The Mermaid Tale escrita por Luhni


Capítulo 18
O passado Uzumaki e Uchiha


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Voltei com mais um capítulo!
Muito obrigada a todos que estão comentando e favoritando a fic, vocês são demais! ♥
Espero que gostem e nos vemos nas notas finais, ok? Por favor, leiam as notas, tenho certeza que irão gostar ;)
Boa leitura!



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                Sakura ficou desesperada ao reconhecer a irmã ali na sua frente, dentro daquele navio de humanos. Ela estava dentro de uma espécie de caixa retangular de vidro. Suas mãos estavam amarradas por correntes e um grilhão de ferro a impedia de mexer adequadamente as mãos. Além disso havia uma corda na cintura de Ino que a prendia a uma parte da caixa, não deixando que se afastasse muito. Sua irmã também possuía uma mordaça na boca, e parecia tão assustada que Sakura não pensou duas vezes antes de correr para vê-la de perto, para pedir desculpas e dizer que iria ajudá-la. Porém, não conseguiu ir muito longe, já que logo sentiu os braços do Contramestre na sua cintura, puxando-a para perto dele e, consequentemente, para longe de Ino.

— Cuidado! É melhor não se aproximar, não sabemos do que essa coisa é capaz! – Sasuke exclamou para a garota em seus braços que se debatia para se libertar.

                “Coisa”? Sua irmã não era uma coisa! Virou-se para brigar com o Uchiha, porém notou que sua voz havia ido embora novamente. Bufou, aquela era a pior hora para isso acontecer. Olhou novamente para a irmã que a encarava em um misto de confusão e aflição e ela não entendeu exatamente aquilo, até notar que ainda estava nos braços de Sasuke. Desvencilhou-se dele, provavelmente a irmã devia achar que o humano estava a machucando.

— Como conseguiram isso? – Naruto indagou e em seguida bateu no vidro, fazendo Ino se encolher assustada. Ela estava à mercê dos humanos agora e não sabia como sair dali. Sakura ao ver o estado da irmã andou, agora mais calma, até o local onde Ino permanecia presa, tinha que tentar passar alguma força para ela.

— Encontramos na caverna – Neji se pronunciou – Ela estava sozinha, parecia presa em uma pequena poça de água.

— Como ela parou lá? – Sasuke perguntou ficando ao lado de Sakura que parecia não desgrudar os olhos da figura loira. Franziu o cenho, será que a menina estava enfeitiçada? Mas as sereias somente encantavam homens, não?

— Não sabemos – Gaara respondeu – Ela tinha apenas uma espada, mas não sabia manuseá-la, foi fácil capturá-la – preferiu omitir a parte que a cauda da sereia veio ao seu encontro e como ela quase conseguiu encantá-los.

— Uma espada? – Naruto estranhou, o que uma sereia fazia com uma espada?

                Antes que mais alguma palavra pudesse ser proferida, Sakura levantou-se e olhando para o Capitão, pediu:

Precisamos libertá-la!” mexeu os lábios e o Uzumaki arqueou uma sobrancelha, descrente.

— Libertá-la? Por que faria algo assim?

— Porque ela traz má sorte – Hiruzen se manifestou pela primeira vez enquanto Gaara e Neji reviraram os olhos.

— De novo com isso, velho? – Gaara reclamou. Desde quando contaram a ideia que eles tiveram para a sereia, Sarutobi se mostrava contrário ao que faziam.

— Sim, pois eu estou sendo o único racional aqui – e em seguida olhou para Sakura que parecia confusa enquanto o encarava – Tirando a garota, é claro.

— Estamos com uma mulher a bordo, qual a diferença em levarmos mais uma? – Kiba disse e em seguida riu, completando – Bom, pelo menos metade de uma.

                Sakura revirou os olhos com o comentário do Inuzuka e voltou a observar Ino que parecia confusa com tudo o que acontecia. Era a primeira vez que ela via humanos de perto e como eles interagiam, devia ser algo realmente intrigante e confuso para a outra, pelo menos Sakura pensou dessa forma quando os ouviu pela primeira vez. Mas agora ela já estava acostumada com todos aqueles homens e o modo de falar deles.

“Por favor, Capitão! É uma sereia! Ela precisa voltar ao mar, para a casa dela” voltou a tentar convencer Naruto que negou com a cabeça.

Ela irá nos ajudar a voltar para casa, isso sim – e foi a vez dele se aproximar e observar a sereia atentamente. A pele reluzia embaixo d’água e o corpo sinuoso parecia um convite para aproximar-se ainda mais, só de olhar para ela já sentia-se atraído por aquela estranha e bela criatura. Balançou a cabeça para afastar pensamentos indevidos, não se deixaria dominar por aquela exótica beleza.

                Sakura olhou confusa para o Uzumaki, não entendendo as palavras proferidas por ele. Olhou para Sasuke que sorria de canto, pelo jeito parecia estar aprovando o plano do Capitão.

“O que querem dizer?” Sakura puxou a manga do Contramestre em busca de respostas.

— Imaginem o tanto de dinheiro que poderemos fazer com ela? – Gaara interrompeu os dois, chamando a atenção de todos que sorriam com a perspectiva.

— Podemos vendê-la! – Kiba falou entusiasmado e alguns concordaram com ele.

— Ou podemos vender ingressos e permitir que as pessoas vejam a sereia – Neji sugeriu também.

— Seja como for, ela nos trará muito dinheiro – Shikamaru disse ao observar as possibilidades.

— Poderemos comprar qualquer coisa e descansar – Chouji já imaginava os banquetes que poderia dar em seu futuro palácio.

— Poderemos comprar uma frota de navios e finalmente ter a nossa vingança – Sasuke murmurou baixo e Sakura o encarou ao ouvi-lo, será que era sobre isso que Naruto também falava?

— Está decidido! – Naruto bradou determinado – Vamos aportar na primeira cidade que encontrarmos, fazer os consertos necessários e depois vamos decidir como essa belezinha aqui... – bateu no vidro, fazendo Ino nadar para se afastar do humano – ...nos trará muito ouro.

                Todos bradaram em concordância e Sakura ficou desesperada, por causa disso tentou chamar a atenção de todos e dizer o que pensava. Levantou as mãos e se pôs na frente de Ino, como se estivesse a protegendo de algo e, na verdade, realmente estava. Gaara ao perceber o cenho franzido da garota e a forma como ela estava na frente da sereia, chamou a atenção de Neji e logo todos observavam a Grumete.

— O que foi agora, Grumete? – Neji suspirou, mas prestava atenção no que a garota diria.

“E o meu acordo? Capitão, o senhor prometeu me levar para casa e eu estou pagando a vocês!” mexeu os lábios, irritada.

Ela sabia que não adiantava clamar por piedade, eles estavam ávidos pela fortuna que sua irmã poderia gerar. Então resolveu apelar para a honra deles.Naruto havia dado a sua palavra que a ajudaria e se ela tivesse mais tempo, talvez, conseguisse fazê-los mudar de ideia sobre Ino ou ter alguma ideia para libertá-la. Aquela era a sua última chance.

Ino, que somente conseguia ver as costas da irmã, franziu o cenho, tentando entender o que Sakura pretendia. A sereia somente conseguia ver os rostos descontentes e nervosos dos humanos, mas ela soube imediatamente que a ideia da irmã não funcionaria. Suspirou com raiva de si mesma por se colocar nesse problema e estar tão vulnerável. Se ela estivesse no mar... olhou tristemente para a imensidão azul, que rodeava o navio humano, ela até poderia fazer alguma coisa com seus poderes, porém não passariam de truques frágeis que não a possibilitariam nada mais do que quebrar a sua prisão. Mas depois disso, o que faria? Ela continuaria presa dentro daquele navio fétido.

— É claro que não esqueci do nosso acordo! – o Uzumaki retrucou rispidamente – Sou um homem de palavra!

“Então, esqueçam a sereia e vamos seguir em frente!”  Sakura voltou a argumentar.

— Impossível! Essa é a melhor chance de nossas vidas – Sasuke refutou as palavras da garota.

— Podemos ajudá-la depois de resolvermos o caso da sereia, será até melhor pois teremos mais condições de enfrentar essa aventura, estaremos mais preparados – Naruto explicou um pouco mais calmo.

Era um bom plano e somente a Grumete parecia não aceitar, pois ela continuou falando e falando sem parar dizendo que eles não podiam fazer isso com ela, que deviam ajudá-la, que ela queria voltar para casa e que eles não tinham palavra. Aquilo havia sido demais até para Naruto. Por que ela não os entendia? E a fim de finalizar a discussão, bradou:

— Basta! Eu sou o Capitão aqui e mesmo que tenha nos ajudado, ainda é minha subordinada! – a voz alta de Naruto assustou a garota que tremeu, com medo – Eu disse que a ajudaria, Sakura, mas não disse quando isso iria acontecer. Temos novas prioridades agora e você, como parte da tripulação do Kurama, irá acatar as minhas ordens! Entendeu?

                Ele foi duro e Sakura encolheu-se ao ver que o Uzumaki falava sério. Era a primeira vez que o via assim e aquilo a deixou um pouco desnorteada. Ele nunca brigou com ela, sempre quem fez isso foi Sasuke. Olhou ao redor e viu a tripulação toda desconfortável com a bronca dada, até mesmo o Imediato encarava o Capitão um pouco surpreso, mas ele nada disse, então soube que estava sozinha e não adiantava falar mais nada.

— Estou esperando a sua aquiescência, Grumete! Responda ao Capitão! – Naruto exigiu e Sakura, à contragosto, anuiu. Em seguida o Uzumaki voltou-se ao resto da tripulação – Gaara e Neji, vocês serão os primeiros a fazer a ronda e ficar de olho na sereia. Não deixem que ela escape ou tente fazer algo. Ouviram?

— Hai! – ambos bradaram após a ordem e logo todos dispersaram para fazer as suas funções.

                Sakura ainda olhava para a irmã que parecia ressentida consigo e sabia que ela tinha razão para estar assim. Havia se esquecido dela e agora ela estava em perigo por sua culpa. As lágrimas ardiam em seu olhos, mas forçou-se a não chorar na frente de Ino ou de qualquer outra pessoa e estava tão concentrada nisso que se sobressaltou rapidamente ao sentir alguém colocar uma mão no seu ombro. Olhou para o lado e deparou-se com Sarutobi que também observava Ino seriamente.

— Os homens são mesquinhos e gananciosos, mesmo quando sabem que estão errados, eles nunca ouvem com sabedoria – comentou e Sakura franziu o cenho estranhando a frase proferida. – Mas você sabe disso, não é mesmo? – olhou para a menina que arregalou os olhos instantaneamente – É humana como todos nós, apenas mais nova e mais pura – riu antes de levar à boca o cantil que continha rum que sempre trazia consigo.

                Sakura imediatamente concordou com o velho e este riu ainda mais pela expressão dela. Era a segunda vez que ele comentava algo com ela como se soubesse mais de si, mas era impossível... não era? O quanto aquele velho sabia sobre o seu povo? Hiruzen gargalhou alto e voltou a encarar a Grumete, os olhos já mostravam que ele estava totalmente alterado.

— Continue sendo essa belezinha que você é – ele disse ao agarrar a bochecha dela e apertá-la. Sakura sentiu que lágrimas se formavam novamente, mas dessa vez devido à força com que o velho apertava o seu rosto – Não deixe esses caras malvados tirarem a sua pureza – ela já não entendia mais nada do que o velho falava, só conseguia sentir o bafo de bebida perto de si e como ela pedia aos deuses que o levassem para longe de si.

— Tá bom, velhote! Chega de importunar os outros, você tem trabalho para fazer – Gaara apareceu, puxando Hiruzen para longe de Sakura que suspirou aliviada. Aquele humano era muito estranho, às vezes fazia sentido, às vezes não. Mas no fundo achava que tudo não passava de um delírio por causa da bebida. Tinha que ser isso.

—*-

                Após as ordens dadas, Naruto andou feito um furacão para dentro dos seus aposentos. Jogou o chapéu em uma poltrona e bateu com as mãos na mesa, sendo observado de perto pelo Imediato que nada disse.

— Qual o problema dela? – Naruto perguntou ao se acalmar um pouco e viu o Uchiha se apoiar na parede com os braços cruzados.

— Ela quer ir para casa. Não é nenhum problema – comentou Sasuke e Naruto suspirou.

 – Acha que fui ríspido demais? – fez a pergunta que o incomodava desde que saíra do convés depois de dar todas as ordens aos piratas e foi a vez do Contramestre suspirar.

— Foi apenas uma surpresa, você não costuma se exaltar e ela nunca havia presenciado isso – falou calmamente.

— Mas? – pediu que o Imediato completasse a sua fala.

— Mas não pode culpá-la por exigir que continuemos com a missão de encontrar aquela flor mística. – ouviu o Capitão bufar e soube que aquela conversa ainda não estava encerrada.

— Não acredito que estou ouvindo isso de você! – acusou o amigo – Você foi o primeiro a achar essa história de flor uma loucura e que isso poderia nos atrasar no que realmente importava! E agora que temos a sereia, você...

— Eu não disse que estava errado! – cortou a fala do Capitão – Eu também faria a mesma coisa – foi a resposta sucinta de Sasuke, porém Naruto sabia que algo estava errado. Conhecia-o bem.

— Você está ficando mole, Sasuke! Não acredito nisso! – bradou o Uzumaki antes de rir e o Uchiha revirou os olhos.

— Não é isso! – retrucou irritado – O problema é que... – hesitou, nem ele conseguia entender o motivo de ter ficado irritado pela forma como Naruto tratou Sakura. Mesmo assim ele ainda conseguia visualizar os olhos assustados dela depois que o Capitão gritou e a forma como ela buscou a ajuda dele.

Uma ajuda que não veio. Não tinha sentido ir contra a decisão de Naruto. Aquilo era o mais sensato a fazer. Eles não poderiam perder essa oportunidade.

— Eu sei... – comentou apenas para si, mas o Uzumaki foi capaz de ouvir e mais que isso, ele entendia tudo o que se passava na mente do Contramestre, afinal ele também não gostara de ter falado com Sakura daquele modo tão diferente do seu habitual – Eu desejo ter poder suficiente todos os dias para finalizarmos isso e seguirmos nossas vidas – Sasuke continuou – Porém, não é justo ela entrar em uma empreitada que não é dela e nem adiarmos essa missão.

— Ela vai superar, Sasuke! Ela é forte... – Naruto retrucou cansado daquela conversa – E nós já esperamos anos para termos uma chance e aquela sereia é a nossa melhor chance! – apontou para fora da cabine – Se qualquer coisa acontecer e a perdermos... pode ser que levemos anos para conseguir algo parecido e o dinheiro da Grumete não vai ser suficiente, sabe disso.

                Sasuke aquiesceu. Ele concordava com o Capitão. Com aquela sereia, eles iriam conseguir a frota que sempre sonharam, iriam ter poder para mudar a realidade dos dois e conseguir a vingança que sempre quiseram. E estar naquela ilha, com aquelas criaturas que criavam ilusões, somente fez a determinação de ambos aumentar ao reviver todo o pesadelo daquele dia. Eles não podiam desistir agora. Ninguém iria deixar de ajudar Sakura, apenas iriam demorar um pouco mais para cumprir a sua promessa. O único problema era que Sasuke havia visto como a Grumete lutou para protegê-los, viu como ela ficou ao ver que perderia a sua chance de voltar para casa e aquilo o tocou, ao menos ele pensou que se tratasse disso. Entretanto, isso não era mais relevante, ignoraria o que sentiu, pois tinha algo mais importante para se focar.

— Vamos seguir adiante, nada nos impedirá de ter a nossa vingança – Sasuke concordou por fim e o Uzumaki aquiesceu, fazendo um cumprimento entre os dois.

—*-

                A noite caiu e todos estavam reunidos para comer. Sakura ainda estava chateada com o fato de não ter conseguido salvar a irmã e não queria ficar perto da tripulação. O problema era que eles pareciam não entender o seu humor e estavam decididos a ficar grudados nela enquanto comia. Bufou ao ouvir a risada escandalosa de Kiba depois de ouvir uma das piada de Gaara. Neji estava responsável pela sereia, então não havia ninguém para conter o Sabaaku.

Levantou-se irritada, tinha que conseguir um tempo para organizar seus pensamentos, bolar um plano para salvar a irmã e ainda queria falar com ela a sós. Enquanto andava, os piratas observaram com estranheza a saída da garota e Gaara foi o primeiro a querer se manifestar, porém Sarutobi o impediu.

— Deixe-a, ela precisa de um tempo – disse ao ruivo que ficou confuso com a ação do velho, mas preferiu não fazer nada, talvez fosse um daqueles momentos de garota que ele nunca entenderia.

                Sakura andou em direção ao convés, mas afastou-se do lugar onde Ino estava confinada. Ela não conseguia encará-la naquele momento, queria que, quando fossem conversar, já tivesse uma ideia para apresentar, qualquer coisa que pudesse livrar ambas dessa situação. Suspirou ao se aproximar da proa, encostando-se na amurada. O mar estava calmo e o vento batia suave contra os seus cabelos e ela respirou fundo, absorvendo o cheiro da brisa.

— Também gosto de noites como essa – tomou um susto ao ouvir aquela voz e virou para ver o Capitão Naruto um pouco afastado de si entretido ao observar o horizonte.

                Ela olhou de um lado para o outro, indagando-se se ele estava falando consigo, mas ao constatar que estavam só os dois ali, supôs que devia ser com ela realmente.

— Sinto termos que adiarmos a sua volta para casa, mas não havia outra escolha – Naruto comentou suavemente e Sakura franziu o cenho.

Para ela era óbvio que tinham escolha, podiam deixar sua irmã livre e seguir em frente. A verdade era que não estava muito preocupada com a sua própria situação, ela conseguia se virar muito, mas temia por Ino e pelo o que estavam planejando fazer com a sereia. Naruto suspirou ao ver o rosto da jovem e imaginou o quanto ela devia estar chateada por não seguirem com a missão de encontrar a flor mística e, mesmo não querendo, resolveu ser sincero com ela. Ela merecia explicações. Tirou o chapéu e bagunçou o cabelo, exasperado.

— Sabe... às vezes a nossa vida não é como planejamos – iniciou meio incerto, ainda encarando o mar a sua frente, mas esperava que a menina estivesse ouvindo-o – Você já teve a sensação de ter toda a sua vida planejada e, de repente, perder tudo? Em um piscar de olhos? – colocou a mão na frente do rosto e cerrou o punho com força.

                Sakura aproximou-se dele, curiosa com o que ouvia, e aquiesceu. Afinal, ela havia perdido toda a sua vida ao confiar na Bruxa do Mar. Viu Naruto virar em sua direção e sorrir, mas diferente das outras vezes, aquele sorriso era triste e não chegava até os belos orbes azuis.

— Eu imaginei que entenderia. – comentou antes de revelar um pouco mais do seu passado – Nem sempre eu fui um pirata, na verdade o meu sonho era seguir os passos do meu pai.

“O que ele faz?” Sakura indagou aproveitando que o Uzumaki lhe encarava.

— Fazia. Ele... morreu há muito tempo – e novamente Sakura notou a força que ele fez ao fechar o punho, como se controlasse a sua raiva – Ele trabalhava no comércio marítimo real. Tínhamos dezenas de frotas de navios e meu pai comandava a todos, fazíamos negócios diretamente com o Rei e a Marinha Real – sorriu nostálgico e Sakura se surpreendeu.

Ela não imaginava que Naruto pudesse ter sido um nobre, pois as condições em que vivia agora eram bem... decadendentes para quem possuía tanto dinheiro, pelo menos na sua concepção, já que se lembrava bem da vida com Hinata que também era uma nobre.

— Sei o que está pensando – ele interrompeu seus pensamentos – Acha que estou mentindo, não é mesmo? Está se perguntando como posso ser um nobre se a única coisa que tenho é esse navio que, no momento, está caindo aos pedaços – e riu ao ver a garota ficar sem graça – Tudo bem, como eu disse as coisas não acontecem sempre como queremos.

“O que aconteceu?”

— Há muito tempo, quando minha família ainda era uma das mais importantes da Cidade Real, houve um dia em que sofremos um ataque. A cidade onde morávamos foi saqueada – respirou fundo e era como se pudesse sentir novamente o cheiro do fogo e da fuligem que se estendia por todos os lados em seu antigo lar – Meus pais foram mortos, mesmo tendo se rendido – trincou os dentes com raiva – Eu fui o único que conseguiu escapar com vida, pois minha mãe me escondeu em uma passagem secreta que havia no meu quarto.

                “Depois disso, como se não fosse o suficiente ter perdido os meus pais, guardas reais invadiram a minha casa e tomaram tudo o que pertencia a minha família, sob a alegação que estavam pagando as dívidas do meu pai para com a Coroa. Eu fui mandado para um orfanato, mas por sorte o meu padrinho apareceu e retomou a minha guarda, isso fez com que eu escapasse de viver na completa miséria. Porém meu padrinho não era a pessoa mais rica do mundo, estávamos falidos, na verdade, e eu nunca nem o tinha conhecido antes disso acontecer.”

“O que aconteceu depois?” Sakura questinou, ávida por saber mais.

— Depois disso... depois disso eu passei a conhecer o mundo para sobreviver junto do meu padrinho e conheci Sasuke. – um mínimo sorriso apareceu – Descobrimos que éramos do mesmo lugar e nossa história era parecida. Juntos, descobrimos que toda a tragédia da minha vida aconteceu por culpa de alguém. – e por um momento Sakura jurou ter visto os olhos azuis se escurecerem, como se estivessem em uma tormenta – Haviam armado para a minha família e eu jurei que iria descobrir o culpado por tirar a vida dos meus pais e matá-lo.

“E quanto ao Sasuke?”

— Sasuke... bom, não cabe a mim contar a história dele – explicou após suspirar e encarou a Grumete que parecia perdida em pensamentos – Você entende agora? – indagou, chamando a atenção da menina – Entende o motivo de termos que seguir com o nosso plano? Nós perdemos tudo... toda a nossa vida e levamos mais de quinze anos para ter uma mínima chance como essa – e olhou sobre o ombro para o local onde a sereia estava – Precisamos dela para chegar ao culpado que destruiu as nossas vidas – comentou e Sakura não soube o que dizer.

                Era óbvio que ela entendia o motivo dele, de alguma forma as histórias dos dois eram parecidas. Ela notava o quanto ele estava ferido, o quanto as lembranças o atormentavam, mas ao mesmo tempo... olhou para onde a irmã estava e suspirou. Aquilo parecia se complicar ainda mais. Naruto, que não sabia o que passava na cabeça da menina, somente suspirou e voltou a admirar o horizonte. Sakura encarou a figura do Capitão tão melancólica sob o luar que ela não conseguiu impedir-se de puxar a manga da camisa dele.

                O Uzumaki olhou para a menina que estava com a cabeça abaixada, o chapéu sob os belos cabelos rosados, e ficou à espera de algo, sabia que Sakura devia estar digerindo tudo o que lhe foi dito.

— Desculpe, pequena – colocou a mão sob o chapéu da garota que nem ao menos se moveu e acariciou levemente os sedosos cabelos rosados – Eu prometo que irei ajudá-la a voltar para casa, apenas tenha um pouco mais de paciência – pediu e Sakura sentiu-se incapaz de retrucar ao Capitão.

Ela queria dar uma solução para ele que não envolvesse Ino, queria ajudá-lo, mas o que diria? O que faria? Ainda mais depois de ouvir tudo aquilo? Suspirou, aquiescendo e logo o Capitão afastou-se, enquanto Sakura voltou a se perguntar o que faria. Olhou na direção da irmã e resolveu ir falar com ela, quem sabe a mais velha não teria um conselho ou uma ideia para dar a si? Aproximou-se de Neji e indicou que ele devia comer e que ela ficaria no lugar dele por enquanto. O Hyuuga nem ao menos contestou a ideia, já que não aguentava mais ficar ali, o que Sakura agradeceu internamente, estava cansada de lidar com os piratas e a irmã ao mesmo tempo. Sua cabeça estava cheia e ela não conseguia chegar a nenhuma solução.

Olhou para Ino na água e fez sinal para que ela se aproximasse, o que foi prontamente ignorado. Suspirou, ela devia estar muito chateada consigo. A sereia de orbes azuis encarava a irmã como se pudesse dá-la de comida ao Kraken, se tivesse a oportunidade. Encolheu-se, mas mesmo assim mexeu os lábios para que, talvez, a outra pudesse ler.

“Desculpe... desculpe-me Ino...” pediu com os orbes marejados. Aproximou-se ainda mais do vidro e colocou a mão ali como se pudesse alcançar a irmã. “Eu vou dar um jeito de te tirar daqui, prometo!”

                Aquela afirmação fez Ino sentir vontade de se aproximar, queria falar com Sakura, mas antes que pudesse se pronunciar, a voz de um dos humanos se fez presente e interrompeu o momento.

— O que está fazendo aqui? – Sasuke bradou e rapidamente a Grumete se afastou do vidro e encarou o Imediato, tentando esconder as lágrimas.

—*-

— O que está fazendo aqui? – Sasuke repetiu a pergunta à garota que engoliu em seco antes de responder.

“Estou... tomando conta da sereia” e apontou para o vidro atrás de si.

— Onde está Neji? – indagou desconfiado e ela explicou que ele havia ido jantar e ela ficara no lugar dele – Bom, então não precisava ter vindo – murmurou para si e Sakura teve vontade de se bater por não perceber que alguém faria a mesma coisa que ela. E para piorar tudo, não teve sorte, já que o Imediato foi o escolhido para ficar no lugar de Neji.

                Abriu a boca para tentar convencê-lo de que poderia assumir a ronda sozinha, mas o Uchiha já havia se encostado no mastro do navio, como se dissesse que não sairia do seu posto naquele momento. Bufou irritada e foi em direção ao Imediato, decidida, depois de dar uma olhada em Ino sob o ombro e perceber que ela analisava toda a interação dela com o humano.

“Eu posso ficar aqui e...”

— Melhor não ficar muito perto da criatura – Sasuke comentou, ignorando o que ela falara e aquilo irritou Sakura. Só não soube dizer se pelo fato dele ter lhe ignorado ou por ter falado da sua irmã daquela forma.

“Acho que ela não vai fazer nada presa desse jeito” comentou com o cenho franzido e Sasuke observou a Grumete.

— Por que quer tanto libertá-la? É só um monstro do mar – disse de forma tranquila, sondando o comportamento da menina a sua frente que parecia ultrajada.

“Porque ninguém merece perder a sua liberdade dessa forma” respondeu entredentes. Como ele tinha coragem de compará-las a monstros do mar? Elas eram sereias! Lindas e maravilhosas, não se pareciam em nada com os monstros que habitavam as profundezas do oceano.

                Mas ela tinha que se controlar, afinal Sasuke não entenderia a sua raiva e, se ela queria ter uma chance de libertar Ino, convencer o Contramestre da sua ideia talvez fosse o mais sensato a fazer.

— Mas tudo bem a libertarmos e ela afundar o nosso navio? – retrucou debochado e Sakura recuou com o cenho franzido. Olhou para a irmã rapidamente. Ino não faria isso. Não com ela ali, pelo menos.

“Então devemos condená-la a uma vida de sofrimento?” voltou a encará-lo e viu o Uchiha arquear uma sobrancelha.

— Melhor ela sofrer do que nós morrermos, já expliquei uma vez que o seu coração mole seria um problema para esta vida – comentou sério e antes que ela pudesse falar algo mais, continuou – Além do mais, quem garante que essa... coisa, sente algo?

                Sakura sentiu o sangue fervilhar dentro de si. Teve vontade de gritar, mesmo sem voz, que essa “coisa” era sua irmã! Que ela também era uma sereia e ela também tinha sentimentos, assim como qualquer humano. Mas tão rápido quanto a sua raiva veio, ela se dissipou. Mesmo que dissesse a verdade, Sasuke nunca a entenderia e, se fosse possível, ele junto de Naruto a prenderiam com Ino apenas para ser mais um ser para o espetáculo. Sentiu o seu coração se apertar ao ver que não podia confiar totalmente naqueles humanos, tinha que se preservar se queria que Ino tivesse uma chance.

                Sasuke observava a disputa interna dentro dos olhos esmeraldinos de Sakura. Ele não compreendia o motivo da raiva dela, mas logo a tempestade verde se acalmou e deu lugar a uma enxurrada de lágrimas que pareciam estar prestes a desabar do rosto da garota. Arregalou levemente os olhos, o que havia feito para a garota chorar agora? Ele realmente odiava ter que lidar com as lágrimas de uma mulher. Virou o rosto para o lado e, um pouco acanhado, tentou melhorar a situação.

— Sei que deve querer voltar para casa, mas nós temos fortes motivos para continuar – comentou e viu Sakura limpar qualquer vestígio do choro antes de aquiescer.

“Eu sei. O Capitão comentou comigo o que houve” disse e Sasuke se surpreendeu por Naruto tocar nesse assunto e trincou os dentes com raiva do Uzumaki por ter falado demais.

— O que ele falou exatamente? – tentou conter a raiva, mas Sakura reparou que, assim como para Naruto, esse assunto também era delicado para Sasuke.

                Ela contou a conversa que tiveram e deu ênfase ao fato que não houve comentários acerca do que aconteceu com ele e Sasuke suspirou aliviado, passando a mão no rosto. Não gostava que invadissem seu espaço pessoal, que ficassem fuxicando o seu passado, aquilo pertencia somente a ele e, se ele quisesse, contaria. Sakura, entretanto, resolveu arriscar ao fazer a pergunta que rondava a sua mente há tempos.

“É por causa do que aconteceu no passado que você não confia nos outros?”

                Sasuke encarou a garota com o cenho franzido, queria dizer para ela não se meter na sua vida, queria dar meia volta e sair dali, ignorando-a, mas não fez nada disso. Apenas recordou-se da forma como ela se arriscou dentro da caverna, como ela chorava para libertá-lo e como ela pronunciou o seu nome com tanto desespero e medo, mesmo que mal se conhecessem. Suspirou sem saber o motivo de estar pensando nisso novamente, mas talvez pudesse confiar nela o seu passado. Sakura continuava à espera de uma resposta e viu quando o Contramestre pareceu ficar mais calmo e aquilo a fez relaxar também, estava com receio do que ele poderia fazer por ser intrometida.

— Há muito tempo, assim como Naruto, eu tinha uma vida diferente. Meu pai era Capitão de um dos navios da Marinha Real, ele passava mais tempo no mar do que em casa – a imagem vívida de sua família passeava por seus olhos enquanto falava – Minha mãe cuidou de mim e do meu irmão praticamente sozinha, até Itachi, meu irmão mais velho, ter idade para começar a trabalhar e ajudar em casa, mas mesmo assim éramos felizes.

                Sakura ficou supresa ao ver que o Contramestre estava realmente contando algo para si, não esperava ouvir na mesma noite a história de ambos os comandantes do Kurama. Ela aproximou-se mais, instigada por saber mais sobre o passado de Sasuke.

— Como meu pai passava pouco tempo em casa, eu sempre estava com Itachi. Ele era o meu herói e quando ele começou a navegar junto do nosso pai, eu desejei me tornar um marinheiro, assim como eles – e revirou os olhos com a lembrança e sorriu nostálgico – Eu era uma criança tola, assim como você – comentou ao olhar para Sakura inflou as bochechas como se discordasse dele e Sasuke sorriu de canto.

“Eu não sou tola!” negou, mas Sasuke nem ao menos se importou.

— Mas não sabe nada sobre o mundo, acredita em sonhos e que todos são bons. Você é muito ingênua – e antes que a menina começasse a reclamar, dizendo que havia melhorado, ele continuou – De qualquer jeito a vida irá lhe ensinar que não podemos confiar em todas as pessoas, assim como ela me ensinou.

“O que aconteceu?” ela indagou ao puxar a manga da camisa dele para que a encarasse. Sasuke observou a menina, refletindo se continuava a sua história ou não, mas talvez fosse bom para ela aprender algo.

— Eu e Naruto vivíamos na mesma cidade, apesar de não nos conhecermos na época. Ele era um nobre, afinal de contas. Então, enquanto os pais dele eram mortos por desconhecidos, o meu pai era morto pelo meu irmão – cerrou os punhos com força e Sakura arregalou os olhos com o que foi dito.

                “Minha mãe tentou impedir que Itachi tirasse a vida do nosso pai, tentou trazer lucidez a ele, mas meu irmão estava tomado pela ganância do poder. Ele almejava o posto de Capitão que pertencia ao nosso pai, então não se importou com as súplicas de nossa mãe. E quando ela tentou lutar com ele, Itachi ceifou a vida dela também, diante dos meus olhos”.

Sasuke tremia de ódio enquanto relembrava a cena. Sua mãe chorando, implorando por misericórdia e o rosto frio do irmão ao retirar a espada do corpo frágil da mãe. Recordava-se do sangue pingando da espada e a poça de sangue que se formava no assoalho. O rosto sem vida do pai e da mãe estendidos no chão. Arfou ao mergulhar novamente naquele dia. Era por isso que odiava lembrar sobre o passado, ele não conseguia se controlar e apenas se afogava cada vez mais em desespero por saber que nada pôde fazer na época.

                Sakura ficou assustada ao ver a forma como o Contramestre estava. Diferente de Naruto que conseguia se conter, Sasuke rangia os dentes, os olhos pareciam descontrolados e os punhos estavam cerrados com tanta força que chegou a ferir a pele. E ao ver aquilo ela não pensou direito antes de segurar as mãos dele, apenas queria evitar que ele se machucasse ainda mais. E Sasuke ficou tão surpreso com o toque repentino que aquilo o trouxe de volta. Ao olhar para Grumete, viu a menina com medo, enquanto segurava as mãos dele com força e as lágrimas caindo sobre o rosto dela. Ela estava chorando novamente... mas por ele? Por que? Por que ela se importava com alguém como ele?

“Tudo bem... está tudo bem...” mexeu os lábios trêmulos e novamente agiu sem pensar ao abraçá-lo. Ela sabia que aquele era um gesto terno entre os humanos. Hinata havia a abraçado muitas vezes para aplacar a dor que sentia ao descobrir que fora enganada e ela esperava que pudesse acalmar Sasuke também.

                O Contramestre ficou sem reação por um momento, apenas sentindo o calor do pequeno corpo a sua frente, mas logo seus braços também envolveram a cintura fina da garota, retribuindo o gesto enquanto aspirava o o cheiro dela que parecia trazer aos poucos a sua sanidade.

                E enquanto ambos se abraçavam não notaram que eram observados por um par de olhos azuis que apenas fitava a cena com horror.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam?
Eu sei, muita gente esperava que fosse o encontro das duas irmãs, mas tinha um pequeno detalhe que todo mundo ignorava: os piratas não iriam facilitar a vida da Sakura, então para falar com a Ino, primeiro, a Sakura tinha que despachar o resto da tripulação. Além disso ela queria organizar tudo primeiro, o que ela obviamente não vai conseguir, já que a conversa com Ino não será nada fácil, principalmente depois desse final. Falando nisso, vocês já imaginam o que vai acontecer? Deixem nos comentários ;)

Esse foi um capítulo de transição, aqui vocês conheceram um pouco do passado de dois personagens importantes e a partir disso vocês vão entender o que vai acontecer mais para a frente, mas prometo que no próximo teremos mais ação!

Mas agora vamos falar do passado.... eu tinha que explicar o motivo de Sasuke e Naruto e o confronto da Sakura sobre a irmã serviu direitinho para ela conhecer melhor os Comandantes do Kurama. E falando no passado deles... temos o Naruto, filho de um nobre do comércio marítimo, e Sasuke, filho de um Capitão da Marinha Real. Ambas as famílias foram mortas em um ataque, ambos moravam na mesma cidade. Sasuke sabe que quem matou a sua família foi Itachi, mas ainda falta sabermos o desfecho dessa história, já que ele não conseguiu terminar e não sabemos o que aconteceu com o irmão mais velho do Uchiha. Além disso, ainda temos o mistério sobre quem foi o culpado por matar a família do Naruto... hehe mas isso são cenas dos próximos capítulos, mas não se preocupem em breve tudo será resolvido ;)

Por último, tenho que dizer que algumas cenas desse capítulo foram muito representativas, algumas coisas sutis aconteceram, mas que são importantes, será que conseguem adivinhar quais são?

Atenção! Novidade: como estou de férias e estou tendo mais um tempinho... provavelmente teremos mais um capítulo de TMT agora no mês de Julho! Uhuul!!
Gostaram dessa novidade? Mas saibam que isso só vai valer para esse mês, e em agosto tudo volta ao normal XD

Espero que tenham gostado e nos vemos na próxima!
beijos