Era o seu fim.

Roslyn quase podia sentir o gosto amargo da culpa em sua boca. O sentimento aterrador transparecer em sua expressão atônita.

Não queria imaginar a cena que Alaric via a sua frente. Ela, sua esposa, que discursou na frente de todo o clã que iria reivindicar o poder ao fim do inverno.

Ela que havia dado sua palavra que não iria traí-lo. Que pensava não conseguir fazer tal coisa, tinha acabado de gritar para os quatros ventos que ao final do inverno não haveria mais paz. Não haveria mais nenhum resquício da trégua que supostamente havia entre eles.

O que havia feito?

—Perdeu a língua, esposa?-O tom debochado e frio a fez permanecer ainda mais estática.

—Não se aproxime.

Roslyn quase havia esquecido da presença de Edward tão próximo. Rapidamente, retrocedeu um passo desesperada para não passar a ideia errada do porquê estavam tão próximos. Mas, já era tarde demais. Sabia que pela forma como Alaric havia falado já havia suposto tudo errado sobre eles dois.  

O riso cínico eclodiu no silêncio da noite, sendo acompanhado pelo farfalhar das folhas e a brisa fria de inverno. Roslyn sentiu o calafrio se apoderar do seu corpo como uma reação tardia ao riso, ou a brisa. Ela não sabia dizer o que a estava deixando mais assustada.

Então, sentiu um braço empurrar o seu corpo para trás, deu passos vacilante percebendo tardiamente que era Edward que se posicionava a sua frente como um escudo contra Alaric.

—Eu disse para você não se aproximar.

A voz de Edward soou firme, mas Roslyn quase podia sentir o tremor das suas mãos. Sem conseguir se conter, ela tocou em suas costas tentando acalmá-lo. Independentemente, da opinião de Edward, a raiva de Alaric era destinada à ela, não à ele.  

—Edward é melhor você ir embora. -Ela disse o mais suave que pôde, falhando miseravelmente ao tentar esconder o seu medo.  

—Não vou deixá-la aqui sozinha com ele. -Ele retrucou em um sussurro sem desviar o olhar do homem a sua frente.

—Oh, não me façam ter que ouvir juras de amor. -O deboche na voz do marido fez Roslyn ofegar de terror.

Ela sabia apenas pela forma como a voz de Alaric soava que ele havia erguido não somente uma muralha, mas várias delas ao redor do seu coração. Naquele momento, não havia nenhuma piedade ou misericórdia em seu ser. A não ser o mais terrível sentimento de ódio e rancor que um soldado precisa cultivar durante a batalha para se manter intacto até o fim da guerra ao olhar o massacre no campo de guerra e os corpo esquartejados.

Alaric não passava de um mercenário enfrentado o seu inimigo. Inatingível.

Ela sentiu o medo puro latejar junto com as batidas frenéticas do seu coração pela vida do seu amigo.  

—Alaric, por favor…

—Calada!-A ordem abrupta e furiosa a fez perceber que nem mesmo suas escassas palavras seriam capazes de contê-lo.

—Como ousa mandá-la calar a boca?!-A voz ultrajada de Edward a faz querer erguer as mãos e compri-las contra sua boca para que deixasse de piorar a situação. -Seu bastardo…

De repente, o som de metal frio cortou o ar e Roslyn não pensou, apenas reagiu pelo medo. Ela agarrou o braço de Edward com força, empurrando-o para o lado, colocando-se a frente do corpo do amigo de braços abertos. Ela se sentiu rendida, cansada de sentir medo e terror. Cansada de temer dar um passo e provocar mortes com seus erros.

Ela estava cansada de tudo quando avançou  para frente em total entrega.

—Não!-O rugido aterrorizado de Edward a fez parar abruptamente.

As respirações ofegantes eram como uma canção que despregava pelos cantos obscuros das florestas e ressoava ao redor deles.

Então, sentiu algo pontiagudo pressionar o tecido do seu vestido bem no local em que seu coração batia como um passarinho afugentado.

—Não sabia que seu amor por ele fosse tal a ponto de doar a própria vida em troca da dele, Roslyn. -Roslyn ouviu a voz amarga de Alaric, mas não conseguiu processar suas palavras anestesiada pelo choque de ter uma espada a centímetros do seu peito  

—Roslyn?-Edward indagou cético, dando um passo para frente para se colocar ao seu lado. No entanto, Alaric desviou a espada rapidamente em direção ao pescoço de Edward seguindo o movimento nervoso do pomo-de-adão do rapaz.

—Mais um passo e você irá se arrepender. E eu não estou me referindo a você.

Roslyn deixou as mãos caírem ao lado do corpo, sentindo a respiração suspensa e algo sendo destruído em seu peito.

—Bom. Agora, seja um bom menino e siga naquela direção até sentir os seus pés sangrarem.

—Não!-Roslyn, contra todas as razões, deu um passo a frente.

—Eu vou. -Edward disse antes que Roslyn fizesse algo pior. -Apenas, não a machuque. Tenho a sua palavra?

—Sim. -Disse Alaric sem desviar o olhar flamejante.

Edward se virou na direção que Alaric apontou, voltando a pegar o lampião que havia caído em algum momento daquela confusão, caminhando sem olhar para trás. Ele sabia que enquanto estivesse ali com Roslyn, ela seria capaz de colocar sua própria vida para poupar a dele. Não iria suportar que isso acontecesse. Não confiava naquele homem, mas de alguma forma sabia que Roslyn tinha mais chances de sair ilesa daquela situação sem ele por perto.

Roslyn escutou as passadas de Edward se afastando. Uma sensação de entorpecência se apoderou dela deixando a dormente a qualquer sentimento.

Algo frio pressionou seu queixo para cima e ela contraiu o maxilar ao perceber que era a ponta da espada de Alaric.

—Vai me matar?

—Uma esposa morta não tem utilidade para mim.

—Devo agradecer a sua racionalidade por ainda estar viva, então?

A risada desprovida de humor fez o joelhos da ruiva tremerem ridiculamente por baixo das várias camadas de tecido da saia.

—Para uma pessoa que tem uma espada a milímetros do pescoço, você está se confiando demais na minha racionalidade Roslyn.

Como se para marcar um ponto, ela sentiu a espada de Alaric pressionar um ponto em seu pescoço quase a fazendo retroceder para longe daquela arma. No entanto, era orgulhosa demais para recuar um passo sequer.

—Você está tendo algo com ele?-A indagação suave quase a fez proferir injúrias contra aquele homem perverso.

—Não. -Rosnou com os dentes cerrados. -Não ouse me comparar a você.

—Oh, eu jamais faria isso. -A negação quase terna do marido não a enganou, sabia que assim que baixasse a guarda ele a massacraria. -Nunca eu iria me comparar a uma criatura tão pura e ingênua como você.

—Pare de debochar. Não combina com você, marido. -Falou com amargura.

De repente, o metal frio que pressionava o seu pescoço sumiu, sendo substituído por duas mãos em seus cabelos.

Os dedos longos puxaram bruscamente os fios ruivos para trás, fazendo o rosto da pequena se erguer abruptamente em direção ao rosto do homem febril de fúria.

—O que combina comigo então, Roslyn?! Pare de achar que sabe algo sobre mim, porque você não sabe de nada!

Ela não queria aceitar, mas a proximidade a abalou deixando a sem fala. Em algum momento, precisou apoiar as mãos no tecido fino que Alaric vestia para não desequilibrar por conta do puxão, sentindo nas pontas dos dedos as batidas descontroladas do seu coração.

Ela ouviu a respiração profunda de Alaric quando inalou ferozmente antes de afrouxar um pouco o aperto em seus cabelos.  

—Você precisa parar com esses seus dedos inquietos. -Ele sussurrou parecendo perturbado antes de dar um passo para trás e se livrar de seu toque.

Ela deixou as mãos caírem e buscou desesperadamente por um pouco de autocontrole.  

Permaneceu em silêncio esperando que ele falasse algo.

—Você realmente achou que eu não descobriria mais cedo ou mais tarde que você e seu clã iriam atacar na primeira oportunidade?

—No inverno, não na primeira oportunidade. -Declarou rapidamente reconhecendo tarde demais que admitiu os planos contra Alaric.

—Então, descobrimos mais uma de suas faces. Sua traidora.

—Não!-Roslyn negou veementemente. -Traidora, não!

—Sim!-O rosnado colérico a fez calar a boca, sentido um êmbolo se formar em sua garganta. -Você não me engana mais com essa sua aparência de ingênua, Roslyn.

—O que isso significa?-Ela indagou temerosa.

—Você verá.

Antes que ela pudesse retrucar, a mão de Alaric agarrou o seu braço a arrastando bruscamente.

—Pra onde está me levando?!

A voz aguda e alta soou estranha para os seus ouvidos. Mas, ela não se importou, rezava para que alguém ouvisse sua voz perdida no meio daquela floresta.

—Tenha um pouco mais de fé na minha racionalidade, Roslyn.

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Roslyn como a poderosa da Bryce Dallas