.

— Bem-vindo a bordo, grumete.

Revirou os olhos com a frase escolhida. Era a segunda vez que a escutava no mesmo dia e teve certeza de uma coisa: realmente não seria fácil conviver com esses humanos.